A vida de um otaku de antes da era da Internet escrita por Malk


Capítulo 10
Evangelion


Notas iniciais do capítulo

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O início dos anos 2000 até que foi uma boa época pra quem curtia animes, a Globo entrou com tudo neste mercado com desenhos como Beyblade, Bakugan, Yu Gi Oh e outros nesta mesma linha. Mas Melc, já veterano, achou tudo um pouco repetitivo e entendiante e não teve muito interesse por esses animes.

Então é isso, Melc parou de ver animes e acabou a história? Nada disso.

Antes da internet banda larga, a menina dos olhos de todo otaku era a TV por assinatura. Não se conhecia muito a respeito, mas dizia a lenda que havia canais que passavam desenhos vinte e quatro horas por dia, sendo muitos deles animes. Infelizmente esse era um item muito caro e poucas famílias, principalmente na periferia, tinham dinheiro para bancar esse pequeno luxo.

Mas para nossa alegria, certo dia o pai do amigo do Melc, o Gnoma, foi ao shopping comprar uma estante e acabou caindo na conversa de um vendedor e levou uma assinatura da antiga Directv pra casa. Logo que comunicou aos amigos, todos passaram a ir à casa do Gnoma para ver desenhos.

Sim, já havia a nossa querida Cartoon Network com seu excelente acervo de desenhos próprios e alguns animes também, porém o canal que deixou Melc e seus amigos mais fissurados foi a Locomotion. O slogan do canal era “Desenhos para jovens e adultos”, e sua programação era uns setenta por cento compostas por animes.

Entre esses animes tinha “Saber J”, que acabou sendo traduzido pra “Cyber Marionetes”, uma espécie de Tenchi Muyu onde as garotas eram robôs. Foi legal no começo, mas depois ficou meio enjoativo. Melc não viu até o final, mas Gnoma e outro amigo, o Leco, viram todo (aliás, Leco não tinha muito critério, qualquer anime ele adorava, por pior que fosse).

Outro pouco conhecido mas que todo mundo que chegou a ver gostou foi “Those who hunt elves”, ou em português, “Caçadores de elfas”. Era a clássica história de “galerinha da pesada que foi transportada pra outro mundo cheio de criaturas mágicas”, mas nesse, pra voltar pra casa, os aventureiros tinham que encontrar fragmentos de um feitiço que ficavam presos tipo uma marca de nascença no corpo de elfas. E como eles procuravam? Saindo por aí arrancando as roupas das elfas. Tudo era desculpa pra mostrar umas elfas gostosas quase sem roupa, mas não deixava de ser engraçado.

Tinha vários outros, como Blue Seed (o primeiro anime legendado que Melc assistiu), Cyberteam in Akiabara, Bublegum Crisis… mas certamente o carro chefe da Locomotion foi Neon Genesis Evangelion.

Antes de falar sobre Evangelion, vamos voltar um pouco no tempo. Havia uma revista de RPG chamada Dragão Brasil que em uma edição fez uma adaptação deste anime para RPG, e é claro que antes disso explicou sobre a obra, que deixou Melc se mordendo de vontade de ver o tal anime que prometia ser revolucionário.

Voltando. Melc ficou ultra mega empolgado ao saber que passava Evangelion na locomotion, porém tinha alguns problemas: ver fora de ordem um anime de uma turminha da pesada despindo elfas era tranquilo, já um anime cheio de símbolos, conspirações e dramas psicológicos precisava ser assistido do início ao fim e certamente ver na casa de outra pessoa complica. Outra complicação: Melc, Tonel, Leco (tá, ele não tinha critério) adoraram Evangelion, mas o dono da casa Gnoma odiou.

Mas, enfim, Melc não conseguiu ver Evangelion?

Bem, cerca de uns dois anos depois a mãe do Melc fez uma assinatura da TV e felizmente, ainda passava Evangelion na Locomotion. O garoto viu na sequência na medida do possível, até viu o último episódio sem saber que era o último e não entendeu bulhufas. E mesmo em casa, tinha um problema com Evangelion:

Luta de robôs gigantes – ninguém em casa.

Pai do Shinji desprezando o Shinji – ninguém em casa.

Apareceu uma mulher nua – família toda surge de repente, Melc fica com vergonha e troca de canal.

Só de raiva, muitos anos depois Melc viu Evangelion na internet em sequência do início ao fim, e após ver o último episódio… continuou entendendo bulhufas.


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