Cheiro das Algas escrita por Duki


Capítulo 1
Cheiro das Algas


Notas iniciais do capítulo

Yoo o/

Então, essa foi uma ideia que tive à alguns dias ao ver a imagem que uso como capa, e decidi escrever agora.

Espero que gostem!



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Meu corpo todo dói, executar movimentos simples, como o de cerrar os punhos se tornaram quase impossíveis para mim nesse estado, nem mesmo consigo sentir minha cauda. Queria não ter tomado uma decisão tão imprudente, quando que um humano poderia ficar com um ser dos mares. Não sei onde estava com a cabeça, mas agora já não importa, todos fazemos escolhas, sejam elas certas ou erradas, no fim é que tudo vem a tona e você descobre se escolheu certo, ou se sua vida está nas mãos desses humanos nojentos, e bem, parece que fiz uma péssima escolha...

°°°

Ainda estava de manhã quando a notícia de que um navio de combate passaria por sobre nossa cidade submarina. Todos os meses um desses tenta descobrir mais sobre nosso mundo, e, depois da primeira visita que nos fizeram, quando nosso rei ordenou que não deixássemos que nenhum navio entrasse nas redondezas de nosso reino e um combate, que parecia não ter fim, se iniciou, os bípedes humanoides sempre aparecem com armas de guerra cada vez mais poderosas para nos capturar e fazer pesquisas com nossos corpos.

Esse ano fui enviado com outras dezenas de minha espécie para combater essa embarcação que se aproximava. Já estávamos munidos de nossos arpões e espadas feitas de conchas e corais, preparados para mais um intenso combate contra os imundos humanos.

Foram longas duas semanas de espera até que o navio apontasse no extenso Oceano Atlântico, grandioso e repleto de armas de fogo. Ficamos todos apreensivo, nossos informantes provavelmente se enganaram no número de embarcações que faziam o caminho até aqui, no total eram três, sendo duas delas enormes e bem munidas de armamento pesado, a terceira parecia uma espécie de navio cofre, para que pudessem guardar tudo o que encontrassem.

Preparei minha lança e com uma faca, feita de concha, avancei contra ao primeiro navio, não consegui fazer muita coisa, uma grande explosão aconteceu próximo de mim, estavam atacando, eu precisava ajudar, mas apaguei.

Não sei ao certo quanto tempo fiquei desacordado, indo em direção ao fundo do mar, só sei que no momento em que recobrei a consciência, eu estava sendo puxado por minha cauda por uma rede que os humanos utilizam para capturar nossos peixes. Rapidamente empunhei minha faca e comecei a cortar, mas não sem antes notar que mais quatro de minha espécie mortos e também sendo puxados pela mesma rede que eu. “Não posso deixar seus corpos serem levados”

Libertei um por um, esperando que antes de chegar no navio, eu também pudesse me soltar e voltar para a linha de frente de meu povo. Não tive tanta sorte, meu corpo começou a ser puxado para fora da água e foi aí que comecei a me desesperar, eu não podia ser levado, não podia morrer ali, eu precisava ajudar a proteger o reino.

— Capitão, pegamos um! – Não pude ver ao certo quem estava falando, haviam muitas coisas ao meu redor e decidi pensar primeiro em uma rota de fuga. — Ele não parece perigoso, mas aconselho a não baixarem a guarda. – Uma ponta metálica começou a cutucar minhas costas e prontamente me virei para olhar quem a conduzia.

Sei que o correto é que nós, sereianos, não nos misturemos com os humanos e muito menos nos apaixonemos por eles, aliás, esta é uma de nossas principais regras, e sei também que no mundo dos humanos, dois machos da mesma espécie não podem criar laços afetivos entre eles, mas o humano em minha frente despertou algo diferente em mim, algo que eu sabia que não era certo.

— O que faremos com ele, senhor? – Seu cabelo negro dançava com o vento enquanto que seus olhos acastanhados não me perdiam de vista. — Temos que levá-lo vivo para terra firme, mas suponho que ele não vá colaborar.

É verdade, não posso me deixar ser capturado tão facilmente. Agarrei o cabo da lança que ele empunhava e o puxei pra mim, usando minha faca para ameaçar cortar seu pescoço caso tentasse algum movimento brusco.

— Mar. – Obviamente que eu falo a língua dos humanos, é uma de nossas principais precauções pra caso capturemos algum deles, mas eles não podiam saber disso, então, usei apenas uma palavra, essa que entenderam rapidamente.

— Não deixem que ele volte para o mar. – O cheiro de mofo que vinha das vestes amassadas de meu refém se misturavam com seu próprio odor, muito parecido com o das algas que crescem próximas de minha concha. — Nem que precisem me matar, não o deixe voltar para o mar.

“Matar ele? Não podem fazer isso.” Não pude controlar meu impulso de arrastá-lo comigo para a beira do navio. Matá-lo passou a não ser uma opção viável, e eu sabia exatamente que algo bom não sairia dali.

— Capitão, estamos sendo atacados por tentáculos gigantes. – Essa era a deixa, haviam chamado nossa maior arma contra os navios, Caríbdis, uma criatura enorme que engole navios inteiros com suas tripulações. Eu precisava tirar aquele homem dali antes que fosse tarde demais.

Aguardei até que o monstro balançasse a embarcação para poder me jogar no mar com o marinheiro. Sei muito bem que humanos não sabem respirar debaixo da água, e foi por isso que comecei a compartilhar o ar que retiro das águas por minhas guelras com ele. Eu não conseguiria ir muito longe, não conseguiria leva-lo pra terra firme pois ele morreria antes de chegar em alguma ilha, e também não poderia entrar em um dos navios o acompanhando, ou podia?

Depois de perceber que eu não o machucaria, o marinheiro deixou que eu o guiasse pelo mar, e foi como o levei até uma das embarcações, agarrando uma escada de cordas e o ajudando a subir por ela. Pude apenas ver um sorriso confuso findo dele antes de minha cauda ser atingida por um arpão e eu ser puxado para cima do mesmo navio em que ele escalava pela lateral.

— Não o matem! – Eu agonizava pela dor que sentia, mesmo assim pude reconhecer sua voz. — Vamos leva-lo vivo. – Foram as últimas palavras que ouvi antes de receber uma pancada na cabeça.

Meu corpo todo dói, executar movimentos simples, como o de cerrar os punhos se tornaram quase impossíveis para mim nesse estado, nem mesmo consigo sentir minha cauda. Queria não ter tomado uma decisão tão imprudente, quando que um humano poderia ficar com um ser dos mares? Não sei onde estava com a cabeça, mas agora já não importa. Olho pra baixo e noto que me falta um pedaço da calda, talvez tenha tirado junto com o arpão que a perfurou, estou pendurado pelos braços e vários cortes podem ser vistos por meu corpo. Em minha frente, ele, o humano que me fez tomar tantas decisões imprudentes, trajando vestes pretas e brancas, realmente preciso aprender mais sobre essas criaturas da terra.

Estava em uma sala de paredes esbranquiçadas, sem muito o que ver, apenas uma mesa mais a frente de onde eu estou e um luz forte sobre mim. — Você consegue me entender? – Acenei que sim com a cabeça. — Porque não me matou? Porque não me deixou me afogar no mar? – Eu não tinha como responder a tais perguntas, eu simplesmente não tive forças para tirar a vida dele. — Me responda! – Deu alguns passos pra frente, percebia que eu não estava em meu melhor estado, mesmo assim, queria uma resposta.

— Humanos e Sereianos não podem viver juntos. – Minha boca se movia sozinha, dizendo as palavras que meu coração ordenava.

— O que disse? –

— Não poder viver comigo no mar. – Olhei no fundo de seus olhos e pude perceber que ele me entendia perfeitamente. — Humanos e Sereianos não podem viver juntos. – Algumas lágrimas começaram a escorrer de meus olhos, eu não tinha mais o controle de meu corpo.

— Você sacrificou sua vida pra me salvar. – Disse ele dando alguns passos pra trás. — Olhe só como você está agora. Não pode nem ao menos voltar pro mar porque lhe falta um pedaço de sua calda. Deveria ter tirado minha vida e voltado par seu povo.

— Não conseguir... Gostar de você. – As lágrimas já lavavam meu rosto ferido e respingavam por meu corpo e no chão, sabia que eu não poderia fazer mais nada e que meu fim estava próximo. — Favor?

— O que? Quer me pedir um favor? – Acenei afirmando. Ele chegou seu rosto próximo ao meu, minha voz já não saia tão bem assim.

— Matar, livre. – Me lembrei que eles precisariam de mim vivo para poderem fazer mais pesquisas e experimentos, então, se eu não estivesse vivo, seria uma chance de me descartarem, assim como fazem com a maioria dos que pegam já sem vida.

— Quer que eu te mate? Eu não posso fazer isso, eu... – O humano já sabia que eu não tinha muitas chances, e também que se me encontrassem morto, não teriam muito mais o que fazer comigo.

— Não querer sofrer mais. –

Acredito que ele tenha percebido que era o mais certo a se fazer, se afastou de mim e foi até uma mesa do outro lado da sala, pegando minha faca que estava sobre ela, retornando até mim. Sua mão tremia, provavelmente nunca havia realmente tirado a vida de algum ser vivo, e isso me deixava ainda pior por ter pedido para ele o fazer.

— Me perdoe por isso. – Fechei meus olhos e fiquei esperando pelo fim, mas a primeira coisa que senti foi seus lábios, quentes e macios, tocando os meus, como um agradecimento por ter salvo sua vida antes. Logo em seguida uma pontada em meu peito, “Errou meu coração de propósito? Bem, não importa, minhas escolhas me trouxeram até aqui, e não me arrependo de nada.”


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