Chamas Azuis escrita por Caramelo


Capítulo 13
Parte 2 - Metade de Minha Vida Deixo Para Trás


Notas iniciais do capítulo

Hello! Faz muito tempo que não publico nada, não é mesmo? hjhdjhfj sorry >.< Estive lotada até o pescoço com os trabalhos da faculdade... Quem ia pensar que demora tanto para projetar uma galeria de arte? ‍♀️

Enfim, brincadeiras a parte, estou muito feliz que tive um tempo para terminar este capitulo. Comecei a escrever um pouco antes de ter publicar o último e fui terminar hoje. Ele deveria ter muito mais coisa, porém não coube tudo, caso contrário estaria enorme. Então resolvi dividi-lo e postar o restante como mais um capitulo.

Espero que gostem.

Agora, vou deixar que fiquem nas mãos de Jane:



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I

Abro os olhos, ainda um pouco zonza. Demora alguns segundos para que minha visão possa acostumar-se com a claridade. Vejo duas cortinas brancas, desabando sobre um piso de mármore, elas parecem brilhar em contraste com a luz do sol que emana de duas grandes janelas de vidro que vão do chão ao teto em formato de arco.

As paredes ao meu redor, são todas em tons pasteis, com pequenas exceções de adornos dourados. Movo meu corpo sob algo macio e confortável e percebo que estou deitada sobre uma cama. Esta não é como as do S&K, é grande e repleta de cobertas e lençóis finos.

Sinto uma certa dor nos músculos, porém nada com que eu não estivesse acostumada. O cheiro desse lugar... Um aroma doce e delicado. Um perfume que nunca havia sentido antes. Não vejo mofo ou podridão em nenhum lugar. É como se estivesse outra vez na Mansão D'Lacy . "Estou sonhando?" pergunto a mim mesma. "Isto não pode ser real..."

Luto para levantar-me, tirando as coberta de cima de mim e jogando-as de lado. Sento na beirada do colchão e, assim que boto meus pés sob o piso, vejo que não apenas o cenário mudou, mas também minhas roupas. No lugar do vestido cinzento e imundo do S&K, estou vestindo um outro... Tão branco quanto as cortinas que vi a pouco. O toque do tecido faz com que eu lembre-me da seda que vestia quando era criança.

As coisas que aconteceram comigo... Tento organizar meus pensamentos, tentando entender como cheguei aqui. Lembro-me do S&K, da cortina de fogo caindo sobre mim; A voz de Alastor surgue em minha cabeça, seguida de Bélior; Então tudo tornar-se confuso... "Havia algo dentro de mim". Aquela mulher de cabelos negros, suas palavras rondavam meus pensamentos.

Ao lado da cama, encontro uma cômoda grande de madeira. Sobre ela, vejo dezenas de ataduras ensanguentadas e ervas estranhas próximas a uma bacia de água. Levo minhas mãos ao peito involuntariamente. Consigo sentir a pequena cicatriz sob o tecido fino do vestido, logo abaixo do seio direito. Alguns pontos ainda permanecem ali...

A imagem de Jared surge de repente em minha mente. "Foi ele quem fez isso" digo a mim mesma, ainda sem conseguir acreditar nas palavras, porém isto ajuda-me de certo modo. O que aconteceu depois de ser punhalada... Tudo começa a voltar.

Lembro-me de sentir alguém carregando-me para fora daquela sala enquanto lutava para permanecer acordada. Vi sua camisa branca manchada com meu sangue, quase podia enxerga por trás daquele tecido... Lembro de ver as ruínas dos corredores do hospício e dezenas de corpos queimados espalhados pelo piso de pedras. Ouvia algumas vozes ao meu redor, mas pareciam distantes demais para que pudesse discernir suas palavras.

Depois eu vi o verde e o azul... Podia sentir o calor de algo sob meu corpo. O cheiro de grama invadia minhas narinas e tinha a sensação de estar segura, livre. Pude jurar que ouvi o som de um pássaro cantando. O trotar de cavalos veio em seguida e um balanço incomum, não estava mais nos braços de ninguém e sim deitada sobre algo que não saberia dizer o que era.

Depois de muito tempo inconsciente, havia conseguido abrir os olhos uma última vez. Estava novamente nos braços de alguém, sendo levada para algum lugar diferente de onde estava. A pessoa que me carregava disse algo quando percebeu que eu estava acordada e, apesar de não compreender suas palavras, o simples fato de ouvir sua voz deixava-me tranquila. "Não estou sozinha" ficava repetindo em minha mente, enquanto agarrava a gola de sua camisa com toda força que podia.

Fui tirada de meus devaneios subitamente, após ouvir o som familiar de passos apressados. Dirigi meu olhar para a porta fechada do quarto, esperando que alguém entrasse abruptamente por ela, porém ninguém o fez. Após alguns segundos, ponderando se deveria ou não arriscar-me para além do quarto, resolvi levantar.

A sensação de estar de pé outra vez, parece que não a sentia fazia muito tempo. Era bom ter o controle de meu corpo outra vez. Respirar sem dificuldade, caminhar e mover-me como bem entendia. Sabia que ainda não estava completamente curada, as marcas de luta ainda estavam bastante nítidas em meu corpo, mas era o suficiente para que eu me sentisse forte como nunca antes. Todo o cansaço e exaustam haviam desaparecido completamente, sentia como se tivesse dormido durante muitos dias. Nem me lembrava da última vez em que me senti dessa forma.

Respirando fundo, caminhei até a porta e movi a maçaneta em formato oval. A porta abriu-se sem muito esforço. Suspirei aliviada por não estar trancada... Um corredor extenso surgiu diante de mim. Não havia tantas portas ao longo dele como no S&K, apenas seis além da minha que seguiam de ambos os lados. À direita o corredor parecia acabar em uma janela de vidro tão grande quanto a que estava em meu quarto. À esquerda, porém, podia ver uma escadaria que separava este de outro corredor um pouco mais extenso à frente.

Hesitantemente, continuei caminhando para fora do corredor. Segui a escadaria até o andar inferior. Fiquei imaginando para onde aquelas vozes foram... É provável que saíram de dentro de uma daquelas portas do corredor. Pergunto-me que tipo de lugar é esse, parece uma mansão, disso não tenho dúvida, mas quem vive aqui? E mais importante, por que trouxe-me para cá?

Não poderiam ser aquelas pessoas simples que invadiram o S&K, eram brutos e mal-educados de mais para serem de origem nobre. O modo como se apresentaram, nem mesmo mencionaram o nome de suas famílias, definitivamente não podem ser os donos dessa mansão.

Ouvi vozes novamente ao passar na frente de uma porta dupla entreaberta. Pareciam exaltadas. Aproximei-me da mesma, porém não ousei entrar. Aproveitei a pequena abertura das folhas para ver o que se passava em seu interior.

Pude ver duas figuras bastante familiares. O rapaz moreno de olhos verdes estava de pé enfrente a uma escrivaninha, suas roupas e postura estavam completamente diferentes de como me lembrava. Suas vestes eram como as roupas que me pai usava. Um lenço dourado sob o pescoço, um casaco longo e calças do mesmo tom escuro. Segurava uma cartola em uma das mãos e uma bengala em outra. Os sapatos estavam impecáveis, sem mesmo um punhado de terra ou marcas de sujeira. Carter parecia alguém muito diferente daquele rapaz simplório que conheci.

Ao seu lado, estava Jared, este permanecia o mesmo. Apesar das roupas, tão imponentes quanto as de Carter, sua postura ainda era tão desleixada como lembrava. Estava escorado em uma das múltiplas colunas de pedras brancas que seguravam o teto pesado de mármore acima deles. Seu casaco estava ainda desabotoado, como se o tivesse vestido rapidamente e, no lugar do lenço, havia uma gravata um pouco solta. Ele parecia irritado com algo, como se quisesse sair correndo daquele lugar a qualquer segundo.

Dirigi meu olhar para uma terceira figura, esta estava atrás da mesa e encarava os outros dois acusatoriamente. Era um homem velho, na casa dos quarenta. Seus cabelos exibiam marcas brancas e entradas, indicando o inicio da calvície. Seus olhos eram exatamente como os de Jared. Azuis, intensos, quase irreais. Na verdade, via bastante semelhança entre eles, poderiam ser parentes...

— Sabem o quão irresponsáveis foram quando invadiram aquele manicômio? - esbravejava aquele senhor aos outros dois que apenas escutavam em silêncio. - O que estavam pensando? A repercussão de suas ações é intolerável. Fazem mais de duas semanas e isso ainda é noticia em toda Londres.

— Disse-nos que queria a adaga - Jared pronuncia-se pela primeira vez. - Então a trouxemos, o que mais quer que eu diga?

— Jared, apenas cale-se, não é o melhor momento para essa sua arrogância - Carter o silencia.

— Quantas vezes tenho que dizer a vocês para que não façam nada imprudente? - o senhor continua, ignorando completamente a interrupção dos dois rapazes. - Por causa de seu plano estúpido Catherine ainda não recuperou completamente os movimentos das mãos... Era sua responsabilidade garantir a segurança dos dois! - desta vez ele direciona suas palavras exclusivamente para Jared.

— Imprevistos surgiram... - Carter tenta defende-lo.

— Fala da garota que vocês sequestraram?

— Nos a resgatamos — Jared enfatiza a palavra. - Sabe muito bem que ela estaria morta se fosse deixada lá.

— Isso não deveria ser um problema para você - Seu olhos azuis parecem brilhar ao terminar a frase... - Sabe o que acontece quando fazemos as coisas por impulso!

Jared franze o cenho.

— Como se você soubesse... - ele diz sem elevar o tom, não precisava fazê-lo. - Tudo que faz é esperar que nós façamos o trabalho sujo enquanto fica sentado atrás dessa mesa. Fizemos o que tinha que ser feito, sinto muito que alguns inocentes morreram no processo, mas nossas ordens eram...

— Suas ordens - interrompeu o senhor, batendo os punhos sobre a mesa - eram somente recolher informações. Mas vocês fizeram muito mais que isso, não é? Além de alertarem todo o clã de abutres roubando a adaga, trouxeram aquela garota...

— Com todo o respeito, senhor - desta vez é Carter quem o interrompe -, já discutimos a importância dela. Nós vimos do que ela era capaz, Cathie viu. Ela sabia que a garota era especial, foi ideia dela trazê-la conosco, mas sabíamos que não conseguiríamos escapar tão facilmente daquele lugar. Por isso fizemos tudo que fizemos, para garantir que os abutres não pusessem as mãos nela outra vez.

— Eu já ouvi suas explicações, Carter - o senhor o silencia. - Não é necessário que as repita...

— Sim, senhor - Carter apenas acena com a cabeça em concordância, porém sua expressão diz outra coisa.

— E quanto ao laço de sangue? — ele pergunta encarando Jared. - Foi você quem a manipulou?

Um sorriso estranho forma-se nos lábios do garoto.

— Apesar de querer levar o crédito por tal feito - ele diz -, a garota o fez sozinha. Estava quase esgotado aquele ponto e ela era muito resistente, devo admitir. Embora tenha manipulado grande parte do acordo com Alastor, não posso levar o crédito por isso.

— Não deveria usar seus poderes a este ponto - o senhor o repreende. - Sabe o quão perigoso pode ser, está ficando mais forte.

— Eu sei - responde o garoto parecendo, pela primeira vez, preocupado. - Mas eu não tinha escolha, precisávamos das ilusões para escapar. Poderíamos estar mortos agora se não fosse por isso e a garota ainda seria uma prisioneira ou pior... Aquilo que a possuiu, não era como Alastor. Era diferente de tudo que já vimos...

Antes de terminar de ouvir o monólogo de Jared. Senti algo tocando meu ombro direito. Dirigi meu olhar na direção e vi uma mão estranha sobre ele. A lembrança daquela abastema invade minha memória e não consigo evitar um grito de pavor. Afasto-me rápidamente da figura enquanto volto-me para encarar seu rosto. Ao fazê-lo, esbarro na maçaneta atrás de mim e escoro-me sobre porta.

Os olhos âmbar do rapaz encaram-me de forma intrigada. Os cabelos castanhos, penteados para trás, deixavam algumas poucas mechas rebeldes caírem sobre seus olhos... Nunca o havia visto antes, porém sentia uma certa familiaridade ao encara-lo. Possuía a mesma aura que Jared e Carter exalavam.

— Nunca lhe disseram que é falta de educação escutar atrás da porta? - pergunta ele em um tom repreendedor.

— E-Eu não estava ouvindo... - digo, porém sou interrompida.

— E mentir é um hábito ainda pior. - A voz irritada e bastante familiar de Jared soa atrás de mim.

Antes de eu ter tempo para fazer ou dizer qualquer coisa, a porta abre-se de repente, fazendo com que eu perca o equilíbrio e caia para trás. Ao olhar para cima, meus olhos encontram os do rapaz. Afasto-me dele rápidamente, pondo-me de pé. Não sinto-me confortável em estar tão próxima, na verdade, quero ficar o mais longe possível... Vê-lo tão próximo a mim, me trás lembranças ruins.

As palavras da abastema surgem em minha mente... Eu não o conheço, não conheço nenhum deles, deveria temê-los por isso? Jared me salvou, mas como ele está vivo? Quer dizer, eu o vi morrer. E quanto aquela adaga... Ele me apunhalou com ela. Além disso, o que foi toda essa conversa à pouco? Estou assustada demais, envergonhada demais para encara-lo... Não sei o fazer ou pensar quando estou próxima dele.

"Por quê tudo tem que ser tão complicado?"

Aperto meus dedos envolta de algo macio e, pela primeira vez, percebo que estou agarrando o braço do rapaz de cabelos castanhos. Sinto um rubor subir para minhas bochechas, porém não o solto. Dirijo meu olhar para Jared, apenas por reflexo, sinto que não deveria estar fazendo isso, abraçar outro homem na sua presença... Mas, esse sentimento de culpa, não tem sentido, tem?

Seus olhos encaram os meus subitamente. Sinto um arrepio percorrer meu corpo no mesmo instante. Vejo-o cerrar a mandíbula enquanto seu olhar congela onde meus dedos encontram o tecido do casaco. Encolho-me ao lado do rapaz, baixando minha cabeça e desviando o olhar mais uma vez. "Por que sinto que estou fazendo algo errado?"

— Ora, o que há com toda esta hostilidade? - ouço a voz daquele senhor pronunciar-se de repente, cortando o breve silêncio que se instalou. Ele se dirige à mim em seguida - Minha querida, Jane... Será que posso chama-la assim? Creio que trata-la pelo nome de sua família seria uma mera formalidade a esta altura...

— Jan... - digo baixinho, enquanto limpo a garganta para continuar. - Jane está bem.

Vejo um brilho passar pelo seu olhar, como se estivesse analisando-me... Seus olhos claros e intensos me intimidam, exatamente como os de Jared. Sinto como se estivesse encarando uma versão mais velha do rapaz.

— Perfeito - ele responde. - Acredito que tenha muitas perguntas, estou certo?

— Sobre o que estavam conversando? - pergunto sem rodeios. Estou farta de tantos mistérios e segredos... - O que era toda aquela história sobre adagas e ilusões?

— Cada coisa ao seu tempo... - ele começa, porém eu o interrompo imediatamente.

— Não diga isso! - Minha voz soa tão alta que a ouço ecoar pelo grande salão em que estamos. - Camélia dizia-me o mesmo...

— Camélia? - o senhor repete o nome confuso. - De quem está...?

— Está se referindo à Catherine - explica Jared, ainda sem desviar os olhos de mim -, este foi o nome falso que usou para ter acesso à enfermaria.

— Ah, sim, entendo... - responde o senhor, parecendo bastante intrigado. - Acredite criança, ela não estava mentindo quase lhe disse que teria suas respostas. Vou lhe contar tudo que quiser saber... Mas antes, acredito que esteja faminta, não?

Assim que ele o diz, sinto uma certa dor no estomago e, imediatamente, tento recordar-me inutilmente da última vez que comi.

— Além disso - continua ele -, teremos bastante tempo para conversar durante o jantar. Tem minha palavra. Mas, antes disso, recomendo que volte para seu quarto, afinal, não está vestida apropriadamente para tal...

Lanço um olhar rápido para minhas roupas, sem entender muito bem o que ele quer dizer. Estou usando um vestido, isso não é o suficiente?

— Por... - digo hesitante, ignorando a esta última parte - Por que eu deveria acreditar em você?

— Por que nenhum de nós pretende lhe fazer mal. - O senhor dá um passo em direção à mim. Seus olhos parecem prender meu olhar... Como se estivessem me forçando a encara-los a confiar neles. Meus sentidos parecem embaralhados, sinto-me bem, de certo modo, segura. - Pode confiar em mim...

— Pare! - Jared grita repentinamente, fazendo com que eu volte aos sentidos subitamente, enquanto o rapaz se põe entre mim e o senhor grisalho. - Não vou deixar que use este truque sujo com ela...

Um sorriso intrigante forma-se nos lábios do mais velho.

— Jared - diz Carter parecendo tenso de repente -, pare com isto!

— Está tudo bem, Carter, deixe-o - responde o senhor calmamente. - Sua hipocrisia parece não ter limites... - ele observa dirigindo-se à Jared. - Está tudo bem para você manipulá-la, mas quando outro o faz o incomoda?

— Senhor - o rapaz ao meu lado os interrompe limpando a garganta.

— Já que se importa tanto com a moça - continua o mais velho, porém retomando a postura -, faça o favor de leva-la ao quarto... O jantar será servido às sete.

Jared afasta-se do mais velho relutantemente. Pela sua expressão, acredito que ainda tinha muito a dizer... Mesmo que não entenda o que acabara de acontecer, sinto que ele estava me defendendo.

— Como queira - é tudo que ele responde, antes de se voltar para mim. - Venha...

O rapaz estende sua mão em minha direção, porém afasto-me involuntariamente. Aperto ainda mais o braço do outro garoto e Jared lança-me um olhar ainda mais irritadiço do que quando o fiz pela primeira vez, o que apenas me desencoraja ainda mais de aceitar sua mão estendida.

— Não se preocupe - diz o rapaz ao meu lado colocando uma de suas mãos sobre a minha que permanece agarrada à sua manga. - Posso leva-la em seu lugar se quiser...

Seus olhos, tão dourados quanto mel, encaram-me curiosos, aguardando, para minha surpresa, a minha resposta. Estranhamente, aquela foi a primeira vez em muito tempo que alguém se preocupou com a minha opinião, mesmo que para algo tão banal. Não consegui evitar um leve sorriso de formar-se em meus lábios, enquanto acenava em concordância.

Jared suspirou, quase que indignado, assim que o fiz e, novamente, senti-me culpada por alguma razão. Ele baixou a mão que estendera, cerrando os punhos...

— Tanto faz - ele parece cuspir as palavras enquanto se afasta.

II

O rapaz leva-me mais uma vez para dentro do quarto. Não solto seu braço até finalmente estar dentro do cômodo. De alguma forma, esse desconhecido me faz sentir mais segura que qualquer um. Talvez seja porque ele não estava lá, no S&K, quando todas aquelas coisas aconteceram... Olhar para ele não me traz qualquer lembrança ruim, diferente de Jared.

Eu realmente não o entendo. Como alguém consegue ser tão confuso? E por que eu me importo tanto com isso? Em apenas poucos dias ele se mostrou instável, teimoso e assustador... Não quero voltar a ficar perto dele. Talvez fosse melhor se minha última lembrança dele fosse a sua imagem estirada no piso daquela cela. Ao menos ele ainda seria um herói na minha cabeça.

— Muito bem, senhorita Jane - ouço o rapaz dizer, porém o interrompo no mesmo instante.

— Sabe meu nome? - pergunto.

— Seria estranho se não soubesse... - observa ele. - Todos na mansão sabem.

— Com todos refere-se...? - insisto tentando arrancar qualquer informação que seja.

— No jantar - ele responde. - Garanto que Jared e o Senhor Te...

— Não quero... - digo mais uma vez interrompendo-o, porém hesitante - Não quero falar com Jared.

Ele encara-me por alguns segundos, parecendo ponderar sobre o que dizer.

— Eu sei que ele pode parecer um pouco difícil, mas acho que devia... - começou, porém o detive mais uma vez.

— Por favor - suplico desta vez.

Seu olhar muda de repente, assume um tom de pesar... Como se sentisse pena de mim. Não o culpo. Aos seus olhos devo parecer tão moribunda...

— Escute, Jane, será que posso chama-la assim? - ele pergunta. Por um instante, pensei que caminharia até onde estou, porém ele hesita.

— Todos aqui já o fazem - dou de ombros.

Um sorriso fraco forma-se em seu rosto. Iluminando aquele semblante pacifico e, por um instante, ele parecia brilhar, assim como um anjo ou de como ainda lembrava da imagem deles desenhada delicadamente sob o teto abobadado das capelas. Não havia reparado antes, porém agora podia ver com clareza o quão belo era aquele rapaz. Talvez o homem mais lindo que já vira...

— Espero que nos perdoe - ele faz uma curta reverencia -, mas creio que bons modos e cortesia não sejam coisas muito estimadas dentro da mansão.

— Você... - digo - parece bastante cortês, se me permite dizer.

— Acredite - insiste ele -, sou uma exceção a regra. Irá descobrir isso muito em breve, embora já tenha alguma noção de como agimos graças àquele idiota lá embaixo...

— Sem dúvida refere-se a Jared - respondo permitindo que um sorriso forme-se em meus lábios. - Mas acho que "idiota" não seja a palavra correta.

— Tem razão - ele concorda sem desmanchar aquele sorriso tranquilizador -, troglodita soaria melhor.

— Um verdadeiro bárbaro, eu diria - comento corrigindo-o.

Por alguma razão, sinto-me bastante confortável em conversar com ele. Seu olhar pacifico me atraí, sinto-me segura perto dele.

— O definiu perfeitamente bem - ele ri. - Mas, apesar de sua personalidade bastante caótica ele não é de todo ruim, deveria dar uma chance a ele... Pelos tente, pode fazer isso?

— Eu... - respondo ainda hesitante. Não quero ter mais nada haver com Jared, mas... Esse rapaz... Ele parece estar sendo sincero... Não quero desaponta-lo. - Eu pensarei sobre isso - digo por fim.

— Creio que isto baste por hora - ele parece ficar um pouco mais tranquilo com minha resposta. - Irei mandar alguém para ajuda-la a se vestir.

— Ainda não entendo por que devo fazê-lo... - Suspiro enquanto caminho até a cama e sento-me sobre a borda da mesma. - Isto já está bom para mim.

— Acontece que isto — ele indica o vestido de renda branca em meu corpo enquanto limpa a garganta um pouco acanhado -, são suas roupas de baixo.

— Perdão? - pergunto no mesmo instante, alarmada.

— Suas roupas de baixo... - ele repete um pouco mais baixo desta vez, sem olhar para mim.

Dirijo meu olhar para as mesma e percebo o quão estúpida sou... Mas como eu poderia saber? Tudo que nos davam para usar no S&K eram aqueles vestidos e meias... Nunca vestíamos alguma coisa por baixo daquilo. Não é como se eu soubesse o que as mulheres vestem fora daqueles muros.

Sinto que deveria tentar cobrir-me com alguma coisa, porém estou envergonhada demais para até mesmo mover-me. Gostaria de ter permanecido ignorante sobre isto, assim não estaria tão encabulada de encarar o rapaz à soleira da porta.

— Bem - ele diz por fim -, irei me retirar agora... Nos veremos durante o jantar... Espero. - Vejo seu rosto assumir um tom mais avermelhado, mesmo que ele tente disfarçar.

Vejo-o virar as costas finalmente e dirigir-se para o mesmo corredor por onde viera.

— Espere - digo detendo o rapaz constrangida -, tem apenas mais uma coisa que queria lhe perguntar antes de ir...

— Sim? Pode dizer... - ele responde, voltando-se mais uma vez para encarar-me.

— Ainda não me disse seu nome - comento sem conseguir olhar em seus olhos.

Ele sorri uma última vez.

— Pode chamar-me de Ethan.


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Notas finais do capítulo

Um pequeno spoiler: a partir de agora muitos personagens importantes irão surgir. Estava bastante ansiosa para coloca-los no enredo hehehe. O que será que podemos esperar deles? Bem, só lendo para descobrir.

Esse foi o capitulo, gostaram? Sei que demorei e estou tentando ao máximo postar com mais frequência. Muito obrigada a todos que leram até aqui ♥

Como sempre, não esqueçam de clicar em acompanhar história, pois isso fara uma escritora muito feliz e podem deixar um comentário se quiserem, afinal não custa nada, além de que adoraria saber suas opiniões sobre a história.

Um grande beijo a todos vocês e tchauzinho.



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