Cartas para Julieta escrita por Capitu


Capítulo 3
Capítulo 2- Sensações de um primeiro encontro- Parte II




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Foi assim, como ver o mar

A primeira vez que meus olhos se viram no seu olhar

Não tive a intenção de me apaixonar

Mera distração e já era momento de se gostar

 

Quando eu dei por mim nem tentei fugir

Do visgo que me prendeu dentro do seu olhar

Quando eu mergulhei no azul do mar

Sabia que era amor e vinha pra ficar

 

—Meu querido- disse Julieta apoiando as mãos sobre o peito de Aurélio- hoje pela tarde estava procurando pelos contratos de exportação por toda a casa e acabei vindo aqui em seu quarto, me deixe levar por minha curiosidade e acabei encontrando este bolo de cartas direcionadas a mim - disse envergonhada.

 –E você leu algumas delas?- perguntou Aurélio inseguro.

 –Sim, eu abri um dos envelopes e agora me sinto tão encabulada por ter invadido desta forma sua privacidade, se você não as enviou a mim, era porque não queria que eu tomasse conhecimento do conteúdo destas cartas- suspirou em preocupação- me perdoe meu amor, as vezes aquela velha Julieta gosta de dar as caras, em um primeiro momento achei que eu tinha direito a leitura, já que eram direcionadas a mim, você pode me perdoar?- disse fazendo manha.

 

Ficaram assim fitando-se por um tempo, Aurélio decidiu fazer um clima de suspense, porque de fato preocupou-se com o conteúdo das cartas, não as havia enviado por motivos óbvios, se aquela antiga e enigmática Julieta tivesse lido, talvez ele não estaria vivo para contar a história, afinal, para ela aquele encontro não deve ter significado nada. Após instantes, que para Julieta pareceram uma  eternidade, olhou-a com seus olhos azuis bondosos e finalmente respondeu:  

 –Ah meu amor que você não me pede que eu não faça? Óbvio que te perdoo, contudo, me diga qual carta você leu, pois elas estavam organizadas em ordem dos acontecimentos. Até cheguei a  pensar em seu direito de ter conhecimento destas letras e por isso talvez eu te presenteasse com as cartas em algum momento, tinha pensado em nosso aniversário de casamento- disse Aurélio, fitando os olhos castanhos de Julieta.

 

Julieta ficou preocupada, será que havia estragado um presente do marido? Será que tinha ido longe demais? Estava realmente aflita, mas já havia traçado um plano para contornar a situação, logo o revelaria, porém, primeiro queria deixar claro o quão grata e emocionada ficará na leitura daquelas letras.

 –Ah Aurélio minha curiosidade matou seu presente, me perdoe meu amor- disse, acariciando seu rosto- eu li a primeira carta, aquela que descreve as suas emoções no dia que nos vimos pela primeira vez- sorriu tímida com os olhos marejados- fiquei tão comovida, você não faz ideia do quanto, como você pode ser tão bondoso, amoroso e ter esta alma que desvendou a minha desde o dia em que nossos olhos se encontraram pela primeiras vez? Meu amor, que sorte a minha em te encontrar.

 

Aurélio se aproximou de Julieta e beijou seus lábios com suavidade, com carinho, esperava demonstrar neste gesto todo o amor que emanava de seus poros, de fato, como a carta dizia, ela era o mistério que ele queria desvendar, mergulhar fundo para além daquele escudo negro. Dessa forma reafirmou após o beijo, colocando as palmas de suas mãos sobre seu rosto, um carinho que ele sabia que ela recebia de bom grado, dizendo:

 –A primeira vez que nossos olhos se encontraram me fez querer desvendar os seus mistérios, a sua alma; eu tinha certeza que por trás daquele seu escudo havia uma mulher bela, não só exteriormente, pois és para mim a mais linda das mulheres, mas em seu interior, uma alma que ao mesmo tempo  forte e imponente era encantadora, suave como o vento e alegre- disse segurando suas mãos.

 

Emocionada mais uma vez, Julieta aproveitou que estavam de mãos dadas e o direcionou até a cama onde estavam as cartas, sentaram-se e ficaram mais uma vez fitando-se, encarando-se, aqueles olhares transmitiam mil palavras, palavras que conheciam no mais profundo de suas almas. Ela então quebrou o contato com as mãos de Aurélio, pegou o livro vermelho que estava sobre a cama e disse:

 –Eu te amo Aurélio e como tentativa de reparar esta invasão de privacidade minha para com você, eu permitirei que conheças as minhas impressões sobre aquele dia, não as ditas nesse momento, em que nosso amor é conhecido, correspondido e vivenciado a cada segundo, mas as impressões reais daquele dia que estão registradas aqui em meu diário- concluiu, abrindo-o na página dedicada a descrição daquele encontro e colocando-o sobre o colo de seu esposo.

 

Aurélio ficou surpreso e emocionado por tal atitude de sua amada, finalmente mataria a curiosidade se saber as impressões de Julieta sobre aquele encontro, ficou também um pouco ressabiado pensando que estas impressões não devem ter sido das melhores, já que ela o considerava um completo inútil.–Fico tão feliz que queira compartilhar comigo algo tão íntimo seu, meu amor, entretanto te faço dois pedidos, primeiro, se estiver fazendo isto apenas como medida de reparação, não o faça, não quero lhe forçar a nada que não queiras realmente, segundo, se quiser mesmo compartilhar, peço que leia para mim, quero ouvir cada letra com a voz daquela que as escreveu.

 

A Rainha do Café ficou surpresa com o pedido do amado pois sabia o conteúdo daquelas palavras e sabia que vez ou outra se emocionaria ao reviver aquele misto de sentimentos novamente; tomou fôlego, não o respondeu sobre o primeiro pedido, pois ele sabia que ela só fazia o que queria e começou a leitura:

 

“Vale do Café, fevereiro de 1910

 

Hoje eu estava extremamente centrada nos objetivos de expansão dos meus negócios no Vale do Café, acordei disposta a ir pra guerra, me arrumei e preparei tudo, repassei cada um dos passos que tomaria em minha mente, estava determinada a acabar com aquela questão de uma vez por todas, eu conseguiria convencer o Barão de Ouro Verde e seu filho e sairia vitoriosa, como sempre faço, tendo controle de cada um dos meus passos.

Cheguei naquela casa pronta para abater, era assim que eu me sentia, nós mulheres somos fortes, nenhum Barão do Império ou seu filho inexperiente, um tolo para os negócios, seriam capazes de me vencer, afinal eu sou a Rainha do Café, uma mulher que ao invés de frágil e tola, é forte e construiu tudo sozinha sem necessidade de alguém do sexo masculino, estava pronta para fita-los com olhos fulminantes, típicos de minha armadura negra.

Encarei o Barão com superioridade e ele me olhou raivoso achando que eu me deteria, tolo, não sabe que quanto mais me provocam mais imponente fico, me preparei para o olhar do filho, tinha certeza que  ele me olharia com a mesma raiva, entretanto não foi isso que vi, quando olhei aqueles olhos azuis como o mar recebi um olhar de cumplicidade, de bondade, diria que quase de curiosidade para comigo, não sei explicar,  me vi refletida naqueles olhos e quase fui desarmada por inteiro, tive que sentar no sofá para me recompor.

Segui vociferando palavras, amargas como o café que sempre bebo, duras como é minha alma moribunda, pisei naquele homem mais velho com toda a classe que nós mulheres devemos pisar naqueles que nos desprezam, porém mais uma vez dei espaço a fragilidade quando vi aquele velho Barão padecendo, entrei internamente em desespero,o homem estava quase morrendo na minha frente, meu Deus, que tipo de mulher eu me tornei?  Tentei não parecer tão complacente mas não consegui, estava visivelmente preocupada com aquela situação e ainda por cima, mais uma vez tinha minha atenção raptada pelo senhor Aurélio Cavalcante, ele parecia tão preocupado com o pai, parecia que procurava demonstrar em cada toque uma enorme compaixão, bondade, carinho, seus olhos azuis estavam tão aflitos e buscavam respostas e amparos nos meus olhos; naquele momento me senti magnetizada, atraída como um ímã e assim fiquei analisando-o durante todo o tempo que ali permaneci.  

O que aconteceu comigo? Que poder este homem tem sobre mim? Não me deixarei dominar, eu controlo minhas emoções, EU E SÓ EU controlo minhas emoções, não é um belo par de olhos azuis que irá me desfazer, quebrar os  muros deste meu castelo fortificado, eu sou a  Rainha do Café, não me dou a futilidades, sentir algo além de desprezo por Aurélio Cavalcante está fora de cogitação.”

 

Julieta respiro profundamente, tomou fôlego e disse- Eu não tinha intenção nenhuma de me magnetizar em seus olhos e me apaixonar, contudo, me lembro bem que já naquele dia um misto de sentimentos confusos e até incompreensíveis tomou conta de mim- respirou, tomou as mãos do amado e disse- quando eu dei por mim, eu já te amava.

 –E quando foi isso meu amor?- Disse Aurélio, visivelmente deslumbrado pela descoberta que Julieta também se sentiu magnetizada por ele logo na primeira vez que se viram.

 –Isto ficará para mais tarde, quando você ler para mim todas as suas outras cartas- e assim puxou Aurélio para um beijo emocionado e apaixonado. Logo saberiam mutuamente como cada um foi construindo esse amor, ele apoiado em sua paixão, ela em seu orgulho, que foi sendo quebrado pouco a pouco por aquele belos pares de olhos azuis como um mar, um oceano o qual ela mergulhou de corpo e alma.

 

 

 

 

 


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