Cartas para Julieta escrita por Capitu


Capítulo 2
Capítulo 1- Sensações de um primeiro encontro




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Eu não sei parar de te olhar

Eu não sei parar de te olhar

Não vou parar de te olhar

Eu não me canso de te olhar

 

Julieta travou uma pequena batalha moral com aquelas cartas, poderia abri-las? Não estava violando a vontade de seu marido, que não gostaria que ela tomasse conhecimento daquelas letras? Mas porque ele as escondeu dela? Porque nunca as enviou?. “Ah para o inferno com essas dúvidas”- pensou- “Afinal, se são endereçadas a mim, tenho direito de conhecer seu conteúdo”; e assim, em um misto de sentimentos que iam da aflição pela invasão da privacidade de Aurélio, passando pela frustração por não ter recebido aquelas cartas e finalmente tomada por uma imensa nuvem de curiosidade, abriu o primeiro envelope e leu o seu conteúdo, que dizia:

 

“ Estimada Sra. Julieta Bittencourt,

 

Espero que não se aborreça com o tom talvez íntimo pelo qual me reporto a senhora nesta correspondência, saiba que me dirijo a ti com todo respeito e singeleza que posso utilizar em minhas letras que aqui fluem de forma sincera e sem intenção de importuná-la, assustá-la  ou mesmo cortejá-la.

Contudo, não poderia deixar oculto todas as sensações que transbordaram dentro de mim por este nosso encontro esta manhã na sala de minha casa, em uma situação nada confortável de devedor e pessoa a quem se deve, devo confessar que este encontro me intrigou do começo ao fim.

Não sei explicar exatamente em qual momento fui magnetizado pela senhora, não sei se apenas ao pousar meus olhos em sua forma, pequena mas ao mesmo tempo imponente, cheia de beleza e esplendor ou no encontro de meus olhos com seu olhar intenso mas ao mesmo tempo carregado de tristeza e fragilidade.

Fiquei extremamente curioso em desvendar quem é essa mulher que se demonstra extremamente forte, o qual eu admirei desde as primeiras palavras proferidas pela forma segura, eficaz e comprometida que leva os negócios mas que ao ver o meu pai ali fragilizado em sua saúde, foi capaz de demonstrar um olhar diferente do que a armadura negra que utiliza parecia capaz de demonstrar; não houve desprezo de sua parte pela dor de meu pai, mas sim a demonstração de uma preocupação sincera, humana, por um segundo achei na senhora uma abertura de alguém raramente deve se expor ao mundo exterior, concluo que a senhora é uma mulher cheia de outros mistérios que até agora me parecem indecifráveis mas que eu gostaria de decifrar.

Pela primeira vez em décadas sinto minha respiração descompassada, sinto minhas mãos suarem frio e meu corpo vibrar com uma descarga elétrica que percorre minha espinha, quem é a senhora? O que faz comigo?

Preciso compreender estes sentimentos, porque me parece que finalmente estou diante de um novo momento em minha vida, fomentado na possibilidade de decifrá-la.

 

Peço perdão por tal devaneio importuno, entretanto, algo me diz que eu nunca mais desviarei meu olhar de ti.

 

Com grande respeito e admiração,

Aurélio Cavalcante “

 

Julieta terminou a leitura aos prantos, tomada de uma enorme emoção; como Aurélio pode se deixar admirá-la mesmo ela sendo a mais fria e distante das mulheres? Como já no primeiro contato que tiveram ele pode notar seus olhos tristes, frágeis e até sem vida?

Não se conteve e saiu em busca de seu amado, precisava  abraçá-lo e agradecer por se interessar em desvendá-la para além de seu grande escudo negro, que graças a ele,havia sido trocado por vestes coloridas que agora representava sua alma renascida.

Aurélio retornava de uma rápida ida a cidade, havia ido comprar ração para os animais da fazenda Williamson; mesmo vivendo agora com sua família na Fazenda Ouro Verde, os negócios de expansão para a atividade pecuária seguiam a todo vapor e o casal Cavalcante havia acordado uma parceria junto a Darcy para definitivamente ingressarem neste novo mercado, era seguro ampliarem os negócios pois sabiam que embora no auge o café poderia dar lugar a outras matrizes econômicas.

Ao adentrar os portões da Fazenda Ouro Verde, Aurélio foi invadido pela lembrança do dia em que ali conheceu sua amada Julieta; hoje ele sentia que podia rir daquela situação inusitada da vida, a adversária econômica que havia vindo oferecer uma oferta de compra da fazenda falida havia se tornado, já naquele dia, a pessoa a qual devotaria sua maior admiração- “como será que Julieta me viu naquele dia?”- este pensamento o rondava cotidianamente, mal sabia ele que naquela mesma tarde a vida o possibilitaria matar esta curiosidade.

Julieta o aguardava com grande ansiedade, já o havia procurado mas foi informada por Dolores que o filho do Barão havia saído para a cidade; acabou aproveitando para se recompor do estado emocional anterior, entretanto, ao ouvir a voz de Aurélio no piso inferior, saiu desesperada ao seu encontro, desceu as escadas com tanta pressa que até lhe faltou o fôlego.

Aurélio riu da situação de sua amada, as madeixas um pouco desfeitas por sua corridinha e finalmente o encontro em um abraço apertado cheio de amor- Que houve meu amor?- perguntou Aurélio, depositando um beijo no cabelo de Julieta.

 

Ainda bem que você chegou meu querido, estava ansiosa por nosso encontro, precisamos conversar, mas em um lugar mais reservado, você me acompanha?- disse Julieta, em meio a um sorriso.

 

De mãos dadas Julieta e Aurélio subiram as escadas do casarão, ele ficou surpreso ao ser guiado por sua esposa não ao quarto do casal, mas sim ao seu antigo quarto que se localizava mais ao fundo do largo corredor. Ficou apreensivo ao lembrar que ontem havia adentrado naquele mesmo ambiente para guardar novos selos e adicionar novas cartas a sua coleção particular de correspondências, será que Julieta as haviam encontrado?.

Adentraram no ambiente e os olhos de Aurélio logo foram direcionados para sua antiga cama, havendo sobre ela uma espécie de livro grosso de capa vinho, que se não se enganava já havia visto entre os pertences de sua amada, o baú com sua coleção particular de postais, selos e envelopes e finalmente espalhadas pela cama, o conjuntos de cartaz que ele havia escrito para Julieta- “Ai Meu Deus, fui descoberto, o que será que Julieta vai pensar dos meus devaneios direcionados a ela?”- pensou, balançando a cabeça em preocupação.


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