Faça um Desejo escrita por Lady Nymphetamine


Capítulo 7
Capítulo 7




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Mary e Emma encaravam sem reação, até que as testas começaram a franzir. Havia três folhas de papel, três prontuários sobre a mesa de centro, que logo eram pegos pela Princesa, ao que esta os examinava detalhadamente. Regina adoraria que tivesse deixado algo escapar, que estivesse errada, porém, por mais que Mary conferisse, chegava à mesma conclusão todas as vezes. Uma vez que a mãe desistia e se afastava dali bastante inquieta, era a vez da loira pegar e ela também conferir. Olhava para a Rainha, depois passava uma mão nos cabelos. Regina não sabia nem ao menos o que responder naquela situação, queria pedir desculpas, mas sabia que, de fato, a culpa não era sua e nem gostaria de imaginar muito mais sobre como tudo aquilo fora acontecer. Abriu a boca para falar, mas a Salvadora a atropelou:

— Você tem certeza?

A resposta veio através de um aceno de cabeça. Emma então se recostou na cadeira, parecendo muito mais velha e cansada do que realmente era:

— Temos que chamá-los aqui para conversar.

Neste momento, escutou-se o som de chaves na porta, ao que esta foi aberta e David chegava com as compras do mercado, totalmente alheio ao que estava acontecendo.

— Querida, temos visitas? Não sabia que Emma e Regina vinham para o jantar - ele disse de forma confusa, porém feliz de ter a filha por perto. - Aconteceu alguma coisa?

Ele estava tão perdido nos últimos acontecimentos que doía no peito de Mary só de pensar o que precisava fazer naquele momento:

— Sente. Nós precisamos conversar.

A gravidade em sua voz e a total ausência de explicações demonstrava a seriedade da matéria, ao que David não teve qualquer intenção de contrariar. No entanto, ele olhava para a filha e para Regina, cada qual parecendo ainda mais frustrada, embora esta última evitasse olhá-lo diretamente. 

— O que está havendo? - Ele perguntou para Emma, tomando lugar no sofá da sala, após deixar as compras no balcão da cozinha.

— Você vai saber, deixa os outros chegarem - ela era o mais evasiva que conseguia, o melhor que o seu coração permitia, visto que precisava ter gelo nas veias para aguentar o que estava por vir.

Não demorou muito, ainda que parecesse uma eternidade no meio do silêncio sepulcral que se instalara na sala, para que os outros dois homens chegassem. Primeiro veio Hook, surpreso de haver sido chamado tão tarde por Emma, ainda mais para a casa dos pais dela. A namorada não o recebeu tão bem quanto ele gostaria, sendo distante no tratamento e pedindo apenas que ele se juntasse a elas sem qualquer explicação.

Foi o último a chegar que arrebatou toda a compostura que Regina reunira tão arduamente em si. Ver Robin de novo, entrando pela porta daquela casa e indo procurá-la diretamente era reviver todas as dores do seu passado, todas as tristezas que havia lutado tanto para esquecer. Era estar criando laços novamente e isso a aterrorizava, pois não estava pronta para sofrer mais uma vez por um homem que tanto a havia machucado.

— Regina! - Ele falou ao chegar, indo para perto dela e segurando-a nas mãos. - Está tudo bem? Sua mensagem parecia tão urgente, vim o mais rápido possível.

Ela se afastou, puxando as mãos de volta para evitar contato, não conseguiria seguir se fosse para ser desta forma. Assim, com um tom triste, mas lutando para parecer firme, disse a ele:

— Sente-se, vocês todos precisam escutar isto.

— Temos uma nova ameaça? - Hook perguntou. - Um novo vilão?

— Um velho vilão, novos métodos - Emma pontuou.

Todos agora prestavam atenção exclusivamente na Rainha, esperando para escutar o que ela iria dizer, o que poderia ser tão terrível para espalhar tamanho horror naquele ambiente. Ela respirou fundo e com toda a coragem que poderia reunir dentro de si, começou a falar.

Os minutos se passaram, os prontuários médicos sobre a mesa, o resultado do exame de Beta HCG, havia confusão, incredulidade, medo, mais ainda, havia terror. No mundo dos contos de fada, vindos da Floresta Encantada, jamais um vilão planejara algo tão doentio e cruel como o que Zelena havia feito. Deixava algumas coisas sob perspectiva. Robin não desviava os olhos de Regina nem por um instante, como se o tempo houvesse congelado e as engrenagens em sua cabeça se movessem de forma bastante lenta. David lia a mesma linha no papel diante de si, uma sensação ruim na boca do estômago e muitas palavras que não conseguiam se formar. Mas foi Hook o primeiro a se mover, se levantando da cadeira em que estivera e dizendo de uma vez, tomado de certa fúria:

— Isso não prova nada! Isso… - Mas ele parecia sem argumentos de verdade, olhando para Emma , para os outros, ninguém parecia que iria apoiá-lo. Então se voltava para Regina, um dedo em riste, tomado pelo desespero da situação. - Isto é sua culpa!

Imediatamente Robin Hood se levantou e avançou contra o pirata, pegando-o com agressividade pela gola da camisa e jogando-o contra a parede. Todos se moveram inquietos, mas apenas David chegava perto o bastante para apartar.

— Desafio a falar isso de novo! - Vociferou o ladrão.

— Era isso que Zelena queria, que brigássemos uns com os outros! - Mary pontuou.

Antes que os homens pudessem se atracar mais uma vez, o Príncipe colocou uma mão no peito de cada, de forma que não pudessem se aproximar, ao que elevava a voz:

— Acho que podemos concordar que esta situação é culpa de Zelena e que, agora, isto é o que menos importa - ele era a pessoa mais razoável, ao que dizia olhando para a esposa. - Precisamos… - Nem ele conseguia formular toda a ideia. - Precisamos ter certeza. Descobrir quem é o pai.

Esta última palavra fez Mary involuntariamente desviar o rosto, incapaz de suportar aquele olhar. Hook não parecia ainda satisfeito, ao que se afastava de David e ia para perto de Emma, a expressão triste, implorando pelo perdão:

— Love, por favor, você não acha… - Mas ela o interrompeu com aspereza.

— Você está na lista dos pais em potencial, é um fato - era bastante direta. - Nós cruzamos os dados, eu fiz a checagem eu mesma! De todos os homens na cidade, apenas vocês três possuem a mesma lacuna de memória que Regina, e Zelena já admitiu que a ausência de memória estaria relacionada! Mas agora sejam homens e assumam, pois o bebê não vai crescer desamparado, eu não vou deixar!

A Salvadora se posicionava de forma tão enfática que impressionava Regina. Por um instante, vivendo aquele inferno, a Rainha se sentira mais desamparada do que jamais se vira em toda a vida, isto até escutar a posição de Emma. Foi como se houvesse alguma esperança, uma pequena luz no fim do túnel. Talvez não fosse ser tão odiada, talvez houvesse uma solução e todas aquelas relações pudessem ser salvas, ou seria apenas um sonho agradável.

Hook não disse mais nada, incapaz de rebater a namorada depois do que ela havia respondido. Enquanto isso, David ia para perto de Mary e tocava de leve no braço da esposa, uma tentativa mais enfática de que ela prestasse alguma atenção nele. Porém, a Princesa se afastava, indo em direção ao berço de Neal e balançando a cabeça de forma negativa. Ele insistiu, chegando perto o bastante para falar com a voz baixa:

— Me perdoe… O que você quer que eu faça? Qualquer coisa, só não me olhe assim.

— Você não teve culpa - era visivelmente difícil para ela. - Só… Eu preciso de um tempo. Você e Regina… Juntos… Eu vou precisar de um tempo para apagar essa imagem.

Falar tornava o que era uma vaga ideia muito mais real, quase palpável, ao que o Príncipe preferiu parar de tentar e deixar que a esposa tivesse o tempo que precisava para processar as informações.

Por sua vez, Robin se via agora internalizando melhor tudo que havia escutado e se via pronto para fazer a pergunta que ninguém ali parecia querer, mas que era necessária:

— Quando vamos fazer o teste de paternidade?

Os olhos foram dele para Regina, que pestanejou algumas vezes antes de olhar brevemente para Emma e ser capaz de responder não só para o ladrão como para os outros possíveis pais, já imaginando qual seria a reação:

— Eu quero esperar até o bebê nascer - ela mal começara e Hook já soltava um xingamento, que ela escolheu ignorar com um tom ríspido. - Porque eu não quero meu filho sendo cutucado com uma agulha enquanto ele ainda é um amontoado de células!

— E só o que você quer é o que importa? - O pirata revidou. - E quanto a nós? Vamos aguentar meses assim?

— Sim! - Emma respondeu antes que a Rainha o fizesse. - O bebê é a prioridade agora, não vocês três, então sugiro fazerem logo sua paz com isso e esperar.

Diante de tanta ênfase, já tendo Regina deixado bem clara a sua posição e sendo ela quem carregava o bebê, nenhum dos três homens, por mais inconformado que estivesse, quis comprar a briga. 

— Como vai ser agora? - David trouxe outra pergunta importante.

— Eu não sei - a Rainha parecia realmente cansada ao falar, se levantando da poltrona em que estava. - Não me importo. Façam o que quiserem. Eu vou para casa, preciso dormir.

Com o clima ainda estranho, Regina deixou o apartamento dos Charming. Não precisou nem fechar a porta e Robin seguiu-a pela escadaria, fazendo-a parar somente na entrada do prédio.

— Eu queria que pudéssemos conversar - ele disse quando a alcançou.

— Eu realmente… Realmente não quero conversar agora - foi bastante sincera, lutando para se manter firme naquele momento e não ceder ao impulso de fraquejar e se entregar àquele homem mais uma vez.

— Regina… - O ladrão decidiu abusar da sorte e se colocar no caminho entre a calçada e o carro. - Eu quero que você saiba que, independente de qualquer coisa, eu aceito… Eu quero ser o pai dessa criança - se corrigiu para dar maior ênfase em sua vontade. - Eu quero ser o pai do seu filho, eu quero que sejamos uma família.

Mas não era isso o que a morena queria escutar. Teria ficado exultante com essas palavras há vários meses atrás, mas não agora, não quando lembrava que ele tinha outro bebê a caminho e exatamente com a sua irmã, que lhe causou todo este problema. Se esquivou do homem, pegando as chaves do  carro.

— Como eu disse, não importa o que vocês decidirem fazer agora, o bebê pode ter três pais ou nenhum, só interessa que ele tem uma mãe e isso é o bastante.

Com estas palavras, havia terminado de deixar clara a sua posição. Entrou no veículo e deu a partida, dirigindo para casa, as mãos tremendo no volante, controlando a maldita vontade de chorar. O palco estava montado, todos os atores já sabiam os seus papéis, ou ao menos como permaneceriam durante os próximos meses. Era ruim, muito ruim, mas nada que não pudesse piorar. E se o pai fosse David? Com que cara olharia para Mary? Ou Emma? Estaria com problemas também se fosse Hook, um grande medo das coisas não serem mais as mesmas com a Salvadora. E Robin? A única opção que a não a afastaria das amigas, mas e quanto a ela própria? Aguentaria viver eternamente ligada àquele homem?

Enquanto Regina desligava o carro e acertava o volante com o punho para extravasar a raiva, Emma deixava a casa dos pais e Hook ia atrás dela:

— Eu sei que você está distante e eu entendo, mas eu também preciso que você entenda o meu lado! - Ele disse.

— Seu lado? - Ela ficava indignada. - Aqui não tem lado! Todo mundo, todo mundo está com problemas! Não é só você! Como você acha que Regina está? Como você acha que vai ser para este bebê? - E era cínica. - “Hey, deixa a titia te contar como você nasceu, nós não sabíamos quem era o seu pai porque sua outra tia é uma vaca!”. Você acha que isso vai ser legal?

— Hey! - Hook a cortava. - Eu posso ter sido usado para estuprar uma mulher, acha que isso é legal também?

— Não, mas também não acho que é pior do que a certeza de ter sido estuprada e ainda estar carregando o resultado disso por nove meses!

Emma ofegava, a raiva a flor da pele, descontando no pirata mais do que era realmente responsabilidade dele. A situação a estava afetando de uma forma que não gostaria, indo além do que havia esperado. Passou uma mão nos cabelos e finalmente teve coragem para, mais calma, perguntar:

— O que você vai fazer?

— Como assim? - Ele não sabia se havia entendido da forma correta.

— Quanto ao bebê - ela foi mais clara.

— Esperar, não? - O pirata respondeu. - Eu nem sei se é meu! 

— Mas e se for? Você vai perder toda a gravidez? Vai deixar de acompanhar as consultas, de ver o ultrassom, de sentir os primeiros chutes?

— Eu nem sei se é meu mesmo! - Ele insistiu, ficando mais agressivo, cansado da insistência. - Aff, Emma! O bebê nem vai saber!

Os olhos da loira abriram bastante, bem como sua boca, incapaz de falar por alguns instantes. Era como se o visse pela primeira vez de uma forma clara, límpida como o dia, por debaixo de todo aquele couro, da maquiagem e das joias. Inspirou o ar com força e então disse com a voz baixa:

— Você não devia ter dito isso. Você não sabe como tudo isso é importante, como você vai se arrepender depois.

— Emma… - Hook se aproximou tentando tocá-la, mas ela se desvencilhou.

— Não! - E o olhava com mais do que indignação, era repulsa. - Eu… Você… Eu não vou ficar com um cara que seja um babaca com o próprio filho. Já tive um filho que o pai não pode acompanhar, não vou ficar com uma pessoa que escolha isso deliberadamente.

— Emma, o que você está dizendo? - Ele ficava bastante preocupado.

— Acabou, Hook - a loira era bastante séria. - Acabou entre a gente.

Mesmo que ele tentasse impedi-la de se afastar, Emma se desvencilhou e sumiu ao deixar o prédio dos pais, entrando no fusca amarelo e dirigindo pela noite.

No número cento e oito, Regina estava de pijamas, usando um robe de seda e tomando um suco de maçã que adoraria que fosse cidra quando escutou batidas na porta. Henry estava dormindo no quarto, então nem fazia ideia de quem seria, ou imaginava e não gostava das possibilidades. Abriu a entrada já irritada, porém ficou desarmada ao notar Emma, parada em seu capacho, os olhos vermelhos, uma expressão tão desolada quanto a dela.

— Eu terminei com Hook. Posso dormir aqui esta noite?


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Notas finais do capítulo

Não me matem!