Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 16
Capítulo quinze, ano três


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, bom dia e boa tarde pra quem vem e quem vai ♡ tudo bem com vocês? Hoje (que quase esqueci de postar do tanto de coisa que fiquei atolada em fazer xD) trago uma atualização dupla para compensar o capítulo que não postei mês passado. Creio que, por eles serem curtinhos, vocês me perdoem (olha a desculpa esfarrapada, meu pai...)
Preparem a glicose e os lencinhos, porque aqui não trabalhamos com dó!



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― Louna ― Adrien repete, após alguns segundos de silêncio. Seu tom de voz é insistente, diferente do calmo habitual. Por algum motivo desconhecido, isso me apavora. ― O que quer dizer com ter sumido por minha culpa?

Engulo em seco, olhando para minhas unhas roídas. Não deveria ter levado o assunto para esse lado, no entanto era uma coisa que o incomodava e a mim também. Por mais que eu tenha a impressão de que seu incômodo é proporcionado apenas pela bebida; se estava tão atormentado com minha ausência, por quê guardou por tanto tempo? Era fácil dizer que eu estava distante, mas nunca o vi tomando partido para se aproximar, também.

Sempre pareceu que tínhamos algo. Não tem bem um nome, contudo é intenso. Como um elo indecifrável. Quando me olha, Adrien aparenta não ser de todo sincero. E o pior: eu não faço ideia de se isso é algo pessoal ou se ele sempre foi assim.

Se ao menos eu conseguisse encontrar o homem que mora nos meus sonhos e que não tem uma face ou um nome… eu poderia dar um nome a esse sentimento intenso. Enquanto ele não volta, Adrien… 

Eu ainda não sei o que fazer com ele.

― Não foi por sua culpa, foi por sua causa ― repito igualmente, pigarreando. ― Não quis dizer que me fez ir embora. É só que… Caleb terminou a escola no meio do ano. E depois foi aprovado para EAD. Eu gostava de ficar lá cuidando da Daisy-Lynn e da Maddie, mas… o trabalho com a banda estava ficando de lado, e você mesmo disse: "não precisa ficar, se não quiser". Me senti um tanto intimidada, então eu… fui.

Jesus, falando isso em voz alta saiu um tanto… tosco ao extremo, não? Quem é essa Louna?

― Ah ― é tudo que ele diz. 

Sem-graça, Adrien também encara as próprias unhas. Onde está o conforto que compartilhávamos há apenas alguns minutos? Morreu junto com o meu comentário? Porque, se for, estou disposta a ir caminhando até minha casa apenas para deixá-lo em paz. Seria a minha redenção, não seria?

― Eu bebi ― Adrien comenta o óbvio. Seu hálito de menta ainda é perceptível no ar.

Engulo em seco, percebendo onde ele quer chegar com esse papo.

― Quer uma carona? 

― Não precisa se incomodar, eu posso chamar um Uber… 

― E desperdiçar uma carona de graça? Ai, eu não valho nada mesmo ― ergo uma sobrancelha, me fazendo de ofendida. 

― Desculpe, eu… não quis…

Como ele está murmurando, repouso uma mão sobre seu joelho. Isso faz com que Adrien volte o olhar para mim ⎼ graças ao Universo! ⎼, as íris marrons brilhando com uma intensidade desconcertante. Se eu fosse boa com metáforas e palavras como ele é, com certeza encontraria algum jeito de dizer que o brilho das estrelas é só uma faísca monótona perto de seus olhos. Por ora, apenas consegui sorrir, tentando lhe passar alguma tranquilidade.

― Relaxa. Não ofendeu.

― Como sabia no que eu estava pensando?

― É que eu nunca te contei, mas meu sobrenome é Benoit-Xavier ― cochicho, me virando para ele também. Sinto meu coração falhar uma batida, no entanto me contenho. ― Vem, vamos para casa. Você descansa um pouquinho e amanhã te deixo em casa. Quer que eu mande uma mensagem para a sua mãe? Ainda tenho o número dela.

Ele assente com a cabeça, massageando as têmporas. Seu nível alcoólico provavelmente não é dos melhores, porque me recordo de Adrien só ter bebido dois coquetéis. Faço o que eu mesma sugeri, mandando um aviso para Maisie de que o filho está em segurança. Pietr é um de seus únicos amigos, portanto não são necessárias mentiras. Deixo de lado a bebedeira, mas aposto que ela vai ter alguma noção; mães são assustadoramente sábias, às vezes. Daí, retorno para o The Roosevelt Room para aquietar o facho das belas moças para não pensarem besteira. Quando me deparo com a cena dele enroscado no banco do carona, abro um sorriso.

― Que honra a minha pilotar a Lyla ― comento, colocando o cinto. 

― Um calhambeque desses? Você tem um Impala, Louna! ― mesmo desanimado, Adrien consegue rir e me fazer rir em conjunto. Dou a partida e ele resmunga, apoiando a cabeça na porta. ― Ai… 

Rio baixo, tamborilando no volante enquanto dirigia.

― Quem manda ter um carro tão barulhento? 

― Bem, foi o que o meu salário comprou… se eu soubesse que teria que ir para casa com um começo de ressaca, eu jamais teria comprado.

― Mas imagino que a Lyla já deve ter visto muita coisa, então não sei se esse seu comentário é válido… 

Adrien sorri, girando a maçaneta para abrir o vidro e respirar.

― Ah, isso sim. Suficiente para um conto.

― Um livro não? 

― Não, não… só se eu perguntar para os donos anteriores. Eu… não deu para registrar muita coisa, nem multa.

Acho graça de sua língua solta. Geralmente, de nós dois, eu sou a que mais fala, ao passo que ele se resguarda para soltar as melhores pérolas no tempo oportuno. Posso me aproveitar disso, olhando pelo lado de que não estarei abusando de ninguém.

― Nenhuma mulher? ― pergunto como quem não quer nada.

― Sem ser a Aimee, a Maddie, a Daisy-Lynn e a minha mãe? ― incrivelmente, ele pondera. ― Uma, só.

Ergo uma sobrancelha para ele, voltando a cabeça para olhar de relance. 

― É mesmo? Quem? 

― Ah, eu a amo… muito. Há tanto que nem sei dizer quando foi que… eu descobri. Só ela que andou na Lyla. Para fazer parte da história.

Adrien ia soluçando a cada palavra pronunciada. Por algum motivo desconhecido, minhas mãos começaram a suar no volante. Sou obrigada a passar uma a uma no tecido da calça para secá-las, bem como umedeci meus lábios antes de retomar a fala.

― Entendi. 

― E você, é claro ― acrescenta ele, solícito.

― É, e eu. 

Mas eu não faço parte da história, faço…?

Tento fazer o mínimo de barulho possível conforme vou dirigindo. Adrien também restringe as falas, sejam cômicas ou sérias. Estaciono a Lyla do lado da Lola Riggs, e encaro o contraste entre as duas. Está quase amanhecendo, e imagino que meus pais já tenham saído para trabalhar. Isso me rende congratulações internas, porque se já implicam com minha presença em casa, que dirá trazendo um bêbado para cuidar… 

Assim que entramos em casa, Chantillily mia contente ao nos receber. Ela é tão dengosa que é impossível não abrir um sorriso; apesar de que tenho de segurar Adrien para que ele não tropece na gata enquanto ela perambula por entre suas canelas. 

― Olá, você ― agarrado em meu braço, ele se abaixa para acariciar o pelo sedoso da gata. Contente, ela tratou de sair rapidinho. ― Que traíra… 

― É ela quem manda nessa casa, não sabia? ― rio baixo, o auxiliando a levantar. ― Vamos lá na cozinha, vou te arranjar um remédio e um chazinho. 

― Tá bom, mãe… porque… pareceu a minha mãe falando.

Não consigo evitar a risada que se prolongou por alguns segundos, de pura incredulidade.

― Ah, céus, mãe? Eu nunca poderia ser sua mãe. Seria muito errado.

― Por que? 

Engulo em seco, colocando uma xícara de água no microondas. Em seguida, ofereço para ele um comprimido para dor de cabeça e um copo de água fresca. Ele o toma sem pestanejar, esperando minha resposta. Em dez segundos friamente calculados, eu decido colocar as cartas na mesa, me agarrando à chance de que ele esqueça disso no dia seguinte.

― Porque… bem, é moralmente errado mães se atraírem pelos filhos. 

Adrien pisca algumas vezes, assimilando a nova informação. Bem no tempo em que a xícara de água termina de ferver no microondas, ele murmura:

― É verdade… espera. Se… sente atraída por mim também?

Também

― Como assim, também?

― É claro, olha… ― ele coça a nuca, nervoso. ― Você é tão… bonita e tão gentil, inteligente e talentosa e… meu Deus, eu não consegui deixar isso óbvio esse tempo todo? 

Retiro a xícara do microondas, abrindo um pacotinho de chá pronto. Deixo ele afundar na água quente, enquanto as ervas moídas fazem seu efeito na infusão. O cheiro que exala é delicioso, erva-doce refrescante. Adrien sequer se move, de onde está.

― Não, não deixou. E… também não faz muito sentido uma pessoa como você se atrair por uma pessoa como eu ― murmuro junto. ― Além disso, não disse agora há pouco que amava alguém? Como pode dizer que…

Ah. A ficha caiu tão pesada em minha cabeça que me senti num desenho onde o protagonista aleatório é atingido por uma bigorna, no meio do nada.

― É ― Adrien assente com a cabeça, o rubor preenchendo suas bochechas de uma vez só.

― Está dizendo que me ama?

― Estou. Estou, sim. 

Respiro fundo pelo menos umas três vezes, ao passo que ele permanece encarando os próprios pés. Ah, céus, estou o deixando envergonhada, não deveria ser assim… 

― E eu vou entender se não puder responder o mesmo que eu ― acrescenta ele, num sussurro. ― Eu só queria que soubesse, de qualquer maneira.

― Não me acha muito… pouco atraente? ― gorda?

― Não. Te acho perfeitamente perfeita, Louna Benoit.

Olho para ele com um sorriso, deixando o chá em infusão para passar para o seu lado no balcão da cozinha.

― Mesmo que, talvez, "perfeitamente perfeita" não tenha sido um dos meus melhores bordões de ação ― ele grunhe. E eu… o que posso fazer além de achar adorável? ― Mas… é verdade. "Pouco atraente" é uma ofensa e… 

― Adrien ― o interrompo, em tom de advertência. 

― O que? 

― Se continuar falando assim, eu vou ser obrigada a beijá-lo. 

Por um segundo, me arrependo do que falo, porquanto que ele se cala na hora. O silêncio que enche o ar é desconcertante, e eu tenho a impressão de que o chá está fazendo mais barulho que minha respiração presa. Então, no próximo minuto, Adrien toma uma grande lufada de ar e inicia seu monólogo:

― Sabe que, se parar para pensar, "atraente" é um conceito bem relativo e… 

Para confirmar o que estou pensando, Adrien lança um olhar convidativo em minha direção. Gargalho com vontade, me sentindo confiante e impulsiva como nunca me senti antes. Giro o corpo para ele e, mesmo ainda um tanto alterado, Adrien me segura pela cintura com firmeza.

Me perco em seu olhar e, subitamente, não ligo mais para o garoto dos meus sonhos. Ele não tem um nome e nem um rosto ao qual eu possa me apegar, mas Adrien está bem aqui. É real. E diz que me ama. Eu tenho que acreditar que isso é suficiente. Por esse motivo, me ergo na ponta dos pés para poder alcançar seu rosto. O seguro com gentileza, e seus lábios se curvam para cima em um sorriso antes de eu beijá-los com delicadeza. 

Sinto de volta aquele conforto que parece nos pertencer exclusivamente. Dessa vez estou decidida a não correr para longe, se assim o Universo me permitir.

Tomo o cuidado de não derrubar nada na cozinha ⎼ nem a xícara que esfria sozinha num canto e nem na gata ⎼ enquanto cambaleamos num misto de confusão e paixão intensa. Também tomo o cuidado de, após tropeçarmos na escada em quase todos os degraus, escolher o quarto de hóspedes para deixar as roupas pelo chão.

Afinal, o sol lá fora está nascendo. E nós também.


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Notas finais do capítulo

aiaiaiaiaiaiai, esse amor é bão demais ♪



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