Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 15
Capítulo 14, ano três


Notas iniciais do capítulo

Olá xuxus ♡ como vão vocês? Primeiramente, peço desculpas pela demora. Esse mês foi bem tenso por aqui, altos estresses, ataques de ansiedade implacáveis, muita loucura. A única parte boa dessa quarentena foi ter uma ""folga"" do meu trabalho e aí sim voltar a coragem para escrever. Espero que me perdoem e digo mais: frequentemente não é esse o tempo da demora entre as postagens e.e



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O intervalo se encerra, bem como minha conversa com Louna. O bar já está mais cheio na segunda metade do show, porém com a sorte que temos, o cheio ainda é confortável. Então, o gerente tem a brilhante ideia de abrir o karaokê.

Mamãe diz que tenho uma ótima voz, no entanto sempre uso o método Troy Bolton de desculpas – só canto no chuveiro. E olhe lá. No chuveiro e sozinho em casa. No máximo, eu e Caleb nos soltamos nos dias de glória de Lyla, a caminhonete deplorável. Indo para a UT, esses mimos também se encerraram. Então, a noite do karaokê se limitaria aos outros participantes. 

Pelo menos, era esse o plano.

Marla também contribuiu com as brilhantes ideias da noite dando a sugestão de refazer a foto que ela e as meninas tiraram em 2016 – a mesma que se encontra no varal de fotos de Pietr –, com exceção de que agora eu e Mattie fazemos parte do grupo. Abro um sorriso com o pensamento. Apesar das circunstâncias atenuantes que as separam durante um tempo, todos permaneceram unidos e abrindo espaço para mais um. Como coração de mãe ou… quer saber? Deixe para lá, é muito vulgar.

― Será que eles tocam Beatles? ― Pietr indaga, retirando o braço que se encontrava ao redor de Marla.

― Por que, você quer cantar? ― Louna ironiza em resposta, como toda boa irmã faria.

―  Já diziam os Muppets: qualquer um pode cantar!

― Essa frase não é de Ratatouille? ― Joelle franze a testa.

― Acho que sim, mas talvez o final seja outro… ― Mattie completa a dose de confusão.

Marla gargalha, bem como Louna.

― Céus, vocês já me fazem passar vergonha normalmente, agora alcoolizados… ― é a vez de Marla enxugar as lágrimas de tanto rir. Mesmo assim, ela abre um sorriso de incentivo para Pietr. ― Ir lá ver não custa, querido.

― Beatles nunca é demais ― eu acrescento, tomando um longo gole de minha batida.

Movido pela vontade de fazer sabe-se lá o que – afinal, podemos esperar de tudo vindo de Pietr –, ele salta dos bancos confortáveis para arriscar os palcos. Todos nós permanecemos observando, divididos entre rir e piscar em confusão. Depois de consultar a lista das músicas e, pelo visto, negociar outra alternativa, lá estava Pietr e seu microfone. Consequentemente, nós chegamos para frente para ver o resultado.

Após uns segundos constrangedores e um punhado de aplausos entusiastas do restante do público, a introdução da música tomou conta das caixas de som do bar.

― Meu Deus… ― Louna arqueja, colocando em palavras o que todos nós estávamos pensando.

Marla negou com a cabeça, incrédula.

― Isso é…?

Antes que pudéssemos acrescentar algo mais inútil, Pietr começa a cantoria energicamente:

Oh, DARLING!

― Não… ― Joelle cobriu a boca com as mãos, dividida entre rir e segurar a tosse.

O safado ia se declarar assim? Noto que Louna está me observando de soslaio. Daí, me recordo de nossa aposta. Verifico o horário no celular, confirmando o óbvio. Eu tinha perdido ambas as apostas, a com os dois Benoit. É bem nesse momento, quando ela se inclina para mais perto de mim no intuito de sussurrar, que Pietr continua seu show.

― Sabe… ― começa ela.

Believe me when I tell you… 

― Sim? ― pergunto, só para ter o prazer de escutar de outra boca.

― Acho que você perdeu feio a aposta, Adrien Thomas.

E eu juro que nunca ouvi som mais maravilhoso que sua risada de escárnio. Sorrio, me aconchegando a ela quase que junto com Marla, que apoia os dois braços no encosto do sofá e apoia a cabeça por cima das mãos.

― E isso te dá o direito de escolher o que quiser, suponho.

I’ll never do you no harm.

― Você escutou o que ele disse ― ela murmura, e apesar do barulho posso escutar com perfeição. Porque eu sempre prestaria atenção apenas nela. ― Não vou te fazer nenhum mal, eu juro que sou muito boazinha.

Meu Deus… isso foi um flerte?

Eu morri e só descobri isso agora?

Ou não. Ela pode só estar agindo conforme a bebida. Todos parecem estar fazendo isso hoje. Não vamos nos empolgar antecipadamente, ou então a queda é maior. Não é? É.

― E até quando a aposta é válida, madame? ― brinco, devolvendo a tentativa de flerte.

― Até o final da noite.

Então, para enfatizar que tinha mesmo vencido, Pietr finaliza a cantoria com uma mesura extravagante, desce do palco e estende a mão para Marla. Simples assim, ela levanta do sofá e a aceita. Quando penso que ele terá a decência de passar para o lado de fora, ele me prova que estou errado, mais uma vez. Ele a enlaça pela cintura, arrancando gritos extasiados do público e uma risada tímida de Marla. Apesar de toda a cena, Pietr apenas deposita um beijo delicado em sua testa e acaricia sua bochecha. Nada de comoção aqui, pessoal.

Olho para Louna, que se ocupa de bebericar seu smoothie. 

― Faça valer a pena então, Benoit.

Ela assente com a cabeça, ao passo que Pietr e Marla voltam a se sentar conosco como se nada demais tivesse acontecido nos últimos minutos. Apesar disso, fazemos questão de aplaudir o ato de coragem do ruivo hiperativo. Porém, como todo mau amigo faria, ele estreitou o olhar para mim, como se estivesse encarando o fundo de minha alma. Sei bem o que ele está pensando. Falta você. Engulo em seco, para me levantar logo depois.

― Está tendo alguma corrente de loucuras da qual eu não fui avisada? ― Mattie gargalha.

― Não fala isso, o Adrien quase não abre a boca, vai que ele desiste no meio do caminho ― Joelle pontua, o que me faz assentir solenemente com a cabeça. ― A gente pode filmar?

― Não.

― Ah, não... ― Marla faz beicinho, fingindo decepção.

― Deixa ele, Mar, a gente quer ver que diacho que isso vai dar ― Joelle rebate a amiga, recostando-se no sofá como uma mafiosa.

Pisco para ela, estalando meus dedos e ajeitando a jaqueta. Eu questionaria minha decisão mais tarde, pois no momento não estava sob o olhar julgativo de ninguém – inclusive o meu. Era hora de tentar a sorte.

Não me volto para trás para observar a reação de Louna, por mais que seja a que mais importe. Me concentro em desembaralhar as letras que se postam confusas em frente dos meus olhos. Não sei o que estou procurando até encontrar.

Faixa 775. Let’s Hurt Tonight. É o que tenho de melhor a oferecer. Tem de ser o melhor que posso oferecer.

Então, quando a melodia no violão começa, respiro fundo e deixo os três anos presos saírem em três minutos. Quer dizer, se é que é possível, porque não estou tendo muita consciência do que está acontecendo do lado de lá.

Sempre que meus olhos cruzam com os de Louna, um sorriso se abre instantaneamente. Isso é tudo que consigo processar.

Faço uma performance de coração, no entanto, para a frase final, junto ar e sussurro:

If this love is pain, then, honey, let’s love tonight…?

Tenho a ciência de que não estou sendo original, mas mesmo assim fico satisfeito com minha tentativa. Ao voltar para nosso lugar, não faço um escândalo como Pietr. Me mantenho em silêncio, enquanto todos assobiam para mim.

― Eu voto por oferecer um lugar na banda, e vocês? ― Marla comenta, tentando manter-se séria.

― Eu não sei… acho que ele não é muito feminino, quebraria o padrão da banda ― Joelle dá de ombros. Mattie concorda com a cabeça.

― Posso ser feminino se quiser, minha masculinidade não é frágil ― brinco, torcendo o punho, o que faz as garotas rirem compulsivamente. ― De qualquer maneira, aprecio um elogio vindo de além dos meus condicionadores de cabelo.

Louna gargalha, por ser a única de nós além de mim que luta para manter os cachos.

― Nem pense em me menosprezar, escuto sua cantoria há mais de um ano ― Pietr franze o cenho. ― Valho mais que uns cremes… 

― Bem, há controvérsias… ― solto um pigarro.

― Continue com essas gracinhas e eu não deixo você sair com a minha irmã, sr. Thomas.

E se eu ri, foi puramente de nervoso.

― Desde quando preciso de sua autorização para sair com alguém, querido? ― Louna rebate, de bom-humor. ― Por exemplo, se eu quiser chamá-lo para sair, vai me impedir de algo?

O restante das meninas olhava de um lado para o outro como se estivessem presenciando uma partida de tênis em tempo real. Por sorte, não estávamos falando sério. Ou estávamos?

― Ora, depende da resposta.

― Então, sr. Thomas ― Louna gracejou, fazendo sua melhor imitação de sotaque britânico. ― Gostaria de sair? Certamente é desgastante estar entre pessoas de mente tão pequena.

Pietr colocou uma mão no peito, fingindo-se de ofendido.

― Eu adoraria ― completo a brincadeira, não resistindo a rir. Daí, me levanto e estendo uma mão para ela. ― Senhorita?

Erguendo uma sobrancelha em desafio, Louna aceita minha mão, fazendo com que todos na mesa emitam um “uh” de aprovação. Me obrigo a rir, pois tenho a ciência de que minhas bochechas já começaram a esquentar.

― Aquietem o fogo, só vamos lá fora ― Louna gargalha, jogando os cachos para trás ao sair da mesa.

Ah, é? Vamos?

Bem, pelo visto não tenho escolha, tenho?

E… aliás. Eu gostaria de outra escolha?

Obviamente que não. Então, é claro que vamos.

Sem soltar de minha mão um minuto sequer, Louna permite que a guie para fora do The Roosevelt Room, em frente à noite quente de abril em Austin. Os morcegos já fizeram sua ronda na região mais cedo, então somos só eu, Louna e o terceiro aspirante a cantor no karaokê. Destravo a caçamba de Lyla, e ambos subimos para esticarmos as pernas.

― Nossa, minha cabeça já estava até girando ― ela ri, recostando a cabeça no apoio da cabine.

― Nem me fala. Adoro eles, mas estou acostumado a ficar em silêncio.

― Pietr me contou que você foi o cadáver de exemplo dele… 

Eu resmungo, e isso faz Louna rir ainda mais.

― Foi uma bela atuação. Não precisei fazer nada.

― E o que você geralmente faz no seu curso?

― Bem… eu… observo… 

― Então não foi muito diferente ― ela ergue uma sobrancelha, se virando para mim.

― Não, não foi. 

Após um riso nasalado, também olho para ela. Como sempre, seus olhos azuis elétricos se sobressaem em meio às sardas. Ela é uma constelação em particular, que não me importaria de observar até tontear.

― Sabe que só estou lá por sua causa, não sabe?

― Bem, você disse isso quase o ano inteiro, Adrien… e não foi minha causa. O mérito é seu, só dei um empurrãozinho.

― É, e depois de eu ir você sumiu. Eu também fui a causa disso?

Tendo o seu silêncio como resposta, me arrependo quase que instantaneamente.

― Desculpe, Lou, eu… 

― Não, você está certo ― ela me corta. ― É verdade. Eu “sumi” por sua causa. Mas não foi culpa sua, foi minha culpa.

Como é que é?


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Notas finais do capítulo

1. A imagem da capa é do clipe de "Robbers", do 1975. As músicas que os bonitos cantaram, porém, foram:
1.1. "Oh! Darling", The Beatles: https://www.youtube.com/watch?v=erMgpfiOMSU
1.2. "Let's Hurt Tonight", OneRepublic (e essa sugiro dar uma olhadinha, porque a tradução casa com esses dois): https://www.youtube.com/watch?v=eskVqFm7n8E

Até onde sei, é isso. Parafraseando o Adrien, "como é que é?" xD até mais!



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