Tornei-me consciente de meus arredores no momento em que saí do calor confortável em que me encontrava, para entrar em um ambiente frio cujo ar fazia meus pulmões arderem. Não era uma sensação agradável.
Senti um par de mãos me erguendo e então fui enrolado em algo quente e macio, isso foi bom porque eu estava com muito frio. Fui entregue a outro par de mãos e comecei a perguntar-me como era possível, visto que eu era uma pessoa consideravelmente grande.
Alguém estava falando comigo, mas eu não podia distinguir as palavras que me eram ditas, então tentei abrir meus olhos (os quais não percebi que tinha fechado), apenas para fechá-los novamente com a dor que a claridade me causou.
Eu era incapaz de entender o que estava acontecendo e isso me afligiu ao ponto de me fazer gritar, mas parei pouco depois ao perceber o quão parecido soava como o choro de um bebê.
Não. Isso não podia estar acontecendo. Eu tinha vivido uma vida calma como James Clark e morrido pacificamente em meu sono aos oitenta e dois anos, eu não queria nascer outra vez, eu estava feliz ao morrer! Vivi uma vida longa e feliz, com uma grande família, não sentia a necessidade de uma nova existência.
Fui tirado de meus pensamentos quando percebi que poderia entender um pouco do que falavam ao meu redor, e para minha felicidade percebi que era um dos poucos idiomas que havia aprendido: o alemão.¹
— Er ist hübish, Hans. – uma mulher (que eu presumi ser minha nova mãe) disse com a voz emocionada.
— Ja, ist er, Kristin. – meu (aparente) novo pai respondeu.
— Wie werden wir es nennen? Ich mag Klaus – prestei mais atenção nesse momento, porque não queria perder meu novo nome sendo escolhido, afinal, era uma das coisas mais importantes no início de minha vida.
— Und ich mag Maik. – minha mãe disse e eu senti grande alívio por ter duas boas opções de nomes.
— Dann wird es Klaus Maik Schneider sein. – meu pai afirmou.
Satisfeito com o desenrolar de tudo eu me permiti abraçar a inconsciência tão necessária após esses acontecimentos inesperados.

Meu primeiro ano como Klaus estava indo muito bem, eu estava conseguindo agir como uma criança pequena, bem, na frente dos meus pais ao menos eu agia. Enquanto estava sozinho eu apenas ficava deitado organizando as memórias da minha antiga vida, que apesar de feliz, era muito diferente da vida como Klaus.

Como James, eu tive dois irmãos mais velhos e um mais novo, e era um cidadão americano. Como Klaus eu era um filho único nascido na Alemanha, e não me parecia que meus pais planejavam outro filho por um bom tempo.

¹ Eu estudo alemão, então quis incluir na história. Traduções:
Ele é bonito, Hans.
Sim, ele é, Kristin.
Como vamos chama-lo? Eu gosto de Klaus
E eu gosto de Maik.
Então será Klaus Maik Schneider.