Send escrita por wldorfgilmore


Capítulo 12
Capítulo 12




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Darcy passou as mãos sobre os olhos enquanto bocejava, despertando para mais um dia. A princípio, demorou alguns segundos para se dar conta do lugar em que estava.

O quarto era espaçoso, apesar de não ser nada comparado ao que tinha na sua residência em Londres. Tinham poucos móveis, por a simplicidade do local: uma cama, uma cômoda e um guarda roupa. Mas isso não significava que o ambiente estava vazio. Além das malas de Darcy que haviam chegado no final do dia anterior, trazido por um funcionário contratado para transportar suas malas. Havia, principalmente, itens de decoração do casamento que tinha escolhido a dedo na Inglaterra. Como planos para aquele dia, trataria de procurar uma organizadora de festas para preparar o seu casamento.

Havia ligado para Felisberto assim que chegou no hotel. Ele percebeu que o homem ficara apreensivo ao telefone com a chegada dele, mas Darcy julgou compreensível a reação percebida. Afinal, estava ali para casar com uma de suas filhas. Constatou, com a observação, que Elisabeta não havia contado ao pai sobre as correspondências, assim como ele também não divulgou a informação para além de Camilo. Confirmou que seria ainda mais difícil encontrá-la.

— Bom dia. - Ele se direcionou para a recepcionista do hotel, assim que desceu de seu quarto para cumprir com seu planejamento.

— Bom dia. - a mulher sorriu afetada, a reação não passou despercebida por Darcy. - O senhor deseja alguma coisa?

— Estou atrás de uma informação. - Sorriu educadamente. - Eu não sei se você a detém, mas estou procurando alguma cerimonialista.

— Cerimonialista? - a moça perguntou, de forma curiosa.

— Para a organização de meu casamento. - Ele completou, observando o sorriso da moça se desfazer em uma expressão de frustração.

— Ah sim, casamento. - disse, desanimada. Darcy sentiu vontade de rir, mas se conteve. A moça, mesmo com a tristeza aparente, apresentou duas indicações: - Há a Dona Vitoriana, que é especialista nisso… Ela o faz como profissão. Mas também tem a Ema Cavalcante.

— Cerimonialista também?

— Não, senhor Darcy Williamson. - respondeu. - Mas Ema organiza as melhores festas da região. São festas sempre muito suntuosas e lembradas por todos os habitantes do Vale.

Darcy apresentou um brilho no olhar, interessado naquela indicação.

— E onde eu posso encontrar a senhorita Ema Cavalcante?

— Ela mora na Fazenda Ouro Verde. Mas imagino que possa encontrá-la na casa de chá de Dona Agatha, seguindo ao Sul deste hotel. Ela costuma tomar café no local. - a recepcionista explicou.

— Então irei para lá agora mesmo. - disse. - Obrigada pela informação, bela moça. - Darcy viu a moça corar com o pequeno elogio.

Não demorou mais de cinco minutos para Darcy encontrar a localização indicada, supôs que era essa uma das vantagens de se viver em cidades pequenas. Tudo era extremamente perto, totalmente diferente de se guiar por Londres. Ele observou a casa de chá com atenção, era um belo estabelecimento. O tom branco, com alguns ornamentos na decoração, davam ao ambiente um ar calmo e aconchegante. Assim que adentrou o local, a mulher atrás do balcão chamou a sua atenção:

— Pois não, senhor? - Ela apresentou curiosidade, encarando Darcy da cabeça aos pés. Assentiu em uma aprovação descarada.

— Bom dia. - acenou com a cabeça em conjunto. - Estou procurando Ema Cavalcante, fui informado que ela costuma tomar seu café da manhã nesta bela casa de chá.

— Fico lisonjeada por o elogio. Sou Agatha. - disse com ar de superioridade, gabando-se por o seu negócio.

— É um belo empreendimento. - disse Darcy, mas continuou, impacientemente educado: - Posso realmente encontrar Ema aqui?

— Ah sim. - a mulher respondeu. - Ela está logo ali. - apontou discretamente para uma moça de cabelos negros e franjas nos olhos.

— Obrigada, senhorita. - agradeceu por a informação, encarando a moça na mesa, percebeu que ela dispunha de um copo na mesa. - Pode levar uma xícara de chá? - disse antes de se encaminhar a mesa de Ema.

Darcy não precisou de três passos para depositar-se frente a Ema, que não tardou a encará-lo. A moça limitou-se a levantar de uma de suas sobrancelhas, Darcy teve a certeza que ela era bem jovem.

— Desculpe interrompê-la. - Sorriu, com um olhar compreensivo. - Mas estava procurando a senhorita.

A moça sorriu com simpatia, dando atenção a Darcy.

— Oh, o que deseja?

— Primeiramente, sou o Senhor Williamson. - estendeu a mão a senhorita, que logo se levantou e fez o mesmo. Ema teve a sensação de que já ouvira aquele sobrenome em algum lugar, mas não teve a capacidade de lembrar-se o motivo.

— Muito prazer, senhor Williamson.

— Posso me sentar? - Ele disse, de maneira hesitante e educada. A mulher não era uma empreendedora e nem vendia seus serviços, como pôde presumir.

— Oh, claro! - Ema respondeu, e voltou a sentar a mesa, sendo seguida por Darcy. - Mas estou curiosa acerca do motivo da abordagem.

— Estou planejando um casamento. - Ele começou. - Colhi algumas informações sobre quem poderia me ajudar com isso, e seu nome foi muito bem citado.

— Casamentos! - ela exclamou. - Eu amo casamentos. É o meu tipo de festa preferido. A celebração do amor é algo único e inigualável. - Darcy percebia a empolgação afetada em sua voz. Ele franziu a testa. - É o seu casamento?

— Sim. - respondeu, simplesmente.

— Eu ficaria honrada em lhe ajudar. Quer dizer - ela hesitou. - , está pedindo minha ajuda na organização, certo? - Darcy teve a intenção de responder, mas Ema continuou sua fala, o impedindo: - Mas mesmo se não for isso, eu mesmo irei pedir para ajudá-lo, estou com saudade de juntar dois corações em uma festa suculenta.

Darcy parecia atordoado com o monólogo da moça, por um instante, chegou até a duvidar de seu gosto. A empolgação repentina que ela ostentou por a festa de um estranho o fez duvidar levemente se aquilo era algum tipo de afetação ou era um prazer genuíno em criar momentos. Ele a estudou:

— A senhorita já organizou muitas festas?

— Inúmeras! - exclamou empolgada. -  Minhas amigas vivem falando que eu tenho o dom de prover experiências em forma de festejos. Experiências tão significativas que muitas pessoas saem comprometidas de minhas comemorações, também sou especialista em formar casais.

Darcy tentou esconder o riso que queria soltar com um sorriso um pouco mais aberto. Ema Cavalcante, em cinco minutos de conversa, havia se mostrado completamente excêntrica, para não dizer outra coisa. Ela parecia não se incomodar com a falta de palavras de Darcy, pois continuou:

— Hoje, inclusive, eu organizarei um baile de máscara e o senhor está convidadíssimo.

— Obrigada pelo convite, mas não sei se poderei comparecer. Tenho uns compromissos de trabalho pela tarde. - disse, realmente tinha um compromisso de negócio. Ele viu o sorriso da moça desaparecer.

— Compreendo. - balançou a cabeça em afirmação. - Mas é realmente uma pena. É um noivado, um tanto inusitado. - começou a falar, mesmo sem Darcy ter perguntado nada. - A irmã de minha melhor amiga, que também é minha amiga, irá se casar. Estou trabalhando desde a música, até toda a decoração. - Ela parecia satisfeita. - Praticamente toda a cidade estará presente.

— Toda a cidade? - Darcy recebeu a informação com uma esperança genuína, seus ouvidos estavam em alerta.

— A maioria dos habitantes, já que é uma família bastante conhecida. - explicou, com um sorriso largo. - É a festa de Mariana Benedito com o Coronel da cidade.

— Benedito? - Darcy arregalou um pouco os olhos, surpreso com a coincidência.

— Os conhece? - Ema tinha uma expressão curiosa.

— Relativamente. - respondeu, de maneira formal, mas com os olhos curiosos.

— Pudera, que tola eu sou. - Ela bateu na própria testa. - Quem não conhece os Benedito? Sempre digo a Elisabeta, minha melhor amiga, que eles são os mais requisitados de toda a cidade.

Darcy sentiu seu coração pular ao ouvir o nome de Elisabeta, a sua Benedito. Sua respiração falhou ao perceber o elo que Ema Cavalcante, a mulher sentada em sua frente, tinha com o amor da sua vida. A sensação de proximidade que sentiu naquele momento o deixou tonto de ansiedade. Ele não conseguiu conter a pergunta que saiu de sua garganta quase como uma flecha:

— Você é melhor amiga de Elisabeta Benedito? - não escondeu a voz esganiçada. Mas Ema pareceu não perceber, já que continuou sua fala sem qualquer imposição.

— Sou. É minha melhor amiga desde que me conheço por gente, ela é como minha pessoa. - Ema tinha uma sinceridade bonita ao falar de sua Elisa. Darcy sentiu vontade de abraçá-la e conversar a tarde inteira sobre as qualidades que viu em sua mulher. - Você parece conhecê-la. - estreitou os olhos.

— Tecnicamente, não a conheço. - ele respondeu. Elisabeta nunca havia citado Ema em nenhuma de suas cartas, mas imaginava que fora devido a falta de diálogo que tinham sobre outras pessoas que não fossem o sentimento deles mesmos. Não sabia se deveria contar que era o seu futuro marido, já que também não tinha a informação acerca do conhecimento de Ema sobre a relação dos dois. Um dos indícios que causou esta dúvida era o fato da mulher a sua frente não ter reconhecido o seu sobrenome.

— Iria adorá-la. Não há como não adorar Elisabeta. - Darcy sorriu, tinha que concordar. - Mas, voltando ao nosso assunto principal, é uma pena que não possa ir.

— Eu irei. - Ele disse de imediato, mudando todos os seus planos de uma vez só. Se era o noivado da irmã de Elisabeta, era um fato que Elisabeta também estaria na festa. Só precisava arrumar uma forma de reconhecê-la, sem ao menos tê-la visto.

Ema o olhou confuso.

— Mas você acabou de dizer que… - Ela parou a fala ao ser interrompida por Darcy.

— Mudança de planos. - Sorriu abertamente, fingindo uma desculpa. - Eu realmente preciso de uma casamenteira e é uma bela estratégia ver uma festa de noivado produzida por você para confirmar com meus próprios olhos.

Ema tinha o olhar brilhante com a conclusão da fala de Darcy.

Não demorou muito para a conversa dos dois cessar e se despedirem com educação. Darcy chegou a cogitar um preço com Ema, caso ela concordasse com a ajuda, mas a menina tratou de dizer que não precisava do dinheiro proposto e o fazia por acreditar no amor verdadeiro. Darcy sorriu para ela. Ema era uma boa pessoa e, com a finita conversa, sentiu ainda mais encantamento em Elisabeta por ter aquela menina como melhor amiga. Ele era adepto a expressão: diga com quem tu andas, que eu lhe direi quem tu és. E ver a doçura daquela menina de olhos escuros como um ponto crucial nas decisões de Elisabeta, o deixava ainda mais reconfortado.

Ao final daquele dia, se sentiu mais uma vez afortunado com as peças que o destino o pregava. Como, entre todas as pessoas, foi cruzar justamente com Ema Cavalcante? E como, entre todas as festas que ela poderia lhe convidar, o convidara justamente para o casamento de sua cunhada? Elisabeta estaria lá, sua menina estaria no mesmo ambiente que ele. Hoje seria o dia em que veria sua Elisabeta Benedito.

— Senhor Darcy? - a recepcionista o chamou no momento em que ele passava por a grande porta.

Ele se virou para ela. Ela continuou:

— Chegou uma encomenda para o senhor. Na verdade, esta carta aqui. - Ela entregou a carta a Darcy, que franziu a testa. A moça percebeu, então explicou: - O cocheiro dos Benedito que deixou para o senhor.

A expressão de Darcy continuava em confusão quando pegou o envelope nas suas mãos, tirando o conteúdo de dentro rapidamente. Sua respiração vacilou ao reconhecer a letra no envelope. A recepcionista não entendeu absolutamente nada ao ver o homem formal em sua frente correr em disparada escada acima.

Darcy não conteve a sua felicidade ao ler cada palavra de ansiedade registrada por Elisabeta Benedito. Ele estava realmente ali, bem próximo a ela. E mais próximo do que ela imaginava. Não deixou de rir quando constatou que sua menina arranjara uma forma de continuar se comunicando com ele até o casamento, ou pelo menos até conseguirem se encontrar escondido antes de selarem o seu destino.

Meu bebê. Sempre criticou apelidos como aquele quando seus amigos contavam como suas namoradas o chamavam. Mas aquilo pareceu tão íntimo e carinhoso que queria ser chamado daquela forma por todos os seus dias. Se pudesse, faria com que uma das cláusulas de seu contrato de casamento fosse aquela nomenclatura obrigatória.

Darcy fechou os olhos e respirou aquele ar que Elisabeta também respirava: toda a distância havia desaparecido.

Vale do Café, 1911.

Minha bebê,

eu não poderia ter me sentindo melhor por este apelido que me deu. Eu sei que é muito usado e que não é só nosso, mas agora entendo a razão de sua propagação em massa em todos os cantos deste planeta inteiro.

Um bebê é o nascimento de um novo ser, mas também o renascimento de outros tantos indivíduos em forma de novos sentimentos e novas sensações. Um bebê pode ser sinônimo de amor. Um amor puro e genuíno, assim como o que você despertou em mim.

Meu amor, é claro que eu te senti você. Em todos os campos que passei, por todas as árvore que alcancei, você era tinha o nome das sensações que se apoderaram do meu corpo. Era como se você estivesse me recepcionado por todos os cantos em que pisei. Eu cheguei até você no Vale do Café, meu amor.

Bom, eu não te disse nas cartas anteriores, mas já estou providenciando todos os preparativos de nosso casamento. Você gosta de vermelho? É uma cor que associo a você e é a cor da maioria das decorações que comprei. Não me ache precipitado, mas eu penso em nosso casamento da hora em que acordo até o momento em que meus sonhos pedem para encontrar você.

Eu espero, realmente, que esta carta chegue à você antes do compromisso que nós dois temos hoje. Vou ao baile de casamento de sua irmã, Mariana Benedito. Eu estava louco por pensar em uma forma de te encontrar e esse evento caiu como uma luva em meu colo, assim como essa carta. Que mulher inteligente a minha!

Não sei se conseguirá escrever-me antes do noivado, por isso, imagino que este evento tenha uma porta principal de entrada, em que todos os convidados chegam para a cerimônia. Me encontre nela às 20h, serei aquele que estará olhando continuamente para os lados a procura de seu único amor.

PS: Quebraremos, e sentiremos. Eu te quero hoje.

Elisabeta estava genuinamente feliz por diversos motivos ao chegar no baile da irmã. Ela trajava um vestido justo em sua cintura extremamente fina, da cor vermelho sangue. Era sua cor preferida e sabia que estava realmente chamativa. Seu decote era grande, mostrando parte generosa de seus seios. Seus ombros também estavam desnudos, devido a forma com que as alças caíam propositalmente no topo de seus braços. O tecido da saia não era tão cheio como o de algumas convidadas, mas ainda assim mostrava certo volume, não deixando de ser igualmente deslumbrante a partir das inúmeras pedrarias que encontravam a saia e a parte superior, que mais parecia um corpete. Sua máscara era vermelha assim como o vestido, destacando o seu olhar esverdeado.

De certo, Ofélia reclamou um pouco por a ousadia que o vestido representava, mas não prolongou o discurso, já que sabia que Elisabeta não tiraria a peça por nada. A menina viu Mariana se aproximar dela.

— Não sei como mamãe deixou você trajar esse vestido. - Mariana riu. - Mas você está realmente deslumbrante, vai roubar até as minhas atenções.

— Deixe disso, Mariana Benedito. - Sorriu. - Você está maravilhosa com esse vestido cor de pêssego, combina com a sua personalidade criativa. Sem contar que a festa é a sua cara. Baile de máscaras é genial! - Elisabeta exclamou.

— Ema realmente fez um belo trabalho. - ela examinava tudo ao redor. O salão era grande, elegante e repleto de cores. Não havia escolhido uma só tonalidade, Mariana gostava de dizer que não há cores que nos separam como indivíduos. Somos de todas as cores, formas e tamanhos. E o amor é isso. A celebração do seu noivado seria um festival de todas as cores transcritos em amores que há no mundo.

— Ema sempre faz um bom trabalho. - Ela chegava atrás de Elisabeta, que riu do ego sempre alto da amiga. - Elisabeta, que vestido mais escandaloso. - Ema colocou a mão na boca, rindo da amiga.

— Era o que eu dizia, Ema. - Mariana concordou, ainda admirando a irmã.

— Eu sou Elisabeta Benedito, meu amor. Só me coloco para fora de casa se for para arrasar. - Riu do próprio comentário, as meninas fizeram o mesmo.

— E irá abalar corações. - Ema pôs-se a falar. - E cuidado, há novos forasteiros na cidade. Hoje mesmo fui abordada por um homem novo na cidade, querendo meus cuidados para o seu casamento.

— Eu sei bem, ontem também cruzei com um desavisado. - Elisabeta lembrou.

— Não comece com as reclamações. - Mariana chamou a atenção de Elisabeta, depois da conversa com a irmã, Elisa falou mais algumas vezes do forasteiro.

— E dessa forma vai deixar todos apaixonados, quem sabe um deles não tem uma proposta melhor para o seu pai acabar com aquela farsa? - Ema lembrou de Darcy. E Elisabeta recordou que nunca havia falado sobre a sua aproximação para com o seu noivo com a sua melhor amiga. Ema, apesar de tudo, acharia uma loucura toda aquela coisa de cartas. - Bom, meninas. Vou indo, preciso ver se está tudo certo com na recepção da festa.

Mariana observou Ema se afastar e quando a distância se fez boa para não ser ouvida, falou:

— Não contou a ela?

— Não, minha irmã. Tive receio do julgamento. Você conhece Ema. - disse. - Mas fiquei pensando… - estreitou o olhar.

— Em que?

— E se Darcy vier? - sua boca se tornou seca com a possibilidade.

— Para onde? - perguntou. - Para cá?

— Sim, Mariana. Ele chegou ontem, segundo papai. E está hospedado em algum hotel desta cidade. Não seria difícil ele ter escutado sobre o seu noivado, já que é o único assunto do dia.

— Tem razão. Será que ele seria perspicaz ao ponto de te procurar aqui, aproveitando que é um baile de máscara? É uma ideia inteligente. - Examinou, sentindo a euforia que emanava de Elisabeta.

— E é exatamente o que eu faria. - Elisabeta já começava a respirar rápido, tamanha era a ansiedade que sentia.

Com a sua esperança nublando a sua mente, Elisabeta não pensou em mais nada durante o decorrer do noivado de sua irmã. Sua cabeça estava focada em observar todas as pessoas que estavam ali presentes - e eram muitas. Mas nenhuma parecia ser alguém que ela não conhecia.

Ela andava por toda a extensão do salão, desfilando de uma extremidade a outra. Enquanto caminhava, os olhares eram constantemente virados para ela, devido a beleza ressaltada por seu vestido.

Só que seu olhar parou em um em especial, no mesmo instante em que o homem também virava para ela. Ela tentou reconhecer aqueles olhos, mas não conseguiu, apesar de ter a impressão de que já vira aquele olhar antes. Elisabeta percebeu o homem sorrir de forma irônica e se encaminhar para perto dela. Ele parou exatamente em sua frente e a encarou profundamente, sem pedir qualquer permissão para tal.

— Eu reconheceria esse olhar felino em qualquer parte do mundo. - Ele começou e, com a voz grave que invadiu os seus ouvidos, ela também foi capaz de identificar-lhe.

— Ah, você de novo não! - Ela começou, fazendo drama. - O universo não poder ser tão ruim comigo.

— Eu vejo mais como um presente para você. - Ele riu com a expressão de incredulidade que já tão familiar para ele.

— Você não se toca mesmo, né? - balançou a cabeça em indignação. - Não tem nada melhor para fazer do que me perturbar?

— Pra falar a verdade, a resposta para essa pergunta é não. - respondeu, dando de ombros. - Estava esperando uma pessoa, mas presumo que ela não recebeu meu recado.

— Ou não quer ter o desprazer de sua companhia. - Elisabeta fez careta.

— Tenho certeza que não é esse o motivo. - Ele revirou os olhos com a resposta dela. Estava um tanto frustrado com o desencontro, já que estava há alguns minutos ao lado da porta em que havia marcado. Já eram 20h30. - Mas a senhorita também não parece muito bem. Estava tal qual uma barata tonta perdida por o salão. O que procurava?

— Pois minha vida não lhe interessa. - Ela começou, Darcy respirou fundo com a pequena paciência. - Minha vida não lhe diz respeito.

— Tampouco a minha a você. E mesmo assim você me perguntou se eu não tinha nada para fazer. - rebateu.

— Era uma retórica. - Ela disse.

— Era uma pergunta. - Ele respondeu.

— Você me dá nos nervos. - Elisabeta grunhiu. - Mas se quer saber, também não desejo saber nada sobre você, desde o que faz aqui até o seu nome.

— Não lhe daria a honra de lhe informar meu nome. - Não fazia sentido, mas provocou. - Não há como confiar em alguém que pula no braços de um desconhecido. Você pode ser uma perseguidora.

— Não é possível que realmente acredite no que sai de sua própria boca.

— Posso duvidar de sua sanidade. Eu não a conheço, senhorita. - levantou uma das sobrancelhas.

— E nem vai, meu senhor. - Ela ironizou.

Darcy se limitou a rir daquela estranha. Era a segunda vez que cruzava com ela no Vale do Café, se tivesse intenções românticas com outras pessoas, certamente diria que o destino havia colocado-a em seu caminho para lhe perturbar, como nos romances clichês que sua irmã Charlotte gostava de ler. Mas ele já tinha um amor, um amor que nenhuma outra mulher seria capaz de substituir.

Mas Darcy continuava a encarar aquela mulher, apesar de tudo, parecia que um imã o puxava para o seu olhar.

— Então não nos conheceremos, mulher misteriosa. - Era engraçado a forma que gostou de provocá-la.

— Não sou um mistério. - Ela disse, segurando o olhar no dele. - Só não tenho a intenção de ser descoberta por você. - Ela disse, o homem desprezível era bom no jogo de palavras. Sem perceber, aquilo a distraiu.

— Há algo a descobrir? - Ele perguntou, traçando um olhar desafiador no dela. Involuntariamente, chegou um pouco mais perto. Via o rosto bonito em sua totalidade e aquilo era hipnotizante.

Elisabeta também não pareceu completamente sã quando viu que estava a milímetros daquele desconhecido. Ela perdeu uns minutos de consciência ao sentir aquela proximidade incomum. Nunca havia se aproximado tanto de um homem antes, e aquele homem era enorme. Aquilo a intimou, mas de um jeito tentador.

— Não acha mais divertido descobrir o que você tem a descobrir? Se for capaz, é claro. - Seu pensamento não condizia com as palavras que foram jogadas para fora de sua boca. Ela não havia formulado aquela frase.

— É uma proposta? - Sorriu de lado, chegando mais perto da mulher a sua frente. Em um lampejo de consciência, percebeu o clima de sedução que parecia pairar sobre os dois. A parte frontal do corpo de Darcy já encostava sorrateiramente nos trajes de Elisabeta.

— Entenda como preferir. - Ela respondeu, de súbito. As palavras tão próximas uma da outra, por conta da proximidade das bocas ao conversarem, fez ambos sentirem o hálito quente um do outro.

Mas o clima incomum foi logo cortado quando Elisabeta colocou a mão no peito daquele estranho e o afastou. Ela parecia atordoada, sensação também sentida por Darcy quando o corte abrupto fez sua consciência o atingir como um raio.

Antes de Elisabeta correr para fora do local do baile, os dois se encararam de forma quase chocada, franzindo a testa em uma expressão extremamente confusa. Nenhum dos dois já havia tido um embate como aquele com qualquer outra pessoa - pelo menos não pessoalmente. Nenhum dos dois havia provado do clima de sedução absoluta que se instaurou no momento em que começou a transferência de frases ditas. Nenhum dos dois conseguiu explicar a respiração rápida, a aceleração dos corações e nem a vontade precipitada que sentiram por provar os lábios de dois estranho.

Porém, o mais incompreensível era que nenhum dos dois conseguia explicar o fato de esquecerem completamente quem estavam esperando naquele pequeno embate. Darcy e Elisabeta haviam esquecido Darcy e Elisabeta por a primeira vez em meses de contato. Darcy e Elisabeta, por um momento, só desejaram sentir a mistura daquelas respirações se transformarem na mistura daqueles corpos desconhecidos. E aquilo não fazia o menor sentido.

 


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