Devaneios escrita por slytherina


Capítulo 1
Óleo e pólvora


Notas iniciais do capítulo

Escrita para o desafio de "genderbender"do Facebook.



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Samantha Winchester estava sentada toda encolhida no banco do passageiro do Impala. Suas calças jeans frouxas tornavam o movimento fácil. Tinha optado pelo look masculino por praticidade. E ela realmente não tinha preconceitos em parecer andrógina. A não ser pelo busto proeminente e quadris largos, poderia passar facilmente por um rapaz. O cabelo cortado curto num impulso de rebeldia, após Dean sugerir que ela atraía a atenção com suas longas e fartas madeixas, completavam a aparência de tomboy. Isso lhe valeu o apelido de Sammyboy que ela detestava. Ela até tentou dar o troco, chamando o irmão de Deanna, mas ele apenas arqueou as sobrancelhas e não deu a mínima para o assunto.

Atualmente estavam em uma cansativa viagem atravessando o país. Essa era uma longa jornada, e a perspectiva de passar horas na posição sentada a fazia querer se remexer a toda hora. Experimentou erguer os pés no assento e abraçar as pernas. Era possível, mas não tão confortável quanto parecera. O fato de se alimentar de lixo neste último ano a deixara cheinha. Gorda não, mas com umas gordurinhas que não estavam lá no tempo de Stanford.

"Stanford". Essa palavra parecia pertencer a um outro mundo. Totalmente irreal. Um mundo em uma dimensão paralela onde ela era feliz e vivia uma vida encantada. Imagens de suas caminhadas pelos gramados verde-lima, em direção aos antigos prédios coloniais apareceram em sua mente, como se estivesse vendo um filme fictício. Uma linda e doce garota a acompanhava. Ela parecia um anjo com o rosto emoldurado por cachos que refletiam o sol. Seus braços a aqueciam à noite e seus lábios carnudos a cobriam de beijos ao raiar do sol. Uma lágrima correu livre ao lembrar a felicidade perdida.

— Lembrando de Jess? — Dean perguntou.

Sam virou o rosto num estalo, saindo da sua realidade paralela de sopetão.

— O que?

— Você está chorando. Só faz isso quando lembra de sua namorada. É isso, não é?

Sam pensou em negar. "Quem ele pensa que é pra se meter assim nos meus pensamentos?" Percebeu que isso era infantil. Ela e Dean se conheciam muito bem, como se fossem irmãos gêmeos. Pior, xifópagos, unidos pela cintura, pelo coração, pelo pescoço. Não conseguiam se separar. Nem que tentassem.

— Noiva. Íamos nos casar. Agora isso é passado. Não quero falar sobre isso. — Sam se ajeitou no assento e cruzou os braços, tentando fechar sua mente para Dean. Ele nem se importou. Esticou o braço e a puxou para si até seu rosto ficar enfurnado no peito dele, em contato com a surrada jaqueta de couro herdada do pai.

Sam grunhiu em desaprovação, mas o abraço de Dean, o cheiro familiar do couro e um resquício da velha "old spicy" que o irmão teimava em usar, mais o odor de óleo de máquina e pólvora que já estava impregnado na pele dele … tudo isso a acalmou, como se tivesse mergulhado em outro universo paralelo que atendia pelo nome de "família".

— Melhor agora? Tente dormir. A viagem é longa.

— Dean, eu também posso dirigir, você sabe.

— Se precisar, eu te acordo.

O suave balanço do carro, e o vento forte que vinha das janelas abertas, mais o barulho contínuo do motor, a fizeram mergulhar no reino de Morfeus. Em seus sonhos ela caminhava pelos gramados do campus ao lado de Jéssica. Sua namorada havia feito biscoitos e colocara um cartãozinho sobre a tijela: "te amo". Ela a amaria para toda vida. Como alguém poderia ser tão doce e sexy? Sam deu adeus a Dean, seu irmão, com quem passara o final de semana, e foi para o quarto tirar uma soneca, enquanto Esperava Jess voltar pra casa.

"Por que, Sam? Por que não me avisou que isso aconteceria?" A voz chorosa de Jess a acordou de seu devaneio. Diante de si, sua namorada sangrava com o ventre aberto, suspensa no teto. O rosto triste e resignado de quem sente que irá morrer.

— Não! — Sam gritou se separando de Dean, que no mesmo instante manobrou o carro pro acostamento.

— Sammy, acalme-se! Foi só um sonho! Já passou! — Ele a puxou de novo para si e afagou seus cabelos, enquanto murmurava "shshsh" baixinho, como se acalentasse um bebê.

Sam estava com os olhos arregalados. Tinha medo de fechá-los e ver Jess morrendo novamente. Abraçou Dean com força e se permitiu chorar. Quando os soluços acabaram ela estava dormindo novamente.


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