Antes que você se case escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Nesse capítulo, inseri no texto uma cena de dança baseada num momento clássico do filme Ritmo Quente (Dirty Dancing, de 1987), que espero que vocês conheçam, apesar de ser antigo, pois faz toda a diferença para entenderem essa parte...

De volta do túnel do tempo, há dois filmes beeeeem mais recentes que reproduzem esse "momento clássico". Em "Amor a toda prova" (Crazy, stupid love, de 2011), a Emma Stone e o Ryan Gosling arrasam ao refazerem a cena do salto. Vale a pena assistir também – e não somente porque o Ryan está sem camisa na situação.

Já no filme "Pânico na Escola" (Detention, também de 2011), ninguém mais, ninguém menos que nosso lindo Josh Hutcherson e sua parceira de cena, Shanley Caswell, imitam "maravilhosamente bem" o Patrick Swayze e a Jennifer Grey com caras, bocas e rebolado (hummm).

Vou tentar colocar os links no final do capítulo!

Pra quem leu a "AQVSC" na coletânea aqui do Nyah!, a partir desse capítulo, vou introduzir novidades que não pude incluir na one-shot...

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/765861/chapter/4

 

Por Katniss

No fim desse fatídico dia, em que descobri que o Dr. Mellark é Peeta, o noivo da Johanna, ainda tento inutilmente prender minha atenção no trabalho.

No entanto, antes que eu decida me recolher ao meu lar amargo lar, mesmo antes do fim do expediente, meu celular começa a tocar. É o Gale.

— Oi, Gale.

— Topa jantar comigo e Madge hoje?

— Tudo bem – murmuro.

— Catnip, você está tão desanimada. Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu... Se eu disser que encontrei a pessoa dos meus sonhos, você acredita?

— Mas isso não é algo bom?

— Descobri que ele está noivo.

— Ah, não.

— E fui contratada para organizar o casamento dele.

— O quê?

— E, sem saber disso, deixei claro que a noiva dele fez péssimas escolhas para a cerimônia.

— Puxa...

— E ele descobriu isso hoje, quando ficamos frente a frente de novo.

— Katniss, que história é essa?

Se Gale me chamou de Katniss, e não pelo apelido que somente ele usa –  Catnip –, é porque a preocupação dele já atingiu níveis estratosféricos.

— Minha saga ainda não terminou! Eu briguei com ele por ter sido tão atencioso comigo e por ter me dado falsas esperanças.

— Então, o cara sabe que ficou interessada.

— Acho que não me esforcei muito pra esconder minha desolação com a terrível descoberta de que ele está noivo – choramingo.

— Você quer mesmo sair com a gente hoje?

— Quero sim. E, mesmo que não quisesse, sei que vocês viriam me buscar pra ir nem que fosse arrastada.

— Claro!

— Onde encontro vocês?

— No Panem, às sete.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

Quando chega a hora, saio do frio noturno, que hoje está parecendo ainda mais cruel, e entro na temperatura amena do restaurante. O lugar está cheio e vibrante com as conversas e a música, apesar de ser início de semana.

— Mesa para três, por favor! – grito para Castor, o dono do Panem, e ele sorri ao me ver. — Adivinhe quem vem e o que vamos pedir?

— Já sei! Você, Gale e Madge vão querer o melhor cozido de cordeiro com ameixas secas que existe!

— Eles já devem estar chegando – informo.

— Vou dizer ao Pollux para começar o preparo. – Ele vai até a cozinha avisar ao irmão sobre nosso prato favorito.

Não demora muito, o casal atravessa a entrada do restaurante. Castor gesticula para ambos saberem onde estou e vai recebê-los. Eu me levanto para cumprimentá-los e ganho um forte abraço de cada um.

— Oi, Katniss! Gale me contou sobre o que aconteceu com o rapaz mau caráter que você conheceu – lamenta Madge. — Que horrível coincidência!

— Foi uma triste coincidência mesmo – admito.

— Calma, Catnip, essa história pode ter um final surpreendente. – Gale tenta me animar.

— Só se o significado de surpreendente passou a ser: Katniss feita em pedaços. Literalmente. A noiva dele é a Johanna Mason, a jovem empresária do ramo madeireiro que brinca com um machado afiado nas horas livres.

— Ei! Eu conheço o noivo da Johanna. É o Dr. Peeta Mellark. Ele e a prima dele, a Dra. Delly Cartwright, trabalham com a minha mãe no hospital – comenta Madge. — Pelo que conheço dele, não achei que fosse tão canalha assim.

— Aí é que está. No fundo, não acho que ele seja um cafajeste, apesar de ter me magoado bastante em nossa última conversa... Eu é que tirei conclusões precipitadas e criei a ilusão de que ele estava interessado em mim. De qualquer modo, não teria dado certo – reconheço, com aquele tom de voz em que finjo estar conformada. — Alto demais, bonito demais, atlético demais, gentil demais.

— Esses são defeitos insuperáveis. E digo por experiência própria, porque tenho todos – graceja Gale e eu e Madge reviramos os olhos.

— Comprometido demais também – completo.

— É... Também tenho esse defeito. – Gale pisca para Madge e ela confirma com a cabeça, dando um beijo na bochecha dele.

— Estão vendo? Compromisso não é um defeito. O defeito é meu, por ainda sonhar com ele.

— Ai, Katniss, difícil isso! – Madge se compadece de mim.

— Vamos pensar no lado positivo... Ele despertou sentimentos em você e, ao menos, acabou com aquele bloqueio emocional, que não permitia a aproximação de ninguém – recorda Gale.

— Ao menos, alguém vê um lado positivo nessa história trágica! Mas tenho o pressentimento de que vocês não vieram aqui para falar sobre mim! – Tento trazer à tona o principal motivo de estarmos reunidos.

Os dois se entreolham por alguns segundos e sorriem do jeito que sempre fazem, como se não existisse mais nada no mundo além deles. Depois, ambos se viram para mim e exclamam em uníssono:

— Nós queremos contratar os serviços da sua agência!

— Ah! Que emoção! Eu torço por vocês desde a época da escola, sabiam? – Seguro suas mãos unidas sobre a mesa. — Agora, contem mais sobre os planos para o casamento...

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

Apesar de ser basicamente inútil em esportes, com exceção de "maratona em dia de evento", eu me identifico muito com as aulas de dança que frequento semanalmente.

Termino o alongamento final da minha sagrada classe de balé de terça à noite na academia de Thresh. Quando desvio meus olhos da barra de exercícios, é o próprio quem está recostado no batente da porta.

— Já sabe que estou precisando do seu talento inigualável, não é, minha bailarina favorita? – Thresh nem disfarça que veio me pedir um favor.

— Achei que Atala fosse a sua favorita.

— Ela é o amor da minha vida, mas a bailarina favorita é você. Então, vai me ajudar?

— Já sei! Dirty Dancing para noivos?

— Eu comecei pela valsa, mas a mulherada estava ansiosa para a parte do Ritmo Quente. A votação para terminar a aula ao som de Time of my life foi quase unânime – explica Thresh. — Temos três casais afoitos e um noivo que veio com a prima, porque a noiva não conseguiu chegar a tempo. Mas parece que a prima é obstetra e foi chamada para fazer um parto às pressas. Já viu no que vai dar esse casamento, não é? Se é que esse noivo vai conseguir se casar...

— Eu serei o par desse noivo abandonado? Então, não farei a coreografia com você, mas com um desconhecido?

— E faz diferença? Você não tem confiança de fazer o salto do grand finale nem comigo! – Thresh reclama, circundando meu pescoço com seu braço musculoso e me carregando para a outra sala de dança.

— Qual é o nível da turma? – questiono.

— É melhor iniciarmos com a coreografia mais simples.

Ufa! Eu me preparo para fazer a sequência especialmente criada por Thresh para reproduzir alguns dos passos menos elaborados do filme.

— Mas um dos casais quer tentar o salto – comunica Thresh e eu estremeço, torcendo para que ninguém peça uma demonstração, pois a ideia de reproduzir o famoso passo sempre me apavora.

Ainda no corredor, duas vozes bastante conhecidas invadem meus ouvidos. Encontro Gale e Madge em frente ao espelho da imensa sala.

— Ei, pombinhos! – exclamo, chamando a atenção deles.

— Você conhece o Gale e a Madge? – Thresh indaga.

— Sim! Desde criança – respondo a Thresh que, sem se desvencilhar de mim, vai até eles. — Aposto que são vocês, Gale e Madge, que querem tentar o salto!

— Você quer dizer o Gale, né? – Madge acusa.

— Segurar você no alto vai ser moleza. – Ele esfrega as mãos, confiante, e agarra Madge pela cintura para depois erguê-la com facilidade.

— Mas, no grande dia, nós só vamos dançar uma simples valsa! – anuncia ela entre risadas.

— Isso é o que vamos ver! – Gale a desafia, enquanto coloca Madge no chão. — E o que está fazendo aqui, Catnip?

— O Thresh pediu meu auxílio.

— A ajudante dele é você? – Madge se aproxima de mim.

— Sou apenas uma aluna muito prestativa, não é, Thresh? – Acotovelo meu professor, antes que ele se afaste para preparar a música.

— Não sei não, mas acho que você vai ter uma surpresa – segreda ela em meu ouvido, mas Madge não precisa se explicar. No canto da sala, Peeta está de pé, observando minha imagem refletida no espelho. — Ele veio com a prima, mas a Dra. Delly precisou ir embora mais cedo.

Minhas bochechas esquentam. Terei de dançar logo com o Peeta?

— Vamos começar? – Thresh convida todos a se posicionarem e me segura pela mão.

Dou uma espiada rápida. Peeta está lançando olhares predatórios em nossa direção.

— Esta é a Katniss, a aluna mais aplicada da academia e minha ajudante nas horas vagas! – Thresh me apresenta. — Katniss, você já conhece Gale e Madge. E aqui estão Marvel e Glimmer, Clove e Cato e este é...

— Oi, Dr. Mellark – cumprimento de modo altivo, sem tratá-lo pelo primeiro nome.

— Falhei na tentativa de não ocupar você essa noite, Srta. Everdeen — diz Peeta secamente, também de modo formal.

— Vocês também se conhecem? – Thresh se espanta.

— Estou organizando o casamento dele.

— Isso é perfeito! – festeja Thresh. — A noiva não tem motivos para sentir ciúme do ensaio de hoje, então.

Não respondo, apenas olho para o chão para disfarçar a culpa. Thresh observa nosso comportamento tenso com curiosidade.

— Katniss vai me ajudar a ensinar o passo a passo da coreografia e, depois, ela ensaia com você, Peeta.

Ele assente, com a cara fechada.

Thresh me leva com ele até perto do aparelho de som.

— Por que esse cara está olhando pra você desse jeito? – Ele franze a testa. — Acho que entendi o que está havendo aqui... Em algum momento do passado, esse crápula partiu seu coração.

— É. Foi isso mesmo. Num passado distante, tipo... Ontem.

— Então, não se segure, "Baby" – Thresh faz aspas com os dedos, destacando o apelido da personagem principal do filme Ritmo Quente. — Vou fazer você colocar fogo nessa pista de dança. Não será uma aula, mas um espetáculo! A começar por seu visual. – Ele retira a rede que protegia meu coque de bailarina e joga longe, soltando as pontas dos meus cabelos, que caem em ondas por meus ombros e minhas costas.

— Quer fazer ciúme nesse tal de Peeta? – pergunta ele.

— Não, Thresh... Além disso, como o Peeta poderia ter ciúme de mim?

— Assim. – Thresh me agarra pela cintura e pega a minha mão esquerda. — Pronta para a coreografia completa?

Pelo visto, meu professor de dança mudou de ideia e não vai mais optar pelos passos menos elaborados. Ele me faz voltear e me solta, tomando distância.

— P-pronta – respondo de cabeça baixa, tentando me recompor.

Meu olhar só se ergue novamente quando ouço as primeiras frases da música tema do filme.

Now I've had the time of my life

No, I've never felt like this before

Yes, I swear it's the truth

And I owe it all to you

Com o braço inicialmente esticado, Thresh aponta o indicador pra mim e, em seguida, leva a mão para perto de si, dobrando o mesmo dedo repetidas vezes, para me dizer sem palavras "Vem cá". Exatamente como o Patrick Swayze faz no filme.

Ele se aproxima novamente, prende minha mão e escora firmemente meu tronco com seu braço para que eu possa me lançar para trás, curvando as costas.

Quando estou novamente com a postura ereta, ele me rodeia por detrás, sem soltar minha mão, e me rodopia para longe, girando-me de volta em seguida.

Depois que nossos corpos se encontram de frente um para o outro, Thresh começa a dançar comigo de modo mais sinuoso e ousado do que de costume.

De início, ainda me atrapalho e me assusto com alguns movimentos pra lá de sensuais, porém resolvo me divertir, apesar de tudo.

Thresh segura minhas mãos, colando nossas testas, e é inevitável relaxar e dar risada com as caras e bocas que faz.

Ele me conduz livremente, explorando toda a sensualidade dos movimentos. A dança e a música têm esse efeito mágico sobre mim e me entrego inteiramente.

Como meu professor de dança, Thresh explora bem essa minha característica e imprime novo vigor à coreografia, marcando bem as mudanças de ritmo com seu gingado envolvente.

Até que chega a hora que eu temia. Ele se afasta e se prepara para me amparar depois do meu salto.

— Vem, Katniss! No três, você salta... Um, dois, três!

Como em todas as vezes anteriores, travo e não consigo mover um músculo sequer, apenas balanço a cabeça negativamente.

Conhecendo-me tão bem como conhece, Thresh circula pelo salão estalando os dedos e se impulsiona, deslizando de joelhos até os meus pés.

— Se a dançarina não vai até o instrutor, o instrutor vem até ela.

Estiro o braço para ajudá-lo a se erguer e, já de pé, Thresh segura o meu pescoço num movimento calculado para parecer brusco – sem ser de fato –, joga minha cabeça para trás e termina a coreografia com um beijo daqueles.

Quando me põe na vertical novamente, ele sequer olha em minha direção.

Enquanto os outros casais assoviam e aplaudem a nossa performance, seus olhos estão focados num ponto atrás de mim e sua boca se entorta para o lado, num sorriso sarcástico.

— Se você queria alguém enciumado, você conseguiu, morena – sussurra ele, encostando os lábios propositalmente em minha orelha.

— Thresh! – resmungo baixinho, ainda ofegante e sem coragem de olhar nem para os lados. — Eu tenho amor à vida! Atala é capaz de me derrubar com um peteleco.

— Ela vai saber que foi por uma boa causa. – Thresh pisca e segura minha mão. — Agora, cabeça erguida.

Ele se vira para a turma, faz uma reverência engraçada e estende as mãos soltas no ar em minha direção. Todos voltam a bater palmas, exceto Peeta.

— Sensacional, Katniss! – Gale elogia.

Também faço uma mesura e devo estar completamente corada.

Thresh me leva até onde Peeta está e me posiciona na frente dele, voltando para o centro da sala sozinho.

— Então, casais, gostaram da demonstração? Preparados para arrasar? – Thresh pergunta e as duplas se formam para receberem as instruções.

— Foi uma demonstração e tanto – dispara Peeta ao se mover até mim.

Pelo seu tom de voz áspero, ainda estamos em pé de guerra. Então, não baixo a guarda.

— Pode se aproximar, Dr. Mellark. Como médico, você deve saber que minha amargura não é uma doença contagiosa – retruco ao perceber que ele estende o braço o máximo que pode, mantendo o corpo tão distante quanto possível.

Depois de ouvir minhas palavras atrevidas, Peeta enlaça minha cintura, com ar irritado.

Sua mão quente paira em minhas costas descobertas, fazendo-me arquear um pouco. Ele me puxa para perto dele e posso sentir seu delicioso perfume. Levo uma mão aos seus ombros e seguro seus dedos com a outra.

Elevo a cabeça para focar em seus olhos, mas Peeta recua o olhar, passando a prestar atenção nas orientações iniciais de Thresh.

Tenso, ele erra os primeiros passos e, por fim, pisa no meu pé, quando confunde o lado para onde devemos girar o corpo.

— Ai, meu pé! Cuidado...

— Já chega! – Peeta se recusa a prosseguir e me solta, respirando fundo. — Ok, ok. – Ele ergue as palmas das mãos em sinal de rendição. — Acho que isso só vai funcionar depois que fizermos as pazes.

Minha apreensão se dissipa um pouco e eu movo a cabeça em concordância.

Então, Peeta segura o meu queixo e sorri. Correspondo ao sorriso timidamente e não faço nada para me afastar.

Fracasso terrivelmente na missão que assumi de criar inúmeras situações desagradáveis, apenas para justificar nossos conflitos e me fazer detestá-lo cada vez mais.

No entanto, tudo o que Peeta faz tem o efeito inverso.

Ele afasta alguns fios de cabelo do meu rosto e sussurra:

— Quero dizer isso a você desde ontem... Perdão pelo que falei, Katniss.

— Preciso me desculpar também – balbucio.

Peeta toca minha mão com cautela, olhando fixamente para ela, e entrelaça nossos dedos para recomeçar a guiar os passos, dançando magnificamente bem para um novato.

— Como você sabe essa coreografia? – indago, admirada.

— Minha prima me chantageava para aprender com ela quando éramos adolescentes. Delly sempre amou filmes de dança e Dirty Dancing é seu preferido... Foi ela quem me matriculou nessas aulas para noivos e parecia que estava torcendo para a Johanna não poder vir. Delly quase chorou quando recebeu a ligação para ir ao hospital às pressas.

Minha resistência inicial vai aos poucos sendo transformada em confiança nos braços do meu parceiro. Ops. Do meu cliente. Somente um cliente.

Infelizmente, apenas minha mente trabalha dessa maneira racional, porque meu corpo mostra meus sentimentos mais profundos.

Minha pele se arrepia a cada toque e arfo a cada rotação que me faz ir de encontro a ele.

Peeta pressiona seu corpo contra o meu e tenho que me concentrar para não perder o ritmo. Ainda assim, ele dança comigo em uma sincronia impressionante, até que se desprende de mim e se desloca alguns passos adiante.

— Pode saltar, Katniss. Confie em mim. Eu já treinei bastante com minha prima.

— Jura?

— Por nada no mundo, deixaria você escapar... Quer dizer, cair. – Peeta demonstra tanto carinho e segurança no olhar, que me desligo do mundo ao redor e não penso em mais nada.

Ele estende os braços para mim e corro para saltar. Fecho os olhos e deixo-me levar nos segundos em que praticamente flutuo no ar, com as pernas estendidas e os braços abertos, enquanto Peeta me sustenta acima de sua cabeça com as mãos em meu tronco.

Em seguida, ele me puxa para si, envolvendo meu corpo com cuidado para me deslizar até o chão. A respiração dele se choca contra minha pele e enrosco meus braços em seu pescoço para me equilibrar.

Ao abrir meus olhos, Peeta fita meu rosto com um misto de emoções e me provoca outras sensações que vão muito além do que a dança com ele foi capaz de transmitir.

A música deixa subitamente de se ouvir e é substituída por um silêncio seguido de palmas.

Com o fim da canção, não há mais desculpas para a nossa proximidade e dou um passo atrás.

Os outros casais haviam parado de dançar para nos admirar e eu nem havia notado. O único que olha pra mim com uma cara confusa é Thresh e sei bem o motivo.

Gale e Madge me cercam e, não muito disfarçadamente, eles me levam para a outra extremidade da sala.

— É, minha amiga, você está encrencada – Gale fala baixo ao meu lado, coçando a cabeça.

— E ele também, se está achando que é indiferente a você – complementa Madge.

— Caramba, o que foi que eu fiz? – Ponho as mãos em minhas bochechas ainda quentes, retomando minha consciência.

— É mais fácil perguntar o que você não fez. Foi uma aula movimentada, Catnip – remarca Gale.

— Estou semeando a discórdia entre dois casais. Thresh e Atala. Peeta e Johanna.

— O Thresh também é comprometido? – Madge questiona.

— Sim. Ele só fez aquilo pra provocar ciúmes no...

— Er... Com licença. – O alvo do meu comentário surge atrás de mim e me interrompe, antes que eu pronuncie seu nome.

Imploro por ajuda com os olhos, mas Gale e Madge saem de fininho.

Só me resta encarar Peeta e é isso que faço, dando meia volta.

Forço-me a parecer fria e distante, para reverter tudo o que minutos atrás deixei transparecer sem pensar.

— Já estou indo, Katniss. Obrigado por sua ajuda – fala Peeta e sua voz é sincera e suave.

Não, não, não. Não posso sucumbir. Tenho que mostrar a minha indiferença inexistente.

— Não precisa agradecer. Foi um ato de cordialidade, por uma mera coincidência – reproduzo a frase que ele usou comigo, quando classificou o que havia sido nossa ida ao restaurante. — Considere como um bônus por ter escolhido a The Wedding Planners como agência de casamentos.

— É muita generosidade... Da sua empresa.

— Exatamente. Tudo em prol dos negócios.

— O que aconteceu aqui foi algo apenas profissional – reforça Peeta.

— Estritamente profissional – enfatizo também.

— Entendido – murmura ele, um tanto decepcionado. — Você vai voltar pra casa como? Quer dividir um táxi? – Ele oferece e sorri docemente, não parecendo se importar muito com minha tentativa de esfriar os ânimos.

— Não, obrigada, vim de carro.

O semblante de Peeta se entristece um pouco.

— E a Katniss não vai sair daqui tão cedo! – Thresh se intromete, sorrindo de modo travesso ao apoiar uma das mãos em meu ombro. — Ainda preciso ter uma boa conversa com ela. Talvez a gente saia para tomar alguma coisa, não é, morena?

— Mas já está tarde e nós temos um compromisso amanhã de manhã! – Peeta argumenta, visivelmente chateado com a notícia.

— Eu não me esqueci, Dr. Mellark. Como disse, sou profissional – afirmo.

— Até amanhã, então, Srta. Profissional. Quero dizer, Srta. Everdeen! – Peeta se confunde e, logo depois, deixa a sala rapidamente.

Os outros casais também se retiram, gesticulando um adeus para nós.

— Definitivamente, você tira o cara dos eixos. Eu estava com o pressentimento de que o casamento dele não ia sair... Depois dessa aula, tenho certeza – prevê Thresh e suspiro, negando com a cabeça. — Agora, Srta. Profissional, você sabe que vai ter que me esclarecer direitinho o que aconteceu aqui nessa sala há alguns minutos.

— Consegui saltar, Thresh! – comemoro sem jeito, para amenizar a reclamação que sei que virá a seguir. — Você viu?

— Você pergunta se eu vi? Confesso que foi absolutamente fascinante ver vocês dois dançando juntos... Agora me explica um detalhe. Por que você saltou com ele e não comigo, mocinha?

— Não sei, Thresh. Não estou me reconhecendo. Eu não sou assim impulsiva.

— Ao contrário. Você calcula cada passo e tenta controlar tudo... Mas vocês dois têm uma excelente química. Isso ficou nítido durante o ensaio.

Respiro fundo, sem acreditar que dei tanta bandeira.

— Thresh, você já encontrou a pessoa certa no momento errado? E já sentiu coisas que não deveria sentir?

— Sim, para a primeira pergunta. – Atala nos surpreende ao adentrar o recinto sorrateiramente.

— É verdade – confirma Thresh. — Quando nos conhecemos, Atala estava saindo de um relacionamento complicado e tudo o que consegui com ela foram alguns tocos. Em meses. Meses.

— Quanto à segunda pergunta, não dá pra controlar nada no campo dos sentimentos – prossegue Atala. — Podemos apenas decidir como agir a partir deles.

— E eu estou decidindo errado – defino assim meus últimos atos em relação a Peeta.

— Não sei exatamente o que você fez, Katniss, mas as notícias correm e ouvi falar num beijo entre você e Thresh, para provocar ciúmes – anuncia ela, com uma calma preocupante.

— Você soube o que Thresh aprontou comigo? – Escondo o rosto com as mãos.

— Era apenas um personagem, meu amor – defende-se ele.

— Ah, é? Esse personagem está abusando da sorte. – Atala usa um tom brincalhão.

— O que você faria se esse personagem resolvesse jogar charme pra uma mulher linda, confiante e segura de si? – Thresh a abraça e ela envolve os braços no pescoço dele.

A magia do amor se manifesta à minha frente e é a deixa para eu me retirar do recinto.

— Bom, pessoal, o papo está bom, mas estou sobrando – constato em voz alta e, aparentemente, eles mal percebem que estou deixando-os a sós.

Caminho pé ante pé em direção à saída.

— Katniss, espere! Preciso avisar uma coisa a você... – A voz de Atala faz com que eu interrompa meus passos. Eu me sobressalto, já imaginando que o clima de paz estava bom demais para ser verdade e que eu estava me iludindo, se pensei que sairia impune dessa confusão toda. — Sua irmã está esperando por você lá na recepção da academia!

Agradeço sem palavras, com um gesto de despedida, e quase fico de joelhos para atravessar a porta da sala, de tão aliviada que estou.

Quando me aproximo da entrada da academia, Primrose está mesmo me aguardando, com uma caixa de transporte para gatos na mão.

— Eu sabia que encontraria você aqui, Katniss... O que houve com o seu rosto? E que cara é essa? – Prim repara em meu curativo e em meu ar desanimado.

— Um desmaio, um tombo e vários desdobramentos... Mas está tudo bem! – Eu a tranquilizo ao ver sua expressão preocupada. — E você? O que faz aqui com o Buttercup?

— Não fique assustada, mas tenho uma notícia boa e uma notícia ruim.

— Por favor, quero saber qual é a notícia boa primeiro.

— A notícia boa é que o Buttercup vai fazer companhia a você essa semana! Preciso que fique com ele, pois tenho que viajar a trabalho. – Prim ergue os olhos de modo pidão para mim e não tenho como recusar.

Se essa é a notícia boa, imagina a ruim! Porém, depois de tudo o que me aconteceu essa semana, acho que tiro de letra o fato de ter que tomar conta do meu desafeto felino. Eu e Buttercup temos sérios problemas de relacionamento.

— Tudo bem – aceito, abraçando a minha irmã, que esperava ansiosamente pela minha resposta. — Mas você pode deixar a notícia ruim pra semana que vem? Mais exatamente, para o dia em que você for buscar seu gatinho adorável?

— Não posso. Você vai descobrir antes disso... Eu, pelo menos, descobri quando estava a caminho daqui. Acho que seu carro foi multado.

— Ah! Era só o que me faltava!

— Dia difícil? – Prim pergunta, com ar culpado.

— Vamos comigo – suspiro. — Garanto uma carona até o seu apartamento e atualizo você sobre o que está acontecendo na minha vida, nesses últimos dias.

Eu e Prim caminhamos juntas pela calçada, enquanto ela me repassa os cuidados que devo ter com o gato durante a ausência dela.

Ao me acercar do meu carro, vejo que há mesmo um pequeno papel preso no limpador de para-brisa.

No entanto, quando abro, encontro um bilhete de Peeta, no qual está escrito:

"Dirija com cuidado. Não gostaria de encontrá-la mais uma vez em meu ambiente de trabalho."

Eu ficaria irritada com essa mensagem, se não fosse o desenho de uma carinha sorridente no rodapé.

Guardo o bilhete com carinho no porta-luvas, sem mostrá-lo a Prim.

— Tenho a ligeira impressão de que não é uma multa – afirma minha irmã, acomodando-se no banco do carona. — A notícia não foi ruim, afinal.

— Depois que eu contar tudo, você opina sobre se é boa ou ruim...

Narro para ela os acontecimentos e, por fim, ela abre o porta-luvas para ler a mensagem que Peeta deixou pra mim.

— Só sei de uma coisa – inicia Primrose e eu aguardo as sábias palavras da minha irmã, depois de eu despejar sobre ela todas as razões da minha crise existencial momentânea. —, eu shippo Peetniss!

— O quê?

— Ou Everlark, como preferir...

Só me resta rir da brincadeira de Prim, porém minha irmã caçula parece falar sério.

Ela se despede de mim. O gato mia e ronrona, cheio de dengo, quando Prim se dirige a ele.

Minha irmã me devolve o bilhete antes de sair do carro. Leio e releio o texto, passando os dedos pelas letras bem desenhadas.

— Dr. Peeta Mellark, preciso da sua ajuda para agir corretamente. Desse jeito, não posso evitar me apaixonar – confesso para mim mesma e para Buttercup, depois de novamente dar partida no carro.

 

Dirty Dancing - cena final

Pânico na escola - cena de dança

Amor a toda prova - cena do salto

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu acho que a Katniss já está apaixonada, né?

E vai ficar cada vez mais! ❤❤❤❤❤

Beijos!

Isabela



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Antes que você se case" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.