Antes que você se case escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Primeiramente, preciso agradecer à Bel (Belrapunzel), que me presenteou com esse banner maravilhoso para o capítulo. O mais legal e tocante é que foi inciativa dela, que taaaaanto me ajuda com as capas e banners das minhas fics. ❤❤

Agradeço também o carinho com AQVSC, especialmente a quem deixou favoritos e comentários!

Para esse capítulo, um detalhe importante que preciso esclarecer é o fato de que, nos Estados Unidos, os homens que ficam noivos não têm o costume de usar aliança. Em regra, apenas as mulheres usam um anel de noivado, na mão esquerda.

Boa leitura!



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Por Katniss

Ao acordar, a luz extremamente clara não me permite abrir os olhos de uma vez.

Quando consigo, há um homem lindo diante de mim. Ele abre um sorriso angelical vagarosamente.

Eu nunca havia visto tanta perfeição de tão perto. Tudo ao redor é branco, sua roupa é branca, seus dentes bem alinhados são brancos.

— Morri e estou no céu? – pergunto atordoada.

O odor típico de dependências hospitalares invade minhas narinas e me indica que esse ser de luz é, na verdade, um médico.

— Não entendi a pergunta. Quem caiu do céu foi você! – Ele ergue a parte superior do leito, inclinando-se perto o suficiente para eu sentir seu perfume, e toca cuidadosamente o meu rosto, onde percebo que há um curativo. — E não, você não morreu. Ficou apenas com um pequeno machucado na testa.

O toque dele é o que mais se aproxima de um carinho masculino, desde que terminei meu noivado. Sua mão é quente e suave.

Posso não ter morrido, mas estou no Paraíso.

— Está sentindo alguma coisa? Dor, náusea, tontura, dificuldade de respirar? Além, é claro, da falta de clareza mental? – brinca ele, numa referência à minha pergunta absurda sobre ter morrido.

Eu rio cautelosamente e, ainda assim, a cabeça dói. Fecho a cara com o desconforto e o sorriso some.

— É uma pena que não tenha usado um paraquedas, pois é bom ver você sorrir. – O médico desvia o olhar amável para a prancheta em suas mãos e começa a remexer em papéis presos nela.

— Peço desculpas por parecer tão desorientada, mas... do que está falando? Paraquedas? – Já estou zonza e, a cada palavra ou gesto dele, fico ainda mais confusa.

Ele dá uma risada gostosa, põe a prancheta numa bancada e se acerca da cabeceira da cama hospitalar.

— Você desmaiou e bateu com a cabeça no chão. Em termos médicos, foi uma queda da própria altura. Não precisava de paraquedas. Estou apenas brincando.

— Entendi. – Abaixo os olhos, com as bochechas vermelhas.

— Você tem alguma ideia da causa do desmaio? Seu acompanhante não soube dizer. Ele deve estar achando que foi pela emoção de vê-lo. Ele dizia apenas: "ela me viu e caiu". – O médico imita com perfeição os trejeitos de Caesar. — Ele precisou ir embora, o que achei até bom, senão corria o risco de você desmaiar de novo quando acordasse e se deparasse com ele novamente.

— Ai, pobre Caesar! Estraguei nossa reunião... Na verdade, desmaiei de fome.

— Ficou sem comer por muito tempo, senhorita Everdeen? – indaga o médico e eu assinto, enquanto ele volta a pegar a prancheta para fazer anotações. — Bem, seus exames já devem estar quase prontos. Você vai ficar em observação ainda e vamos aguardar os resultados para que seja liberada.

— Obrigada, doutor... – estico a última sílaba para que ele me diga seu nome.

— Mellark. Sou o Dr. Mellark – apresenta-se ele, dizendo-me apenas seu sobrenome.

Ele se retira e, depois de algum tempo, recebo de bom grado a refeição que me oferecem, pois estou mais que faminta.

Decorridas algumas horas, infelizmente, é outro médico que vem me informar dos resultados satisfatórios dos meus exames e me dar alta.

Após resolver toda a burocracia para a minha liberação, retorno as milhares de ligações perdidas de Effie. Só assim descubro que Caesar foi fazer uma visita a ela, enquanto estive no hospital. Effie passa o telefone para ele, depois que a tranquilizo, dizendo que estou bem.

— Você está viva!

— Graças a você, Caesar. Como me trouxe para o hospital?

— Chamei uma ambulância. Não sabia onde você havia estacionado seu lindo veículo.

— Vou pegar um táxi para buscar meu carro, então. Obrigada mais uma vez... E, já que você está com a Effie, não precisamos remarcar a reunião, não é?

— Pare de pensar em trabalho, menina! Vá descansar e não deixe de pegar o telefone do médico bonitão que atendeu você!  Caesar me aconselha e dou um sorriso triste.

— Já estou cheia de missões impossíveis, meu caro — afirmo, após me recordar da minha futura saga com as borboletas para o casamento da Johanna. — Não acrescente isso à lista, por favor.

Eu me despeço e, antes de sair do hospital, como prova de que aprendi a lição sobre sair de casa em jejum e com fome, procuro a lanchonete a fim de comprar algo de comer para deixar em minha bolsa.

Escolho um pacote de biscoitos, mas nem tenho a chance de guardá-lo. No trajeto até a saída, esbarro justamente com o médico bonitão, sem seu jaleco branco.

— Não deram nada para você comer? Foi a minha recomendação antes de deixar o plantão. – Ele se preocupa, observando o que tenho nas mãos. — Biscoito zero glúten, zero açúcar e zero lactose. Só se esqueceram de colocar no rótulo que é zero sabor, zero alegria, zero vida. É como mastigar lascas de parede. E das menos saborosas!

— Tenho que resistir às guloseimas... Ex-gordinha, sabe?

— Ainda assim, não há justificativa! A pessoa perde a alegria de viver comendo um negócio desses. Preciso salvar você, antes que seu quadro preocupante se torne irreversível.

— É tão grave assim, doutor? – indago, entrando na brincadeira que ele começou.

— Sim. Você corre o sério risco de se tornar uma pessoa que foge das coisas boas da vida. O primeiro sintoma é esse. – Ele pega o pacote de biscoitos e o sacode no ar. — Se não se cuidar, não sei não...

— E qual seria o tratamento adequado?

— Por favor, esqueça que sou médico e deveria recomendar uma alimentação balanceada – segreda ele, num tom baixo, para depois elevar a voz em seu volume natural. —, mas vou receitar que vá a um restaurante italiano aqui perto, que oferece uma sobremesa perfeita para o seu caso.

Humm. Será esse um convite para algo como um encontro?

Não vejo aliança alguma em seus dedos. Espero mesmo que não seja comprometido. Minha mente sonhadora começa a fazer planos, porém logo recebo um balde d'água fria.

— Se quiser, dou o endereço a você. Posso também ligar pra lá e pedir para capricharem na sua sobremesa, pois você está precisando de energia.

De repente, surge a imensa vontade de sair daqui correndo, carregando meu pacote de biscoitos rejeitado. Tão rejeitado quanto eu.

— Ah, eu agradeço, mas acho que vou ficar com meu biscoito sabor tijolo mesmo.

— Não! Faço questão de apresentar você à Greasy Sae.

— Não é necessário. Você deve ter outros planos – resisto um pouco, para não parecer tão ansiosa em aquiescer, mas minha inquietação fica evidente, pois deixo o pacote de biscoitos cair no chão, ao tentar guardá-lo.

Nós nos agachamos ao mesmo tempo, porém ele é mais ágil e recupera o pacote caído antes de mim, virando-se em minha direção para devolvê-lo. Nossos rostos quase se chocam nessa rápida movimentação e fico um pouco tonta por ter abaixado a cabeça tão abruptamente.

O Dr. Mellark me ampara, colocando as mãos em meus ombros.

— Agora fiquei com vontade de ir ao restaurante também – diz o médico, olhando em meus olhos. — Você aceita?

Seu olhar me desestabiliza de tal modo que tudo ao meu redor desaparece e apenas sou capaz de balbuciar:

— Sim... Eu aceito.

E, na minha imaginação fértil, praticamente nos casamos ali, diante um do outro. Chego a ouvir o badalo dos sinos, as palmas dos convidados e as famosas frases do celebrante: "E eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva".

Menos, KatnissMuito menos.

A pancada na minha cabeça foi mesmo forte.

Aterrisso no planeta Terra novamente, quando o contato visual com ele é quebrado e seus dedos deixam de me tocar.

Finalmente, guardo o bendito pacote de biscoitos bem no fundo da bolsa, antes de acompanhá-lo até a saída.

Ao colocarmos os pés do lado de fora, algumas adolescentes risonhas seguram os braços do médico, uma de cada lado.

— Olá! Estão felizes por já estarem de alta? – pergunta ele, tentando discretamente se desvencilhar do aperto delas.

As meninas não respondem e o surpreendem ao sacarem seus respectivos telefones e baterem selfies com ele.

— Tchau, Dr. Mellark. Até a nossa próxima internação! – As duas meninas correm para longe com a mesma afobação com que chegaram.

 

— Promete que não conta a ninguém o que acabou de acontecer? – implora ele, realmente sem jeito. — Eu não incentivo esse tipo de coisa, ao contrário.

Viro a cabeça em sua direção, olhando-o nos olhos, o que dura alguns maravilhosos segundos.

— Eu tenho que prometer o que mesmo? Acho que a pancada na cabeça me deixou com amnésia – gracejo, dando a entender que o segredo dele estará guardado comigo.

O médico sorri, captando a brincadeira oculta em minhas palavras. Depois, cruza a alça transversal de uma pasta carteiro sobre o peito e me indica o caminho do restaurante.

O Dr. Mellark é dono de um charme autêntico. Ele cumprimenta a todos nos arredores do hospital, funcionários e pacientes, de modo galanteador, mas respeitoso, fazendo cada um se sentir especial. Isso me dá a ideia de que não há motivos para eu me sentir mais especial que os outros, apesar do convite recebido.

No entanto, estou realmente encantada com ele. Aliás, o mero encantamento ficou na lanchonete do hospital. No percurso de poucas ruas até chegarmos ao restaurante, fica cada vez mais difícil esconder o meu fascínio.

A aparência e o jeito dele também não ajudam: cabelos loiros modelados com gel, barba bem feita e lindos olhos azuis... tudo isso coroando seu porte escultural.

E sua fala tem uma cadência leve, agradável de se ouvir, e é exageradamente sexy.

Assim que chegamos ao local, concordo que é uma escolha ótima. Em um dia tão atípico quanto o que estou vivenciando, atravessar a entrada do restaurante é como ingressar numa realidade alternativa, que me faz desembarcar na Itália.

A decoração do ambiente ressalta as cores da bandeira do país e, nas mesas, estão postas as tradicionais toalhas de xadrez vermelho e branco.

Somos recebidos de forma acolhedora por uma senhora e o Dr. Mellark a abraça de modo afetuoso. Ela logo nos indica uma mesa e nos entrega os cardápios.

— Eu vim aqui para apresentar a Katniss ao seu tiramisù, Greasy Sae. Você pode explicar pra ela o que significa?

— Ah! Posso sim. – Ela alisa o avental que está usando e começa a explanação. — Como minha mãe me ensinava, o nome tiramisù vem de uma expressão italiana que significa literalmente "puxa-me para cima". É bem esse o efeito mesmo!

— Acho que é de um desses que preciso – declaro e ela sorri, pegando um bloquinho e um lápis para anotar meu pedido.

— Um pra mim também, Sae.

Em pouco tempo, ela volta com duas taças e, logo na primeira colherada, comprovo tudo o que o médico e a senhora enumeraram a respeito da sobremesa.

Assim, depois de um certo embaraço inicial, eu e ele engatamos um papo animado.

Estou ciente de que ficar a sós com um completo desconhecido pode ser bastante desconfortável. No entanto, mesmo considerando que não havíamos trocado mais do que poucas palavras, essa é uma das refeições mais agradáveis que já tive. A conversa flui com facilidade e é tão gostosa quanto a sobremesa preparada por Greasy Sae.

— Então, você organiza casamentos? – Dr. Mellark pergunta, depois que conto sobre minha profissão.

— Deve ser difícil acreditar, mas eu faço algo além de levar tombos pela rua.

Há uma breve pausa, enquanto o som ambiente toca uma música tradicional, cujo refrão sempre me dá uma vontade imensa de rir, por me recordar das peripécias vividas por mim e Effie num casamento de descendentes de italianos que organizamos.

Eu ameaço dar risada, fitando a caixa de som perto de nós. Ele percebe o motivo e começa a cantar junto, gesticulando como um verdadeiro italiano:

Funiculí, funiculá

Funiculí, funiculá

'ncoppa jammo ja'

Funiculí, funiculá

Então, não consigo segurar. Começo a rir, o que o faz rir também, mas minha cabeça lateja e sou obrigada a me conter.

— Ai, minha testa – resmungo.

— Eu disse e repito: você deveria ter usado um paraquedas, pois seu sorriso é lindo.

Pausa para reprimir um suspiro e recolocar no rosto o sorriso que ele acha lindo.

No entanto, ele mesmo fica sem graça com o comentário e olha pra baixo. Só assim consigo soltar o suspiro e falar:

— Quando eu sair por aquela porta, terei que voltar à realidade.

— E o que há de ruim nisso?

— Tenho que me virar do avesso para fazer borboletas voarem durante um casamento.

— Quem pediria algo assim? – espanta-se o médico.

— Uma noiva desalmada! – exclamo e ele desata a rir.

— Certo. Vou pedir ao Inspetor Google para investigar essa história de borboletas em casamentos – anuncia ele, desviando os olhos para a tela de seu telefone e digitando os dados para a pesquisa. — Uau! Isso é horrível mesmo. Está dizendo aqui que elas são embaladas em caixas pequenas e congeladas para ficarem imóveis...

— Já tinha ouvido falar sobre isso, mas achei que era só uma maluquice isolada e que nunca teria que lidar com essa coisa brega e ecologicamente criminosa – reclamo. — Engano meu. Mas já estou pensando em como dar um jeito nisso, sem prejudicar ninguém... Nem o meu trabalho.

— Estou chocado com essa noiva sem noção. Espero que ela não faça outras exigências piores que essa.

Balanço a cabeça em anuência e reparo que ele já terminou de comer e está apenas me aguardando.

— Você se incomoda se eu raspar o pote? – pergunto e seus olhos se apertam quando ele sorri.

Essa seria a última coisa que eu faria na presença de alguém a quem quero impressionar, mas tudo nele é tão simples, natural e genuíno, que desperta em mim a necessidade de ir além do superficial, de mostrar quem realmente sou.

— Na verdade, vou achar adorável se você fizer isso, mas... Você quer outro tiramisù?

— Não! É apenas a ideia da infância de que o doce somente acaba depois de raspar até o final. E faz tanto tempo que não como uma sobremesa assim!

O Dr. Mellark me espera com o rosto apoiado em uma das mãos e um ar contemplativo.

Quando termino, ele me ajuda a levantar da cadeira e acenamos para Greasy Sae, que está atendendo a outros clientes. Faço menção de ir ao caixa, mas ele me impede, dizendo que foi um convite, e paga a conta sozinho.

— Como você vai embora? – pergunta ele ao voltar.

— Tenho que buscar meu carro, que ficou no centro da cidade. Preciso pegar um táxi.

— Divido um com você. Estou a pé por uns dias e também vou nessa direção.

Sorrio para ele agradecida e caminhamos lado a lado pela calçada, no sentido contrário ao fluxo do trânsito, até surgir o veículo amarelo com as palavras Yellow Cab desenhadas nas laterais. O médico dá sinal para o táxi parar e oriento o motorista para ir até a rua onde deixei meu carro.

O Dr. Mellark se senta na extremidade do banco e coloca sua pasta entre nós. Os minutos passam e ele não dá sinal de perguntar sobre alguma maneira de entrar em contato comigo.

Num surto de ousadia, ofereço a ele meu cartão profissional.

— Se conhecer alguém que precise de ajuda para organizar um casamento...

Por alguns instantes, ele fita o pequeno papel, que tem o meu nome e meu telefone, usando uma expressão triste, mas se esforça para sorrir e agradecer, ainda que evite olhar pra mim.

— Obrigado. Pelo cartão e, especialmente, pela companhia.

— Eu é que agradeço. Foi um desfecho inesperado para um dia muito atribulado – confesso e meus olhos passeiam por seu rosto, para memorizar cada detalhe.

Quando avisto meu nada discreto Mini Cooper vermelho, peço para o motorista parar. Abro a bolsa para dividir o valor da corrida, mas o médico põe a mão sobre a minha.

A intenção dele é somente me impedir de pegar minha carteira, mas parece que se transforma em algo mais quando seu toque se prolonga sobre a minha pele.

— Tome um analgésico, se sentir dor. Durma e acorde bem amanhã! – Calmamente, ele lista as tarefas e só então sua mão deixa a minha. — Ah! Antes que eu me esqueça... – A pausa em sua fala me faz imaginar em segundos mil desfechos românticos para essa conversa. — Gostei do seu carro.

Engulo em seco e endireito a coluna para não demonstrar minha desilusão com seu comentário.

Eu também adoro o meu carro, mas não esperava que fosse ele o alvo de um elogio, justamente nesse instante.

— É o meu xodó, presente dos meus pais.

Balanço os dedos no ar em sinal de despedida e agradeço ao condutor antes de sair do veículo.

Meu desapontamento se desvanece ao perceber que os olhos dele me acompanham e assumem uma expressão terna, enquanto o táxi se distancia.

E pensar que ele mexeu tanto comigo, mas eu nem sei o primeiro nome dele...


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Notas finais do capítulo

Ai, ai... Mal sabe ela!

O que será da Katniss quando descobrir, não só o primeiro nome dele, mas também quem ele é e de quem está noivo?

Aguardem o próximo capítulo! ❤

Beijos!

Isabela



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