Lovers escrita por Giovanna Lu


Capítulo 5
Marauders




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O castelo de Hogwarts não era lá muito movimentado nos finais de semana, considerando que a maior parte dos estudantes se dirigiam a Hogsmeade, exceto pelos alunos do primeiro e segundo ano, que ainda não tinham permissão para visitar o vilarejo. Levando isso em conta, Sirius Black realmente não esperava ser interrompido em seu esconderijo favorito, já que a única aluna que frequentava a torre de astronomia com o mesmo afinco era Marlene McKinnon, e ela não estava falando com ele também (ou algo do tipo, afinal, não era como se eles realmente não se falassem, mas as coisas estavam estranhas).

Entretanto, quando no local, Sirius ouviu passos apressados na escada em formato de caracol que levava ao alto da torre, ele sobressaltou-se com a repentina chegada de alguém. E assim que se virou e deu de cara com James Potter, seu antigo melhor amigo, ficou três vezes mais pálido. James estava ofegante por ter subido os degraus correndo e seus olhos corriam pelo rosto de Sirius, como se buscassem por alguma coisa.

— Sirius — disse.

— James. O que está fazendo aqui? 

— Vim falar com você.

— Por quê? — Black perguntou inseguro, dando um passo atrás, como se Prongs representasse alguma ameaça. Ele não entendia bem porque o garoto estava ali procurando por ele.

— Sirius... Eu não estou bravo com você. Na verdade, estou preocupado... 

— Preocupado? Do que é que está falando?

— Marlene me contou — ele disse simplesmente, como se não fosse uma frase totalmente confusa para Black.

— O que Marlene te contou? — perguntou. — E quando é que vocês se falaram? — acrescentou, pois não tinha qualquer lembrança de James e Marlene em uma única conversa juntos.

James deu um passo a frente, parecendo um garotinho assustado. — Ela me disse como o encontrou na torre de astronomia...

Sirius levou alguns segundos para entender o que James queria dizer, porque precisou colocar sua memória para funcionar e se recordar do que o garoto falava especificamente. Quando constatou o que Marlene havia feito, acabou se afogando numa mescla horrível entre vergonha e raiva. Vergonha porque obviamente ninguém estava disposto a ouvi-lo e preferiam tomar conclusões bem distantes da verdade, e raiva porque Marlene havia contado aquilo logo para James Potter. Ele colocara na cabeça que o que quer que a garota quisesse dizer com "logo ele saberia se queria ou não continuar com ela" não era grande coisa, mas agora de fato não sentia vontade de vê-la.

— Não fiz aquilo de propósito — se apressou em dizer.

— Então por que Marlene parecia não acreditar? — James perguntou. 

— Eu não sei — respondeu, sentindo que sua palavra não valia de nada e se deixando levar pelo estresse. — Por que está tão preocupado com isso do nada? Nós nem estávamos nos falando há cinco minutos atrás.

— Bem, não fui eu que destruiu nossa amizade — James respondeu, cheio de ressentimento.

— Eu já me desculpei pelo que aconteceu, James! Penso nisso todos os dias. Mas não posso voltar no tempo e me impedir de ser tão idiota!

— Mas você continua sendo um idiota, Sirius! — ele exclamou. — Não percebe como Remus sente sua falta? O seu problema é com ele, mas nós precisamos escolher um lado. Se você não tomar uma atitude e resolver isso, nada vai mudar. Acha mesmo que Moony te odeia e não vai aceitar seu pedido de desculpas?

— Na verdade, ele já fez isso. Me desculpei com Remus no dia seguinte a... Você sabe.

— É óbvio que ele não quis te ouvir! Ele tinha acabado de acordar e descobriu que um dos seus melhores amigos o traiu! — James exclamou exasperado.

Sirius não soube o que responder. Porque esta era a parte que ele pensava que não tinha o direito de se desculpar com Remus, porque Remus não devia desculpá-lo; ele já não merecia sua amizade. Moony era bom demais para ser amigo de um Black — sua natureza era de confiança questionável. No entanto, se dissesse essas coisas a James, temia sua reação. Tentou ser o mais breve possível:

— Remus não precisa me perdoar. O que fiz não tem perdão.

— Acha mesmo? — indagou seu ex melhor amigo, parecendo cansado e alguns anos mais velhos, enquanto assistia Sirius fazer um aceno positivo com a cabeça. — É por isso que tentou se jogar da torre de astronomia?

Sirius colocou as mãos sobre o rosto, grunhindo como um cão raivoso.

— Marlene interpretou tudo errado. Quando ela chegou estava no parapeito da janela, mas não estava tentando pular nem nada. Me desequilibrei e ela me puxou para dentro...

— Você se desequilibrou? — Potter questionou cético, mas um bocado mais pálido.

— Sim, tinha um vento forte. Ela achou que eu estava querendo pular porque não quis explicar o que estava fazendo lá...

— E por que não explicou?

— Porque é constrangedor; queria sentir a brisa melhor. Olha, meu principal objetivo não é parecer um esquisito na frente de Marlene McKinnon — ele explicou envergonhado. James pareceu que ia rir, mas só fez um sinal negativo com a cabeça.

— Se você tentar se matar, eu mesmo faço isso por você, Black — ele disse por fim.

— Anotado — Sirius respondeu.

Eles ficaram parados por alguns segundos, antes que para total espanto de Sirius, James se aproximasse e o abraçasse com força, como se estivessem se reencontrando depois de muitos anos. De certa forma, aquilo até poderia ser definido como uma espécie de reencontro. Ele se assustou, mas não hesitou em retribuir o gesto, sentindo seu estômago revirar de felicidade. Aquele era James Potter; seu melhor amigo e irmão, e ele estava ali ao seu lado depois de tudo que fizera de ruim.

— Padfoot — ele disse, se afastando e apertando os ombros de Sirius. — Senti sua falta.

— Eu também senti sua falta, Prongs — respondeu.

***

Remus foi o último a se levantar no final de semana. Agora que ele não precisava mais se preocupar com as tarefas de monitor, todos os seus afazeres estavam devidamente adiantadas e ele não via necessidade em se levantar cedo. Na verdade, ele adorava acordar tarde no final de semana, pois isso era uma ótima desculpa para não visitar Hogsmeade. Embora ele não soubesse decidir se era pior ficar no castelo e se encontrar por acaso com Sirius ou ir ao vilarejo e assistir Alexis de longe com suas amigas. As duas coisas pareciam muito com métodos de tortura para ele.

Quando levantou, após se vestir e notar que o dormitório estava definitivamente vazio, começou a se perguntar onde estariam James e Peter, porque geralmente os amigos esperavam que ele acordasse para insistir que os acompanhasse até Hogsmeade. Mas desta vez não havia ninguém pulando em sua cama infantilmente, como James costumava fazer, para "animá-lo". Ele pensou em sair para procurá-los, mas antes de realmente fazê-lo, a porta do dormitório repentinamente se abriu, e a última pessoa que ele esperava ver apareceu.

Sirius parecia uma filhote de cachorro chutado, o que era bem irônico, considerando sua forma animaga. O modo como ele adentrou o cômodo fez com que Remus logo notasse que o garoto tinha a intenção de falar com ele. Remus não se moveu; sem qualquer sinal de que estava disposto a ouvir ou prestes a sair do quarto. Principalmente porque estava sem reação, mas também pelo desejo de manter a neutralidade e descobrir onde a situação iria acabar.

— Podemos conversar? — ele perguntou, olhando para baixo.

— Uh — foi só o que Remus conseguiu responder, mas foi interpretado como uma resposta positiva, já que não houve qualquer negação explícita.

— Eu... Vim me desculpar — ele disse, parecendo um bocado mais confiante depois de deixar as palavras saírem.

— Se desculpar?

— É — confirmou. — Moony, o que eu fiz... Foi terrível. Nada vai mudar isso. Mas sinto muito por ter traído sua confiança. Todos os dias penso em como fui um babaca. Você merece um amigo melhor, mas eu realmente sinto muito pelo que aconteceu. Se não quiser me perdoar, eu entendo, mas eu precisava pedir desculpas, porque é a única coisa que posso fazer por você agora.

Remus ouviu calado e quando Padfoot terminou, respirou fundo. Sirius sentiu sua garganta apertar quando os dois acabaram num silêncio cortante, mas engoliu os sentimentos como um Black bem sabe fazer e manteve a postura. Aquelas eram as consequências de suas ações, precisava arcar com elas.

— Eu não acho que algum dia possa confiar em você da mesma forma que já confiei — esclareceu Remus, a voz baixa e sem qualquer maldade. Ele estava apenas sendo sincero. Sirius assentiu e piscou algumas vezes, dando a impressão que estava segurando lágrimas, o que poderia muito bem ser verdade. Remus não gostava de vê-lo chorando (a única vez que vira Sirius assim tinha sido na fatídica manhã depois de ter traído Remus), então desviou o olhar rapidamente.

— Eu entendo — ele respondeu. A voz estava trêmula, então logo em seguida pigarreou.

— Mas eu te perdoo, Sirius — Lupin continuou. — Você é um dos únicos amigos que já tive, e não acho que estivesse me enganando esse tempo todo. Só que é um tremendo inconsequente.

Sirius engoliu em seco. Tinha alguma coisa errada.

— Vai me perdoar assim tão fácil? — Uma parte dentro de si desejava que Remus não o perdoasse, que fosse para cima dele ou jogasse qualquer feitiço em sua direção. Mas Moony era bom demais para agir desta forma, porque era exatamente como Sirius agiria em seu lugar, e isso fazia com que este se sentisse um ser humano péssimo. 

— Você ainda é meu melhor amigo, Sirius — ele explicou.

Então, Sirius não pôde suportar e começou a chorar pra valer. Escondeu o rosto nas mãos e deixou soluços fortes e sinceros causar espasmos em seu corpo, enquanto lágrimas escorriam sobre o rosto e inconscientemente se inclinava para frente. Toda a postura tinha ido para o inferno; era como se ele tivesse sete anos novamente e ainda se assustasse com o escuro e tempestades. Era um choro tão sincero e o deixava tão vulnerável que a percepção o fez chorar ainda mais.

Remus deu alguns passos e o abraçou desajeitadamente, deixando os braços de seu amigo presos dentro do consolo oferecido. Sirius apoiou a testa em seu ombro e continuou chorando até que estivesse praticamente sem lágrimas para derramar.

— Eu sei que as coisas são difíceis para você também, Padfoot. — Havia tanto significado no que Remus dizia que Sirius desejou ficar nos braços de seu amigo para sempre.

— Como você consegue não me odiar? — ele perguntou.

— Não acho que seja certo te odiar por um único erro, Sirius. Posso ver que está arrependido.

Os amigos se afastaram, Remus observando Sirius pacientemente enquanto este se recuperava aos poucos e normalizava sua respiração.

— Nós não precisamos mais falar sobre as coisas do passado. Elas ficaram no passado — finalizou Lupin.

— Tem certeza que ainda quer que eu seja seu amigo? — perguntou Sirius, se sentindo um bocado como uma criança.

— É claro, Padfoot. Mas agora, você precisa falar com Prongs e Wormtail.

— Sobre isso... — Antes de finalizar o que dizia, Sirius foi interrompido pela entrada dramática de um James Potter bastante agitado com Peter praticamente correndo para acompanhá-lo.

— Eu realmente espero que vocês já tenham se resolvido, porque, meus caros, eu tenho a notícia do ano — James anunciou.

Remus olhou para Sirius, com um pequeno sorriso nos lábios, e disse:

— Presumo então que você já tenha resolvido as coisas.

— Algo do tipo — respondeu Padfoot.

— Conte logo a eles, Prongs — interrompeu Peter.

— Certo — concordou o maroto de cabelo bagunçado. — Eu, James Potter, acabei de convidar para uma visita a Hogsmeade ninguém menos do que Lily Evans.

— E o que há de novo nisso? — Remus perguntou, dando de ombros.

Potter riu de uma forma descontrolada, que soou meio assustadora e ao mesmo tempo engraçada. Ele olhou para Peter como se o comentário desdenhoso de Remus fosse a piada do ano.

— O que há de novo? Nada demais. Só que ela disse sim.

— Ela o quê? — engasgou Sirius.

— Ela disse sim. Lily Evans aceitou ir a Hogsmeade comigo. Esse dia já pode entrar para a história do mundo bruxo.

— Eu realmente pensava que Lily era uma garota inteligente — falou Remus, com falsa seriedade.

— Vamos ver se você tem a mesma opinião... De ponta cabeça — respondeu James, com um grande sorriso no rosto antes de se levantar e ir atrás de Remus, que já corria e desviava-se de seu amigo, apesar de ser uma batalha perdida, considerando os reflexos de quadribol de James.

Não tardou para que eles se esquecessem do ocorrido com Sirius. E apesar de a situação do mundo bruxo, a partir daquele ponto, se tornar cada vez pior, naquele momento em especial, eles eram apenas os marotos; melhores amigos eternamente, e nada no mundo parecia separá-los. Porque no final, não importava se Peter se arrebatou tão rapidamente por Alice, se Remus sentiu tanta falta de Alexis, se Sirius teve uma relação tão complexa com Marlene ou se James estava tão profundamente apaixonado por Lily, já que o amor mais importante para os marotos era o que sentiam uns pelos outros.


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