Lovers escrita por Giovanna Lu


Capítulo 1
Wormtail




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Peter Pettigrew não era um garoto atraente. Não que ele considerasse aparência o mais importante em qualquer aspecto de sua vida, mas era bem capaz de enxergar os fatos: não era bonito e provavelmente nunca seria. Há muito desistira da esperança de uma puberdade transformadora, onde cresceria nove centímetros, como Sirius; se tornaria mais altivo, como James; ou até mesmo mais maduro, como Remus. Obviamente, não aconteceria. Aos quinze anos, era tarde demais para milagres.

Mas ele não costumava se preocupar muito com isso. Existiam coisas mais pertinentes, é claro. Sempre envolvido nas brincadeiras de seus amigos, era difícil parar e refletir durante alguns poucos minutos que poderia existir algum aspecto de si mesmo que desagradava os outros. Ele sabia que era incrivelmente arrogante, mas se ninguém via problema em James Potter apresentando o mesmo comportamento, realmente não se dedicava a mudar.

A aparência não foi uma questão para Peter, até que ele estivesse no quinto ano, e pela primeira vez, Hogsmeade passasse a ter uma expectativa muito diferente da que costumava ter.

De início, Peter mal podia esperar para visitar o vilarejo com os amigos, passar horas a fio na Zonko’s ou na Dedos de mel, secretamente sua favorita, mas no quinto ano, seus sentimentos se tornaram diferentes. Pela primeira vez, havia muito mais em jogo do que seus amigos. E seu "muito mais" tinha nome e sobrenome: Alice Wilson. Tudo que Pettigrew conseguia desejar no momento era visitar Hogsmeade com Alice, pois das poucas certezas que tinha em sua vida, a paixão platônica pela colega de casa era uma delas.

Para seus amigos, ele sabia que um primeiro amor não seria grande problema. As pessoas idolatravam James, Sirius e Remus. Não existia qualquer possibilidade de rejeição. Mas Peter não era como seus amigos, Alice Wilson era uma das jovens mais bonitas do quinto ano e tudo que ela pensava a respeito de Peter era que ele parecia fofo (nos melhores e mais otimistas dias, até ganhava um "divertido" como adjetivo). E Peter bem sabia que garotas não namoram caras só porque são fofos. A partir desta percepção, sua aparência se tornou um grande empecilho.

Era o último final de semana do quinto ano, pouquíssimos dias antes que eles estivessem todos de férias. De acordo com Sirius, sua oficial última oportunidade de convidar Alice antes que ela voltasse do recesso com algum outro garoto em mente. A possibilidade realmente assustou Peter, e colocando em uma balança mental, ele viu que Alice iniciar um relacionamento com outra pessoa o deixava mais apavorado do que o ato de pedir para que ela saísse com ele. Então, resolveu que era a hora certa, após o último jogo de quadribol, onde Grifinória levou o troféu pelo segundo ano consecutivo. Todos estavam felizes demais — inclusive Alice — para estragar todo aquele clima acolhedor.

— E se ela disser "não"? — perguntou Peter a Remus, pela terceira vez. James e Sirius estavam ocupados demais comemorando a vitória, como membros ativos do time.

— Que tal um "tudo bem"? Digo, não tem muito que você possa fazer se ela não quiser...

Peter sentiu o rosto esquentar. Encarou Alice do outro lado da sala, na companhia de suas amigas Marlene McKinnon, Lily Evans e Mary Macdonald. Elas eram quase tão inseparáveis quanto os próprios marotos, mas ele desejou arduamente que desta vez não estivessem tão juntas.

— Ei, Wormtail — chamou Remus. — Sabe que não é grande coisa, uh? Você só precisa tentar, e se não der certo, tudo vai continuar a mesma coisa...

Peter assentiu. Sabia que Remus estava tentando encorajá-lo, entretanto o problema era que ele considerava sim grande coisa uma rejeição de Alice. Provavelmente seu amigo não sabia o que ele sentia no momento, mas se houvesse alguma forma de transferir (ao menos por alguns segundos) toda a bagunça em sua mente, Lupin veria o quanto nada daquilo era fácil. 

Talvez pela agitação de ver sua casa ganhando o torneio de quadribol, ou pelo simples fato de que não teria outra oportunidade até o próximo período letivo, Peter respirou fundo e caminhou até Alice Wilson, se divertindo com os outros alunos em todo seu esplendor, com os longos fios loiros dançando sobre seus ombros e olhos de um azul muito vivaz. Quando chegou perto o suficiente, a primeira a notá-lo foi Marlene, que sorriu, atraindo a atenção de suas amigas.

— Oi, Peter! — exclamou Mary, em seguida. Lily e Alice acenaram, parecendo muito relaxadas.

— Ei — disse, de forma quase assustada. — Alice, posso falar com você um instante?

— Comigo? — perguntou Alice surpresa, mas já se afastando das amigas. — É claro!

Peter acenou para o grupo de amigas antes de deixar o local, levou Alice até uma extremidade relativamente vazia do Salão e acabou frente a frente com a garota, que ainda tinha as bochechas rosadas de agitação e quase um ponto de interrogação na maneira como observava o colega.

— Bem — começou Peter, se dando conta de que era esse o momento que ele dizia alguma coisa. — Estamos quase de férias...

— Sim, me deixa bastante triste deixar Hogwarts, mas sinto falta dos meus pais... 

— É, eu também — respondeu Peter, pensando em alguma maneira de retomar as rédeas da conversa.

— Tem planos para as férias? Ouvi que James vai para o Alasca com os pais...

Falar sobre seus amigos não era um bom sinal. Ele devia ser o foco ali. Mas aparentemente, todos que conversavam com Peter sentiam a necessidade de algum momento citar o nome dos outros marotos. E ele tinha certeza de que quando era algum deles em sua situação, ninguém sequer cogitava mencionar seu nome.

— Ainda sem planos, e você? 

— Oh, eu estava pensando em passar algum tempo com Marlene. Lily sempre faz isso no final das férias e parece maravilhoso, mas significaria menos tempo com minha família...

Peter não queria ouvi-la falar, por mais idiota que parecesse. Então ele se apressou em dizer, antes que ela estendesse seu monólogo:

— Ei, Alice, esse final de semana será o nosso último em Hogsmeade. Será que você não quer ir comigo? — Ele sentia que ia vomitar a qualquer momento. Diferente do que imaginava, dizer as palavras só fez com que ficasse mais ansioso.

Alice sorriu, ela estava sempre sorrindo, mas aquilo não acalmou Peter, que devia estar com um semblante de calmaria bem forçado.

— Sim, nós podemos ir juntos, Peter — ela respondeu, genuinamente animada. — Me avise o horário que decidir. E obrigada pelo convite.

Antes de ir embora, ela se inclinou e segurou a mão de Peter, apertando sua palma com delicadeza, sorriu e lhe deu as costas. Peter sentiu que estava flutuando, porque a linda Alice Wilson aceitara sair com ele e parecia realmente satisfeita com isso. Naquele momento, era só o que importava.

***

— Vocês não podem ir até a Dedos de mel! — exclamou James. — Não se leva uma garota para uma loja atulhada de maníacos por doces...

— Você adora a Dedos de mel e não é um maníaco por doces — Remus comentou de sua cama, em tom de divertimento.

— Existem diferenças. Você também adora a Dedos de mel, e veja o que temos aqui... — James precisou se esquivar quando Remus atirou o travesseiro em sua direção, e Sirius, que observava tudo enquanto se arrumava para ir ao vilarejo também, finalmente resolveu falar.

— Vá ao Três Vassouras e tomem uma cerveja amanteigada — sugeriu o amigo.

— Lá é tão... Cheio.

— Bom, leve-a a Casa de chá da Madame Puddifoot, se quer silêncio... 

— Uh, aquele lugar é horrível! — exclamou James.

— Não para os casais! 

— Ora essa, Padfoot! E desde quando Alice e Peter são um casal? — perguntou James.

— Eles poderiam — murmurou Remus. Peter não sabia se ficava grato pelo tato do amigo ou bravo porque precisava de sua proteção.

— Wormtail, leve Alice onde quiser e conversem. E agora, gostaria de toda a atenção para meu conselho de mestre. — Sirius fez uma pausa dramática, atraindo a atenção de seus amigos. — Quando estiverem sem assunto, você a beija. E depois diz "Achei que precisava fazer alguma coisa para manter o clima". Sempre funciona.

James gargalhou e Remus se aproximou, parecendo bastante insatisfeito.

— Essa deve ter sido a coisa mais idiota que já disse, Padfoot — disse Remus. — Não acredite no que ele diz, Wormtail...

— Oh, quão valiosa sua opinião virgem é, Moony... — debochou Sirius, no que Remus ignorou com um aceno negativo de cabeça.

— Acho que já estou indo, pessoal — anunciou Peter, cansado de ver seus amigos opinando sobre o que devia ou não fazer.

— Boa sorte, Wormtail! — ele ouviu James dizer, antes que deixasse o dormitório e descesse as escadas, indo de encontro a sua acompanhante, que o aguardava no Salão comunal vazio, sentada em uma poltrona e distraída com o calor da lareira.

— Alice? — chamou, se aproximando. Ela voltou o olhar em sua direção e sorriu. Vestia um casaco marrom grande e um cachecol do uniforme com as cores de sua casa envolvia seu pescoço. O clima estava muito frio, então ela calçara botas de neve.

— Vamos? — a garota perguntou, indicando o caminho.

Eles caminharam lado a lado, os ombros quase se tocando, em direção ao vilarejo. Seus pés afundavam na neve e Peter sentia o frio quase em seus ossos. Alice não falava muito, o que era surpreendente, porque ela estava sempre falando. Se aproximaram do Três Vassouras, mas Alice parou, parecendo incomodada, e falou pela primeira vez:

— Podemos ir até a Dedos de mel antes? — ela perguntou.

— Ah, claro — ele respondeu, tentando não soar tão desapontado, mas claramente falhando.

— Juro que vai ser rápido — Alice se apressou em uma justificativa. — Na verdade, vou precisar da sua opinião.

— Minha opinião? — questionou Peter, no passo em que se dirigiam a Dedos de mel.

— Sim. Você é um maroto, afinal. É um especialista em deixar as pessoas felizes.

— Não estou entendendo o que quer dizer...

— Eu preciso encontrar algo que faça alguém muito feliz — ela explicou, enquanto entravam na loja. Logo as muitas prateleiras repletas de doces se fizeram visíveis, e os dois adolescentes foram engolidos por um ambiente quente e acolhedor, repleto de alunos e alguns poucos professores.

— Alguém? — Peter indagou.

— Bem, suponho que você saiba o que aconteceu entre Lily e Snape, aquele tremendo imbecil. De qualquer forma, ela anda se sentindo meio mal, porque eles costumavam ser muitos amigos, então...

— Pensou que doces seriam uma opção?

— Exato.

— Bem mais saudável do que jogar alguns feitiços em Snape, preciso dizer.

— Não que eu não tenha pensado nisso... — disse Alice de modo pensativo. No momento seguinte, eles riram juntos, e Peter sentiu borboletas em seu estômago. — Venha, me ajude a encontrar algo...

Por mais que James tenha dito a Peter que não levasse Alice na Dedos de mel, a tarde que passaram lá dentro, escolhendo e testando doces juntos pareceu ótima. Alice era muito divertida e até aceitou uma pequena batalha de feijõezinhos de todos os sabores, onde teve a grande sorte de acabar somente com sabores de frutas, enquanto Peter precisou lidar com cera de ouvido e berinjela. Depois do ocorrrido, sapos de chocolate pareceram uma ótima opção. Não viram o tempo passar, e quando a garota finalmente decidiu levar um bocado de varinhas de alcaçuz para Lily, já estava consideravelmente tarde e próximo ao horário que deviam voltar.

— Vamos, ainda dá tempo de tomar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras! — ela anunciou, pegando na mão de Peter de maneira inconsciente, enquanto o levava até a saída. Ele estava seriamente considerando a possibilidade de estar morto e no paraíso.

Quando deixaram o ambiente quente, lidaram com alguns tortuosos segundos de choque térmico pelo tremendo frio que fazia do lado de fora (o clima estava cada vez mais rigoroso) até alcançarem a entrada do Três Vassouras. Quando de fato estavam no interior do pub, Alice ainda segurava sua mão, e Sirius, que estava no local na companhia de James, ergueu as sobrancelhas tão altas para o gesto que estas quase desapareceram sob a franja desleixada que caía em seu rosto. Peter gostou da sensação de surpreender, apesar que nada de sério estar acontecendo ali.

Se adiantou e pediu duas cervejas amanteigadas, para depois conduzir Alice a um extenso banco localizado no extremo oposto ao balcão de pedidos, onde não havia estudantes e a própria estrutura das estalagens ocultassem os dois jovens, com as vigas de madeira abaixo das escadas se colocando no meio como uma camada de proteção. Eles tomaram suas bebidas inicialmente em silêncio, sentindo o frio deixar seus corpos e ouvindo a movimentação barulhenta de fundo.

— Espero que ela fique mais feliz. Marlene sequer conseguiu fazer com que viesse na última visita... — divagou Alice, se referindo aos doces e Lily Evans.

— Se Evans for como Remus, um pouco de açúcar cura qualquer mal estar... — Peter comentou com um sorriso.

— Vocês todos são muito amigos, uh? — ela perguntou.

— Bem, sim.

— Você também divide o dormitório com Frank Longbottom, certo? 

— Sim...

— Mas não são tão amigos... — ela apontou.

— Frank é um cara legal, mas não.

— Ele parece ser muito legal mesmo. — Alice sorriu e relaxou, deixando o silêncio se aproximar. Peter não gostava do rumo que a conversa levava, então decidiu tomar outra atitude, muito maior do que convidar a jovem Wilson para sair.

Ele se inclinou, fazendo com que Alice o encarasse confusa e, como Sirius aconselhou, selou os lábios com os da colega de forma apressada e nervosa. Mas provavelmente contrariando tudo que Sirius previra, Alice empurrou os ombros de Peter com força e se colocou de pé, o rosto vermelho, não de vergonha, mas sim de raiva. Seu semblante era tão ultrajado que Pettigrew involuntariamente se encolheu. Repentinamente, todas as suas inseguranças estavam de volta, e ele voltou a se enxergar como nada mais do que o garoto muito feio para alguém tão linda quanto Alice Wilson. Por mais que se sentisse um babaca, não se desculpou ou tentou se justificar, só ficou lá parado, olhando para Alice.

— O que você pensa que está fazendo?

— Achei que precisava fazer alguma coisa para manter o clima — disse baixo. As palavras de seu amigo se tornaram muito estúpidas ditas naquele momento e saindo de sua boca, principalmente.

— Bem, acho que você anda entendendo as coisas muito errado, Pettigrew — ela disse de forma grosseira.

— Eu pensei...

— Não existe um "clima" entre nós — Alice completou. A raiva pareceu deixar seu semblante e ela suspirou de forma cansada. — Sinto muito, Peter. Mas não gosto de você dessa forma.

— Tudo bem. — Ele se perguntou de onde vinha a coragem para responder. Alice pareceu mais satisfeita com essa frase, então ele fez uma anotação mental de seguir somente os conselhos de Remus, e nunca os de Sirius.

— Eu vou embora — anunciou a garota. — Obrigada por hoje... E desculpe por isso...

— Tudo bem, Alice — ele repetiu.

— Você ainda vai encontrar uma garota muito bacana, Peter. — Ela sorriu, sua marca registrada, e foi embora.

Peter Pettigrew não tinha uma confiança inabalável, como seus amigos pareciam ter, então, seu primeiro ímpeto foi a vontade quase incontrolável de chorar. Mas ele não queria que as pessoas ficassem sabendo do ocorrido, então conteve a vontade e internamente comemorou por ter escolhido um local tão afastado. Por outro lado, era provável que Alice contasse a suas amigas, e ainda que Lily fosse muito discreta, Mary adorava espalhar boatos idiotas e Marlene, por vezes, parecia ter algo pessoal contra ele. Essa perspectiva o deixava em pânico. Mas acima de sua tristeza por ser chutado pelo seu primeiro amor, Peter estava frustrado, porque apesar de ser um maroto, ele nunca seria um deles de verdade. James e Sirius nunca teriam este tipo de problema e Remus nunca se preocuparia com tal coisa. Ele detestava esse sentimento, mas não sabia como controlá-lo.


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