We Were The Lucky Ones escrita por Cathy Thesaurus


Capítulo 3
3. All Forgiven




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Michael aproximou-se e ajudou a manter Mark em pé.

- Quem é esse?

- Um antigo amigo. Vocês podem ficar aqui até uma amiga chegar? Ela vai me ajudar à... Não sei o que vamos fazer com ele, mas vamos dar um jeito.

- Eu estou ouvindo Maureen. Engraçado ser justo você que vem cuidar de mim no fim da minha vida...

- Repete isso que serei eu que vou te matar.

- Maureen? - Josh e Michael perguntaram juntos.

- É uma história um pouco longa...

- Você pode pedir para ele me soltar? Eu prefiro deitar. Eu estou vendo dobrado de novo.

- Mark essa é a Rachel. - Maureen disse e Rachel não teve coragem de chegar perto, mas acenou.

- Agora eu gostaria de vomitar, com licença.

Maureen pensava se tinha mudado tanto quanto ele, sua vontade no momento era pedir por um abraço grupal porque essa sempre foi uma das soluções universais do Mark. Para frio, brigas, gente idiota, solidão... Será que funciona pra pessoas que mudam? Será que ainda existe algo do Mark ali dentro?

Um silêncio estranho preencheu todos os espaços do apartamento. Os cheiros, o barulho dos carros, alguns bêbados na rua... Bêbados, não Boêmios, a Boêmia começou a morrer no Halloween de 1990 e havia partido por completo há muitos anos. Foi em outra vida quando ela era Maureen, agora ela era Shelby, mas ver Mark resistir bravamente a todo um mundo a fazia sentir no mínimo perdida.

Rachel estava abraçada à Josh como se fosse uma criança de 5 anos e Michael estava em pé ao lado de Mark, agora sentado encostado às janelas que dão para a escada de emergência.

Meia-hora passou até que finalmente Joanne chegou. Entrou no apartamento sem pedir licença ou bater como qualquer um que...

- Maureen o plano é esse: levamos ele para o meu loft; damos um banho nele e então o que comer. Antes eu passei numa loja e comprei algumas roupas novas para ele... - só então ela reparou que tinham outras pessoas no lugar. - Oi eu sou a Joanne vocês são... - seus olhos ficaram alguns segundos em Rachel – Você deve ser a filha da Maureen.

Rachel aproximou-se estendeu a mão e disse:

- Rachel, é um prazer. - Joanne apertou a mão.

- Se vocês quiserem ir também para minha casa serão bem recebidos, mas terão que se apertar no carro.

- Apesar de sermos judeus seria interessante ter novas pessoas com quem passar o natal. - disse Josh.

- Sempre usamos como uma boa desculpa para um tempo obrigatório em família.

- Como em todas as famílias. -disse um semi-consciente Mark.

- Vocês podem nos ajudar à descê-lo? - Joanne pediu.

- Claro. Eu sou Michael.

- E eu sou Josh.

- É um prazer.

Desceram Mark e entraram no carro, Michael foi na frente com Joanne, Rachel sentou no colo de Josh e Maureen ficou no meio sentada ao lado do cineasta.

Chegaram no prédio, Michael carregou Mark no colo com a total facilidade até o elevador e de lá para dentro do apartamento.

- Eu já estava ficando preocupada com vocês... - disse Laura ao abrir a porta.

- Oi, querida, nos ajude, sim? - disse Joanne dando espaço para Michael passar com Mark. Laura olhou para aquelas pessoas. - Essa é a Maureen. - Maureen aproximou-se e deu um abraço em Laura.

- Você é uma mulher de sorte. - Laura ficou boquiaberta pois esperava mais provocações, mas talvez Joanne estivesse certa, o Mark sempre teve uma importância maior na vida da atriz.

- Joanne, só me indica onde estão as roupas e onde é o banheiro e pode deixar que eu dou banho nele.

- Eu acredito que ainda sei tomar banho sozinho Maureen. - disse Mark arrumando os óculos sujos no rosto escorando-se nela.

- E você mal consegue ficar em pé! Além do mais sem modéstia porque não tem nada ai que eu não tenha visto... várias vezes.

Joanne segurou o riso, Mark pareceu irritado, Rachel ficou vermelha; Maureen foi caminhando até o banheiro escorando Mark.

- Maureen, aqui estão as roupas que eu comprei. Também comprei todos os aparatos pra fazer a barba dele. - falou Joanne deixando as roupas na pia e fechando a porta do banheiro.

- Você não vai fazer minha barba, Maureen.

- Vou sim. - disse sentando-o na privada que estava com a tampa abaixada. - Eu sei que nem te dei flores, nem chamei pra jantar, mas você pode tirar sua roupa?

Mark olhou como se não achasse graça e ao mesmo tempo pela primeira vez em anos tivesse noção do seu corpo e realmente ele percebeu que não conseguia manter-se em pé sozinho.

- Tem uma banheira excelente aqui nesse banheiro, não vai ser difícil te dar banho. - Maureen levantou-se e deixou a banheira encher enquanto esperava Mark se despir com terrível lentidão.

Ele não falava nada enquanto ela tentava de qualquer jeito que ele a respondesse, qualquer coisa.

- Por que você não diz nada? Tanto tempo em reclusão esqueceu como falar como um monge?

- Qual o seu problema com o silêncio, Maureen?

- O silêncio tende a falar coisas que não queremos escutar. - silêncio. A água encheu a banheira, quase transbordando... - E foi o silêncio que nos trouxe aqui não é? - levantou-se e desligou a torneira. - Você precisa ficar pelado pra tomar banho, sabe... Antes que a água fique gelada... Eu viro de costas se você quiser.

- Você podia estar fingindo estar de olhos fechados que você estaria olhando. - ele se levantou e foi até a banheira já nu. Maureen realmente não olhou. - Por que você não está olhando?

- Porque eu te respeito, mas você ainda precisa de ajuda então eu vou ter que olhar, mas prometo ser gentil. - falou virando para ele com um sorriso no rosto e as mãos sobre os olhos.

- Você está vendo por entre seus dedos, criança.

Ela o ajudou a entrar na banheira, pegou uma esponja e começou a lavar suas costas. Mark pensava em como em outros tempos ela já teria feito no mínimo trinta implicações de possivelmente fazerem sexo e duas provocações sobre como estava magro. Ela apenas o lavava como se procurasse alguém que conheceu há muito tempo por debaixo da sujeira, talvez fosse exatamente isso que estava fazendo.

Ela queria que ele começasse uma conversa, durante anos ela que teve o primeiro passo. O primeiro beijo foi ela quem o puxou para o mesmo quando estavam andando pra escola juntos e apenas anos depois começaram a namorar quando ela o chamou para sair. Os dois sem dinheiro, ela teve a ideia de que morassem juntos com mais alguns amigos... Quando não se falavam mais após a morte de April (como se não houvesse o que falar) e Mark passava mais tempo com Roger (como se ela não existisse), e então ela começou a sair com vários outros e ele nem ligava mais, foi ela que fez as malas e saiu do apartamento, ela chorava, ele só sentiu falta depois. Talvez fosse isso que eles precisassem, que ele tomasse o primeiro passo dessa vez. Não que ela quisesse mais nada com ele...

- Você lembra de quando nós nos conhecemos? Eu não lembro.

Ela parou de esfregar o peito dele, ela também não lembrava.

- Eu acho que foi na escola?

- É normal as pessoas continuarem amigas das mesmas pessoas a vida inteira? Às vezes eu tenho a impressão que não lembro de nada sem você e sem o Roger. Antes de conhecer vocês - ela voltou a esfregar... também não lembrava.

- Eu também não lembro... - resolveu perguntar a pergunta que Joanne não soube responder. - Você sabe alguma coisa dos meus pais? - Maureen sempre soube que quando Mark sentia falta dos pais para evitar brigas com seu pai, ligava para os pais de Maureen já que ele quase cresceu na casa dela.

- Eles morreram uns anos atrás num acidente de carro. - silêncio. A água passou de quente para morna, quase fria.

De certa forma Maureen achava que eles estavam mortos, eram só mais dois para sua lista. Perguntava-se quando seria a sua hora, já não tinha enterrado gente demais?

- Esfregue suas pernas antes que a água esfrie. - ela entregou a esponja para ele.

- Eu não lembro quando nos conhecemos, mas eu sei qual é minha primeira memória sua.

- Qual é?

- Estávamos na sua casa e você subiu até o sótão e trouxe uma máquina fotográfica do seu avô pra baixo, você estava quase tão suja quanto eu antes desse banho. - ela jogou água na cara dele, ele riu baixinho – Você olhou pra mim e disse “eu não sei como mexe, mas eu quero tirar fotos, preciso treinar para o meu grande futuro!” Eu fiquei te olhando tentando entender o que eu tinha com o seu “grande futuro”. Você pôs a câmera na minha mão e disse “eu preciso de alguém pra me fotografar sempre, sabe as coisas passam de pressa e quase sempre nem vemos passar. Ontem tinha uma flor debaixo da janela do meu quarto, ela era tão bonita... Hoje ela não estava mais lá, meu pai cortou a grama e tirou a flor de lá. Se uma flor pode sair tão de pressa imagina as pessoas!”

A água começou a ficar gelada e Maureen continuava parada olhando para ele esperando ele continuar a história ou sair da banheira.

- Você estava certa, é claro, quando se convive com você aprendemos que você está sempre certa mesmo quando está errada. Então eu olhei pra você e prometi que jamais deixaria de registrar tudo que acontecesse conosco, porque as coisas realmente passam de pressa.

Maureen pôs seu rosto junto ao dele e lhe beijou por alguns segundos.

- Sua barba está estragando completamente o clima. A água já está gelada, sai daí, se troca que eu preciso fazer sua barba.

- Você não vai fazer minha barba.

- Vou sim. - ofereceu a mão para ajudá-lo a sair. Ela o secou respirando fundo com um auto-controle que não tinha há vinte anos. Incrível como tinha sido fácil fazê-lo entrar na banheira e até limpá-lo sem segundas, terceiras intenções e agora depois de algumas palavras as portas do inferno tivessem se aberto e tudo ebulisse como se fosse ontem que fizeram amor a última vez.

Ele se vestiu com as roupas que Joanne havia comprado, que incrivelmente serviam nele. Os dois riram tentando imaginar como ela sabia o exato tamanho dele. Ele se sentou novamente na privada enquanto ela passava a espuma no rosto dele parecendo muito concentrada.

- Maureen você vai acabar me cortando.

- Eu já te barbeei antes, quando você quebrou o braço...

- E eu passei uma semana com curativos no rosto.

- Mas eu mudei muito nesses anos e tive alguns relacionamentos com alguns homens e... aprendi a não cortar ninguém tão profundamente com o barbeador. Você sabe que quando eu cismo que vou fazer algo direito, eu consigo - disse sorrindo.

E realmente ela havia aprendido de alguma forma, pois não o cortou. Ela limpou o rosto dele e ajudou-o a se levantar.

- Agora vamos comer. - segurava a mão dele com um sentimento e a expressão de quem o possuía, como se ele fosse um objeto que ela havia deixado em alguma caixa e esquecido onde tinha deixado e agora que o reencontrou voltou a sentir como se fosse seu brinquedo predileto. E não, ela não o dividiria com ninguém... Por mais que as vezes brincasse com outros brinquedos.

Entraram na sala.

- Olha só, Mark, você parece humano de novo. Ou o mais próximo que você já esteve. - Joanne falou enquanto terminava de arrumar a mesa. - A Laura fez sopa, porque está frio e como você não come faz tempo não vai cair mal. - Joanne olhou para as mãos dos dois unidas e sorriu com cara de quem sempre soube e talvez soubesse.

Todos conversavam à mesa, Rachel havia entrado numa conversa infinita com Joanne que esporadicamente olhava para Maureen com cara de “socorro, onde desliga?”. Mark descobriu que Laura era fotógrafa então tinham muito que conversar. Maureen conversava com os pais de Rachel e tudo parecia... tranquilo.

Começava a nevar em Nova York, dentro do apartamento era quente e confortável como se todos estivessem ali. Como se um a um perdoassem por ela ter partido, fingido que se esqueceu de quem era. Maureen fazia carinho no cabelo do Mark e cheirava dizendo “é... quase bom.”

Virou o rosto de Mark para si e o beijou lentamente como que tivesse se esquecido de seu gosto. Talvez dessa vez com ambos mais velhos, agora que ambos sabiam seus erros, quem sabe poderia dar certo. Ela havia pedido demissão mesmo, sem Jesse o Vocal Adrenaline não tinha grandes chances e ela cansou de viver pelo sonho dos outros, aquela não era ela.

Há 21 anos eles viveram uma noite que mudou suas vidas para sempre, naquele dia os três sobreviventes e novos agregados começavam uma jornada muito mais calma, mas uma certeza Maureen tinha que estavam todos, de certa forma, perdoados.


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