We Were The Lucky Ones escrita por Cathy Thesaurus


Capítulo 2
2. forget regret or life is yours to miss




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24 de Dezembro, 9 PM EST. Foi nessa hora que o voo de Maureen pousou em Nova York. Não era fácil acreditar que faziam exatos 21 anos que começou aquele que foi o melhor ano de sua vida.

Ela estava de volta a casa, iria até um hotel com um táxi. Táxi, ela tinha dinheiro pra pagar um táxi. Da última vez que esteve aqui eram os tempos que às vezes conseguir dinheiro pro metrô era difícil.

Como iria encontrar Joanne ia além do que havia pensado, apesar de ter decidido voltar há uns bons meses ela não tinha parado para pensar como iria achar Joanne. E sobre Mark, bem ela tinha um palpite de que ele ainda morava no mesmo lugar, no mesmo apartamento...

No dia seguinte ela iria procurar. Chegou no hotel e logo na entrada deu de cara com Rachel.

- Rachel? O que você está fazendo aqui?

- Todo ano nessa época eu e meus pais ficamos aqui eu preciso ter a educação na medida certa em relação à musicais e é sempre melhor assistir a peça na Broadway.

Flash back

- Rachel, já te explicamos duas viagens por ano para Nova York é demais.

- Mas nós não vimos La Cage da última vez e vamos acabar perdendo o elenco original se não formos no recesso de final de ano.

Flash out

- Rachel, meus alunos tem a sua faixa etária. Você provavelmente convenceu seus pais a virem aqui.

- Ela tinha um motivo real, Shelby, mas pelo jeito eram dois motivos. - respondeu Michael.

Rachel olhou culpada para Maureen e então para seus pais. Ela só queria ajudar.

- Olha, eu sei que eu assinei um contrato, mas... - ela começou a se desculpar.

- Fui eu que a reconheci, fui espionar o Vocal Adrenaline e uma pessoa com a mesma estrutura óssea que eu que pode cantar Barbra Streisand com a mesma facilidade que respira só podia ter algum parentesco comigo.

Os dois se despediram e mandaram Rachel subir em cinco minutos no máximo.

- Você não precisava ter feito aquilo, eu sei muito bem me cuidar sozinha.

- Você talvez nunca vá ser minha mãe de verdade, mas pode ser minha amiga. - estendeu a mão.

Maureen apertou a mão estendida. E parou para pensar se devia dividir suas dúvidas e percebeu que depois de tanto tempo sendo tantas pessoas ela havia esquecido de quem ela era. De como era Maureen Johnson, aquela que jamais deixa que os outros não saibam perfeitamente como ela se sente com uma situação. Se Maureen Johnson te conhece ela tem uma opinião sobre você e você sabe perfeitamente o que ela pensa porque ela te contou com todas as letras.

- Eu não tenho ideia de onde achá-los.

- Eu sei. - sorriu e entrou no elevador.

Natal. Maureen sabia que não adiantaria ir até a casa dos pais da Joanne, porque eles provavelmente já se foram também e ela não sabia se teria coragem de ir à Avenida B àquele antigo prédio hoje. Um passo de cada vez, primeiro aqueles que há muito se foram pra depois aqueles que há muito se deixou.

Andando por entre tantos túmulos ela pensava nas histórias daquelas pessoas quantos ali deviam ter deixado pra trás uma família e quantos não deixaram nem amigos que se importavam. Caminhava com uma garrafa de Stoli numa mão e dois pequenos buquês na outra.

Maureen achou o primeiro túmulo que procurava e sentou-se encostada na pedra. Tomou um gole do Stoli e colocou a garrafa do seu lado.

- Bom Dia, Collins. Eu sei faz tempo que eu não venho aqui. Desculpa... - pôs a mão na cabeça. - Também faz tempo que não bebo Stoli. - soluçou. - Se você me visse agora daria muita risada o mais forte que eu ando bebendo é vinho. E eu estou trabalhando no mesmo lugar há quatorze anos. Eu sei pelo menos não me vendi pela fama não é? - silêncio. - Ok, talvez um pouco. - olhou para a garrafa ao seu lado. Encostou a cabeça na pedra, estava tão frio que sentia como se as lágrimas que rolavam pelo seu rosto fossem de fato congelar no meio do caminho.

O fato era que tantas lágrimas congelaram no meio do caminho que era só isso que ela havia se tornado lagrimas meio-choradas e uma vida meio-vivida.

- Você se lembra quando nós costumávamos falar que a última coisa que queríamos ser era a pessoa que mora num apartamento grande na cidade bem decorado sem nenhuma vida social? Eu sou essa pessoa. Essa diva apenas dirige os outros no palco. O palco não é mais meu. - seus olhos caíram novamente na garrafa e percebeu que há anos tinha essa conversa e a resposta era sempre a mesma, o silêncio.

Todos os dias, Maureen conversava com os fantasmas à sua volta e de todos de quem mais sentia falta era Collins. Ela a estaria fazendo rir e com teorias... O que será que ele pensaria do mundo como está agora? Saber que os adolescentes finalmente se preocupam com os computadores, na verdade precisam mais deles do que da televisão...

O salto afundado na grama a cabeça encostada no joelho e a garrafa e os buquês ao seu lado.

- Eu tive uma filha. Fui barriga de aluguel pra poder conseguir dinheiro pra voltar. Não consegui voltar sem vocês aqui... Eu preciso visitar os outros, ok? - Tomou mais um gole do Stoli. - O resto fica pra você. - levantou-se passou a mão pela pedra. Com os escritos “Thomas Collins, provavelmente reivindicando algo seja lá onde estiver.”

Voltou a andar e encontrou o segundo. Mimi Marquez. Deixou um dos buquês encima da pedra.

- Oi querida. Eu tenho uma aluna da sua idade. Não conta isso pra ninguém ou eu vou parecer muito velha - riu um pouco e viu-se chorando de novo. - Eu sinto muito sua falta. - levantou-se e antes que chorasse mais era como se a cada mísera palavra tomasse conta de si uma náusea, o cheio da grama lhe cobrisse os sentidos e o frio ao invés de adormecer seus membros os fizesse mais pesados, doloridos.

Andou como se quisesse correr. Parou em frente ao túmulo de Roger, tirou uma moeda do bolso e jogou.

- O cantor sempre deve receber algo por seus shows. - mordeu o lábio e foi caminhando para o último túmulo, perto de uma grande árvore que era sua conhecida.

Pôs o buquê sobre a pedra, ajoelhou-se em frente à mesma e permitiu-se chorar copiosamente, pois em Angel sempre teve um ombro, um porto-seguro. Ali ela sabia que estava segura para chorar por uma eternidade.

- Eu sinto muito. Eu acho que nunca chorei tanto na minha vida quanto na última hora. Sabe porque a Joanne terminou comigo? Todos os dias eu ia sozinha à um bar perto do apartamento dela e todos os dias voltava pior do que você no seu último Réveillon. Eu precisava daquilo pra preencher todo o vazio, mas eu acho que nada nunca vai preencher não é? Nem a filha que eu dei, nem todos os prêmios do Vocal Adrenaline. Eu demorei pra entender isso, mas eu voltei viu? Eu não sei se eu vou ficar, mas eu voltarei pelo menos uma vez por ano, o Natal longe de Nova York consegue ser pior do que aqueles aqui. Eu deixei o cabelo crescer como você tinha falado e engordei alguns quilos então só estou usando preto. Eu sei que isso te deixaria furiosa. Acho que isso é o pior viver esperando a reação de alguém que não vem. Nunca mais.

Ela olhou para o mar de pedras, esculturas e algumas pessoas que também não tinham com quem passar o feriado. E finalmente entendeu aonde estava errando.

- Forget regret or life is yours to miss... - cantou baixinho entre soluços. - Eu preciso encontrar a Joanne e o Mark. - levantou-se com uma certeza que não tinha desde que voltou para aquele lugar. Virou-se e trombou com alguém. - Desculpa eu estava... Joanne?

- Você é com certeza a última pessoa que eu esperava encontrar aqui.

- Vim colocar flores nos túmulos dos meus amigos. Só isso.

- Por que você precisava me encontrar?

- Saudades? - sorriu abertamente e abriu os braços para abraçá-la.

- Isso não adianta mais comigo, Maureen. - Maureen a abraçou.

- Eu realmente senti falta da minha amiga.

- Eu não posso aguentar mais as suas loucuras, Maureen. Você saiu daqui em 93 e eu nunca mais te vi eu realmente não sei o que você espera de mim. - finalmente olhou para a pessoa à sua frente e reparou como ela estava bem vestida com roupas claramente caras. - Onde você mora? Por que você sumiu por tanto tempo?

- Eu moro em Lima, Ohio. Tenho um emprego fixo há 14 anos.

- Emprego fixo? - Maureen quis rir da cara que Joanne fez, realmente deve ser difícil acreditar para alguém que não a vê há tanto tempo. - Por que não tomamos um café?

- Pode ser, eu pago.

- Um passo de cada vez, Maureen.

- Você mesma disse não nos vemos desde 93 talvez eu já tenha dado todos os passos.

Foram para um Café não muito longe do cemitério no carro da Joanne. Sentaram numa mesa próxima ao fundo do lugar e só começaram a conversar quando o café chegou.

- Eu li sobre um dos seus casos no jornal. O daquele casal de dois senhores que a justiça estava tentando impedir que um tomasse as decisões pelo outro apesar deles terem feito tudo certo legalmente... Parabéns, pelo caso, à propósito.

- Por que você ficou tanto tempo em Ohio, você claramente tinha dinheiro pra voltar...

- Eu tive uma filha. - silêncio. - Fui barriga de aluguel pra um casal gay e eles me pagaram, eu não via mais razão para voltar pra NY e apesar de ter assinado um contrato para não procurar a Rachel eu achei que lá era mais a minha casa do que aqui nos nossos últimos anos.

- O que aconteceu com aquela pessoa que eu namorava?

- Ela virou professora de vez, treinadora de um Glee Club que ganhou o nacional algumas vezes.

- E você nunca conheceu sua filha?

- Eu fiz um dos meus alunos virar amigo dela e fazê-la me ouvir cantando então ela veio atrás de mim.

- Essa é a Maureen que eu conheço... - Joanne comentou baixinho enquanto tomava um gole de seu café.

- Mas quando conversei com ela percebi que eu nunca seria uma mãe pra ela, então conversamos e decidimos que era melhor mantermos distância. Ela tem dois pais fantásticos.

- Eu estou orgulhosa de você ao que parece você realmente cresceu.

- Um pouco tarde demais pra manter as pessoas que importavam perto...

- Maureen eu sei que flertar é mais natural do que respirar pra você, mas eu estou namorando há dez anos a mesma pessoa...

- Sorte a dela. - as duas riram. Para Maureen ela estava finalmente reconstruindo partes de sua casa e era isso que realmente importava.

- O que você vai fazer agora?

- Tentar achar o Mark. Você tem alguma ideia de onde ele está? Por favor não me fala que ele morreu...

- A última vez que ouvi dele foi ao encontrar o Benny num caso em que eu estava tentando processá-lo por algumas irregularidades e dois casos de assédio sexual.

- Típico.

- Segundo ele, o Mark continua morando no mesmo prédio. O Benny não demoliu porque seria dinheiro gasto à toa, ninguém quer morar naquela rua, acho que o prédio está abandonado.

- Você quer vir comigo?

- Eu prometi pra Laura que voltaria em uma hora, vamos almoçar com os pais dela.

- E os seus pais?

- Meu pai morreu há dois anos, minha mãe continua apoiando tudo que eu faço.

- E os meus pais?

- Isso eu não sei dizer. - anotou seu telefone e endereço num papel. - Qualquer coisa, aqui estão meus números do escritório e do meu loft.

- Foi muito bom te rever. - pegou sua bolsa e anotou seu e-mail, número de telefone e endereço. - Se precisar ir pra Ohio, você e a Laura tem um lugar pra ficar. - se abraçaram e Maureen pela primeira vez em anos conversou com um de seus fantasmas, ele respondeu pela primeira vez e pela primeira vez ela pode andar com um fardo mais leve nas costas.

Pegou um táxi para a Avenida B e aquela parecia uma parte intocada de Nova York.

- Se máquinas do tempo existem eu acabei de sair de uma.

Olhou para o que antes era o Life Café e viu que estava fechado com algumas madeiras pregadas onde eram as janelas, olhou para o final da rua e o Cat Scratch Club era agora um pequeno cinema. À sua frente um prédio claramente abandonado.

- Por favor que ele não esteja morando ai... - falou pra si, talvez para Roger, ou Mimi...

Os degraus alguns estavam quebrados, provavelmente o prédio era agora moradia de mendigos, refúgio de viciados... Não muito diferente do que era antigamente... Chegou enfrente à porta e puxou para ver se abria e a porta abriu.

- Mark? - tinha um tonel enferrujado no meio do que foi a sala com um fogo fraco queimando. Se ele estiver aqui ele morreu de frio.

Olhava para as paredes intactas, o sofá mofado, as estantes repletas de latas de filmes. O antigo retroprojetor aparentemente quebrado encima de uma das mesas de metal.

- Mark?

- Eu estou ficando louco, sabia é só mais um fantasma que eu escuto, eu escutava a Angel, ninguém mais escutava eu a escutava. Eu devia ter morrido como todos eles, mas o cineasta não pode se matar, alguém tem que ver por todos, mas eu não vejo.

- Mark?

- Vai embora Maureen, você é a última fantasma que eu queria ver hoje, hoje é natal, devia ser a Mimi hoje. - ele carregava na mão a mesma câmera antiga de dar corda. Os cabelos cortados, mas a barba mal-feita, não-feita há meses no mínimo.

Maureen aproximou-se dele e a cada passo o cheiro lhe dava mais vontade de vomitar, eram tantos cheiros. Cheiro de vômito, de todos os tipos de excrementos. Sua vontade era sair correndo dali, mas andou para perto dele e encostou em seu braço.

- Vocês geralmente não me tocam, presente de natal desse ano? Fantasmas não tocam...

- É porque eu não sou um fantasma, Mark. - tocou em seu rosto para que ele virasse e a olhasse de verdade. - Há quanto tempo você não toma banho, querido? - ele foi ficando mais pálido quanto mais olhava para ela. - Você não ouse vomitar em mim.

- Não tem o que vomitar no meu estômago.

- Eu vou ligar para a Joanne. - pegou seu celular e discou o número que estava anotado no papel. - Joanne? Oi, é a Maureen, teria como você vir até o prédio? É ele está vivo, mas eu acho que ele precisa de algo como uma família no momento.

- Sra. Corcoran? Que lugar é esse? - Maureen ouviu a voz de Rachel e se virou.

- O que você está fazendo aqui Rachel? Onde estão seus pais?

- Meu Deus que cheiro é esse? - Josh exclamou ao entrar no apartamento. - Ela sabia que você viria aqui à Alphabet City hoje, fomos na matinê de La Cage e viemos para cá, ela te viu subindo...

- Vocês podem me ajudar? - ela virou para eles mostrando a pessoa que a abraçava fortemente pela cintura com os joelhos dobrados como se a sua força estivesse toda nos braços que a envolviam.


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