Suspirei fundo. Por que estou fazendo isso mesmo? Ah, sim, estava fazendo por Madara. Com toda certeza iria dar uma surra nele quando chegasse no Além.

“Isso não é possível! Não é, não é, não é!” a ruiva de pele branquinha, que descobriu se chamar Karin, repetia para si mesma, como se pudesse realmente acreditar nisso e esquecer tudo o que virá á instantes atrás. A outra ruiva, chamada Karui, tentava acalmar a Karin, tendo seu esforço inutilizado; a outra a ignorava por completo.

“Karin, não é impossível. Todos nós vimos aquilo, é impossível estarmos todos loucos!” a loira, Ino, secava as lágrimas com as palmas das mãos, mas era inútil, pois mais lágrimas brotavam em seus olhos.

Os meninos, Sasuke, Naruto, Shikamaru, que era o moreno de cabelos amarrados num rabo-de-cavalo, e Chouji, que era o gordinho, estavam também chocados, mas tentavam se controlar.

Revirei os olhos ao ver Gaara bufar com o drama das meninas. “Insensível.” sinalizei para ele, ao ver o que eu disse, ele só deu de ombros. Hunf.

“Então...vocês vão ficar chorando até quando? Eu estou faminto! Então quanto mais rápido terminarmos, mais rápido posso comer.” Sai, que estava sentado na raiz de uma árvore, resmungou. Vi Kiba dar um soco na cabeça dele, que o xingou, e mandar ele parar de ser esfomeado e respeitar as garotas.

Fala sério, estou cercada de idiotas. Suspirei e caminhei até parar em frente das garotas, que ao me verem próxima de si, se encolheram com medo. “Não vou machucá-las, se fosse, não teria me dado ao trabalho de salvá-los.” sinalizei a Ino, que era a única dali, que eu saiba, que sabia falar em Libras.

Ela traduziu o que eu disse e então eu passei a ser o centro das atenções. Tsc. “É mesmo….Por que nos salvou?” dei de ombros com a pergunta do Sasuke. Eu poderia dizer que era por causa dele, mas daí eu teria que responder o por que, e eu não queria isso.

Franzi o cenho, como se não tivesse entendido a pergunta, e sinalizei. “Ela disse que é porque somos amigos.” Ino traduziu para eles em meio aos soluços.

“Como isso é possível Sakura-chan? Como é possível vocês fazerem aquelas coisas?” coloquei a mão no queixo como se pensasse na resposta. Bom, não era como se tivesse uma resposta para aquilo.

“Simplesmente é, Naruto. Não existe um por quê. Bom, na verdade, em alguns casos existe, porém em outros não.” quando Ino terminou de falar o que eu disse, percebi todos prestarem mais atenção e ficarem cada vez mais confusos.

“O que ela quer dizer é que, nós...” começou Gaara e apontou para ele, Sai e Kiba. “Para nós, existe um por que de existirmos, já para Sakura, bom, não existe explicação.”

“Seja mais claro, por favor.” Shikamaru se pronunciou pela primeira vez.  “Quero saber o que vocês são exatamente.” completou. Acredito que ele e Sasuke são os mais calmos de todos.

Falando no moreno, eu ainda não sei a situação de seus ferimentos. Não quis me aproximar e receber desprezo por parte dele. Não só ele ainda continua machucado, como os outros também. Gaara até tentou se aproximar de Ino, mas ela só o olhou com o mais puro pavor, então ele desistiu.

“O que nós somos?” Gaara sorriu maliciosamente. “Nós somos aquilo que vocês tanto falam, mas não acreditam.” deu uma pausa e observou as expressões dos humanos ali presentes.

“Eu sou um híbrido, vampiro e bruxo. Sai é um Alfa Lycan e Kiba o mesmo.” os humanos, principalmente as meninas, ofegaram surpresos.

“Isso é real!” Karin quebrou o silêncio que tinha se instalado naquela floresta desfigurada. “Mais real do que a friendzone do Kiba ruivinha.” Gaara, como sempre, falando merda.

“NANI? Porra Gaara, da onde você tirou isso?” Kiba se desencostou da árvore e caminhou irritado até Gaara. Tsc, eles não levam nada a sério viu?

Kiba, não se exalte. Todo mundo já sabe que a Shion não quer nada com você, supere e não atrapalhe a conversa. Disse irritada através da ligação.

“Até você?” ele se virou para mim incrédulo e Sai começou a gargalhar. Hm, talvez eu tenha deixado a ligação aberta, desculpe-me.

“Sai, o que ela falou? Não me deixem de fora da zoação.” Gaara perguntou curioso para o moreno, que de tanto rir, lágrimas escorriam pelo seu rosto. “Ela….disse que...o Kiba….todo mundo...sabe que Shion não quer ele.” o idiota conseguiu dizer em meio às risadas.

“Calados! Eu não quero a Shion! Eu não quero uma, eu quero todas. Então não estou na friendzone.” Gaara sorriu debochado. Vish, lá vem merda. “Ouvi dizer que Shion tinha se casado com um italiano.” Vi a cor sumir do rosto de Kiba, e ele saiu dali furioso. Tadinha da Shion quando o ver.

“Vocês são terríveis!” dei bronca no Sai, que ainda ria, e no Gaara. “Não somos os únicos culpados boneca.” senti meu rosto corar, ele tinha razão.

“Err… podemos continuar com as explicações? Eu ‘to nervoso, e quando ‘to nervoso, fico com fome.” o gordinho falou como se implorasse para terminarmos logo. Oi?

“Gostei dele!” Sai disse apontando para ele. Troquei olhares com Gaara e ele murmurou “Só um louco reconhece outro.”

“Enquanto Gaara explica, posso cuidar de seus ferimentos?” indaguei, e Ino traduziu, após ouvir Sasuke gemer de dor baixinho. Ele olhou em meus olhos, e como se tivesse encontrado uma resposta para uma pergunta que só ele sabia, concordou.

Me aproximei e me ajoelhei em sua frente. Segurei levemente sua blusa, pedindo permissão para levantá-la com o olhar, e com sua permissão, levantei e observei horrorizada os ferimentos. Por que raios ele não falou que estava tão machucado?

Devida a minha longa vida, e inúmeros machucados que curei e causei, sabia reconhecer quando um osso estava quebrado. Bom, até alguém inexperiente no assunto, somente ao olhar, saberia que Sasuke estava com várias costelas quebradas, fora os cortes profundos que tinha espalhados em seu tronco.

Rapidamente envolvi minhas mãos em chakra e comecei a curá-lo, também aproveitei para anestesiá-lo com meu poder. Sasuke ficou surpreso ao ver seus ferimentos se fechando e não sentir nenhuma dor mais. Dei-lhe um sorriso assim que o vi encarar meu rosto, tenho certeza que fiquei corada.

“Você falou o que são, mas não falaram sobre ela.” disse Karui ao me observar curando o Sasuke. “Sakura é uma Autora, tenho certeza de que nunca ouviram falar em um ser assim.” Gaara a respondeu.

Ok, agora meus sentimentos foram feridos. Apesar de ser uma realidade, ninguém nunca ouviu falar de um Autor, penso que é por sermos pouquíssimos, ou por termos que nos esconder para não sermos usados como armas.

“Realmente, nunca ouvi falar nas histórias sobre alguém com um poder assim.” Shikamaru comentou pensativo. Quando o observei, percebi que Karin, que estava ao seu lado, me encarava com um misto de tristeza e raiva. Tentei pensar em um motivo, além do qual ter sido sequestrada por minha causa, e não achei nenhum.

“Vampiros sugam sangue, são mortos vivos e imortais a menos que arranquem sua cabeça ou coração. Lobisomens se transformam em lobos na lua cheia, comem corações e são inimigos dos vampiros. Então qual o seu poder?” Naruto falava pensativo e ao me indagar sobre o meu poder, parecia genuinamente curioso. Sorri para ele, o loiro realmente parece uma criança.

“Você assiste séries demais cara! Apesar de todas essas especulações terem um fundo de verdade.” Sai falou surpreso.  “Eu também queria saber o que ela é, ela é uma bruxa?” Karui perguntou um pouco animada. Esse povo não é normal. Sai, que me ouviu pela ligação, concordou.

Olhei para Gaara e ele entendeu meu olhar. Eu não tinha terminado de curar Sasuke, ele está muito ferido, então não tenho como utilizar as mãos para fazer os sinais. E, pela cara de preguiça e fome que Sai fazia, ele não iria querer repetir o que eu falasse.

“Sakura e todos os demais Autores, podem, através de sua voz, fazer com que tudo que lerem se torne uma realidade.” ele deu uma pausa e pensou um pouco. “Mas existem alguns limites na hora de utilizar esse poder. E também, consequências.”

Enquanto ele falava, algumas lembranças lhe viam a mente, mas nenhuma delas foi tão dolorosa quanto a morte de seu pai. Ela era novinha, já tinha se passado séculos, mas ela amava seu pai e sabia que ele sentia o mesmo, porém por sua culpa, e por causa de seu poder, ele morreu.

“Você está bem?” Sasuke lhe tirou dos pensamentos. O olhei e vi que ele estava com o cenho franzido, estava preocupado. Quis falar que ela estava melhor do que ele, que estava totalmente quebrado, mas teria que digitar, e seu celular não estava consigo.

Acenou, como se dissesse que estava bem, e ele só assentiu. Voltou a se concentrar em curá-lo, deixando de lado as lembranças tristes, e também, o rubor e o coração acelerado por perceber que ele se preocupava com ela.

“Mas como ela pode ter um poder assim sendo muda?” Ino perguntou baixinho e acanhada. Ela, talvez, ainda não tinha deixado o medo do vampiro ruivo de lado, não é todo dia que você descobre que seu parceiro sexual é um híbrido.

Gaara a observou e trincou o maxilar, ele estava chateado com as ações da loira, apesar de não ser culpa dela essa situação. “Sakura não foi sempre muda, ela perdeu a voz há 150 anos atrás.” o ruivo os contou logo após me lançar um olhar, como se pedisse permissão, afinal, era algo pessoal meu.

Vi que todos ficaram incrédulos. “Quantos anos você tem?” Karin me perguntou com os olhos levemente arregalados. Eu, finalmente, terminei de curar Sasuke e aproveitei que estava ali, sentei no chão mesmo. Pensei um pouco na pergunta da Karin, quantos ano eu tenho mesmo?

Tenho certeza que minha cara expressava uma completa confusão, olhei para Sai e Gaara em busca de ajuda, mas os dois estavam na mesma situação que eu. Quantos anos eu tenho?

“Então…” comecei. “Eu não lembro.” isso é a mais pura verdade, depois de algumas décadas eu parei de contar meus aniversários, e desde então, não me importo mais com a data. “Como alguém não lembra a sua idade?” Ino perguntou abismada.

“É que eu parei de contar depois que fiz 189.” isso era verdade, o último aniversário que eu me lembrava de ter comemorado, foi este. “189? Então você deve ter nascido, hm… por volta de 1800, talvez?” Shikamaru chutou uma data. De uma coisa tinha certeza, eu tinha mais de 1 milênio de vida.

Neguei com a cabeça, e ouvi a risada de Gaara e Sai. Observei o grupo de humanos e foi difícil não rir, tamanha incredulidade que demonstravam. “Sakura nasceu por volta de uns 500 a.C, Karin.” Sai respondeu. “Ela, definitivamente não nasceu há uns 200 anos atrás.”

Eu não duvidava da informação de Sai, ele adora saber sobre tudo e também, ter o controle de tudo, então essa realmente deve ser minha idade. Mas veja, não é como se eu tivesse vivido todo esse tempo, antes de conhecer Madara eu dormi por uns 900 anos, mais ou menos. E depois da morte do mesmo, eu estava tão devastada que não podia mais viver neste mundo.

“NANI?”  a expressão surpresa foi geral. Vendo todos os olhares em minha direção, coçei a bochecha envergonhada.

“Acho melhor cuidar de seus ferimentos. Não podem voltar para casa assim.” sinalizei com o Gaara traduzindo. “E como farão isso? Um feitiço?” Karin, agora mais calma, perguntou.

“Sangue de vampiro tem poderes de cura. Se beberem meu sangue, vai parecer que nunca se machucaram.” Gaara respondeu já transformando seu rosto, deixando seus dentes afiados aparecerem; depois de transformado, mordeu seu pulso deixando o sangue escorrer por seu braço, e pingando no chão.

“Temos que beber sangue?!” Ino falou horrorizada. “Se quiserem se curar.” Sai a respondeu, já que Gaara não o fez

“Ela não pode nos curar?” Choji quem se manifestou dessa vez. “Não, ela já usou muito chakra por hoje.” Gaara respondeu, já utilizando uma jarra quebrada como copo, para guardar o sangue para eles.

O ruivinho se aproximou e estendeu a jarra quebrada para Ino, ele demorou um pouco, mas pegou a jarra, com as mãos tremendo, e bebeu. Logo, seus ferimentos foram se fechando. Ela, depois de beber, tossiu algumas vezes e vomitou.

O processo se repetiu com todos, mas somente Ino e Karin vomitaram; o resto só fez ancia mesmo.

“Isso é injusto! O Teme foi o único que não precisou beber sangue!” Naruto estava indignado. Eu deixei um riso escapar e observei Sasuke, ele estava bem melhor agora, sem os ferimentos, mas assim como todos ali, ele estava precisando de uma boa noite de sono.

Sai, precisamos levar eles para casa, e também decidir: Deixamos que eles se lembrem de hoje, ou apagamos suas memórias? Vi Sai me encarar, e ele tombou a cabeça para o lado; coisa que ele faz quando está pensando. Acho melhor eles decidirem.

“Hey galera, vocês tem uma decisão a fazer.” ele falou logo após eu concordar com o que ele tinha dito. “Que decisão?” Sasuke perguntou com o cenho franzido.

“Querem se lembrar de tudo isso, ou esquecer e viver o resto de suas vidas sem saber que o bicho papão existe?” depois da fala, todos começaram a divagar com si mesmos.

Percebi que o moreno me encarava, o encarei de volta. Senti meu coração se aquecer com a batalha de olhares; eu mergulhava na escuridão de seus olhos e lá eu vi, vi que ele estava em uma batalha interna, ele estava confuso. Ele sentia a ligação que eu sentia?

O moreno sabia esconder seus sentimentos bem, não consegui distinguir nada mais em seus olhar. Ele estava confuso, tinha lógica isso, descobrir que contos são reais, assim, de um dia para outro. Era normal sua confusão, mas era só isso? Madara não sentiu nossa ligação? Mesmo se fosse uma reencarnação, ele não sentia?

“Eu quero me lembrar.” foi o que Sasuke disse, mas eu senti, em meu coração, que essa frase tem mais de um significado.