Sequestrada - Número 1970 escrita por Carolina Muniz


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Oiie



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/765600/chapter/9

"Eu era definitivamente um problema. Um fora da casinha sem solução. Minha mente era uma bagunça, e por várias vezes duvidei da minha própria sanidade."

 

¤¤¤

 

¤ Capítulo 8 ¤

Ana penteava o cabelo, se encarando no espelho com certa irritação. Ela estava muito irritada naquele dia, nem sabia o por quê. O problema era que todos os dias eram tão iguais. Acordar, tomar banho, comer, olhar para a cara de Jack, escutar ele falando com aquela voz demoníaca esquisita, e então dormir de novo por quanto tempo conseguir - quando Hyde estava bom humor e não queria soltar o inferno em Ana.

A garota suspirou e colocou a escova na mesa, olhou fixamente para ela e desejou que fosse afiada o suficiente para machucar Jack.

Mas não era! 

Nada naquele lugar era.

Ela precisava parar de pensar naquelas coisas. Se Jack descobrisse que ela planejava machucá-lo, ele a ensinaria a nunca mais pensar. A garota levantou-se da cadeira e subiu a camisa de algodão. A cicatriz quase não era mais uma cicatriz, apenas uma marca, uma lembrança. De um ponto de vista diferente, as cicatrizes tem certa beleza, elas nos mostram o que passamos e o quanto fomos fortes por termos superado.

Ana superou, mas ainda queria dar o troco. Sua cicatriz era um corte horrível que sempre a lembraria de matar Jack Hyde na primeira oportunidade. Ele acabou com a sua vida da pior maneira possível. Não só com a sua, mas com a de sua mãe e... Ela ao menos conseguia pensar no Teddy. Era estranho. Ela sentia a falta deles, sentia muito mesmo. Mas depois de um ano, ela não conseguia mais chorar, ou se lembrar deles de forma ruim, como uma lembrança de morte. Tudo bem que ela ainda tinha pesadelos - os piores, terrores noturnos que a faziam se afogar em suor e não conseguir dormir por alguns dias até. Mas em tudo, era apenas saudade. Como quando você sente nostalgia por algo que sabe que não vai mais voltar, e você não sente desespero para que volte, mas apenas aceita.

Baixou a blusa e se sentou na cama.

Nos últimos meses, Jack tentou lhe "agradar". Ele lhe trouxe livros e cadernos - sem capa dura - com folhas em branco. Mas sem lápis ou caneta, apenas giz de cera. No começo, ela achou que ele estava a tratando como criança, mas depois ela percebeu que ele estava na verdade lhe tratando como uma psicopata. Ele não a deixava chegar perto de nada afiado que pudesse ser usado como arma contra ele - ou contra si mesma.

Estranhamente, mesmo sequestrada, Ana nunca pensou em suicídio. Nem mesmo depois de ter feito a pior escolha de sua vida... Ou talvez a melhor.

Ela não acha que algum dia irá saber

Na maioria dos dias ela não fazia ideia da hora, ou do dia da semana. Só sabia que fazia um ano por que Sarah, a "amiga" de Jack, sempre a dizia o número de meses que haviam se passado. Sarah não era a melhor pessoa do mundo, mas do jeito torto e estranho dela, ela cuidava para que Ana ficasse.

No fundo, Ana entendia um pouco o que Sarah passava. Ela lhe contou que tinha família, filhos e uma mãe doente. Jack a ajudava, e em troca ela precisava ajudá-lo.

Era uma troca de favores. Ela não ousaria colocar tudo em risco, por uma garota que mal conhecia. Às vezes você faz loucuras para salvar quem ama. Em alguns momentos, Ana se pegava pensando se ajudaria ou não, se aceitaria os "favores" de Jack em troca de fazer coisas erradas, de aceitar manter alguém em cativeiro, apenas para o prazer dele.

Nunca conseguia uma resposta.

Aquele homem era nojento demais. Mas ele nunca a tocou, não do jeito que ela achou que ele fosse fazer. Nos primeiros dias a morena ficava com tanto medo de quando ele chegava perto que ela chegava a hiperventilar, o coração disparar, sentia realmente que poderia ter um ataque cardíaco. Mas Jack nunca tentou nada desse tipo. Mesmo assim, claro que Ana sentia medo. Às vezes, quando está dormindo, ele entra no quarto e se senta na cadeira da escrivaninha, a observando com aqueles olhos macabros e sorrindo de forma esquisita. Isso sempre a assustava. Ele parecia o Diabo em forma de homem.

E ela tinha apenas que ficar lá, a mercê dele, sendo dominada até o último fio de cabelo.

Naquele momento, ela desenhava - com o giz de cera - na última folha do caderno de páginas em branco, quando Sarah entrou no quarto com uma bandeja nas mãos.

— Aqui - ela colocou na cama à sua frente e a encarou. - Você não para nunca?

Ana suspirou, fechando o caderno.

— O caderno acabou - disse, tirando a tampa da bandeja.

Sarah se sentou ao seu lado na cama e começou a folhear o caderno.

— Você realmente gosta de desenhar, não? - ela disse, admirada.

— Não é como se tivesse algo a mais para fazer - disse, com a boca cheia, engolindo em seguida. - Além do mais eu sempre amei desenhar - comentou.

— É isso que você estaria fazendo? - Sarah perguntou, fechando o caderno. - Na faculdade - esclareceu.

Ana comeu novamente. Ela não pensava naquilo, só pensava em sair dali.

— É, acho que sim. Eu iria para Juilliard este ano. Minha carta chegou uma semana antes de... - deixou a frase em suspenso e continuou comendo.

— São desenhos incríveis - ela disse. - Meu filho, Jordan, adora desenhar também. Ele cisma em desenhar na parede, na geladeira...

Ana riu minimamente.

— Eu também fazia isso quando era pequena - confessou.

— Ele ganhou um campeonato de desenhos na escola. Tinham que desenhar o mascote da copa, e o dele foi o mais perfeito. - ela disse, toda orgulhosa.

Ana sorriu verdadeiramente para ela.

— Mas ele disse que não quer fazer isso. Que não quer desenhar por desenhar. Ele quer desenhar capas de livros.

— Eu também. Por isso me inscrevi para Juilliard - confessou, irritada novamente.

Por causa de Jack ela não estava em Julliad.

— Leve o caderno para ele - disse de repente.

Sarah arregalou os olhos.

— Diz que foi de uma garota que... Que quer muito que ele consiga o que quer.

Sarah sorriu, seus olhos se encheram d'água.

— Tenho certeza que ele vai conseguir - Ana sussurrou;

Aos poucos sua irritação foi diminuindo, até que não restou nada. Apenas o nada, na verdade. Depois que terminou de comer, Sarah levou a bandeja e o caderno, e a morena pôde escutar o barulho das correntes e um xingamento dela para quem quer que estivesse vigiando naquela tarde.

Foi horas mais tarde que aquele dia se tornou diferente.

— Venha - Jack chamou, entrando no quarto com rapidez e nervosismo.

Sair? Ele nunca me tirou daquele quarto!

Ana se levantou da cama, e ele segurou seu braço, guiando-a em direção a porta.

Ele estava com raiva, muita raiva, e ela já aprendeu a não perguntar - nunca perguntar - quando ele está naquele estado.

— É melhor você não tentar nenhuma gracinha, está me entendendo? - ele disse ameaçadoramente, com a boca em seu ouvido.

Ana balançou a cabeça e ele continuou a puxando. Jack segurava seu braço com tanta força que com certeza já devia ter uma marca roxa, e provavelmente ficaria dolorido, ela já podia sentir.

Ele a arrastou acima de uma escada estreita, e um outro cara - Ana desconfiava que era ele quem ficava vigiando-a do outro lado - abriu a porta. Subiram mais escadas e só então percebeu que estavam num alçapão.

É claro que ninguém nunca a encontraria ali, o lugar era tão escondido quanto uma formiga marrom no meio das pretas.

Eles acabaram dentro da casa, ele a guiou para a porta dos fundos - e Ana gostaria muito que ele parasse de apertar o seu braço. A garota mordeu o lábio para não soltar um gemido de dor. Hyde estava realmente estressado, assustador. O outro cara abriu a porta, e ela pôde avistar um carro preto no quintal da casa. Era uma boa ideia gritar por ajuda. Mas era noite, não havia ninguém ali, e as casas eram muito distantes uma da outra. A dor em seu braço quase não a deixava respirar. Foi tudo muito rápido, logo ela já estava dentro do carro, o outro cara entrou pelo outro lado e colocou seu cinto de segurança. Escutou o som da trava de segurança, mas estava tão concentrada em não gemer de dor quando Hyde soltou seu braço que nem percebeu os seus arredores.

Ela, durante todo aquele tempo, estava numa casa comum. Ninguém nunca desconfiaria de alguma coisa. A casa tinha dois andares, uma cerca branca em volta e até mesmo um balanço inocente. Seria una casa em que qualquer podia ver a felicidade emanando no ar.

Enquanto Jack dirigia, para sabe-se lá onde, Ana encarou-o. Ele mordia a unha do polegar e dirigia o mais rápido que podia sem chamar atenção. Ana não sabe por quanto tempo ficou olhando-o, mas então ele parou o carro, e o outro cara a segurou quando ele destravou a trava de segurança. Jack abriu a sua porta e tirou seu cinto.

— Coloca isso - ele disse, colocando um boné na sua cabeça.

Desda vez, ele não a puxou pelo braço - o que ela deu graças a Deus - e sim pela mão.

Com certeza para não chamar atenção.

O outro cara também saiu do carro. Ana olhou a sua volta como pôde, havia muitas pessoas andando na rua, mas ela estava sendo levada na direção em que elas saíam. Era claro, para si, que entravam pelos fundos.

Travou quando ele tentou a puxar em direção às portas automáticas.

— Vamos logo - ele disse, lançando um de seus olhares assustadores.

Ele a puxou para dentro, e ela olhou para o outro cara. Ele segurava uma mala preta e tinha uma mochila cor de rosa pendurada nas costas.

Jack continuou a puxando a força como podia sem chamar atenção para dentro e apertou sua mão mais forte que o necessário.

 

"Sala de Desembarque"

 

Ana leu em uma placa ao lado da fila das malas.

Eles estavam num aeroporto, e iam em direção ao chek-in.

— Passaportes - a mulher pediu do balcão pediu.

Jack - para a surpresa, mas nem deveria, de Ana - pegou três passaportes e a entregou. Enquanto a mulher os abria, ele apertou mais sua mão e a puxou para mais perto dele.

O primeiro passaporte era do Jack, parecia estar tudo certo já que a mulher praticamente nem se deu ao trabalho de ver que era dele. O segundo era o do outro cara, dessa vez Ana conseguiu ver o nome, Joshua Tanner. Ela desconfiou que esse não era realmente o nome dele. E então a mulher abriu o terceiro. Havia uma foto de Ana, mas ela estava um pouco diferente, ele havia mudado a cor de seu cabelo na foto. O nome Marie Monteigo apareceu na tela.

Ele colocou seu nome de Marie? Sério?

A mulher olhou três vezes para a foto e então escaneou. Uma esperança subia pela peito de Ana e seu coração disparou. Mas então, a mulher entregou os passaportes ao Jack, e ele a puxou em direção à sala de embarque. Eles passaram pelo detector, e ele teve de soltá-la por alguns segundos, mas não deixou de lhe olhar com aqueles olhos terrivelmente pretos, numa promessa verdadeira.

O tal de "Joshua" pegou a mala e a mochila e os seguiu assim que Ana passou pelo detector e Jack a puxou pela mão.

Já haviam se passado exatos 26 minutos que estavam dentro do avião, e Jack parecia mais nervoso a cada um deles. Ele a segurava exageradamente, como se ela fosse fugir a qualquer momento. O outro cara, que talvez se chamasse Joshua, se sentou no banco de trás.

— Por favor, senhores passageiros, coloquem o cinto de segurança e desliguem seus celulares e qualquer tipo de equipamento eletrônico. Vamos decolar - a voz da aeromoça foi clara em outras três línguas.

Jack balançou a perna, e Ana se virou para a janela. O som do motor do avião ligando, fez com Hyde relaxasse um pouco, mas ele só sossegou mesmo quando o avião estava saindo do chão. Todas as esperanças de Ana fora por água abaixo e ela encostou a cabeça no encosto da cadeira.

Jack não a soltou em momento algum.

¤¤¤

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ó, Deus, cadê o Christian para impediiir?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sequestrada - Número 1970" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.