Para meu pai eu era Anna Letícia, ou melhor, "Ô Anna Letícia!" que era como ele sempre me chamava com sua voz autoritária. Para minha mãe sou Anna. E simplesmente "Lê" para minhas tias. Mas sou Anna Lê para Oliver, quando ele se esquece de me chamar de "meu amor".
Não nasci em um berço de ouro. Minha família nunca foi rica, mas mesmo na dificuldade rotineira que a classe média-baixa enfrenta para sobreviver, meus pais nunca me deixaram faltar nada. Tudo bem... nem sempre eu tive tudo o que queria, mas comida, remédio, educação, roupa, sapato e brinquedos meu pai comprava do melhor na medida do possível.
Eu não fui daquele tipo de menina que brincava de boneca, desejava fazer balet e sonhava em ser princesa. Meu divertimento era outro. Super Mario Bros, Digimon, MTV, Backstreet Boys e crushes, muitos crushes! Isso sim era meu divertimento com apenas nove anos.
Mamãe entrava em parafuso comigo. De certo modo ela sonhava com uma filha que junto à ela iria mergulhar numa piscina de glitter cor de rosa, mas nunca fui delicada desse jeito. Eu sempre fui camiseta, tênis e boné.
Pobre mamãe, a única filha que ela teve adquiriu os mesmos gostos do marido, gostos pelos quais ela sempre cultivou sentimentos de aversão.
Enquanto minha mãe passava o dia bordando toalhas de mesa, meu pai enchia a minha cabeça de criança com a maior quantidade de fantasias e imaginações que ele podia ao assistir comigo os seus muitos filmes que -fizeram parte da sua infância- de bruxas, cavalos alados, mitologia grega, faunos e lugares mágicos. Eu adorava isso.
Papai sempre foi muito musical. Ele passava o seu dia de folga escutando música, fato que me fez viciar em ritmos também. A prova disso é queeu com oito anos trocava brincadeiras de criança com os vizinhos para assistir MTV no quarto dos meus pais sentada na cama.
A música de papai me influenciou desde o ventre, e nasci ao som de Creedence, Johnny River e Bee Gees. Não muito raro meus amigos me pegavam escutando Boney M ou as diversas músicas da Disco Music. Os hobbies de papai corriam em minhas veias como um galho de árvore que desliza no riacho.