Não estava tão fria quanto parecia, era morna e delicada. Seu corpo se acostumou à nova temperatura, depois à pressão. Era como se não tivesse peso algum, uma pluma flutuando em uma brisa gentil. Seus movimentos eram suavizados como se estivesse dentro de um sonho, mas ao mesmo tempo tinha tanto controle como se pudesse voar. Os limites terrenos não existiam, ou haviam sido levados para tão longe que não importavam mais.

Como uma marionete liberta de seus fios, e enfim, pudesse se mover livremente.

Assim era estar na água.

Nadando entre os pequenos peixes do rio, ao seu lado, Haru se permitia relaxar, sentindo a água com seu modo particular, como se ele pertencesse a ela. Ele também parecia livre, um raro sorriso que nem mesmo Haru sabia que existia era desenhado em seu rosto sereno.

Era bom ser livre assim, e ter o sorriso de Haru.

Makoto sabia como Haru gostava de nadar, embora ele nunca tivesse dito explicitamente. Sua felicidade era tudo o que Makoto queria, ver sua expressão alegre. Estar na água com Haru era como se o mundo inteiro fosse deixado de lado e existissem apenas eles dois. Apenas Haru e Makoto.

— Ei, Haru-chan! Vamos entrar para o clube de natação juntos? — Makoto perguntou quando estavam sozinhos no parque, depois da aula.

— Não, é muito trabalhoso, — respondeu Haru naquele tom de voz frio.

— Mas você gosta de nadar, não? — ele insistiu.

— Eu não gosto tanto assim. Se você quer entrar, entre sozinho, — Haru falou de um jeito autoritário que Makoto fingiu não se importar.

— Então eu também não vou entrar.

— Por quê?

— Porque... não faz sentido se você não estiver comigo! — Makoto falou com determinação.

Haru poderia não ter entendido imediatamente o verdadeiro sentido daquelas palavras, mas em momentos como esse, não importava o quanto Haru tentasse parece duro ou se opor a Makoto, no final ele era envolvido pelo ritmo de Makoto, e assim, Haru o acompanhou ao Swimming Club.

Naqueles dias ainda havia muitas coisas que Haru não sabia, embora percebesse que havia momentos em que o sorriso de Makoto vacilava e por um breve instante ele parecesse não saber o que fazer.

Haru se lembrava da reação de Makoto ao cortejo no porto, quando ele segurou sua mão. A mão sempre quente de Makoto estava fria e trêmula. Makoto tinha medo de muitas coisas, mas nada nunca o havia assustado assim, um medo tão profundo que o deixou imóvel em seu choque e gelou o sangue em suas veias.

Makoto sabia que eles cortejavam os corpos que não haviam sido devolvidos pelo mar depois do naufrágio. Como era possível que o mar os tivesse levado? Por que não conseguiram voltar? Quanto mais Makoto pensava nisso, mais angustiado ficava. Havia um mal inexorável do qual ninguém poderia escapar, nem mesmo homens adultos e fortes, e aquele mal morava no mar. Não, não apenas no mar, mas era na água que ele se escondia. Uma sombra negra e maligna que espreitava até no fundo da piscina, esperando pela oportunidade de capturá-lo, envolver seus tentáculos invisíveis em seus braços e pernas, e levá-lo para baixo, reduzi-lo a nada.

Mesmo na piscina cheia de crianças, quantas vezes Makoto não nadou para escapar? Suas braçadas agressivas e desesperadas, vistas de fora poderiam parecer de um predador implacável que caça sua presa, mas não passava de um animal acuado a fugir para sobreviver.

Se nadar era tão terrível para Makoto, por que continuar? Por que se submeter a esse sofrimento? Não seria mais fácil desistir?

Makoto temia a água com a mesma força que amava nadar, era algo que o deixava feliz apesar dos momentos difíceis. Mas não havia sombra ou medo que o impediria de continuar. Havia uma luz que o impelia, que afastava a sombra e lhe dava forças, nunca estaria sozinho tendo sua luz, nunca estaria sozinho porque tinha Haru, sua luz.

Ele lutaria para que aquele sentimento puro não fosse corrompido pelo medo.

Seria mais fácil desistir do que lutar, mas Makoto lutaria.