Com as cores do vento escrita por kagomechan


Capítulo 4
1608 - Pensamentos


Notas iniciais do capítulo

desculpa a demora! o TCC pegou pesado e ele acabou com o psicológico que demorou um tempo pra se recuperar. Aproveitem o cap novo ♥ espero que gostem tanto de ler como gostei de escrever :)

edit 05/10/2018 - editei o final do capítulo para terminar a fic. espero que tenham gostado dela. Mais de 1 mês desde da atualização sem 1 comentário em nenhuma plataforma no cap mais recente pra mim é motivo de largar. com a inspiração em baixa, resolvi, ao invés de largar, dar um final legalzinho.



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Uma voz na cabeça de Pocahon tentava o avisar que talvez não devesse estar socializando com Jane daquela forma. Contudo, ele simplesmente não conseguia evitar. Se sentia atraído por aquele olhar de curiosidade que via em seus olhos azuis tão estranhos e diferentes. Claro, tinha ficado incomodado com algumas das opiniões e ações que ela mostrava, principalmente com a pobre raposa que ainda carregava seus filhotes na barriga. A raposa foi exatamente o motivo que incentivou Pocahon a tentar ensinar algo para Jane. Tentar ensinar algo sobre o funcionamento do mundo ao seu redor para aquela garota cujos cabelos lembravam tanto a luz do sol.

Essa mesma voz do subconsciente tentava alertar Jane de que ela deveria voltar para os outros colonos. Mas não, ali estava ela seguindo um índio que entrava cada vez mais dentro da floresta querendo a mostrar algo. Ela não precisava olhar para seu relógio de bolso para ter certeza de que o tempo passada enquanto andavam. A inglesa já estava quase ficando sem fôlego com a subida íngreme pela qual Pocahon a levava. Entretanto, a respiração dele não falhava um só segundo. “Esses selvagens são mesmo bem atléticos…”. Pensou ela até que o pensamento morreu em sua mente e foi substituído por outro. Seriam eles tão selvagens assim mesmo? Pocahon nunca tinha levantado um dedo contra ela, e ela não podia dizer o mesmo dos homens que estiveram no mesmo navio que ela na longa viagem de cruzar o oceano atlântico. Claro, os nativos tinham sua cota de sangue nos conflitos contra os colonos, mas os colonos também tinham. Ela foi começando a notar isso. Notando que estavam invadindo a casa deles.

Quanto mais andavam, mais inclinado o chão ficava até que Jane notou que estavam subindo um morro ou montanha. Notando a dificuldade dela, Pocahon parou e estendeu a mão para ajudá-la a subir. Os dois tentaram não notar o breve segundo constrangedor no qual trocaram os olhares até que Jane desviou.

— Thank you — murmurou ela com o rosto levemente corado pegando na mão do guerreiro.

Pocahon segurou a mão dela firmemente e puxou-a ajudando a subir mas não sem notar a gritante diferença de cor de suas mãos entrelaçadas. E foi assim, de mãos dadas, que seguiram o caminho até o topo do morro. Ele fingiu não notar que nunca tinham se tocado tão longamente, ela fingiu não mostrar que estava sem graça pela situação. Jane amaldiçoou seu tom de pele que tanto facilitava para que ela ficasse com o rosto extremamente vermelho.

Chegando no topo do morro, Jane soltou a mão dele apressadamente. Com a mesma velocidade, ela virou o rosto sem coragem de mostrar para ele o seu rosto extremamente vermelho ao sentir o olhar interrogativo que Pocahon lançava sobre ela ao notar a pressa com a qual ela soltou a mão.

— Tudo bem? - perguntou ele sem saber se ela teria entendido sua pergunta ou não.

Jane não respondeu de imediato, mas deixou um suspiro escapar seus lábios enquanto o vento batia em seu rosto e bagunçava seus cabelos. Lentamente ela levantou o rosto para olhar para ele mas o percurso de seus olhos foi interrompido pela vista.

Não era um morro tão alto, verdade, mas era o suficiente para, dentre as árvores que os cercavam e do céu que exibia um show de cores enquanto o sol lentamente ia descendo no horizonte. As cores do céu refletiam-se nos olhos de Jane que, maravilhada, fitava o espetáculo criado pela natureza completamente desobstruído pela fumaça, barulho e destruição causados por aquilo que ela chamava de civilização.

O sorriso que abriu-se no rosto de Pocahon era prova que ela tinha visto o que ele queria que ela visse. Foi só depois de alguns segundos que ela parou para olhar para ele e viu esse mesmo sorriso. Maravilhada como estava com o pôr do sol, ela não pode evitar rir e voltar a olhar para o céu, admirando-o, enquanto os olhos de Pocahon admiravam a alegria pura da moça. Pocahon sabia que aquilo não seria o suficiente para fazê-la entender, mas em seu coração queria acreditar que era um ótimo começo.

Lentamente Jane ia se lembrando da situação em que estava. Não com um selvagem que estava armado, mas sim sozinha com um homem que estava sem camisa. Com a mesma velocidade de sua realização, a cabeça dela virou-se para a direção de Pocahon. Pocahon notava com extrema atenção cada movimento dela. Como a cabeça dela, de olhar baixo, se virou para ele e os olhos dela subiram de seu abdômen até chegar em seus olhos.

O vento batia em nos cabelos de ambos enquanto os dois se olhavam e se perdiam no olhar do outro. Tinham mergulhado de cabeça no tudo e no nada que era dito pelo olhar. Pocahon via ali uma mulher forte e destemida, sem dúvidas mas que tinha que aprender. Aprender que eram iguais não só as outras pessoas, mas aos animais, a pedra, as árvores e as montanhas. Pois cada planta, pedra ou criatura está viva e tem alma, é um ser. Jane. Um nome tão diferente quanto seus cabelos dourados mas, que mesmo assim, por algum motivo, fazia algo estranho acontecer no peito dele.

Perto. Muito perto. Jane Smith sentia e via o quão perto estava de Pocahon. Quase podia sentir a respiração dele contra a sua. Também sentia o coração batendo rápido e o rosto corado de quando, momentos antes, tinha subido o olhar para ele lentamente tomando seu tempo para, timida e discretamente, notar o abdômen forte e desenvolvido do homem. Mas não, ele era mais do que só músculos, também não era um mero selvagem. A jovem via ali, naqueles olhos negros, inteligência que muitos de sua terra duvidavam que existia nos nativos. Via ali determinação também, e compaixão, via que ele estava tão perdido no olhar como ela estava.

Cada compasso do coração de Pocahon e Jane marcava cada milímetro de distância que era diminuído da distância do rosto dos dois. Ambos semi conscientes dessa distância que ia diminuindo tão lentamente. No último segundo, no entanto, Jane desviou o olhar. A mão em seu coração pulsante tremia e a jovem ofegava enquanto Pocahon a olhava com olhos de curiosidade, questionamentos e talvez até decepção. Jane não pode aguentar aquele olhar e, por isso, ela evitou olhar para ele novamente dando as costas para ele.

— Vamos voltar - disse ela.

Ela seguindo pelo o caminho do qual vieram era a melhor demonstração do significado do que tinha falado. Entendendo então o recado, Pocahon seguiu-a e então guiou-a até o ponto onde tinham se encontrado mais cedo. Até chegarem lá, a escuridão da noite já estava bem mais forte, mas nem isso fazia Pocahon perder seu caminho. Com a mente cheia de dúvidas tentando entender seus próprios sentimentos e o comportamento dela, Pocahon parou com sua canoa na margem do rio no mesmo ponto onde tinha oferecido o passeio para ela.

Sem precisar da ajuda dele, Jane saiu da canoa e olhou por uns segundos para as pequenas luzes que, entre as árvores, mostraram o seu destino junto aos outros colonos. Um arbusto se mexeu quando Pocahon saiu da canoa olhando para Jane com o mesmo olhar interrogatório que exibiu todo o trajeto de volta. Dessa vez Jane não sacou sua arma para o arbusto, não, apenas se virou para o índio que saía da canoa. Tomou uns segundos para olhá-lo de baixo a cima e, mesmo temendo se arrepender dessa decisão depois, com passos rápidos cobriu a distância entre os dois até que seus lábios se tocaram num beijo tão breve quanto a brisa do vento que bateu em seus rostos.

Pocahon mal teve tempo de fechar os olhos, mas teve tempo mais do que o suficiente para fitá-la depois do rápido beijo. As dúvidas exibidas em seus olhos e presentes em seu coração diminuíram, mas não se extinguiram, quando ele tocou o delicado rosto da moça. Seus dedos tocaram-lhe a bochecha e levaram uma mecha dourada do cabelo de Jane para atrás de sua orelha. Ela parecia tão pequena ali em sua frente quando ele eliminou a distância entre os dois e beijou-a mais uma vez. Não um beijo breve e tímido como o que ela deu, mas um beijo mais longo e atencioso compartilhado como uma doce resposta às perguntas, declarações e desejos nascidos do primeiro beijo. Ela compartilhou o beijo pois, assim como ele, foi o que o coração automaticamente mandou fazer. Não havia o que pensar naquele momento, apenas sentir. Os corpos deles sabiam o que queriam mas, a mente, invejosa de ser aquela a controlar os corpos, logo tomou o controle de Jane que lentamente se distanciou olhando para Pocahon e logo não mais olhava quando, na segunda vez aquele dia, deu as costas para ele e saiu correndo.

Pocahon sabia, Jane sabia, ambos sabiam que teriam muitos problemas para deixar aqueles problemas que cresciam dentro deles darem frutos e crescer. A situação em que se encontravam estava muito longe de ser ideal. Não sabiam como iriam conciliar seus povos e suas diferenças, podiam até tentar ser uma ponte para diminuir os problemas que ambos os lados enfrentavam. Ambos amaldiçoaram o coração por ter escolhido um objetivo tão difícil em uma situação já complicada o suficientemente. Ao pensar um pouco, Jane não podia deixar de pensar no livro que lera uma vez, Romeu e Julieta.  A ideia fez ela corar e sacodir a cabeça enquanto corria para longe torcendo para que não tivessem o mesmo fim. Afinal, colonos e nativos, eis um conflito bem maior do que Capuletos e Montéquios.

Nenhum dos dois sabia o que fazer mas, o momento que o sorriso marcou o coração de ambos foi o ponto em que decidiram brigar pelo amor e aproveitarem os sentimentos que dançavam dentro de seus peitos pelo resto daquele dia. Iriam se ver no dia seguinte, e no outro, e no outro. Conversariam melhor sobre tudo isso e sobre o que fazer para evitar problemas. Até porquê, achavam que aquilo que fazia o peito gritar de alegria era algo que merecia ser defendido até criar raízes cada vez mais fortes.

 


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Notas finais do capítulo

até a prox fic! espero que tenham gostado



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