The Secrets of the Queen - Continuação escrita por AurietaForever


Capítulo 4
Verdades que precisam ser ditas


Notas iniciais do capítulo

Oi suas lindas, voltando com o novo capitulo e não esqueçam de ler as notas finais quando terminarem.
Não preciso nem dizer que já acolhi todas no fundo do meu coração. Obrigada por serem tão maravilhosas e carinhosas em seus comentários que amo (AMO) ler e responder.



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Teria coragem de atirar em sua própria filha? Sua carne e sangue. Julieta não se surpreenderia se uma bala fosse disparada contra seu peito, ele já a matou uma vez, faria grande diferença matá-la novamente? Ela sentiu o impacto, mas não foram dos disparos, foram dos olhares, das próprias palavras ecoando em seus ouvidos. Respirou fundo, sentindo tudo o que disse aliviar o peso sobre seus ombros.

— Se tiver coragem, se for homem suficiente atire!

— Já basta — Aurélio gritou tão alto quanto pode, puxando-a com força e a colocando para trás, ela ainda tinha o olhar fixo no pai. Ele segurou os ombros dela — Você não pode fazer isso, está me entendendo?

Foi o mesmo que falar para as paredes, ela ainda fitava intensamente o pai. Ela realmente queria levar um tiro? Estava disposta a ir tão longe? Sim, ela estava e levaria se isso fosse necessário.

— Não pode ser verdade — Seu pai negou-se a acreditar, balançando a cabeça em negativa inúmeras vezes —. Você não é...

— Julieta? — Completou — Eu não sou Julieta? Talvez não, talvez eu realmente não seja. Mas se for homem atire em mim e dará um fim ao trabalho que começou há vinte anos atrás.

— Ninguém vai atirar em ninguém aqui — Aurélio exclamou, ela estava fora de si e ele já não tinha mais o controle sobre o próprio corpo — Não haverá derramamento de sangue enquanto eu ainda estiver nesta sala, Julieta.

— Marcos, largue a arma pelo amor de Deus — Implorou Marta, tocando o braço do marido que ainda mirava o outro casal —. Marcos, eu estou mandando você largar essa maldita arma! — Gritou, tirando-o do transe em que se encontrava ao fitar os olhos cheios de raiva da única filha.

O homem largou a arma lentamente enquanto a mão da mulher abaixava seu braço com toda a cautela do mundo. Aurélio respirou profundamente quando viu que o perigo já havia passado. Sentiu seu coração bater cada vez mais rápido antes de voltar a frequência normal.

— Minha filha? — Marta voltou a atenção para Julieta.

— O que restou dela — Não havia melancolia em sua voz, apenas dor e rancor.

— Julieta, minha Julieta.

— A sua Julieta está morta, essa aqui perante você é outra, completamente diferente daquela que um dia viveu nesta casa e os amou incondicionalmente.

— Eu mal posso crer no que está diante dos meus olhos, minha filha — Marcos sussurrou sentindo todos os tipos diferentes de sentimentos vindo a tona.

Os pais dela tentaram aproximar-se mas foi inútil, ela mudou rapidamente de posição, dando a volta na mesa, estando o mais afastada possível deles e de Aurélio.

— Há muito tempo você deixou de ser meu pai. Eu vim aqui preparada para ter uma conversa, falar-lhes as verdades que guardo para mim há tanto tempo, e agora eu tenho a chance.

Antes que pudessem falar qualquer coisa Julieta ergueu a arma que seu pai havia largado sobre a mesa, analisou o objeto e apontou para os pais.

— A hora do acerto de contas chegou.

Aurélio, extasiado, sentiu toda frieza na voz dela, o olhar vago e apontava firmemente a arma para os pais e consequentemente ele também estava na mira.

— Para sala, todos vocês.

— Julieta, nós podemos — Marcos tentou iniciar uma negociação mas foi rapidamente interrompido.

— Não, eu mandei que todos fossem para sala e todos vão!

O grito dela os assustou. Saíram da sala de jantar caminhando lentamente. Sentaram-se temerosos no sofá. Aurélio olhava para todos eles, buscando desesperadamente uma forma de contornar aquela situação, tudo que ele queria um minuto atrás era evitar uma tragédia, mas tudo o que tinha em mãos naquele momento era exatamente tudo que tentou impedir.

“Pense” gritou a voz dentro de sua cabeça, mas nada vinha.

— Julieta, acalme-se e podemos conversar. Pelo amor de Deus, abaixe essa arma — Aurélio pediu cautelosamente, tentando estender a mão para pegar a pistola que Julieta segurava firmemente.

— Aurélio, eu não quero machucar ninguém então por favor, sente-se.

— Não até você me dar esta arma.

— Eu pedi pra você sentar — Gritou e respirou fundo, tentou controlar a voz para fazer um último pedido — Por favor, senta.

Ele implorou mas foi inútil, nada restava além de obedecer. Ela estava irredutível e no olhar tinha algo que fez um estranho frio escorrer sua espinha. Ela não era Julieta, nem Bittencourt nem Sampaio, era algo mais frio, algo mais sério e aquele olhar era capaz de atravessar e cortar a alma daqueles para quem ela direcionava o olhar. Estava tomada pelo combustível mais maligno, o ódio.

— Filha — Marta tentou chamar sua atenção.

— Agora tem uma filha? Não, eu não sou sua filha, a que um dia conheceu está morta e isso foi o que restou dela.

O casal mais velho entreolhou-se, o pânico se espalhava por seus corpos, aceleravam seus coração e batiam tão rapidamente que quase eram capazes de ouvir as batidas desenfreadas.

— Mas está na hora, agora eu preciso ser ouvida e compreendida. Eu esperei vinte anos por esse dia, eu guardei para mim duas décadas de ódio e rancor.

— O que você pretende? Atirar em nós? — Seu pai perguntou sem parecer temer a resposta.

— O que farei daqui para frente não importa a vocês. Agora neste momento, eu quem você falar e desta vez vão me ouvir — Virou o olhar para seu pai — Diga-me, querido papai, era realmente mais fácil acreditar que sua filha era uma prostituta mentira do que seu amigo ser um estuprador? Porque era isso que ele era, um maldito estuprador.

— O que você quer com tudo isso? — Marta perguntou entre lágrimas.

— Quero que saibam tudo o que passei. Eu vivi com um homem que tinha idade para ser seu pai, um homem asqueroso que pouco se importava com meu sofrimento. A senhora sabe qual a sensação de dormir sendo estuprada e amanhecer com ele entre suas pernas te violentando novamente? Eu conheço a sensação e ainda desperto pela manhã apavorada, sentindo o fantasma do toque asqueroso dele. Eu fui estuprada incontáveis vezes na frente do meu filho quando ele era apenas um bebê e só me concentrava no choro dele dentro do berço, ainda tão pequeno mal sabia que os gritos que o assustava era de sua mãe, que sobre a cama era violentada. Eu aprendi a falar manso, porque tinha medo de que qualquer alteração em minha voz desencadeasse a raiva dele e eu já estava muito machucada para apanhar ainda mais. Eu gritei, todos os dias, implorando por clemência, implorando para que ele parasse. Eu não consigo tocar no meu próprio filho sem lembrar que ele é fruto de um estupro. Sabe a sensação de ter alguém indesejado sobre seu corpo? Começa no seu estômago, uma náusea, um nojo dele e de si mesma, nojo do que está acontecendo com seu corpo. O ódio borbulha dentro de você, espalha-se por suas pernas, por seus dedos, por todo seu corpo, o puro ódio.

— Eu sinto muito, por não tê-la ouvido e por ter deixado que você passasse por tudo isso.

— Sua pena de nada me serve. Não importa o que você diga a dor, as humilhações, as cicatrizes não vão embora. Você diz sentir muito, mas nunca saberá. Alguém te forçou a abrir as pernas, mamãe? Deitou sobre seu corpo e se forçou para dentro de você como um animal? Sua pena não trará minha alma e minha felicidade de volta, muito menos minha pureza. Eu fui estuprada todos os dias durante três anos enquanto vocês usavam o dinheiro que ganharam por me vender!

— Nós não tínhamos ideia de que...

— De que? — Gritou e a arma em sua mão tremeu novamente — De que fui estuprada? Eu disse todas as malditas vezes! Eu disse todos os detalhes mas vocês taparam os ouvidos e se negaram a me ouvir. Mas eu passei a ser somente a prostituta que sujou o nome de nossa família. Vocês eram meus pais, era a obrigação de vocês me apoiarem, mas o que fizeram? Me digam. Me digam! — Vociferou mais alto, e a arma estava tão próxima a eles que o casal perdeu o ar.

— Nós te casamos com Osorio, acreditamos nele, era isso que queria ouvir? — Seu pai respondeu o mais rápido que pode.

— Era, era isso. Passei por humilhações que vocês jamais saberiam! Sabe como é ter o corpo invadido não por uma mas por duas pessoas de uma só vez?
 

— Não — Sua mãe respondeu entre soluços.

— Mas eu sei. E as vezes eu só queria voltar para casa, voltar no tempo. Mas nunca pude. Eu era sua filha, sua pequena joia rara, papai, e ainda assim você não acreditou em mim, vendeu-me a meu estuprador. Eu lhes contei, implorei.

O casamento deveria ser o momento mais especial na vida de uma mulher. Ela deveria estar radiante, mas o sorriso que um dia carregará consigo estava apagado. O vestido de noiva era bonito, Osório fez questão de comprar o melhor que o dinheiro poderia comprar, mas tudo parecia tão sem cor, tão sem vida.

— Meu pai, não permita que este casamento aconteça. Eu crio esta criança sozinha, mande-me embora, mande-me para qualquer lugar que desejar mas não me force a casar com este homem, eu lhe imploro.

Os joelhos dela dobraram-se lentamente, não importava o quão humilhante aquilo poderia parecer, não importava o nojo com que seus pais a encaravam. Ela estava ajoelhada diante de seu pai, pedindo piedade, pedindo para que ele não a sentenciar a morte em vida.

— Papai, papaizinho, eu ainda sou sua pequena joia rara, ainda sou sua princesinha. Eu ainda sou sua filha e imploro que não me force a casar com este homem.

O olhar de desprezo dele desfez-se por alguns segundos. Ele a segurou pelo braço e a levantou tão rudemente quanto pode. A olhou nos olhos e por alguns segundos o coração dela encheu-se de esperança, pensou por uma fração pequena de segundos que ele desistiria daquela ideia insana, que acreditaria em suas palavras.

— Agradeça por eu estar casando-a com alguém que está disposto a unir-se com uma prostituta, uma que se vende como qualquer rameira na sarjeta. A cidade toda sabe o quão imunda você é. Agora vamos antes que perca a pouca paciência que resta-me.

A cidade toda sabia, ela já estava marcada diante do olhar de todos, ninguém acreditou em suas palavras. Seu pai fez questão de gritar para todos que ela seduziu o honroso senhor Bittencourt e engravidou, a humilhou em praça pública.

— Eu não sou uma prostituta, mas certamente o senhor é um miserável.

— Já chega, Julieta, por favor, já suficiente — Sua mãe gritou em meio às lágrimas, tapando os ouvidos, balançando a cabeça, negava-se a ouvir mais.

— Não, apenas estou começando. Você sabe como foi aquela noite? Eu conto, mamãe. Ele me jogou no chão, da maneira mais suja e rude possível, sem qualquer preparação ele rasgou meu vestido e me invadiu, como se eu não fosse nada além de uma rameira qualquer. Ele se satisfez, falou palavras sujas e me mandou para casa. Ele disse-me coisas que me fizeram pensar e então eu pensei que já deveria saber as pretensões dele muitos anos antes.

Ela terminava de vestir-se, analisava o vestido azul que ainda estava sobre a cama. Ficaria tão bela nela, sua mãe disse que era o vestido de uma princesa. Era seu aniversário, fazia doze anos e já negava-se a ser chamada de “garotinha” por seu pai.

— Desculpe-me — Disse a voz áspera atrás de si e ela virou rapidamente.

O senhor Osório estava na porta de seu quarto, ela buscou enrolar-se com um tecido qualquer, cobrindo as vestes íntimas que deixavam parte de seu corpo exposto.

— Senhor Osório — Estava em sua voz um nítido constrangimento.

— Sinto muito Julieta, estava procurando o toalete.

Era muito inocente para não acreditar, mesmo que o banheiro ficasse do outro lado do corredor e o Senhor Osório sabia bem disso, ele era amigo de seu pai e conhecia cada canto daquela casa como se fosse sua própria.

— Ficará muito bonita neste vestido — Disse entrando mais e ela encolheu-se — Não fique tímida, a conheço a muito tempo, lembra-se? Somos como pai e filha. Deixe-me ver — Ele disse tocando as mãos pequeninas dela que ainda seguravam firmemente o tecido próximo ao seu corpo quase desnudo e o puxou lentamente — Está crescendo, seu corpo está mudando.

— Não é correto — Ela disse assustada e ameaçou sair do quarto caminhando até a porta.

— Eu sinto muito — Sua voz saiu quase chorosa e ela virou-se para encarar o homem que sentou-se na cama, abaixando a cabeça com semblante tristonho — Eu estou tão triste e você é como uma filha, Letícia amava-a imensamente, as vezes lembro-me tanto dela quando te olho, minha pequena  — Citou a falecida irmã e Julieta sentiu o coração entristecer, a senhora Letícia era muito bondosa.

— Eu também gostava muito dela, mas é impróprio entrar em meu quarto assim, principalmente quando estou mal vestida.

— Não irá se repetir, prometa-me que não dirá a seu pai, ele ficará muito bravo e eu não quero perde-la também, prometa-me que não falará nada.

— Prometo, mas por favor eu peço que nunca mais o faça.

— Juro-lhe.

Ela não disse. Nunca o viu como um homem malvado que fosse capaz de atrocidades. Mas analisando bem anos depois, aquele não era o olhar de um amigo respeitoso, mas de um predador em busca de sua presa. Aurélio sentiu o estômago embrulhar no momento em que ela começou a descrever aquele incidente.

— Ele tinha interesse em mim desde pequena, mas eu fui estúpida. Céus, como fui estúpida, deixando-me levar por suas palavras amigáveis e falsas lágrimas a respeito de sua irmã Letícia que fora tão vítima quanto eu enquanto estava viva. Mas eu mudei, estão vendo isso aqui — Abriu os braços — parabéns, aqui está o resultado do trabalho de vocês. Essa criatura vaga, fria, que veste luto não por Osorio mas pela alma que morreu quando teve o corpo invadido por um animal e alma destroçada pelo mesmo. Eu sou a Rainha do Café e vocês não são nada. Valeu a pena vender-me por um preço tão baixo?

— Não, não valeu, porque não há um só dia em que eu não lembre de você.

— Você acha realmente que se atirar em nós aliviar essa dor que sente? Continuará marcada no corpo e na alma, mas desta vez atrás das grades. — A voz de Marcos soou tão destemida e fria quanto a de Julieta.

— Ninguém vai atirar em ninguém — Aurélio se interpôs, começava a descobrir de quem Julieta havia herdado a intensa personalidade e aquilo o preocupava — Julieta, não cometa um erro do qual virá a se arrepender depois.

— Eu não me arrependeria e morte deles não seria um erro, uma vez ele tiraram minha vida, nada mais justo que retribuir o favor — Mirou novamente a arma no peito do pai.

— Você não vai — Gritou, assim como os pais de Julieta que gritaram desesperados quanto ela engatilhou a arma — Você não vai matá-los porque não é uma assassina, deixe que a vida se encarregue de fazê-los pagar.

— A vida já falhou muitas vezes comigo e já foi muito boa com eles, está na hora de inverter os papéis.

— A vida já inverteu os papéis, eles estão sofrendo agora e você recebendo uma segunda chance para recomeçar, mas você vai pôr tudo de água abaixo se atirar. Largue essa arma imediatamente.

— Não! Aurélio, você não entende.

— Mas posso entender, posso ouvi-la, assim que você largar essa arma. Julieta, se puxar esse gatilho estará acabando com suas chances e estará dando um fim a nós dois.

Julieta sentiu o impacto que as palavras de Aurélio causaram ao seu coração, o repentino medo de perdê-lo a assombrou novamente, seu peito inflou e sua vontade de chorar cresceu. Ela delicadamente colocou a pistola nas mãos dele. Todos pareciam olhá-la com tanta raiva, com tanta pena, ela realmente havia mudado, transformando-se em um ser um humano digno de pena e nada além disso.

O corpo pediu o cérebro aceitou. Ela perdeu o comando sobre si mesma por alguns instantes e quando deu-se conta não tinha mais chance de voltar, correu. Correu tanto quanto pode, deixando para trás a porta aberta e olhares assustados. Estava sufocando.

— Julieta — Ele gritou e correu em seguida. Seus olhos azuis cheios de lágrimas vasculharam visualmente a rua — O que está fazendo, Julieta? — Ele repetiu em um murmuro para si mesmo, esqueceu-se dos pais dela que estavam logo atrás buscando-a também.

As horas passavam-se tortuosamente rápidas desta vez. A manhã rapidamente se tornou tarde. Aurélio e a mãe de Julieta não cansaram-se, buscavam por ela desesperadamente. O Senhor Marcos no entanto negou-se a ir com eles, por um momento Aurélio achou que ele realmente não quisesse encontrar a filha. Disse da forma mais frívola possível: “Ela sempre fez drama mas sempre volta, aguardem”, seu tom de desdém e zombaria quase fez Aurélio perder a compostura, mas encontrá-la era mais importante do que discutir.

A senhora Marta parecia tão desesperada em busca da filha, que um dia fez questão de matar, talvez não desejasse que algo ruim acontecesse novamente ela. Foi quase no fim daquela tarde que começou a chuva, rapidamente o sol se pôs e lua surgiu no céu.

Continuavam pela rua, encharcados pela água, desesperados e sentindo as esperanças diminuírem. Por mais que buscassem ela parecia estar em lugar nenhum.

— Nunca vamos encontrá-la — Marta gritou — Mas vamos pegar um resfriado se continuarmos nessa chuva.

— Isso pouco importa-me agora. Há algum lugar onde Julieta poderia ir para abrigar-se?

— Eu não tenho certeza. Não vejo razão de porque ela iria ali mas...

— Diga logo, por Deus.

— O lago. Ele é um pouco longe mas era para onde Julieta ia para fugir dos castigos e encontrar-se com os amigos.

— É para lá que vamos, esta é nossa única esperança, se ela não estiver lá só resta-nos ir em busca da polícia.

Pouco importava o quão intensa estava a chuva, pouco importava o quão cansado estava de caminhar em busca dela. Desejou que Tião estivesse ali com o carro, mas o empregado saiu mais cedo para buscar a patroa, estava nítido que estava falhando em suas buscas.

Marta guiou Aurélio por todo o caminho. O lago ficava após uma pequena área repleta de matos, quase semelhante as pequenas florestas do Vale do Café. As árvores, diferentes das do Vale, era três vezes maiores e as cobras caminhavam livremente, em busca de refúgio para aquela chuva, algumas enrolavam-se em troncos de árvores e o perigo parecia ser ainda mais eminente.

Caminharam às pressas pela lama escorregadia, apoiando-se no que viam em sua frente.

Corpo. O corpo no chão. Aurélio sentiu todo o ar de seu corpo cansado ser sugado quando seus olhos encontraram o corpo caído no chão. A floresta escura dava pouca chance de reconhecer o rosto, mas era Julieta e ele sentiu isso no momento em que pôs os olhos na figura jogada em meio a chuva e a lama.

— Não — O grito dele ecoou pelo local.

A senhora Marta gritou assustada e precisou se conter pressionando as mãos com força contra sua boca. Aurélio deu pouca importância a quão escorregadia estava aquela lama, apenas correu até ela e ajoelhou-se ao seu lado. Sangue, rastros de sangue na testa dela que eram delicadamente limpados pela chuva

— Não, não faça isso comigo, está me entendendo, não se atreva a me deixar — Ele repetiu inúmeras vezes enquanto a tirava do chão — Não se atreva a me deixar, vamos acorde.

Com ela nos braços e Marta o ajudando Aurélio conseguiu sair do meio de todas aquelas árvores e lama. Ela continuava desacordada e Aurélio sentiu a intensa vontade de gritar, deixou que as lágrimas rolassem por seu rosto e se misturassem com a água da chuva. A vida nunca foi piedosa com ela e ele se perguntava porque ela tinha que passar por tantas provações. Por que ela tinha que sentir tantas dores? Mais do que podia suportar! Mais do que merecia, mais do que qualquer um merece.

Correu com ela nos braços pela chuva e finalmente puderam sentirem-se aliviados quando puseram os pés dentro de casa. Marta trancou a porta para impedir que a chuva entrasse e Aurélio a levou rapidamente para a sala, a calmaria que sentiu ao encontrá-la foi rapidamente preenchida por uma intensa raiva. O senhor Marcos estava tão passivo, bebendo lentamente um pouco de algum liquido que parecia ser conhaque e estava acompanhado de outro homem, que rapidamente largou a taça quando os viu entrar, diferente de seu anfitrião, que fez pouco caso da cena.

— O que está fazendo? — Marta indagou, olhando para o marido que não demonstrava nenhum sentimento de preocupação, céus, ainda era a filha dele que estava ali.

— Estava esperando que chegassem. Chamei o Doutor Thomas caso precisem dele. — Disse como se tudo ao seu redor não fosse grande coisa.

— O que aconteceu com ela? — O homem perguntou ajoelhando-se ao lado da mulher desacordada que estava completamente encharcada sobre o sofá.

— Encontramos ela desacordada — Aurélio disse jogando os cabelos loiros que cobriam seu rosto para trás.

— Quem é a paciente? Conhecem?

— Nossa filha, Julieta. — Marta disse, rompendo ali o seu maior segredo.

O homem parou, seus olhos encararam o vazio, suas mãos largaram o pulso de Julieta e ele virou-se para encontrar a mulher mais velha.

— Julieta? Mas Julieta está morta.

— Não, não está. Foi uma mentira, uma farsa.

Aurélio encarou a situação sem entender muito o que se passava.

— Temos que levá-la para o quarto, tirar essa roupa. Ela irá pegar um resfriado e você também. — Disse nervosamente, tentando esquecer o impacto da revelação e concentrar-se apenas nela.

— Eu a levo — Aurélio disse e antes que o homem pudesse protestar ele já a tinha em seus braços.

Subiu com ela pelas escadas calmamente, não ver os olhos dela apavorava-o de uma forma que era quase indescritível. A levou até o quarto, repousou seu pequeno corpo desacordado sobre a cama de lençóis quentes.

— Eu removerei as roupas dela — Marta disse entrando no quarto em seguida.

— Estarei do lado de fora.

Ele se retirou, dando a elas o espaço que precisavam.

A mãe removeu delicadamente a roupa da filha. O estranho sentimento de remorso tomou conta de si. Ela era sua Julieta, sua pequena joia rara, que dava-lhe tantos problemas quando era criança, mas que perdeu o brilho nos olhos e o sorriso que alegrava toda a casa. Vestia preto, tinha o olhar imponente, palavras duras e muito ódio dentro de si. Olhar para ela era como encarar alguém desconhecido. Doía saber que compactuou com todo aquele sofrimento. Mentiu para si mesma, negou-se a ouvi-la, permitiu que Marcos a humilhasse em praça pública, quando ela era apenas uma adolescente. E quando sua filha foi embora, usufruiu de todo o dinheiro que ganhou com a venda dela. As dívidas foram embora e com elas sua paz.

A última peça foi removida e Julieta estava quase em roupas íntimas novamente, ela encarou as coxas da filha e o único som que conseguiu reproduzir foi exasperado grito.

///

Julieta abriu os olhos tão lentamente quanto era possível. O céu estava claro, já era dia novamente. Seus olhos continuavam fixos no céu quando ela ouviu risadas ao longe. Tateou onde estava deitada e sentiu a fina grama em seus dedos. Sentou-se constatando que estava certa, estava realmente na grama. Logo a sua frente estava sua casa, a Mansão Sampaio.

O que estava fazendo ali fora? Pior, o que estava fazendo ali fora desacordada?

Olho as mangas do vestido que usava, era mais como uma singela camisola branca, ela não tinha nenhuma veste como aqueça. Sua visão estava um pouco turva e ela mal conseguia enxergar com nitidez quem estava caminhando em sua direção. Tocou própria cabeça, lembrava-se de ter caído, mas não sentia dor.

A pessoa que caminhava em sua direção parou diante dela e finalmente sua visão voltou ao normal, seu coração congelou no peito.

— Como é possível? — Sua voz parecia tão alta, como se ecoasse — Não é possível, é completamente impossível.

“Bem vinda de volta Julieta. É bom saber que ainda lembra de mim, a sua outra metade, Julieta Sampaio”

Quando ela era apenas uma apenas uma garota, ela tinha expectativas com o mundo.

Mas isso voou além de seu alcance.

Então ela fugiu em seu sonho e sonhou com o paraíso.

A vida continua, fica tão pesada, a roda corrompe a borboleta.

Cada lágrima, uma cachoeira.

Na noite da tempestade ela fechou os olhos, ela voou para longe e sonhou com o paraíso.

(Paradise)


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Notas finais do capítulo

Ficaram algumas "pontas soltas" por esse capitulo que serão atadas no próximo e possivelmente este final ficou confuso, mas logo vocês entendem.
Como puderam ver, o Osorio já tinha interesse na Julieta desde que ela era pequena e ela inocentemente não percebia isso.
Aliás, já odeiam o Marcos?
Bem, já pensando no próximo capitulo, rezem pela Julieta.



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