The Secrets of the Queen - Continuação escrita por AurietaForever


Capítulo 3
Aquele que um dia foi seu lar


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu também quero agradecer! Eu não encontro palavras para dizer que amo vocês e que gostaria de pegar cada comentário, colocar em um potinho e esconder no fundo do meu coração para sempre. Obrigada! De verdade. É tanta felicidade que não cabe em mim!



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Eram tantas lembranças que causava-lhe um misto de emoções. Memórias vinham-lhe à mente para recordar tudo que foi e passou dentro daquela casa e que apenas ela testemunhou. Passou ali os melhores e piores momentos de sua vida. Julieta conhecia cada canto daquela casa como a palma de sua mão, lembrava de cada detalhe e cada aventura que viveu, cada lágrima que derramou e cada grito implorando pela clemência de seus pais. A primeira vez que vira seu coração ser partido foi ali, no alto daquelas escadas, olhando a porta ser fechada e alguém que amou partindo para sempre.

— Sua mãe irá matá-la, Julieta — Reclamou o garoto.

— Não se preocupe, Camilo, mamãe nem mesmo vai saber.

— Ela vai, você ainda não percebeu que sua mãe sabe de tudo que acontece naquela casa? Seu vestido está completamente sujo de lama.

— Estava chovendo, o que você queria?

— Que você parasse de jogar lama em mim. Como diria Dona Carmen: “Você está tão suja quanto os porcos do chiqueiro”.

— Dona Carmen é rude — Disse chutando uma pedra em seu caminho, revirando os olhos ao citar a velha babá.

Julieta Sampaio entrou pela cozinha, onde a mãe de Camilo a encarou apavorada ao constatar o estado de seu vestido, cujo tecido fino era três vezes o valor de seu salário.

— Menina Julieta, sua mãe irá nos matar;

— Dona Rosane, ninguém irá matar ninguém, eu subirei para meu quarto e ninguém me verá.

— Seus pais estão na sala.

— Sei me esgueirar.

Ela deu a cozinheira um sorriso traquino enquanto caminhava em direção a sala. O senhor sentado na poltrona era seu pai e o homem de preto ao lado de sua mãe era o senhor Osório Bittencourt. Julieta prendeu a respiração, tentando caminhar sem fazer barulho, mas o assoalho da casa rangeu quando ela pisou em falso e numa reação ao susto acabou esbarrando em uma mesa que sustentava o jarro. Ela conseguiu segurar o enorme vazio em cima de pequena mesa antes que ele fosse ao chão e se quebrasse, mas não foi capaz de impedir os olhares.

— Boa tarde.

A senhora sua mãe virou-se com um sorriso que logo se desfez ao ver o estado de seu vestido.

— Julieta — Murmurou boquiaberta.

— Bom dia para senhora também, mamãe. Senhor Osório é um prazer revê-lo. Se o senhor meu pai me der licença estarei no quarto pronta para receber meu castigo — Disse rapidamente, com a voz de moleca e acenou para os pais antes de correr.

— Essa menina ainda mata-me do coração, viram o estado dela? — Ouviu sua mãe reclamar.

Eram boas lembranças do tempo em que sua única preocupação era que sua mãe não visse os vestidos sujos de lama, mas de repente, como uma grande susto, a vida aconteceu e ela foi obrigada viver.

Olhou para os lados, instigando-se a recordar seu passado. As paredes brancas agora tinham um tom amarelado e estavam desgastadas pelas ações cruéis do impetuoso tempo, que passou rapidamente para uns mas tão lentamente para ela. Sob a lareira apagada estava o quadro da família, ela recordava-se dele mas não de quando foi pintado. Nele ela ainda era uma criança, com seus três ou quatro anos, sentada no colo de seu pai e de pé ao lado da cadeira, tocando-o no ombro, estava sua mãe. Foi apenas aquela recordação dela que ficou para trás, as fotos foram removidas da sala.

Sentiu as mãos de Aurélio tocar em seu ombro e virou. Ela sentiu seu coração doer quando encarou seus pais parados diante de si. Haviam tantas coisas que precisavam ser ditas, tantas mágoas a serem despejadas e tantas verdades que ela gostaria de gritar alto o suficiente para eles ouvirem desta vez, já que quando ela era apenas Julieta Sampaio eles negaram-se a ouvi-la. Aquele foi o momento que ela sempre esperou, reencontrar com aqueles que um dia fizeram pouco caso de suas verdades, ignoraram seu sofrimento e casaram-na com um monstro. Ela precisava gritar a verdade, mas sua voz morreu na garganta e ela petrificou.

Aurélio tentou entender o que se passava na cabeça na cabeça dela, mas era como se ela tivesse muito perdida dentro de si mesma para notar qualquer coisa ao seu redor.

— Boa noite — Cumprimentou cordialmente a senhora de cabelos grisalhos.

— Boa noite, desculpe-nos por aparecer no meio da noite mas...

— Mas esta é a única hospedaria da cidade e precisávamos nos obrigar. — Interrompeu rapidamente e sua voz saiu mais rápida do que ela desejava, temeu parecer assustada ou nervosa — Sentimos muito pela hora.

— Não tem problema, aliás não é nem tão tarde assim. Sejam bem vindos.

— Meu... meu marido e eu queremos um quarto, uma suíte, a melhor que tiverem aqui.

— Marido? — Aurélio murmurou e deu-se conta de que deveria ter repetido apenas mentalmente.

— Há quartos? — Fingiu não ouvir a pergunta de Aurélio.

— Sim. — O homem de cabelos grisalhos, que um dia fora tão castanhos quanto os seus, respondeu antes que a esposa pudesse — Chamo-me Marcos Sampaio e está é minha esposa, Marta.

— Eu sou Amélia e este é meu marido, Aurélio.

— Então desejam a melhor suíte, certo? — Perguntou, desacreditando que finalmente havia alguém disposto a hospedar-se ali, eram poucos os que visitavam cidade tão pacata quanto aquela.

— Sim, queremos o melhor que tiverem. Meu motorista está lá fora e quero um quarto para ele também.

— Sim, essas malas — Mirou as duas malas que estavam ao lado do sofá — Pretendem ficar mais que um dia?

— Se tudo der certo ficaremos, mas apenas por um curto período de tempo, as malas são prevenção.

— Querido, deixe de perguntas ou espantará nossos hóspedes. — Marta tentou conter as perguntas do esposo.

— Não tem problemas, mas se não se importam gostaríamos de ver os quartos agora, estamos um pouco cansados.

— Deixem-me pegar a chave.

Julieta ficou sozinha com a mãe na mesma sala enquanto o pai ia buscar a chave do quarto. Sua mãe envelheceu mas ainda tinha o brilho nos olhos pelos quais Julieta nutria grande encanto quando era criança.

— Mamãe, eu queria ter os olhos iguais aos seus — Comentou a menina de dez anos sentada na cama observando a mãe, que terminava de pentear-se na frente do espelho.

— Meus olhos? — Perguntou largando a escova e virando-se para a menina que envolvia um brinquedo nos braços.

— Sim, eles são tão bonitos, parecem até ouro.

— Seus olhos são muito bonitos, minha querida.

— Mas castanhos são tão comuns.

— Não os seus, eles são especiais. Além do mais, não importa a cor dos nossos olhos mas as histórias que eles carregam e o brilho que tem.

Seus olhos agora carregavam muitas histórias mas sua mãe parecia não reconhecê-los, sequer os olhava.

— Aqui está — Marcos regressou e entregou a ela a chave do quarto.

— Muito obrigada, tenham uma boa noite.

Ela deu meio sorriso e Aurélio estendeu a mão para ela e além da mão ele pegou a mala que Julieta segurava. Ainda parecia um pouco assustado, tentava compreender a situação que parecia confusa. Julieta era uma mulher que causava algumas confusões em sua cabeça e aconteceu novamente, ela estava predisposta a encarar os pais, adotou até a pose firme de Rainha, mas de repente, perdeu a pose e parecia apenas uma criança assustada, com medo dos pais.

Caminhavam em silêncio pelo corredor, em silêncio, mantinham as mãos atadas e expressões indecifráveis. Tentando conversar com a voz interior que os guiava naquele momento.

O quarto ainda era rosa, seu cheiro no entanto já havia desaparecido há muito tempo. Entrar ali, para ela, era como escancarar novamente o passado e entrar na pele da antiga Julieta. Olhou a sua volta e viu que muitas coisas mudaram. Ela aproximou-se mais da cômoda e olhou para baixo, ainda estava ali, os riscos que fez aos seus doze anos, fizera os riscos na parede para contar os dias que permaneceria naquele castigo.

— Devo presumir por sua reação que este é seu quarto.

— Era, este era meu quarto, quando eu ainda era a filha deles e quando Julieta Sampaio ainda brilhava viva dentro de mim. Isso agora é um quarto qualquer de hospedaria, que um dia residiu jovem amorosa e sonhadora, cheia de vida e planos.

— Por mais que me doa ver você sofrer, você sabe que a dor pode ser a cura e eu sei o quanto você quer se curar dessas dores.

— Esse um dia foi meu lar, Aurélio.

— Se você quiser ainda pode ser.

— Não, aqui não é mais minha casa, apenas um monte de pedras amontoadas que estão servindo de abrigo até que eu crie coragem suficiente para encarar as pessoas que estão lá em baixo e dizer-lhes que sou a pessoas que eles marcaram, deixando uma cicatriz que nunca irá desaparecer. Mas faltou-me coragem no último instante, é como se todas as palavras que formulei durante vinte anos desapareceram em dois segundos de troca de olhares.

— Você não podia prever suas reações, não se lastime por isso.

— Eu sempre fazia isso, previa minhas reações perante determinadas situações, mas parece que de uns tempos para cá essa minha habilidade está enfraquecendo, nunca sei como vou reagir e isso me incomoda.

— Porque agora você não é só razão, mas emoção também e isso é bom porque é exatamente isso que nos torna humanos.

— Isso é o que nos faz fracos.

— Não vamos entrar em uma discussão sobre fraquezas, vamos?

— Não, prefiro poupar-nos deste desgaste. Mas você está certo, foram muitas emoções e eu já não consigo controlá-las. Precisamos descansar e termos fé que todos os problemas estarão resolvidos. Irei me preparar para dormir, se me der licença.

Ela sorriu para eles antes de partir para o banheiro, trancando-se em seguida. Os minutos passaram-se e Aurélio sentado na cama, sentia o incômodo crescer ainda mais dentro de si, de alguma forma mexia com ele e principalmente com sua imaginação saber que do outro lado da porta estava Julieta, provavelmente como veio ao mundo. Céus, era tão difícil ter que fingir que não sentia nada quando o desejo gritava dentro dele.

Julieta saiu quase meia hora depois de entrar. Os cabelos estavam soltos, caindo em uma perfeita sobre suas costas, estava livre de qualquer maquiagem e seus traços mais suaves. A camisola preta e longa tinha um generoso decote que deixava a maior parte de seu colo exposto aos olhares dele. Aurélio, por respeito, desviou o olhar do colo dela e concentrou-se em olhar apenas para o chão.

— Está livre, desculpe a demora.

— Não demorou, além do mais valeu a pena está muito bonita,

— Obrigada — Sua voz saiu mais suave que o comum — Acho que preciso de algo para me acalmar ou não conseguirei dormir,

— Eu acho que você consegue resolver isso sozinha, não é?

— Claro que consigo. Vou até a sala, por alguns instantes, estarei de volta em breve.

Ela deu as costas e saiu. Andou lentamente pelas escadas, apreciando as boas recordações que tinha daquele lugar. Enquanto aproximava-se das escadas para descer sentiu um incomum aroma de hortelã, que invadiu rapidamente suas narinas e enquanto descia escadas percebeu que o lugar estava impregnado pelo cheiro. Mas sua mãe estava lá também, sentada no sofá, sozinha na sala escura, iluminada apenas pela luz fraca do abajur.

— Senhora Sampaio?

— Senhora Amélia, o quarto não estava de seu agrado?

— Não, eu apenas não estava conseguindo dormir, mas o quarto é muito confortável, a casa toda é muito aconchegante.

— Fico feliz que esteja tudo de seu agrado, deseja um pouco de chá?

— Sim, na verdade um chá seria ser perfeito.

— Acompanhe-me então.

Julieta sentou-se ao lado de sua mãe, distante o suficiente para que seu nervosismo não fosse notado pela mulher mais velha. Marta serviu um pouco de chá e Julieta pegou delicadamente a xícara morna, bebendo um pouco do conteúdo e colocou de lado.

— Mas conte-me, o que a senhora e seu marido fazem por aqui?

— Estamos dando um tempo do trabalho e logo estaremos regressando a São Paulo e dando continuidade à nossa rotina.

— No que trabalham?

—Café, somos pequenos produtores de café mas pretendemos expandir nossos negócios.

— Vocês parecem serem um casal feliz, tem filhos?

— Sim, dois, um menino e uma menina, Ema e Camilo.

— Camilo — sussurrou para si mesma e mostrou-lhe um singelo sorriso — É um benção.

— Eles são realmente, nosso orgulho.

— Como eles são?

— Tão iguais em determinados aspectos e às vezes tão diferentes. Ema é delicada, corajosa e ao mesmo tempo é tímida, mas muito romântica, está aprendendo a crescer e caminhar com as próprias pernas, ela deixou de ser uma menina e está tornando-se uma mulher independente, de fibra, mas sem perder sua doçura.

Quando Julieta deu por si havia descrito Ema de sua forma mais pura e verdadeira, como se a jovem filha de Aurélio fosse sua filha.

— E o jovem?

— Camilo, ele é tão semelhante a Aurélio às vezes. É bondoso e amoroso, às vezes age pela emoção, deixando o coração guiar e por muito tempo o julguei por isso, mas agora posso ver que isso não é um defeito.

— Fala deles com tanto amor. Mas logo apaixonam-se e nos deixam para trás, certo?

— Eles estão apaixonados.

— É mais maravilhoso ainda, nada melhor do que assegurar a descendência de nossa família, certo? É bom saber que nossos filhos estão bem encaminhados, a jovem deve casar-se com um jovem rico e assegurar uma união com outra família e o jovem deve fazer o mesmo e seguir como líder de sua família, deve orgulhar-se muito de seus filhos.

— Sim, mas meus filhos não estão enamorados por pessoas de posses. São simples, pessoas simples e por isso por muito tempo julguei meu filho, mas posso ver que foi a melhor coisa que aconteceu a ele.

— Simples?

— Sim, mas estão com quem amam. Ema se casará com Ernesto, um jovem Italiano que deseja mudar o mundo com suas ideias. Camilo está casado com uma jovem dama, não é da alta sociedade mas certamente tem o coração mais rico que todas que ele poderia escolher, puro, bondoso, como feito de ouro.

— Eu entendo.

— Mas este quadro, é muito bonito e devo julgar que seja a senhora e aquele seu marido, mas e aquela criança?

— Nossa filha — Seu tom entristecido não passou despercebido por Julieta.

— Se me permite a ousadia, onde ela está? Não vive mais aqui?

— Ela morreu.

Morreu? Sua mãe matou-a em vida? Nada poderia partir-lhe mais o coração do que aquela afirmação vinda da sua progenitora. Os olhos de Julieta encheram-se de lágrimas involuntariamente enquanto encara a mulher, ainda estava descrente de o quão sincera ela soou ao proferir aquela mentira. Nitidamente não foi a primeira vez que ela disse aquela mentira, então todos pensavam que ela estava morta?

— Está tudo bem?

— Está, sinto muito por sua perda. Sei o quão doloroso é perder alguém que se ama.

— Perdeu alguém recentemente?

— Há algum tempo, meus pais, mas só recentemente me dei conta de que foi o melhor e que não devo ficar remoendo os fantasmas do passado, isso só me faz sofrer mais.

— Eu sempre digo isso para mim mesma.

— Qual era o nome dela?

— Julieta, o nome dela era Julieta. Ela adoeceu e morreu, mas tenho que confessar que não lutei tanto quanto deveria por ela.

— Arrepende-se de não ter lutado o suficiente?

— Talvez, mas sei que era o melhor para ela. A morte foi o melhor caminho.

— A morte nem sempre é o melhor caminho, mas entendo o seu ponto de vista, as vezes preferimos ver quem amamos morto do que sofrendo, certo?

— Sim.

— Acho que já passou um pouco da minha hora, preciso dormir, se me der licença.

— Foi um prazer ter esta conversa.

— Digo o mesmo.

Julieta caminhou em passos lentos, moderados, mesmo que por dentro uma tempestade tivesse começado. Uma tempestade se sentimentos e dores. Ela estava morta, sua própria mãe fez questão de matá-la, mesmo enquanto ela estava viva.

Julieta regressou ao quarto, era muito mais reconfortante naquele momento dividir o quarto com Aurélio do que a sala com sua própria mãe.

— Eu acho que agora preciso de você.

Ele não disse nada, largou de lado o livro, sentou-se na cama e estende a mão para ela, que sem pestanejar segurou. Sentou-se no colo dele, um pouco desconfortável pela nova ação e tentou concentrar-se apenas na sua dor interna.

— Estava falando com minha mãe.

— O que ela lhe disse para deixá-la tão transtornada? Descobriu a verdade?

— Pior, eu perguntei quem era a menina do quadro e ela disse era sua filha, mas que estava morta. Mas eu estou viva, Aurélio. Ela me matou em vida novamente e não sei porque estou surpresa.

— Novamente?

A forma rude com que seus cabelos eram penteados machucavam-na. A senhora sua mãe puxava seus cabelos de forma rude. Ela estava sendo preparada para ser levada para igreja, mas era como ser levada diretamente para seu túmulo.

— Mamãe, não quero casar-me — Disse-lhe com a voz embargada, olhando para a sua progenitora através do reflexo do espelho, mas a mulher mais velha não se deu ao trabalho de olhá-la.

— Tivera pensando nisso antes de seduzir Osório.

— Não o seduzi, já lhes contei o que se passou — Virou-se para encarar a mãe — Juro que disse apenas a verdade.

— Não creio nisso e não jure em vão ou será mais um na sua cota de pecados. Quando esse casamento acontecer eu quero que lembre-se que continuará da mesma forma para mim.

— Como?

— Morta! É como se eu nunca tivesse tido uma filha, você morreu, Julieta, no momento em que jogou nosso nome na lama.

As mãos de sua mãe, que um dia trataram-na com extrema delicadeza, foi rude ao virá-la novamente, a fazendo encarar o espelho. Seus olhos encararam o próprio reflexo, tão abatida, tão cheia de medo, ódio, dor e desespero.


— Ela falava sério naquela manhã, eu morri.

— Eu não se conseguiria perdoá-la. Ela não tinha o direito de duvidar de você e nem casá-la com um monstro sem escrúpulos. Você está viva, renascendo e é isso que importa.

— Mas para mim ela também morreu, definitivamente.

Ela saiu do colo dele, indo para o outro lado da cama. Colocou de lado o hobby negro que cobria sua camisola. A seda delineava suavemente suas curvas mas ela não conseguia notar isso, nunca teve grande apreço pelo próprio corpo, não desde que ele se tornou propriedade e divertimento e Osório.

Aurélio deitou-se ao lado dela. Julieta movimentava-se desconfortavelmente na cama espaçosa. O corpo dela instintivamente encaixou-se ao dele, mesmo que ela não percebesse. Procurando por mais abrigo o corpo dela pressionou-se ao dele. Ele envolveu sua cintura, Julieta sorriu e quando deu-se conta ele deu um pequeno beijo no pescoço dela causando-lhe um arrepio pelo corpo. Ela precisava de descanso e ele sentia-se atraído pelo calor que o corpo dela exalava. Rapidamente ele levantou-se.

— Eu sinto muito, Julieta — Disse afobado, irritado consigo mesmo, como se tivesse cometido o mais hediondo dos crimes.

— O que houve? — Perguntou levantando-se também.

— Eu não posso, eu gostaria mas não consigo evitar.

— Aurélio, está me assustando, o que aconteceu?

— Você. Na verdade sou eu e meus instintos. Eu prometi que ia esperar e eu vou, mas não posso evitar o que acontece dentro de mim e me faz ter algumas reações. Você é linda, muito bonita e eu não consigo evitar.

— Não tem problema, não é um crime desejar alguém.

— Eu prometi espera-lá, mas a desejo com todas minhas forças. Você é muito atraente e talvez eu devesse pedir outro quarto ou posso dormir no chão.

— Aurélio — Caminhou até ele lentamente, analisando o semblante apavorado do homem — Não há nenhum problema em desejar alguém. Você prometeu e está esperando, mas não somos capazes de controlar nossa natureza, é algo biológico. Veja — Segurou as mãos dele delicadamente e colocou uma em cada lado de sua cintura — Pode me tocar, não é um crime e eu não vou ficar histérica só porque você me tocou.

— Eu prometo que vou esperá-la.

— E eu agradeço por isso, mas sempre que tiver desejos e reações conte-me. É bom saber que desperto tais sentimentos em alguém e melhor ainda, que os desperto em alguém como você.

— Estamos em uma situação difícil, estás com problemas com teus pais e passando por péssimos momentos e eu estou aqui, sentindo desejos.

Ela tomou a iniciativa, criando a coragem necessária e encostou seus lábios nos dele, pedindo de forma silenciosa para que ele a beijasse. Aurélio intensificou, circundando a cintura dela com suas mãos e colocando-a mais próxima a seu corpo. As mãos tímidas dela seguraram os cabelos dele. Aurélio a ergueu do chão, colocando-a sobre a cama e afastando-se do beijo, antes de virar selou seus lábios nos dela com um leve toque.

— Precisamos dormir, algo me diz que amanhã será um longo dia — Ele disse, colocando-a ao seu lado.

— Prometa-me que sempre que sentir algo me contara.

— Prometo, e espero que faça o mesmo, principalmente quando desejar me beijar.

Ela corou sem dar-se conta, as bochechas ruborizaram e queimaram um pouco.

— Veja, sempre que quiser poderá me beijar, não sinta-se envergonhada. Além de tudo, você é péssima em disfarçar seus anseios.

— Ou talvez você seja bom demais em notá-los.

Ela sorriu e virou-se para dormir. Aurélio acariciou os cabelos dela, afagando-os enquanto ela caia no sono que tanto precisava. Julieta conseguia combinar duas coisas que pareciam ser impossíveis e incrivelmente sedutoras, a timidez de uma menina e o poder e a sedução de uma mulher madura, mas na maioria das vezes ela mal conseguia notar o poder que tinha.

A manhã chegou tão rápido quanto um rápido piscar de olhos. Quando Aurélio abriu os olhos novamente já era manhã, o sol entrava pela janela mas o calor do outro lado da cama estava ausente. Julieta estava de frente para a penteadeira, terminava os últimos retoques de seu penteado.

— Bom dia — Disse olhando-o pelo reflexo.

— Acordou cedo?

— Sequer pude dormir. Foram tantas coisas que acabei passando a maior parte da noite velando seu sono e olhando a rua através da janela.

— Você deveria descansar um pouco, se sobrecarregar vai lhe fazer mal.

— Ficarei melhor e em paz quando tirar esse peso de mim. Darei um tempo para que se arrume, vamos para o café da manhã.

Ele assentiu e entrou no banheiro. Arrumou-se ali mesmo, deixando que ela ficasse sozinha no quarto pondo os pensamentos em ordem e quando voltou a sair partiram para o café da manhã

Ela não estava completamente preparada para que as verdades fossem postas na mesa e talvez ainda precisasse de mais tempo para criar coragem para reunir-se com eles novamente no mesmo espaço, na mesma mesa.


Chegaram a sala de jantar onde a grande mesa só era ocupada pelos pais de Julieta. Havia uma tensão no ar que era notável e o casal mais velho entreolhava-se, mas quando notaram a presença dos novos hóspedes apenas sorriram. Julieta e Aurélio sentaram-se lado a lado, como um casal faria.

— Bom dia — Julieta cumprimentou.

— Bom dia — Os seus pais responderam em uníssono.

Julieta serviu-se do mínimo de comida possível, não desejava prolongar aquele momento, quanto mais rápido saísse daquela sala menos danos causaria a si mesma.

— Eu desconfiei que algo estava errado, primeiro trazem um motorista que é quase mudo, não disse mais que duas ou três palavras. Aparecem no meio da noite. Estão aqui a mando de quem? Já pagamos tudo que devemos no último ano, o que mais querem agora?

— Não somos cobradores ou ladrões, se é isso que pensam. — Julieta disse, sentindo-se ofendida.

— E por que carregam uma arma dentro da mala?

Julieta perdeu as palavras, esquecera de tirar a arma da mala e para seu pai tê-la descoberto deve ter entrado no quarto enquanto dormia.

— Segurança.

— Esta é uma cidade extremamente pacata! Por que tem uma arma dentro da mala?

Julieta pensou em responder mas viu seu pai colocar a arma em cima da mesa, ainda segurando-a. A senhora Marta pareceu não demonstrar nenhuma surpresa, era sua arma que seu pai estava segurando.

— Respondam ou não me responsabilizo por meus atos daqui para frente.

Ela levantou-se, irritada, empurrando a cadeira com brutalidade. Aurélio levantou-se mais lentamente, temendo que qualquer reação exasperada sua desencadeasse uma reação ainda pior no pai de Julieta. Ela parecia desafiá-lo com o olhar e estava disposta a levar um tiro se necessário. O botânico foi rápido e a pôs para trás, ficando na mira do pai dela. O silêncio era ensurdecedor, o homem estava disposto a atirar se fosse necessário e alguma coisa precisava ser dita antes que uma tragédia acontecesse.

Aurélio assustou-se quando os dedos dela tocaram seu braços, o empurrando delicadamente para o lado, ficando na mira da arma novamente e completamente desprotegida.

— Teria coragem de atirar em sua própria filha?

Deixarei as águas se acalmarem
Leve-me embora para algum lugar real
Porque dizem que lar é onde o coração se grava

Pedra é para onde você vai para descansar seus ossos.

Contanto que estejamos juntos, importa para onde vamos? Lar
Então quando estiver pronta para ser mais corajosa
E meus cortes tiverem curados com o tempo
O conforto pousará sobre meus ombros

(Home)


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Notas finais do capítulo

Novamente eu quero agradecer aos comentários lindos! E fico muito feliz em recebe-los e responde-los.



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