Piloto Automático escrita por Pinguim Maligno


Capítulo 4
Tentando aceitar a realidade


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá! Depois de quase 3 meses (de novo) estou de volta! Haha, espero que gostem desse daqui, porque ele foi muito gostosinho de escrever, hoho.

Boa leitura ♥



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Estava ansioso, mãos suando e respiração excessivamente acelerada. Mesmo trancado em seu quarto, podia ouvir toda a confusão que se desenrolava na cozinha. Helena berrava enlouquecida, enquanto seu ex-marido tentava, em vão, acalmá-la.

 

Thomas já sabia que isso ia acontecer, mas não esperava por reações tão exageradas vindas tanto dele mesmo quanto de sua mãe. Ainda não acreditava que havia gritado com ela, não só isso como também chamou palavrões, algo que nunca fizera na frente de Helena, tantas coisas acontecendo no mesmo dia… e não era nem uma da tarde direito.

 

Pela primeira vez, Thomas estava com medo de apanhar seriamente dela, era um sentimento insano. Pelo menos, tinha seu pai, que mesmo sendo meio ignorante, não iria agredir o filho por conta de sua sexualidade…. Provavelmente.

 

— É ISSO QUE ACONTECE COM UM GAROTO QUE NÃO TEM A FIGURA DE UM PAI TOTALMENTE PRESENTE! PORRA, ELE VIROU BIXA E A CULPA É TUA!! — Por um segundo nada foi ouvido, até que... — E AÍ BRUNO, NÃO VAI DIZER NADA???

 

— Escuta — disse. — Eu não sei nem metade do que aconteceu, mas calma. Não vai ser gritando que as coisas vão se resolv...

 

—  AH, ENTÃO É PRA EU SORRIR E AGRADECER, OH SIM, HAHA — Ela já estava totalmente fora de controle. — É ISSO MESMO O QUE TU TÁ QUERENDO ME DIZER?

 

— NÃO, NÃO É ISSO! AAAH, CARALHO HELENA, POR QUE TU TEM DE SER TÃO LOUCA? — Logo se arrependeu de gritar. Não era por se sentir mal pela ex-mulher, e sim por Thomas. Tinha pena do filho, ele não merecia ouvir essas coisas. — Ok. Cansei disso. O Thomas vai ficar comigo o resto do mês, você está claramente alterada. Não confio em deixar nosso filho sozinho contigo, não nesse estado que você está.

 

— FILHO DA PUTA, TU VAI VER SÓ. — Ela chorava, com raiva. — QUEM CÊ ACHA QUE É PRA DECIDIR ESSAS COISAS?? — Continuava gritando, mas Bruno decidiu ignorar.

 

Subiu as escadas, e enfim o silêncio se fez presente. Chamou o seu filho que, com medo de ouvir mais brigas, pegou sua mochila e correu desesperadamente para o carro.

 

[...]

 

Thomas estava deitado no banco de trás e, para variar, usava fones de ouvido. Pensava em tudo que tinha acontecido, como as coisas podiam mudar de uma maneira tão rápida e drástica. Não conseguia deixar de se culpar. Se não fosse tão medroso, talvez Yuuto nunca teria feito o que fez, se não fosse tão imaturo, talvez sua mãe não estaria cogitando loucuras sobre ele, talvez…

 

No fim, não teve tempo de pensar em todos os “talvez”, já que havia chegado em sua outra casa.

 

Saiu do carro, seguido pelo seu pai. Ao entrarem na residência, um silêncio constrangedor se fez presente. Bruno parecia querer falar algo, mas não o fazia. E isso agradava Thomas. Não que não gostasse de conversar com o pai, contudo, sua cabeça já estava cheia daquele dia. Queria apenas deitar em algum canto, quem sabe se embalar na rede que tinha na sala? — Achava aquela rede bem aleatória, por sinal — Ou talvez tentar falar com Catarina? Tantas opções…

 

— Filho, precisamos conversar. — “Droga.” Olhou para o relógio na parede, 14:30. O dia realmente parecia não ter fim.

 

— Er... sobre o quê, pai? — Tentou soar de um jeito natural e relaxado, infelizmente falhou.

 

— Sobre tudo que está acontecendo — disse, enquanto se sentava em um banco, Thomas fez o mesmo. — Ok, eu sei que tudo isso vai ser chato e vergonhoso, só que como seu pai, minha obrigação é no mínimo conversar contigo sobre esse tipo de coisa.

 

“Ih, lá vem bomba.”

 

— Ok, vamos lá. Primeiro, você é gay?

 

Quase se engasgou com a própria saliva. “Mas isso não tá óbvio?”

 

— ...Sim? — Sentiu as bochechas corarem, não estava acostumado com tanta vergonha ao mesmo tempo. Qual é, era seu pai e surpreendentemente nunca tinha se imaginado tendo essa conversa com ele. — O senhor não sabia? Tipo, depois de pegar meu celular e tudo mais…

 

— É… mais ou menos. Você desmentiu tudo também, queria ter certeza, se bem que as suas desculpas foram piores que a comida da sua mãe, haha!

 

“Haha”

 

“Meu Deus, eu tô quase tendo um treco e ele vem contar uma ‘piada’? Que eu consiga passar por essa conversa sem morrer no processo”

 

— Hahaha, engraçado — sua voz demonstrava o quão nervoso estava.

 

— Tá legal. E quando você deixou de ser hétero?

 

Thomas, que estava conseguindo manter uma cara séria, soltou uma curta e constrangida risada. Além disso, sentia que faltava pouco para seus olhos saltarem das órbitas de tão arregalados que eles estavam.

 

— E-eu sempre fui gay…

 

— Ué, e aquela suspensão que você levou quando te pegaram no banheiro com uma menina?

 

— A-ah isso é uma longa história, hehe. — Ele baixou seu olhar, passou a encarar suas mãos. Sua vontade era sair correndo em direção ao precipício mais próximo, com o objetivo de nunca mais poder ser visto por nenhum humano, mas ele usava seus últimos dois neurônios para não fazer isso.

 

— Temos literalmente a semana toda para conversar, meu filho.

 

— C-claro. — Thomas sentia seus olhos começarem a lacrimejar. — E-eu estava com um cara naquele dia. A mamãe resolveu mentir pro senhor, já que na época vocês dois ainda estavam juntos. Ela não queria te irritar com essas coisas… — falou rapidamente.

 

— E esse cara é o tal do Yuuto, não é? — “DROGA!” Isso pegou Thomas de surpresa.

 

— … É sim… — Sentia o rosto ficar cada vez mais vermelho. — Bruno se levantou e abraçou seu filho. E a montanha-russa que parecia se alojar no estômago de Thomas teve uma parada brusca. Era como se as portas do armário em que ele insistia se esconder, finalmente estivessem se abrindo, e deixando de serem as muralhas que o protegiam de todo o preconceito que não estava pronto para enfrentar, e sim a porta de entrada para um sentimento novo: Compreensão. E esse sentimento não era algo que esperava ter de seu genitor.

 

— Pai…?

 

— Meu filho… Me desculpe por não ter te dado a atenção que você merecia. — Ele lacrimejava. — Mal te conheço, e me sinto um bosta por isso. Eu não concordo com a sua opção, mas eu te amo tanto. Mesmo que eu discorde de algumas coisas que eu soube, saiba que eu nunca vou te machucar por causa da vida que você decidiu levar, ok? — Bruno gentilmente brincava com os cabelos de seu filho durante o abraço. Sabia o quanto ele estava assustado, viu pelo seu olhar, durante a conversa e até quando estava com sua ex-mulher.

 

— T-tá. — Tudo aquilo foi tão repentino para Thomas que lhe faltavam palavras para expressar o misto de emoções que sentia. Chorava e soluçava, enquanto retribuía fortemente o abraço do pai.

 

— “Tá”??!  Que filho desnaturado é esse que eu tenho? — disse, apertando uma das bochechas do garoto.

 

— AÍ, O SENHOR DISSE QUE NÃO IA ME MACHUCAR, MENTIROSO!! — gritou de modo zombeteiro enquanto tentava parar de chorar, no entanto não conseguia. Quanto mais ria, mais lágrimas insistiam em enfeitar seu rosto. Era como se elas quisessem acompanhar aquele momento na vida do garoto.

 

E de relance, Thomas olhou para a janela. Ainda chovia, mas agora, o Sol fazia companhia às nuvens. O cenário era lindo, as gotas de água pareciam dançar com a bela luz emitida pelo astro natural. Ao ver tamanho espetáculo da natureza, Thomas perguntava-se se esse era sinal de esperança em meio à tempestade. Ele acabou concluindo que sim.

 

[...]

 

Danna estava no hospital de seu bairro, observando nada mais do que uma confusão que acontecia aparentemente na frente do quarto onde Yuuto estava. Puta coincidência, pensou.

 

Pelo que soube dos enfermeiros, o menino só iria poder receber visitas na semana seguinte. Estava chateada, mas não tanto quanto o homem que perturbava a paz no hospital. Ele era alto, gordo e usava óculos que pareciam estar prestes a cair do nariz. Após alguns minutos, o sujeito pareceu desistir de brigar, e saiu do hospital. O funcionário — era com quem o homem brigava — suspirou, e logo após isso entrou no quarto do jovem paciente.

 

Danna balançou a cabeça, em um sinal de desaprovação. Não queria pensar em Yuuto, mas “merda, minha perna tá doendo pra caralho e a única cadeira vaga é essa em frente ao quarto do desgraçado”.

 

Danna realmente se sentia mal por não conseguir muito progresso na sua “investigação”, mesmo sabendo que tinha de se concentrar nas provas do último ano, sua mente se negava a se concentrar totalmente em qualquer atividade que não fosse descobrir mais coisas sobre Yuuto.

 

De relance, olhou para sua mãe, que estava acompanhada pelo marido.

 

Aquela mulher transbordava esperança e desejos que jamais veriam a luz do dia. Danna conseguia ver nos olhos de sua genitora todos os sonhos juvenis que ela teve de desistir, e o que mais doía era que a morte das ambições da mais velha tinha um nome: Danna Stones.

 

— Querida, vamos? — disse com a voz cansada. A filha balançou a cabeça afirmativamente, logo após se levantou.

 

— Sim,senhora.

 

No caminho da saída, Danna deu uma última olhada para o quarto de Yuuto. Imaginou-o lá dentro. Estaria ele chorando? Ao menos estava consciente? Por algum motivo, sentia que precisava falar com ele o mais rápido possível. Tudo o que queria era dialogar com o atual dono de seus pensamentos.

 

A incômoda sensação do coração acelerado e a respiração descompassada já estavam sendo recorrentes. Até demais. Queria tirar esse recente peso do peito, voltar a se preocupar com a vida adulta batendo à porta.

 

— Filha, algum problema? Temos de ir embora.

 

— Tá tudo bem mãe — disse, enquanto trocava o peso de uma perna para a outra. — Vamos.

 

[...]

 

Danna, que não se considerava cristã, estava prestes a rezar o terço inteiro mais de três vezes. Estava orgulhosa, e com razão, sua arte era linda.

 

Deitou-se no chão, ainda encarando as paredes de seu quarto.

 

Ela havia passado a tarde toda desenhando nas paredes, como uma criança travessa. Apenas se deixou guiar, queria externalizar todos os pensamentos que assombravam os cantos mais sombrios de sua mente.

 

Quem entrasse desavisado no quarto, acharia a sua dona louca. Cada rabisco representava uma parte da garota, desde citações de Nietzsche, aquela fórmula complicada de Matemática e até a letra de Take Me To Church formavam um pequeno retrato da Stones.

 

Para Danna, aquela era sua última manifestação criativa antes da sua vida realmente começar.

 

Toda a bagunça que estava em sua cabeça havia sido teletransportada para aquelas paredes, por isso, decidiu pegar sua canetinha e escrever em um canto quase invisível do quarto o nome de sua obra-prima: Mapa da loucura.

 

— Picasso deve tá com ciúmes, seja lá onde ele estiver, hehe.

 

[...]

 

— Pois é, babe, depois dele me abraçar, o pai disse que precisava voltar pro trabalho. Doido, não? — Thomas conversava animadamente com Catarina.

 

— É meio doido sim — respondeu a voz no outro lado da linha. — Mas eu tô muito feliz por ti, cara. Pelo menos isso aconteceu pra te tirar do monte de merda que tava acontecendo contigo.

 

— Touché. — Aquela menina o conhecia melhor que ele mesmo, Thomas se perguntava como iria sobreviver se não fosse por aquela baixinha. — Eu realmente não esperava que o papai fosse ser assim, sabe? Quando ele chegou pra me buscar… Caralho. Achei que a mãe ia me matar na porrada! — O tom em que disse fora brincalhão, mas existia um fundo de verdade em suas palavras.

 

— E-ei. — Catarina engoliu em seco. — Não brinca com essas coisas não, vai que…

 

— Eu sei. Desculpa Cati.

 

— Ai, ai.— Suspirou.— Que amigo retardado foi esse que eu resolvi arrumar, viu.

 

— SUA MÁ.

 

— EU,MÁ?? EU SOU O ANJO DA TUA VIDA, FILHO DA PUTA! HAHA.

 

— Coroi. — No outro lado da linha, ouviu uma outra voz, chamando por Catarina.

 

— Affe, vou ter que desligar. Minha tia tá me fazendo de empregada. Depois me liga.

 

— Hahaha, ok. — E então fechou a chamada.

 

Thomas desligou o celular e abriu a janela, decidiu olhar para o céu. Admirou-o, e como não? Estava lindo, naquela mistura de laranja e azul, parecia um adolescente, nem noite e nem dia, apenas pôr do Sol.

 

Suspirou, queria ter uma adolescência mais normal. Viver um daqueles romances clichês, queria lembrar com carinho dela, quando estivesse mais velho, mas como?

 

Como, se mal conseguia expor seus sentimentos para ele?

 

Como, se seu amor era proibido por Deus?

 

Como, se ele era uma aberração aos olhos de todos?

 

Fechou os olhos e apertou seus punhos, “Como, se ele quase se foi?”


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Notas finais do capítulo

Ah hey, obrigada por chegar até aqui, se você gostou desse capítulo, por favor comenta e/ou favorite, vai ser muito bom pro meu ego, hoho



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