Eu, você, nós escrita por Athenas de Aries


Capítulo 4
Não fui só eu!




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Saori POV

Eu preparava-me para voltar ao Japão quando fui chamada por um esbaforido Afrodite para ajudar Shaka. Não entendi muito bem o porquê de chamarem justamente a mim, mas é minha obrigação zelar pelo bem estar de meus Cavaleiros, assim como a deles é cuidar de minha segurança. Desci as escadas acreditando que era apenas um exagero do pisciano, entretanto confesso que o estado do Cavaleiro de Virgem me alarmou. Ainda me sinto culpada por tudo que os fiz passar, mesmo tendo conseguido devolver a vida de todos eles. Decidi portanto adiar a minha viagem até ter certeza de que ele ficaria bem.

No dia seguinte, fui informada pelas servas que o mal que o acometia era uma simples catapora. Fiquei sozinha rindo em meu templo enquanto verificava novamente as bagagens. Mu poderia cuidar dele sem minha ajuda. Eu mesma tivera catapora em minha infância e sabia que, apesar de incômoda, era uma doença que não apresentava nenhum tipo de risco maior.

Antes de sair, resolvi visitá-lo para ter certeza de estar tudo bem, quando, para minha surpresa, vi o Cavaleiro de Áries também todo empolado. Aquele vírus era realmente digno de cavaleiros de ouro. Afinal conseguira derrubar dois de uma só vez. Certamente não era a época mais adequada para eu ir para casa. Com dois cavaleiros fora de combate por pelo menos uma semana, não seria conveniente que eu me ausentasse. Pelo menos foi o que acreditei naquele momento.

Selecionei servas que já tivessem tido a doença para cuidar dos dois e voltei para o meu templo. Quando passei pela casa de Peixes estranhei a ausência de Afrodite no jardim. Durante a parte da tarde, diariamente, ele cuidava de suas rosas, a não ser que alguma coisa errada estivesse acontecendo. Bati na porta dos aposentos particulares do cavaleiro e não obtive resposta, estranhei mais ainda. Elevei um pouco meu cosmo a procura do dele e detectei-o dentro do templo. Se ele estava ali, porque não abrira a porta? Chamei por ele mas não obtive resposta. Resolvi entrar e contive uma gargalhada quando o vi. Afrodite estava todo cheio de bolinhas vermelhas! Por todos os deuses, será que nenhum de meus cavaleiros tivera infância? Antes que eu pudesse pensar em fazer alguma coisa, Máscara da Morte entrou no templo sem fazer cerimônia, com um pequeno pacote na mão e um sorriso sarcástico no rosto.

— Parece que nosso cavaleiro de virgem infectou todo o Santuário. A senhora já teve catapora?

Olhei para ele com estranhamento. Como assim "todo o Santuário"? Será que tinha mais alguém doente? Ele respondeu risonho à minha pergunta muda.

— Bom, além de Shaka, Mu e Afrodite, como a senhora já viu, também Aiória e Marin estão todos empolados. Não sei se mais alguém pegou a doença, mas não é improvável.

Perguntei se ele também não tivera a doença e ele me respondeu positivamente, quando mais novo. Decidi então mudar de tática. Mandei que todos os doentes fossem levados ao décimo terceiro templo e que todas as casas fossem lavadas para evitar novas contaminações. Coloquei uma "plaqueta" escrito "QUARENTENA" na entrada de meu templo, peguei minhas malas e fui para o Japão. Aquele Santuário que antes já parecia um hospício agora se tornara um hospital. Definitivamente, pelo bem da minha saúde mental, o melhor que eu tinha a fazer era partir para bem longe.

 

Afrodite POV

Minha Deusa! Só pode ser muita crueldade com uma pessoa só. Logo eu, euzinho que tenho um apresso tão ferrenho por minha beleza? Eu mato aquela Barbie loira. Minha pele branquinha... Imaculada! Ficar cheia de pipoquinhas, empolada e coçando! Não minha Deusa, eu não mereço isso. Essa monstruosidade. Ah! Shaka, mona vou te dar um ramalhete inteiro de Rosas Piranhas. Ah vou!

E tudo começou naquele bendito dia em que Mu me achou lendo meu livro. Céus, por que entre todos os cavaleiros ele tinha logo de me encontrar? O Santuário é enorme, sabia? E com um mísero contato aqui estou eu, o mais belo dos belos tendo de conviver com esses insensíveis. Grosseirões...

Lembro-me como se fosse ontem. Também como euzinho haveria de esquecer uma coisa como essa? Nem cinco minutos na presença da Barbie e aqui estou. Meu inseparável e eterno espelhinho oval não me deixa esquecer e eu quase chego a me debulhar em lágrimas ao ver o reflexo de minha imagem. Essas coisas que lembram a erupções vermelhas e feias. Oh! Minha cutis!

Estava cuidando de meu canteiro de rosas, o chapéu de abas largas e claro... Camadas e mais camadas de protetor solar em minha pele que estava à mostra me protegendo do sol que não era muito forte. Já nem me lembrava mais de Shaka estar doente. Era passado e cuidar de minhas rosas era uma terapia maravilhosa, ainda mais para mim que vinha me sentindo estranho.

Ocupado como estava, olhei surpreso para meu braço ao sentir uma gota o tocar. Arqueei uma sobrancelha e passei a mão pelo local, mas arregalei os olhos ao sentir mais uma cair agora sobre minha mão. Suor? Eu, suando? Nem forte o sol estava! Passei a mão pela testa depois olhando para minha palma... Estava em sopa! Eu não transpiro! Que brincadeira de mal gosto era aquela que os deuses estavam me pregando? Nem mesmo quando estou treinando com meu amore transpiro. Voltei meus olhos para o céu. O sol me cegando e uma leve tontura fez com que eu me apoiasse em meus próprios joelhos.

Eu passando mal? Era impossível! Pensando bem…sou humano... Levantei-me devagar e rumei para meu templo à procura de água. Talvez um pouco me fizesse bem.

Ledo engano.

Assim que ingeri um pouco do líquido refrescante, senti uma vontade louca de colocar tudo o que não tinha no estômago para fora.

Fechei meus olhos e o mal estar passou. Ainda transpirava muito e para me livrar daquilo fui tomar um bom banho. O corpo parecia pesar e mesmo fazendo pouco tempo que estava em pé, deitei-me na minha cama e de lá não saí nem para comer. Não tinha vontade.

Quando meu querido Carlo me encontrou eu estava mais branco que folha de papel.

— Amore, o que mia Flor tem? Dói em algum lugar?

Gemi baixinho e o mirei nos olhos, mal conseguia abrir os meus.

— Amore, estou me sentindo tão mal e parece que meu corpo arde como labaredas no fogo.

Ao checar minha têmpora, Carlo arregalou os olhos.

— Dio Mio! Amore você está ardendo em febre. Vou te preparar um bom banho e...

— E o que?

Vi Carlo morder os lábios e fazer aquela cara de que iria começar a rir em pouco tempo.

— O que foi amore? Diz logo!

Sem conseguir se controlar, Carlo começou a gargalhar e levantou para pegar alguma coisa entre meus pertences. Vi quando ele voltou com meu espelho oval de mão e me entregou.

Segurei pelo cabo trabalhado em prata e ao ver minha imagem refletida, arregalei os olhos, deixei meu queixo cair abrindo a boca e olhei do espelho para meu querido amore.

— Aaah... Eu não acredito!

Gritei ao ver meu lindo rosto todo cheio de erupções e empolado.

— Eu mato aquela Barbie... Contaminou-me com seu vírus! Ai minha Deusa...

Parando de rir Carlo veio em meu auxílio. Tirou de minhas mãos o espelho e me abraçou forte.

— Calma amore, isso passa logo. E no adianta me olhar assim, Io já tive e no vou pegar mais essa maledeta catapora. Mas Io vou cuidar de você mia Flor.

Eu juro que não sabia se chorava de desespero, de raiva ou se beijava meu querido Carlo por estar ali comigo.

Pouco tempo depois, lá vinha uma ordem maluca de Saori para que todos os cavaleiros infectados com o vírus da Barbie loira fossem para seu templo.

 

Mu POV

A doença de Shaka preocupou-me no início, mas toda experiência ruim sempre acarreta um bem intrínseco. O meu amado finalmente deu-se conta que um relacionamento é uma via de mão dupla, que precisamos conversar, ceder. O orgulho é a arma mais eficaz para matar o amor e somente uma doença vulgar, mas de proporções dantescas em um cavaleiro de ouro foi capaz de mostrar a ele que precisava confiar em mim e no sentimento que nutrimos um pelo outro. Só que eu infelizmente não saí ileso de toda essa história. Quando estávamos na banheira com água roxa, para onde fui arrastado por um doente manhoso, percebi que também pegara a doença.

Comecei a rir, apesar do mal-estar. Afinal, como diz o velho ditado: "se não pode com eles, junte-se a eles." Eu ainda estava me sentindo um pouco melhor que Shaka, não meditara por dias seguidos como ele e me alimentara bem. Fiquei ainda algum tempo aproveitando o alívio proporcionado pela água tépida e com remédio antes de tomar coragem para arrumar o leito. Os lençóis precisavam ser trocados e os travesseiros afofados para que tivéssemos um mínimo de conforto necessário. Praguejei enquanto executava tais tarefas.

Quando finalmente conseguimos nos acomodar na cama, nossa Deusa resolve fazer uma visita. Pude perceber por trás da preocupação o quanto ela se divertia com a ironia de toda a situação. Foram designadas servas para cuidar dos "doentinhos do Santuário". Particularmente não me agradava ter pessoas estranhas a freqüentar a intimidade de nosso templo. Na realidade do templo de Shaka que eu já considerava uma extensão do meu, mas não estava em condições de reclamar.

Não se passou muito tempo, recebemos a ordem de "mudança" para o décimo terceiro templo. Ao que parecia, não tínhamos sido os únicos infectados e Saori considerou melhor criar uma "quarentena" para impedir que mais pessoas ficassem doentes. Os dias vindouros seriam definitivamente estranhos.


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