Todo Sábado, Às Seis. escrita por lau


Capítulo 2
capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

olha só, im back



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Sala Vazia do Terceiro Andar, Hogwarts.

Sábado, 6 p.m.

 

“Oi... Olá,” Lily sorriu docemente para as três garotas sentadas à sua frente. Quando ela estava nervosa focava em detalhes, sua mente era capturada por eles, como se quisesse se distrair do nervoso. Lily olhou o esmalte preto descascando das unhas de Emmeline, a presilha de borboleta azul de Dorcas e a lama nas sapatilhas de Mary. Respirou fundo, pensando quão bobo era se sentir assim se elas eram suas amigas. “Bom, esse é o primeiro encontro do nosso grupo em prol da aquisição das calças femininas. Em primeiro lugar, obrigada por virem...”

“Como se ela não tivesse nos obrigado.” Lily ignorou o sussurro de Emmeline para si mesma e continuou mexendo em seus papéis.

“Eu fiz algumas pesquisas. Em 1918 as garotas usavam calças, pois o uniforme para Herbologia era diferente dos uniformes comuns, e a regra era calças marrons para todos, então elas usavam. Elas também usam calças quando estão no time de Quadribol, mas a primeira jogadora mulher só apareceu em 1930... Não tem nada em nenhum artigo do Ministério, e nas regras do colégio diz que o uniforme feminino é composto pela capa, camisa e saia, além de acessórios, mas não diz nada sobre a proibição das calças...”

“Por que, exatamente, temos que saber tudo isso?” Perguntou Emmeline, com a mão erguida como se falasse com uma professora, claramente para debochar.

Lily respirou fundo. “Porque, Emms, precisamos de armas para lutar contra nossos inimigos.”

“Que inimigos? O corpo docente?”

“Bom, eles certamente são os meus...” Mary se afastou discretamente quando Emmeline inclinou seu corpo em direção da garota, rindo.

“Não! Claro que não! Nossos inimigos são essas regras estúpidas e retrógradas, precisamos fazer algo sobre!” Lily olhou as garotas, as sobrancelhas erguidas. “Vocês não acham que precisamos?”

“Eu não sei Lils,” Disse Dorcas, dando de ombros. “Eu sequer gosto de usar calças.”

Antes que Lily pudesse abrir a boca, Mary já se virava para a amiga. “Sim, mas você devia poder escolher se quer usá-las ou não,” Ela sorriu para Lily. “Não é?”

Lily sorriu de volta, sentindo seu peito inflar com o apoio. “Sim, é.”

“Bom, isso vai irritar até o inferno a reitoria, é por isso que estou aqui.” Emmeline se espreguiçou e se esticou enquanto deitava mais na cadeira, com Mary rolando os olhos para ela.

“É, nós sabemos Emms.”

“Bom, acho que já tenho todos os dados que precisava. Marquei uma reunião com a Professora McGonagall para às sete e meia, para validar a existência do grupo, vou para lá daqui a pouco. Acho que nós podemos começar com isso, e com uma petição, pois elas sempre funcionam para mostrar a quantidade de pessoas que estão envolvidas. O único problema...”

“É que mostrar que só quatro pessoas estão envolvidas não vai ajudar muito.” Mary deu mais um daqueles olhares que entendiam e consolavam Lily, que suspirou e fez que sim com a cabeça. “Você não foi atrás de mais gente?”

“Não? Eu pensei em ir, mas não queria ir sozinha... Agora que estão aqui comigo vocês podem me ajudar!” Lily disse num tom animado, enquanto suas amigas desviavam o olhar, meio envergonhadas. “Vocês vão, não vão?”

“Não sei se as outras garotas vão aceitar Lily,” Evans olhou irritada para Mary, que logo arrumou. “Não me entenda mal, eu acho incrível você querer mudar as coisas, Deus sabe como Hogwarts parou na Idade Média, e eu vou te ajudar, mas não podemos forçar as outras a ajudar.”

“Podemos ensinar elas, mostrar o que está errado...”

“Boa sorte.”

“E fazê-las entender!” Exclamou Lily, tapando os olhos com as mãos. Estava cansada de se sentir exausta o tempo todo. Com as aulas, com seus deveres como Monitora, com os outros, consigo mesma. Ela só queria as malditas calças, queria ter seus pedidos atendidos sem o fator ‘mulher’ afetar nisso. Queria o apoio das outras garotas.

Havia se passado alguns dias desde o incidente com aquele patife no Salão Principal, e Lily fizera seu dever de casa, como sempre. Não queria ir contra os professores e a direção, não se sentia bem agindo de forma rebelde com todos como Emmeline parecia amar fazer, mas era por uma causa mais que justa. Ela tinha tudo planejado. Juntaria suas amigas e elas iriam chamar mais garotas, elas iriam fazer uma petição e talvez até um protesto se necessário, elas se reuniriam naquela salinha uma vez por semana para debater seus próximos passos, suas próximas ações. O que podia ser mudado e o que devia ser melhorado. Lily sentia aquelas cócegas no fundo de seu estômago, a animação batendo contra seu peito como um tambor toda vez que pensava em seu projeto. Ela sempre se animou em ser ativa e mudar as coisas, mas não podia fazer praticamente nada sozinha. Precisava das outras.

“Eu posso falar com as meninas que cuidam do Corujal comigo,” Sorriu Dorcas, fazendo Lily levantar os olhos. “Brienne é nascida trouxa e está sempre falando como são esses movimentos no mundo trouxa. Chang também sempre reclama desse tipo de coisa, ela azarou o Travis quando viu ele cantando uma menina do terceiro ano. Elas vão topar.”

Lily sorriu, anotando algo em seu caderninho. Mary pulou em sua cadeira. “Sim, e eu posso falar com as meninas do Clube de Xadrez e do Clube de Debate. Também acho que a maioria irá aceitar, se eu insistir.”

“Fale pra elas que isso não é uma sociedade secreta, que nós não pretendemos jogar bomba de bosta no escritório do Professor Dumbledore ou atear fogo nas cadeiras. Queremos dialogar, é algo totalmente aberto.”

As três olharam Emmeline, que estava cutucando as unhas, e rolou os olhos quando viu que era encarada. “Eu sei, eu vou ajudar!”

Lily sorriu, se sentindo levemente melhor. Pegou suas coisas e se levantou, vendo as meninas fazerem o mesmo. “Bom, hoje como era apenas nós foi mais curto, eu só queria combinar as coisas, saber se vocês topavam ajudar, vou comer algo antes de ir ao escritório da Professora.”

“Boa sorte!” ela ouviu Dorcas gritando enquanto deixava a sala.

 

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Professora McGonagall era uma mulher rigorosa e rígida, que não saia por ai distribuindo sorrisos e tratamentos afetuosos com seus alunos, como Slughorn sempre fazia com os membros da casa de Sonserina. Não, ela era dura como uma rocha, até mesmo com os mais novos, ensinando desde cedo que não tolerava infantilidades e desrespeito. Mas Minerva estaria mentindo se não dissesse que, mesmo julgando Horace pelos seus “clubinhos” e “favoritos”, ela também tinha aqueles que gostava mais. Lily Evans era uma dessas alunas especiais que McGonagall não pensaria duas vezes antes de ajudar, e Lily sabia que a professora gostava de si, pois estava confiante que ela não ia apenas permitir a formação do grupo, como também ajudá-las. Talvez se tornar algo como a madrinha do grupo.

“Francamente Evans, que ideia ridícula.” Lily arregalou seus olhos, não crendo no que ouvia. “A senhorita logo mais vai ter seus testes, precisa estar focada e preparada, e quer gastar suas horas fazendo um grupo ao invés de estudar?”

“Mas Professora, precisamos fazer algo a respeito dessa proibição, precisamos debater sobre isso...”

“Para isso temos o Clube de Debate. Para debater. Não creio que você, uma das minhas mais dedicadas, quer colocar suas energias em algo que não vai para o seu currículo no fim das contas...”

“Se a senhora assinar a permissão do grupo, o tornando legal, então irá. E vai ser apenas uma vez por semana, ainda vou me dedicar aos meus estudos,” Lily usou o sorriso que sabia que funcionava com os professores, mesmo que McGonagall não caísse nesse tipo de truque sempre. “Não vai afetar em nada.”

Minerva olhou para a garota, respirando fundo. “Senhorita Evans, a senhorita sabe que eu não costumo, por assim dizer, dar minhas opiniões particulares em sala de aula sobre assuntos que não envolvem Transfiguração ou o ensinamento de jovens bruxos no geral.”

“Sim, senhora.” Concordou Lily com um leve aceno de cabeça, se sentando mais reta na cadeira, sentindo que estavam indo para a reta final da conversa que já durava cerca de vinte minutos.

“Bom, mas eu acho que devia dizer aqui. Me considero alguém muito realista e espero te trazer para a realidade também, já que pelo visto a senhorita insiste em esquecê-la.” Lily franziu o cenho enquanto McGonagall parecia olhar fundo em sua alma. “Senhorita Evans, quantas mulheres há no Conselho de Hogwarts?”

Lily abriu a boca, mas a professora continuou. “E quantas há na reitoria?”

Lily suspirou. “Uma, senhora.”

“Quem seria ela?”

Lily se segurou para não olhar para cima e suspirar de novo. “A senhora, Professora McGonagall.”

“Sim, e ambas sabemos que apenas estou lá por ser chefe da casa de Grfinória. Posto pela qual batalhei por muitos anos. E ainda hoje, já uma acadêmica em minha área, com anos de vida e experiência, ainda tenho meia dúzia de homens com a metade da minha idade me dizendo que sabem mais do que eu.” Lily ergueu os olhos para sua professora, não esperando um desabafo tão aberto. “Eles não vão lhe escutar. Eles são homens. Eles não ligam para o que não entendem ou sentem, nunca tiveram problema com a vestimenta da escola,” Minerva fez algo que parecia a leve sombra de um sorriso desdenhoso. “Nunca tiveram problema nenhum com a escola, e é por isso que eu acho que você não devia prosseguir com isso. Vai ser um enorme esforço à toa.”

Lily torceu as mãos, esperando que o que fosse dizer não saísse tão rude. “Professora, me desculpe, mas a senhora não disse que batalhou muito pelo seu cargo? Que mesmo assim, até hoje, não é sempre levada a sério?” McGonagall parecia querer falar, mas Lily continuou mesmo assim. “Eu passo por isso também senhora, por ser uma garota e por ser nascida trouxa. Não quero que as próximas gerações de garotas de Hogwarts passem por isso também. Não me importo se eles não se importam porque, bom, porque eu ligo para o que os outros sentem e passam, mesmo que eu não entenda. Quero fazer algo sobre isso.” Lily sorriu e se levantou, estendendo novamente o papel de aceitação do grupo, que até então estivera deitado sobre a mesa entre as duas como um cadáver no meio da sala, pesado e presente, mesmo com todos fingindo que não está ali. “Não são apenas calças.”

 

—------------

 

“E ai ela simplesmente assinou?”

“Ela disse que eu era muito corajosa por criar um grupo assim, mas que ela entendia meu ponto. Ela parecia brava pelas coisas que eu disse, mas ao mesmo tempo satisfeita? Eu não sei.”

“Professores Lils, eles são todos estranhos.” Disse Dorcas, sorrindo debaixo de seu edredom, enquanto lia uma edição de O Pasquim.

“Vocês acham que eu a ofendi?”

“E quem liga? Conseguimos!” Emmeline parecia mais animada do que mais cedo naquele dia, contando que falará com algumas de suas amigas e, apesar de nenhuma ter dado uma resposta definitiva, algumas pareceram gostar da ideia. Elas acharam muito punk. Seja lá o que aquilo significasse. “O grupo vai existir!”

Lily riu, feliz enquanto olhava o papel. Mary saiu do banheiro enrolando os fios crespos entre os dedos, se sentando na cama de Lily ao seu lado, espiando o papel. “Não tem nome?”

“O quê?” Perguntou Emmeline, voltando sua atenção as duas, e Dorcas ergueu os olhos da revista de novo.

“Não tem nome, por que você não deu nome?” Mary olhou interrogadoramente para Lily, que deu de ombros. “Queria decidir um nome bom com vocês, McGonagall disse que podia escolher depois da criação.”

McGonagall? Sem um professora ou mestra ou deusa suprema antes?” Lily girou os olhos para Emmeline, que fazia uma expressão exageradamente chocada, olhos arregalados e boca aberta. “Lily Evans, você está certamente se tornando uma rebelde!”

“Menos, Vance. Eu com certeza...”

“Menos mesmo, Vance.”

Mary, Lily, Dorcas e Emmeline olharam para a porta no momento em que ouviram a voz. Marlene estava parada no batente, já de pijama, mas não parecendo menos intimidadora por isso. “Então vocês fizeram um grupo?”

“Não é da sua conta.” Rosnou Mary, mas Lily ergueu as mãos.

“Sim, fizemos,” Disse ela, cruzando os braços em frente ao peito, tentando soar decidida. “Garotas não podem usar calças. Queremos reivindicar isso.”

Marlene riu, aquela risada alta e grossa dela. Marlene McKinnon era uma garota grande e alta e forte, batedora do time da Grifinória, os cachos louros como ouro e os olhos verdes tão claros quanto a água de um lago não ajudando para torná-la mais delicada. Ela batia em meninos que mexiam com ela, azarava os sonserinos que intimidavam alunos mais novos de outras casas e passava cola para os bolsistas que estavam indo mal nas provas e não podiam por causa de sua bolsa. Lily achava Marlene incrível, na verdade todos a achavam descolada e durona, mas ninguém tinha coragem suficiente de se aproximar.

“Olha, isso não vai dar em merda nenhuma.” Ela disse, se sentando na cama de Emmeline sem pedir permissão. Até Vance, que não media sua língua com os outros, ficava mais quieta na presença de Marlene. “Alunos sempre reivindicam coisas. Almoços com peixe ou folgas de dia de semana, camas mais macias. Eles não estão nem ai.”

“Isso é diferente,” Insistiu Lily. “Não podemos usar calças porque somos garotas. É discriminação. É errado.”

Marlene balançou a cabeça, olhando Lily como se ela fosse uma criança. “Discriminação é errado? Diga isso pra Isobel Hopkins, a garota da Corvinal que usa muletas. Ela tem que subir aquelas escadas todos os dias, com segundanistas jogando maçãs nela para ver quem acerta mais. Você acha que eles ligam?”

“Como ela pode ser tão ruim e legal ao mesmo tempo?” Sussurrou Dorcas para Mary, ambas sentadas juntas na cama da loira, meio grudadas até. Lily se sentou em sua cama devagar, sentindo como se tivesse levado o décimo soco no estômago em menos de dez dias. Ela sentia que havia passado tempo demais sem ligar para a questão das garotas na escola, e que a descoberta de que elas não podiam usar calças era o empurrão necessário, a faísca mais forte, o sopro de consciência gelado que arrepiará seus braços e a fizera acordar. Mas tinha muito mais. E Lily se sentia mais que culpada por nunca ter reparado em nada disso, não tanto quanto deveria.

“Olha, como você reclama disso e não faz nada?” A voz não tão confiante como sempre de Emmeline trouxe Lily de volta para o quarto, e ela viu quando Marlene se virou para a outra, uma expressão nervosa no rosto bonito. “Você é literalmente uma montanha, você devia fazer algo para ajudar pobre Isobel, já que todo mundo tem medo de você e dos seus irmãos.”

“Vance, você perdeu a noção? Quer que eu te jogue no lago de novo, sua vac-“

“Ei, não precisam brigar!” Mary exclamou meio trêmula, enquanto Dorcas olhava de uma para outra meio alarmada.

“Ela está certa, McKinnon,” A voz dura de Lily fez as duas garotas olharem para ela, que tinha se levantado, e parecia mais decidida que nunca. “Você devia fazer algo. Você é inteligente e forte, não devia aguentar o que aguenta.”

Marlene se virou completamente para Lily, parecendo mais irritada que nunca. “E o que eu aguento, exatamente, Evans?”

“Como os garotos te tratam,” Ela disse, dando de ombros. “Como tratam suas amigas. Como só te respeitam, ou fingem que respeitam, porque está no time.”

Lily se aproximou de Marlene, que agora olhava o nada com uma expressão confusa, e apoiou uma mão em seu ombro. “Sei que você gostaria de usar calças também. Ou ao menos escolher se quer usar elas. Você devia se juntar ao nosso grupo, traga suas amigas.”

Marlene olhou séria para Lily, as sobrancelhas franzidas. Emmeline, Dorcas e Mary pareciam não respirar ao lado delas. “Por favor?”

“Ok... Eu vou pensar.” Disse Marlene, e Lily sabia que era o melhor que iria conseguir no momento. “Vou te avisar. Qual o nome desse grupinho de vocês mesmo?”

“Ainda não temos nome.” Disse Mary, parecendo mais confortável, mas ela ainda assim lançou a Lily um olhar que a garota conseguia ler como ‘o que pensa que está fazendo?’ “Vamos decidir numa reunião Lils?”

“Sim, vamos.” Afirmou Lily, olhando uma última vez para Marlene antes de voltar para sua cama. “Agora acho melhor nós irmos dormir.”

McKinnon deus mais uma olhada nelas antes de ir até a porta, mas quando estava saindo e Emmeline já estava se preparando para pular em Lily, ela voltou, parecendo ter esquecido algo. “Evans? Você não me disse quando vai ser a reunião.”

Lily deu um sorriso de lado, sentindo o início de uma vitória para si. “Todo sábado, às seis.”


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