Quando pensei em perigo, não queria que fosse aquilo. Ainda não estávamos preparados para aquilo, na verdade acho que estávamos preparados para nada. Chegamos quinze minutos depois onde Percy e Annabeth estavam, eles já começaram a luta lado de Nico, provavelmente ele usou a viagem nas sombras.

Eu havia congelado assim que eu vi. Era do tamanho de três montanhas, o corpo feito de gelo e nos ombros e cabeça havia neve. Era o Gigante de Neve, o monstro de meus sonhos. Só de olhá-lo minhas entranhas congelavam e pela primeira vez na vida pensei em fugir. Não havia como derrotar um monstro que parecia alcançar o céu nublado.

_Ele esta cortando aquela raiz – Eric apontou.

A Yggdrasil. Todo o meu pesadelo estava acontecendo diante dos meus olhos. O medo começava a me dominar quando Eric segurou o meu rosto e roubou um beijo rápido. Todo o meu pensamento foi cortado pela surpresa daquele gesto.

_Pra da sorte sabe? – ele disse meio vermelho.

Aquilo pareceu me despertar. O mundo não podia acabar agora, não mesmo. Eu havia feito amigos importantes no Acampamento Meio-Sangue, eu acabei de descobrir que Eric beijava muito bem e que queria repetir aquilo outras vezes. Ainda havia muita coisa que eu queria fazer, falar e ver. Tinha a minha mãe lá em Asgard sem saber de nada, mas que no final teria orgulho de mim e não vergonha por ter me acovardado.

_Não morra, Eric – pedi por fim.

_Só se você me prometer viver – ele pediu totalmente sério.

Fiz que sim com a cabeça, respirei fundo e pus o meu elmo na cabeça. Segui correndo e não precisei olhar para o lado para saber que Eric estava ali. Fiz o feitiço para aparecer duas espadas na minha mão e quando me aproximei de Annabeth e Percy finalmente vi os Elfos da Escuridão. Não me culpe, os monstrinhos eram mesmo pequenos, não dava para ver de longe.

Meu ataque foi totalmente ofensivo, atacava ferozmente lutando com fé de que iria sobreviver para mais um dia. Não demorou para Thalia e Ryan chegar com seus raios mortais, o calor da batalha parecia uni-los ainda mais. Defendi o ataque de um elfo com o seu machado enquanto perfurava a sua barriga com minha outra espada, quando me virei Nico apunhalava com sua espada negra o ultimo elfo.

_Como se mata aquela coisa?! – Thalia exclamou.

_Os Gigantes de Neve é como parece, monstros de gelo – Tyler tentou explicar – Um gelo especial que eu não consigo controlar, é como se fosse gelo ancestral, mágico e mais maciço.

_Perfeito – resmungou Percy.

_Se aquilo cortar a raiz Loki estará livre para se vingar de todos os deuses – disse Rosalyn preocupada.

Eu fitava o gigante sem querer deixar que o medo me tomasse novamente. Alguma coisa tem de ser feita, olhei para o céu e não vi sol o que era normal. No País do Gelo não haveria sol para não derreter a neve sem fim... Olhei para Eric, ele era filho do deus do sol, a única coisa relativamente quente em um raio de mil quilômetros.

_Se aquilo espirrar acho que estamos literalmente numa fria – Percy falou desanimado.

_Então vamos sentir esse frio até o fim – disse em uma determinação que sinceramente eu não sentia – Somos os únicos que podem fazer isso, querendo ou não, nem mesmo os deuses podem fazer algo nesse momento. Se não tentarmos não será o fim apenas de Asgard, mas o do Olimpo também.

Meu discurso foi todo em vão quando escutamos os uivos se aproximando. De longe um enorme lobo gigante se aproximava feroz. Fenrir estava ainda mais irado por causa de sua derrota na ultima batalha. Meu coração deu um pulo de medo. Olhei para os lados e vi todos congelados no lugar. Como não esta? Enfrentar Fenrir e o Gigante de Neve seria impossível!

_Todo mundo preparado, vamos fazer espetinho de cachorro – Thalia tomou a frente.

Fiz aparecer dessa vez um escudo na minha mão mantendo a espada. Foi desesperador ver os lobos se aproximando e descobrir que ao seu lado vinham mais elfos. Senti um calor atrás de mim e não precisei me virar para saber que era Eric, mas mesmo assim virei o olhar para mergulhar uma ultima vez naqueles olhos dourados. Talvez fosse a ultima vez que faria isso.

_Não encare isso como despedida – Eric murmurou, mas eu escutei claramente – Mas quero que saiba de qualquer forma...

_Eles estão se aproximando! Parem de flertar! – disse Percy.

Eric inclinou-se ignorando os comentários, meu coração disparou ainda mais, talvez eu morresse de ataque cardíaco.

_Eu te amo – sussurrou Eric para mim.

Ele afastou-se rapidamente, sorriu e foi para o lado de Nico. Eu já havia escutado inúmeras declarações ao longo de minha vida, o que era bastante natural julgando o que eu era. Mas escutar disso de Eric, naquele momento de vida ou morte me deixou completamente sem ação bem no momento em que uma batalha violenta estava para acontecer.

_Nick você esta bem? – Rosalyn aproximou-se – Esta vermelha!

_E-estou? – gaguejei sem querer, limpei a garganta e tentei me posicionar – Estou bem... Muito bem na verdade.

Eric estava de costas para mim. Foi inevitável sorrir, estava completamente confusa, verdade, mas inteiramente feliz. Eu não poderia morrer de jeito nenhum, lutaria por um novo motivo e era o que eu mais precisava. Amor.

_Galera, eu adoro vocês – Ryan disse com a voz trêmula.

_Cala a boca, isso aqui não é uma despedida – Thalia retrucou, mas sua voz também estava trêmula.

Não houve mais tempo para discussão. Os primeiros a chegar foram os lobos, parti para cima de um o empurrando com meu escudo direto para a espada de bronze de Percy. Dois lobos de porte maior foram congelados pelas flechas de Tyler. Annabeth havia sumido com o seu boné da invisibilidade e lobos caiam do nada.

Tive de usar de todo o meu esforço. As lutas pareciam não acabar desde que havia chegado a Niflheim. Fenrir estava ao longe ainda, agora andando a passadas largas como se estivesse esperando que sua refeição se cansasse para poder devorar. Aquilo fez apenas a ansiedade aumentar.

_AAAAAA!!

Eu gritei de dor quando senti um corte profundo na minha canela pelo lado de trás. Quando me virei vi um elfo e eu o golpeei com um murro que o jogou longe. Só então que eu vi que não fui a única a ser atacada de surpresa. Tyler estava no chão, três elfos estavam encima dele ate que ele fez a neve os cobrir por inteiro e os esmagar até sair pó dourado.

Thalia tinha os braços feridos enquanto lutava com um lobo e Eric atrás dela lançava flechas em elfos que apareciam do nada. Estávamos perdidos, não havia dúvidas disso. Os elfos eram fracos, mas em grande numero se tornavam um estorvo perfeito para os lobos atacarem sem cessar.

Mas nem por isso nenhum de nós desistiu de lutar pela vida. Não demorou muito para estarmos cansados e mesmo assim empunhando nossas armas como se fosse a nossa vida. Aquela seria a nossa ultima batalha, mas seria digna!

A esperança se mantinha por um fio, mas não era esquecida. Mas tudo mudou completamente quando olhei para baixo e vi uma sombra em forma de circulo se formar. Olhei desesperada para o lado e vi que todos os outros também tinham o mesmo circulo escuro. Antes que qualquer um pudesse reagir tudo girou.

Escutei alguns gritos e não duvidei de que o meu estivesse entre eles. Fui puxada violentamente para baixo, como se estivesse sendo sugada por aquele buraco negro e tudo ficou terrivelmente escuro. Quando senti o chão novamente sobre os meus pés estava ofegante e muito tonta, mal agüentava levantar a minha espada.

_Calma! – disse uma voz feminina – Eu só vou ajudar!

_Lilian?! – exclamou Rosalyn completamente surpresa.

Lilian? Repeti em minha mente e então muita coisa fez sentindo e eu também fiquei ainda mais surpresa. Não demorou muito a aparecer da escuridão uma menina de baixa estatura, pele branca como a neve e cabelos escuros como a mais fria noite. Os olhos entretanto era de uma cor bela de safira. Lilian Baudelaire, filha de Hel, a deusa nórdica do inferno.

_Você deveria estar morta! – Ryan disse sem acreditar.

Ryan aproximou-se dela e deu um forte abraço em Lilian, meus olhos estavam cheios de lágrimas. Sim, Lilian deveria estar morta desde o ano passado, ou é assim que os deuses acreditam.

_Eu estou bem viva e obrigada por me lembrar que minhas costelas ainda estão inteiras – Lilian disse suavemente enquanto sorria realmente feliz.

_O que está acontecendo? – perguntou Annabeth meio assustada – Porque esta muito escuro?

_Estamos em uma parte subterrânea de Niflheim – Lilian explicou – Eu trouxe vocês para cá antes que fossem mortos lá encima.

_Quem é você? – perguntou Nico curioso.

_Lilian Baudelaire – ela respondeu pegando o seu vestido preto levantando um pouco pelas pontas como uma verdadeira dama – Minha mãe é Hel.

_Hel? – repetiu Percy.

_Deusa do Inferno, rainha de Niflheim – explicou Tyler e depois para Lilian – Eles são olimpianos.

Olhei ao redor depois de ter recuperado toda a minha sanidade. Claro que junto veio o cansaço. Era como uma caverna úmida e com uma iluminação muito fraca, porém bastante espaçosa, caberia umas 20 pessoas ali dentro.

_O que aconteceu? Pensávamos que tivesse sido morta por Elfos da Escuridão na guerra – Roselyn perguntou.

_Eu apenas fiquei presa nessa parte de Niflheim – Lilian explicou em um tom triste – Minha mãe é Hel, claro que eu nunca perderia uma batalha... Mas parece que ela me esqueceu rapidamente já que nunca ninguém veio me buscar.

_Não! Ela apenas não sabe que você esta viva! – Roselyn falou urgente.

Ela explicou rapidamente tudo o que estava acontecendo. Claro que Lilian não seria notada, ela estava debaixo da área mágica do Olho Que Tudo Esconde. A sua presença não existiria naquela parte de Niflheim, ela nunca seria vista pelos deuses.

O pior era pensar ter passado todo aquele tempo sozinha naquele lugar. Lilian tinha olheiras profundas, a boca um tanto rachada pelo frio e os cabelos maltrapilhos. Estava parecendo uma noiva cadáver e aquilo fez meu coração se apertar de pena. Um ano na companhia de Fenrir e do gigante, pensando estar abandonada e esquecida.

_Oh deuses! Isso é terrível! O Ragnarok pode acontecer! – deduziu Lilian no fim da explicação de Roselyn.

_Restou apenas nós para derrotar esses dois monstros – completou Ryan pesadamente.

_Não podemos matar Fenrir, ele é um deus! Na verdade temos de destruir o Olho – disse Lilian.

_Isso se soubéssemos onde está – Annabeth suspirou cansada – Ai os deuses poderiam “enxergar” novamente e vim fazer a batalha deles.

_Mas eu sei onde está – Lilian disse simplesmente.

Fez-se um segundo de silêncio, a espectativa fazendo todos os corações baterem no mesmo ritmo.

_Onde? – perguntei ansiosa.

_Venham.

Lilian começou a andar sem esperar ninguém, olhei para os outros e Nico foi o primeiro a segui-la. Fui logo depois com a esperança gritando dentro de mim, se destruíssemos o Olho Que Tudo Esconde daria certo, haveria uma chance. Eramos semideuses poderosos, isso nenhum deus poderia desmentir, mas Fenrir e o Gigante eram ainda mais, eram monstros que até os Deuses teriam dificuldade em lidar.

Fomos para uma parte aberta da caverna, havia um buraco grande no teto que mostrava uma parte do céu. Havia agora muitas nuvens pesadas no céu, porém dava para ver o céu escuro sem estrelas e a lua. Lilian apontou para o céu e explicou.

_Ali, o Olho esta na lua. Temos de destruí-la.

_O que?! – disse Percy surpreso.

_Destruir a lua? Ela é louca? – Thalia parecia um tanto ofendida. Artêmis era a deusa da lua.

_Desde que eu cheguei aqui tudo relativamente muda, em sua forma natural. Mas a lua não, ela não mudou as fazes ou saiu daquela posição. É o ponto mais alto e mais próximo do outro mundo. Tenho certeza que é a lua – Lilian terminou de explicar.

Olhei para a lua incrédula, nunca na vida de qualquer ser vivo se pensa em destruir a lua. É algo impossível certo? Tirei o meu elmo finalmente notando que ainda estava com ele e pude ver melhor o céu. Destruir a lua, repeti na minha mente ainda perplexa.

_Como faríamos isso? – Annabeth perguntou.

_Há uma montanha, é a mais alta de toda Niflheim – contou Lilian – Em seu ponto mais alto talvez poderíamos lançar algo contra a lua e destruí-la.

_Isso é impossível! – Thalia parecia ficar irritada.

_Perdoe ela – Ryan disse em deboche – ela é uma adoradora da lua, literalmente.

Thalia lançou um olhar mortal para Ryan que lhe deu as costas para se aproximar de Tyler. Os dois pareciam ter se lembrado que haviam brigado e esquecido que momentos atrás estavam fazendo de tudo para que o outro estivesse protegido. Suspirei exasperada com aquela situação. Tinha de manter o foco.

_Estamos acabados – falei – Precisamos descansar por um tempo e bolar um plano. Mesmo que seja impossível destruir a lua temos de descobrir um jeito de parar o Gigante e salvar a raiz da Yggdrasil.

_Isso depois de passar por aqueles elfos malditos e Fenrir – disse Nico preocupado, logo depois encarando Sirius – Perdão amigo, não quis ofendê-lo.

_Não me ofende, eles são uns monstros! – Sirius exclamou enraivecido e depois respirou fundo – Vamos, precisamos de um tempo para a segunda batalha.

Lilian nos guiou novamente para onde ela guardava comida e alguns agasalhos. Estávamos salvos dessa vez, mas nossos problemas pareciam aumentar cada vez mais. Teríamos de destruir a lua afinal de contas.