Acordei novamente coberta de suor e respirando ofegante. Eu não saberia dizer se era por causa do calor ou por causa do sonho. As montanhas e os olhos de rubi voltaram a me atormentar e eu simplesmente estava sufocando por não saber o que significavam. O dia ainda estava nascendo, Rosalyn dormindo na cama ao lado, resolvi levantar e começar a me arrumar.

Demorei uma hora no banheiro, quando sai estava usando a camiseta laranja do acampamento e uma calça jeans da dolce gabana. Ajeitei meus cabelos encaracolados deixando-os soltos e usei tênis. O clima do acampamento era perfeito para os olimpianos, mas eu nunca deixei de sentir calor. Resmunguei quase indo trocar de roupa, mas Rosalyn que já havia acordado e se arrumado em meia hora me puxou para fora da Casa Grande.

_Vamos, você prometeu que iríamos cavalgar nos pegasus – disse Rose enquanto me puxava pelo acampamento.

_Ah quando foi que eu falei isso? – perguntei em duvida – Ah vamos, prefiro fazer outra coisa.

_Praticar arco com o Eric Donovan? – Rosalyn virou-se e me encarou fazendo beicinho – Você esta dando mais atenção a ele!

Se eu não soubesse me controlar teria corado naquele momento, e quando eu fico vermelha é equivalente ao tom do meus cachos.

_Claro que não! – neguei rapidamente – Vamos logo para os seus pegasus.

Ela sorriu vitoriosa e eu simplesmente ignorei. Fomos então para os estábulos onde algumas ninfas e campistas estavam. Sorri para alguns amigos e para as ninfas, elas não gostavam muito de mim, então se afastaram educadamente. Ninfas eram elementos puramente olimpianos, sentiam-se desconfortáveis na frente de outros de panteão diferente.

_Nick, Rose! – Percy apareceu sorrindo, ao seu lado estava Annabeth também de bom-humor.

_Oi Percy – cumprimentei junto com Roselyn – Oi Annabeth.

Vi um pegasus aproximar-se de Percy mais animado do que os outros. Percy o encarou e riu de alguma coisa.

_Poseidon criou os cavalos – explicou Annabeth ao olhar confuso meu e de Rose – Percy conversa entre eles.

_Se eu não gostasse de você diria que seria uma conversa entre espécies, Percy – brinquei sorrindo travessa – Mas como você foi o meu primeiro amigo aqui, vou reconsiderar.

_Não achei graça – Percy reclamou quando Annabeth se pôs a rir.

_Ah eu quero montar, eu nunca pude andar em Cavalos Alados, minha mãe morre de medo de cavalos – Roselyn contou – Não vou me cansar de vim aqui.

_Blackjack disse que gosta da sua presença e do cheiro da de cabelos vermelhos – Percy comentou e olhou rápido para Annabeth – Palavras dele, não minhas!

Annabeth ergueu uma sobrancelha e nós rimos. Logo depois Rosalyn estava montada sobre um pegasus voando ao lado de Percy enquanto eu ficava conversando com Alice e Annabeth sobre assuntos triviais. Estava distraída comentando com elas como o clima frio pode ser mil vezes mais agradável do que o calor quando o meu dia ficou péssimo.

Tudo começou quando uma filha de Ares passou por trás de mim e me empurrou do nada. As vezes eu pensava que os filhos de Ares não tinham senso de perigo por se meterem em confusão atrás da outra. Eu estava caída no chão, segurando a minha raiva o máximo possível enquanto a garota e mais dois irmãos estavam gargalhando.

_A princesinha coração gelado caiu – ela provocou – Ops!

_Sandra, vá embora, não queremos confusão – Annabeth pediu enquanto Alice me ajudava a levantar.

_Mas o que tem de graça nesse acampamento sem confusão? – riu um dos irmãos de Sandra.

Certo, eles eram tolos e eu não devia brigar... Até que eu olhei minha mão e fiquei pálida. Não aquilo não podia estar acontecendo! No meu dedo indicador a minha unha estava quebrada, foi então que eu explodi.

_Seus idiotas, estúpidos sem nem um neurônio que preste! – disse irada, minha voz elevada por causa da raiva – A minha unha quebrou!

_Tadinha, talvez uma dondoca de Afrodite te ajude a se embelezar e ficar pronta para ficar abanando o rabinho pro Eric – Sandra provocou.

Eu a fitei chocada. Eu nem ao menos falava com ela! Posso ser boazinha quando eu quero, mas Sandra não merecia nem um pingo de bondade. Naquele momento foi como se meu lado guerreiro fosse ativado, nada iria me parar. Dei um passo para frente e sorri friamente.

_Se quer tanto um desafio, que tal uma luta? – perguntei em desafio – Pode até jogar sujo, o que parece estar na sua alma não é?

_Sua patricinha metida eu vou mostrar o que é uma mulher guerreira! – Sandra disse ficando vermelha.

_Ah pensei que esse posto só pertencia a Clarisse e que o resto fosse apenas sua mera sombra – provoquei ainda mais.

_O que está acontecendo? – Rosalyn perguntou.

Percy e Rosalyn haviam acabado de pousar. Olhei para Rosalyn e ela deu um passo para trás, ela reconhecia o meu olhar e parecia ter ficado pálida.

_Eu vou lutar contra o chalé de Ares, na arena, agora – expliquei sem emoção na voz, não era mais a filha da deusa do amor, e sim a filha da deusa das Valkyries.

_Não! Você está brava e... – Rosalyn tentou.

_O desafio já foi aceito! – gritou Sandra – Ou os nórdicos sempre amarelam? Que nem o ano passado dando uma desculpa qualquer pra fugir da briga!

Rosalyn ficou quieta e encarou Sandra ofendida. Ótimo, ninguém mais iria me parar. Sem olhar para trás eu segui para a arena de luta. Escutei Sandra fazendo agitação enquanto gritava para todos os cantos enquanto ia para a arena também:

_Eu vou quebrar a cara da princesa de gelo até virar cubos para que eu possa gelar usar na minha bebida no jantar de hoje!

Sorri por ironia, sabia muito bem qual o resultado. Ninguém ali me vira lutar, então eu tinha todas as vantagens sobre mim. Antes de entrar na arena, porém, minha passagem foi bloqueada por Clarisse. Ela me olhava de cima a baixo totalmente séria.

_Sandra esqueça esse desafio – Clarisse disse olhando depois de mim – Essa garota é uma cobra. Esconde suas presas, eu sinto isso.

_Ah essas sombras de hoje em dia... – comentei.

_Não! Eu aceitei o desafio! – exclamou Sandra passando irada por nós duas.

_Eu estava de olho em você esse tempo todo palito de fósforo – Clarisse disse por entre os dentes – Tem algo em você que me faz sentir arrepios, e eu só senti isso quando duelava com uma dracaene. Sabe como é? Metade mulher e metade cobra.

Devo aplaudir Clarisse por um motivo, ela estava completamente certa ao me temer. Eu apenas sorri de canto e segui meu caminho batendo meu ombro no dela ao passar. Já havia uma multidão feita e Sandra recebia os incentivos dos seus irmãos com gritos que não eram quase humanos.

Fui para o meio da arena, estávamos usando a parte que tinha areia escura. A multidão crescia mais e mais enquanto os chalés se reunião mais curiosos para saber o que eu ia fazer do que para quem ia ganhar. Olhei para os lados e vi Ryan se aproximar com duas espadas e Travis Stoll com dois escudos.

_Eu apostei em você Sandra! – disse Travis – Nada contra você Nick, mas ela é filha de Ares...

_Tudo bem – respondi pegando apenas a espada de Ryan.

_Não te vejo lutar desde a guerra – Ryan murmurou – Pegue leve, eles não sabem ainda.

_Eles ainda estão nos comparando Ryan, só estou respondendo, também somos orgulhosos – expliquei séria.

Ryan respirou fundo e se afastou com um sorriso enquanto gritava pra multidão:

_Aposto 50 moedas de ouro na Nick!

Os filhos de Hermes logo se interessaram. Eu estava girando a espada e quando eu a apoiei no chão tive a minha idéia brilhante.

_Vamos acabar logo com isso! – Sandra disse.

Ela veio atacando direto com a espada, desviei para a esquerda e pela direita. Não havia expressão em meu rosto e logo o sorriso convencido de Sandra sumiu quando não conseguia me acertar com suas investidas. Enquanto eu desviava as vezes eu deixava a espada se arrastar no chão, outras me defendia lâmina contra lâmina.

_A princesinha está fugindo! – algum garoto gritou.

_Está com medo? – riu Sandra.

Foi então que eu dei o meu sorriso de canto e com deboche, aquilo foi apenas para irritar Sandra e deu certo. Ela avançou. Mas eu era realmente rápida, cravei a espada no chão, apoiei minha mão no cabo da espada e em um time perfeito usei minha mão como base e fiz o movimento de estrela atingindo o rosto de Sandra em cheio com meus pés, Sandra cambaleou para o lado desnorteada. Quando pousei no chão bastou apenas dois segundos para eu agachar e dar uma rasteira certeira a derrubando no chão com facilidade.

_O gosto da areia é bom? – perguntei calma.

Sandra cuspiu e levantou rapidamente, dessa vez ela veio com golpes mais sérios, atacando freneticamente e eu tive serias dificuldades para desviar. Ganhei um rasgo na camisa e um arranhão no braço, ilesa eu tinha certeza que não sairia, estava duelando com a filha de Ares e apesar de tudo a respeitava por ter essa posição. Só que eu também era filha de uma deusa da guerra, porém com mais classe.

Voltei a arrastar a espada no chão enquanto desviava da lâmina furiosa de Sandra. As provocações aumentavam e eu escutei coisas do tipo ser delicada demais, que deveria estar pintando a unha ou então que deveria me render. Olhei para baixo e sorri rapidamente, estava completo.

_Sandra, pensa rápido – disse.

Joguei a minha espada para ela e corri em sua direção. Sem saber o que fazer Sandra pegou a espada, mas eu comecei a dar golpes de chutes em suas costelas até ela cair. Afastei-me e lancei o meu olhar mais sombrio. Ela tava perdida naquele instante, mas eu não iria relaxar até vê-la derrotada.

_Sua nórdica gorila! – gritou Sandra.

Foi então que eu comecei a entoar o feitiço falando rapidamente na língua antiga.

_É magia! – gritou uma filha de Hécate – Por Zeus, ela fez um circo mágico gigante!

Antes que Sandra tivesse reação perante aquilo a magia começou a fazer efeito. Uma luz começou a brotar do chão, era de um vermelho intenso e formou primeiro um circulo depois um hexágono. Sandra estava bem no centro agora me olhando apavorada. Estiquei a mão e dei um sorriso vingativo antes de fechar em punho. Os grãos de areia começaram a se levantar e a rodar minha inimiga como se fosse um tornado até se fixar ao redor de seu corpo como uma rocha firme. Sandra estava totalmente coberta por uma areia mágica com apenas a cabeça do lado de fora.

_Você vai pagar por isso! – gritou um irmão de Sandra.

_Não entre no circulo! – gritou a mesma filha de Hécate de antes – Vai cair na magia também!

Sorri, garota esperta. Olhei ao redor e vi todos me encarando surpresos, menos Annabeth que correu para frente dos outros. Ela me encarava entre encantada e temorosa.

_Agora tudo faz sentido! – Annabeth exclamou – Você só pode ser filha dela, Percy me disse que quando você chegou você cantou e a quimera ficou mais lenta. Você é vaidosa, mas também acabou de lutar como uma excelente guerreira e usou magia. Você é filha de Freya! A matriarca dos Vanir!

O espanto agora sim foi geral. Respirei fundo finalmente me acalmando. Com um aceno de mão a areia que prendia Sandra se desfez e ela correu para o lado de seus irmãos ofegante. Voltei a encarar todos ao meu redor e mordi o lábio pensando no que fazer.

_Sim, minha mãe é Freya – confirmei – Ela é filha de Skadi, deusa do inverno e da caça, com o deus Njord, o deus dos mares. Não, Tyler não é meu tio... seria muito esquisito. E sim, eu tenho a maioria dos poderes de minha mãe, mas principalmente a habilidade de guerra e de magia.

Eu falava já respondendo as futuras perguntas. Sempre eram as mesmas quando eu me pronunciava. Dei de ombros e me aproximei de Alice.

_Você me empresta seu alicate de unhas? – pedi tentando fingir que nada aconteceu.

_Você é a filha da beleza nórdica! – ela exclamou dando um passo para trás.

A fitei surpresa, eu não esperava isso. Vi a competição crescendo nos olhos que horas atrás me olhavam como uma amiga. Nossas mães eram rivais por ocuparem a mesma posição no panteão. Tentei pensar que Alice agora se sentia intimidada, se comparava comigo e queria ser melhor, mas nada disso parecia me convencer, porque nós éramos amigas. Eu não sou minha mãe, não precisávamos ser inimigas só por causa do parentesco. Não era assim que Alice aprecia pensar no momento.

_Parece que ela se aproximou de você apenas para te humilhar por debaixo do pano – disse uma filha de Éris, a deusa da discórdia – Quem sabe ela...

_Ah cale a boca! – eu exclamei exasperada sem acreditar no que estava acontecendo, fitei Alice bem nos olhos sem desviar – Sim, minha mãe também é a deusa da beleza, nem por isso eu fui diferente com você ou com qualquer outro. Nem por isso eu deixei de ser menos amiga ou coisa do tipo. Sabe porque? Eu não sou minha mãe! E nenhum de vocês tem de ser copias idênticas de seus pais, se querem problema de vocês.

Eu saí da arena realmente revoltada, sabia que meu rosto estava vermelho por causa da agitação e eu estava pouco me importando para o que estava acontecendo lá. Eu havia deixado a bomba e fugido do estouro, mas por dentro eu já estava explodindo. Fui para o Chalé dos Visitantes que agora estava quase acabado e chutei forte uma pedra, depois comecei a gemer baixo pois a pedra era mais dura do que eu pensei. Como a cabeça de alguns olimpianos!

_Nick! – Eric exclamou enquanto se aproximava rapidamente – Tudo bem?

_Claro que estou bem – disse sarcástica – Estou ótima!

Tyler e Ryan apareceram junto com Rosalyn, atrás deles vinham Percy e Annabeth com mais alguns. Reconheci Ronald do chalé de Hefesto e os irmãos Stoll além da garota de Hécate esperta.

_Pega leve Nick – aconselhou Tyler pensativo – As filhas de Afrodite só ficaram em choque.

_Pega leve vocês! – eu estava irada e nada parecia me acalmar, então eu explodi – Fui obrigada a estar aqui, viver em um lugar QUENTE e com costumes diferentes, tive de engoli muito em prol de uma coisa que não vale a pena!

_Claro que vale apena! – gritou Eric.

Ele segurou meus ombros e literalmente me sacudiu, eu tive vontade de socá-lo e ia fazê-lo quando o encarei os olhos dourados. Eu não sei explicar de forma nenhuma o que acontecia quando eu o fitava, mas novamente eu estava pressa naquele ouro puro. Eric estava sério, preocupado ou até mesmo desesperado para que eu entendesse.

_Estava dando certo até agora, vai continuar dando. Você tem outros amigos, tem a mim, o Percy, a Annabeth, o Ronald e tantos outros! – Eric argumentou.

_A própria família briga as vezes, não é? – Annabeth completou – Nunca vai ser perfeita essa cooperação, mas não vai deixar de existir a união.

Eu os encarei e suspirei. Aos poucos eu fui me acalmando novamente e do nada senti lágrimas nos olhos. Talvez fosse porque eles estavam ali, para me apoiar mesmo depois de descobrir que minha mãe era a poderosa chefona, eles não tinham medo de mim ou pareciam me tratar diferente, apenas me aceitava como se nada tivesse acontecido. Isso se me acalmou.

_Ei, vocês estão me devendo grana, Nick ganhou a luta – Ryan disse para os irmãos Stoll.

_Ah cara! – eles exclamaram ao mesmo tempo.

Foi inevitável não rir. Aquele dia foi bem cheio, duvidava que as coisas voltassem a ser coloridas como antes, mas pelo menos tudo estava pintado em cores mais reais. Não havia mais dúvidas de quem somos ou do que podemos fazer.