Pride and Passion escrita por oicarool


Capítulo 16
Capítulo 16




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Elisabeta estava na varanda de casa na tarde seguinte. O vento leve aliviava o abafado do dia, mas a moça sentia-se inquieta. Não sabia exatamente dizer porque, se fora a visita de Darcy na noite anterior, o medo de que Jane os descobrisse, o receio de que alguém da família tivesse notado qualquer barulho. Apenas sentia uma ponta de angústia que insistia em permanecer em seu peito.

Seu quarto estava pequeno demais para ela, repleto de lembranças que não ajudavam em sua ansiedade, e por isso tentava, em vão, continuar seus escritos. Perdera as contas de quantas vezes entrara e saíra de casa, incapaz de concentrar-se em uma tarefa que considerava tão simples.

Também se distraia facilmente ao lembrar da noite anterior. Seu corpo ainda estava dolorido, sensível, e precisava prender a respiração ao lembrar da intensidade do que que compartilharam. Parecia cada vez mais intenso, como se a cada vez que seus corpos se tornassem um só fosse ainda mais especial.

E a forma como ele se despedira... Com os olhos nos dela, em um olhar que ela esperava que dissesse tantas coisas. Um olhar que havia feito o mundo dela parar na penumbra de seu quarto, seguido por um beijo que tinha o gosto deles, a calma de dois corpos satisfeitos, mas que abrigavam duas almas com anseios.

Sentia-se entregue à Darcy, e aquele pensamento a assustava. A assustava tanto que começava a cogitar permanecer no Vale do Café, cortar tudo o que tinham, não vê-lo mais. Porque era cada vez mais intolerável a ideia de que Darcy direcionasse a ela qualquer pensamento de desconfiança, que duvidasse de quem ela era.

Mas via-se pensando em coisas que nunca foram parte de seus pensamentos. De repente imaginava uma vida com aquele homem. Uma relação de verdade, ao invés de momentos escondidos. Imaginava como seria ser amada por ele em todos os campos de sua vida, e não apenas fisicamente.

Questionava se Darcy não fora o motivo principal de Lorde Williamson entrar em sua vida. Se, de alguma forma, não fosse parte de seu destino encontrar o inglês desconfiado, turrão, que a irritava e enlouquecia, que a fascinava e fazia arder. Cogitava Darcy ser parte do destino que nunca pensou que teria.

Os gritos ao longe a despertaram de seus devaneios, e a medida que se aproximavam se tornavam mais desesperados. Uma carroça vinha à toda velocidade, seguida por duas pessoas em cavalos. Elisabeta assustou-se com o desespero daquelas pessoas, e não demorou para que Ofélia e suas irmãs também saíssem de casa.

— Dona Ofélia! – ouviram a voz do Coronel Brandão. – Dona Ofélia!

— Ara, o que foi Coronel? – Ofélia também gritou.

— É seu Felisberto, Dona Ofélia!

Elisabeta sentiu seu mundo parar. Foi como se estivesse presa em uma nuvem, e mal conseguiu ouvir as explicações apressadas do Coronel. Seu pai estava caído, ferido, não acordara desde então. Luccino e Capitão Otávio tiraram Felisberto desacordado da carroça, levando-o para dentro, sob o olhar atento de Mariana.

Ofélia já ameaçava desmaiar, sendo amparada por uma ansiosa Lídia. Jane continha as lágrimas que começavam a cair, e Cecília encarava o Coronel como se esperasse que ele dissesse que era uma mentira. Foi perceber o caos que se formava que fez com que Elisabeta rompesse aquela bolha onde se encontrava.

— Um médico! Precisamos de um médico! – disse, de forma prática, sua voz falhando.

— Randolfo já foi buscar Rômulo. Eu sinto muito. – Brandão respondeu, sério.

E a partir dai tudo voltou a andar em câmera lenta. Elisabeta correu para o quarto dos pais, onde seu pai já estava deitado. Um ferimento grande em sua cabeça, enquanto Mariana tentava chama-lo, em vão. Aos poucos todas as Benedito se reuniram em volta de Felisberto.

Rômulo demorou a chegar, ou ao menos pareceu demorar, e então solicitou que todos se retirassem, pediu calma a cada uma das filhas de Felisberto. Garantiu que o examinaria, que faria o possível para que ficasse bem. Ao voltar para a sala, Elisabeta encontrou Ofélia e as irmãs em prantos.

Nunca pensara em perder o pai. Felisberto era o herói de Elisabeta. A ensinara quase tudo o que sabia. A ser crítica, honesta, verdadeira. A ser quem queria ser, a ensinou que cabia aos outros aceitarem sua essência, e não à ela mudar. E mais do que qualquer coisa, doeu em Elisabeta deixa-lo no Vale do Café para seguir seus sonhos.

Mas era como se seu pai sempre fosse estar por perto. Nunca o vira doente, frágil, debilitado. E o medo tomava conta de seu corpo, seu coração gelado. Não queria perde-lo. Não podia. Tinham muitas conversas pendentes. Precisava da opinião de Felisberto em tantas coisas.

Sabia, porém, que na ausência de Felisberto cabia a ela ser a força. E por isso engoliu seu medo. Apoiou a mãe e a irmã quando Rômulo trouxe as notícias. Nenhuma lesão grave no corpo, mas havia batido a cabeça. Não havia como prever a recuperação. Ele poderia nunca mais acordar.

Sentia as lágrimas queimarem em seus olhos, mas não as deixou cair. Foi fortaleza quando, uma a uma, suas irmãs buscaram seu colo, sua palavra de consolo. E deu a todas uma certeza que não tinha. Afirmou que tudo ficaria bem, que Felisberto era um homem forte, que logo estaria novo, mesmo sem saber se aquilo aconteceria.

No decorrer das horas a casa dos Benedito ficou lotada de pessoas, que iam e vinham. Amigos, conhecidos, parceiros de negócios. Todos queriam notícias de Felisberto, todos queriam dar um abraço em Ofélia e em suas filhas. Mas Elisabeta não saiu do lado do pai. Cada vez mais aflita ao não ver nenhuma reação, esperando qualquer sinal de que ele fosse despertar.

Esteve a ponto de desmoronar quando a mão pesada de Archiebald Williamson tocou seu ombro. E teria deixado as lágrimas caírem e o desespero tomar conta se o Lorde fosse um homem de muitas palavras. Mas ele permaneceu ali, por alguns minutos, numa presença tranquila e silenciosa, até despedir-se com um beijo na testa de Elisabeta.

E mais horas se passaram. O sol deu lugar à lua, em uma noite sem estrelas. Com o chegar da noite eram poucas as visitas remanescentes. Elisabeta ouvia ainda a voz de Charlotte, de Brandão, Edmundo e Rômulo, junto de suas irmãs. Todos preferiam permanecer na sala, exceto Elisabeta.

Então Rômulo pediu novamente licença para examinar Felisberto, e Elisabeta percebeu subitamente seu cansaço. Estava há horas na mesma posição, segurando a mão do pai, sem comer ou desviar o olhar. Seu pescoço doía, e a angústia tomava conta. Sentou-se no braço do sofá, completamente alheia ao ambiente à sua volta.

Estava com medo. Sabia que as primeiras horas eram importantes, e Felisberto não parecia reagir. Começava a questionar se estavam fazendo o certo, se o melhor não seria leva-lo para Campinas. Respirou fundo algumas vezes, tentando pensar melhor, tentando aliviar aquele aperto.

E por isso não registrou a chegada de mais um Williamson. Não viu o olhar angustiado de Darcy, que saíra as pressas da Fazenda tão logo ouvira a notícia, culpando-se por não estar com ela, por não estar ali.

— Elisa... – ele soltou o ar, e foi como se Elisabeta despertasse do transe ao ouvi-lo.

Foi um impulso. Levantou-se rapidamente e antes que pudesse registrar estava nos braços dele. Darcy a apertou forte contra seu peito, as mãos dela passando por sua cintura, o rosto se escondendo ali. E uma lágrima veio após a outra, em um soluço que havia sido contido durante todas aquelas horas.

Darcy não sabia o que fazer, mas uma das mãos acariciava as costas de Elisabeta, a outra seus cabelos. Manteve-se firme, tentando estabilizá-la enquanto o corpo dela tremia. Sem perceber fechou os olhos, os lábios beijando o topo da cabeça de Elisabeta. E pela primeira vez no dia ela sentiu-se segura.

— Vai ficar tudo bem. Ei, vai ficar tudo bem. – ele sussurrou, alheio aos olhares curiosos.

— Ele não acordou ainda. – ela confessou, sem soltá-lo.

— Ele vai acordar. Seu pai é forte. Calma, por favor.

Darcy a afastou um pouco, apenas o suficiente para que pudesse ver seus olhos. Os olhos verdes brilhantes com as lágrimas que caíram. Segurou seu rosto, usando os polegares para tentar secar um pouco das gotas. E então acariciou seus olhos, as bochechas.

— Confie em mim. Vai ficar tudo bem, eu to aqui com você.

Dizendo isso, Darcy a puxou para um beijo demorado na testa. Em um momento tão deles, falhou aos dois a percepção de que toda a interação estava sendo observada. Era surpreendente para Charlotte e as irmãs Benedito, que apesar das desconfianças, não poderiam imaginar uma cena daquelas. Mas o choque maior estava em Ofélia, que tentava balbuciar qualquer coisa, sendo impedida por Mariana antes que pudesse completar seu raciocínio.

Aos poucos Elisabeta acalmou-se, pelo menos o suficiente para ouvir com clareza as informações de Rômulo. Felisberto estava reagindo, mas de forma mais lenta do que ele esperava. Era melhor que todos fossem descansar, ele voltaria em algumas horas para reavaliar o patriarca dos Benedito.

— Mamãe pode dormir em minha cama. – Elisabeta disse, decidida. – Eu ficarei com meu pai.

— Elisabeta, isso não é necessário. – Mariana protestou. – Podemos revezar.

— Não é uma discussão. – secou a última lágrima que insistiu em cair. – Vocês precisam descansar. Eu não vou conseguir dormir.

— Eu vou ficar com você. – Darcy disse, em voz baixa. – Assim podemos revezar e Elisabeta pode dormir um pouco.

Sob protestos aos poucos todas as Benedito entraram em acordo. Ofélia estava exausta e confiava nos cuidados de Elisabeta. Mariana aceitou vigiar a mãe e as irmãs enquanto a irmã mais velha ficava ao lado do pai. Rômulo e Edmundo se despediram, e Charlotte foi levada para casa pelo Coronel Brandão.

A casa começou a ficar silenciosa, e Elisabeta e Darcy se dirigiram ao quarto de Felisberto. Darcy sentou-se em uma cadeira no canto do quarto, observando Elisabeta voltar à sua vigília, segurando a mão do pai, esperando qualquer sinal de que ele despertaria em breve.

Algum tempo se passou até que Darcy se aproximasse. Elisabeta já estava com os olhos fechados, quase cochilando, quando sentiu as mãos dele em seus ombros. Darcy não disse nada, apenas iniciou uma massagem precisa, aliviando um pouco da tensão de se manter na mesma posição, da preocupação do dia.

Ele continuou aqueles movimentos por algum tempo, mas logo parou em frente à Elisabeta e a puxou novamente para um abraço. As lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela antes mesmo que os braços de Darcy se fechassem em torno dela. Foi um choro contido, silencioso.

Darcy então sentou-se no lugar que Elisabeta ocupava minutos antes. Elisabeta sentou-se em seu colo, seus braços em torno do pescoço de Darcy, sua testa na dele. Darcy acariciava seu rosto, enquanto a outra mão a mantinha perto dele, protegida por ele.

— Você acha que ele realmente vai acordar? – ela perguntou, insegura.

— Eu tenho certeza. – Darcy respondeu num sussurro parecido com o dela.

— Você não tem como ter certeza. – Elisabeta reclamou.

— Eu tenho certeza. – ele sorriu, reafirmando.

— Eu estou com tanto medo de perder meu pai, Darcy. – suspirou.

— Você não vai perde-lo, não diga isso. – Darcy a puxou contra si. – E de qualquer forma, você não está sozinha.

— Eu sei que tenho minhas irmãs e minha mãe, mas é diferente. Meu pai sempre foi o meu melhor amigo, sempre acreditou e encorajou meus sonhos.

— E ele continuará fazendo tudo isso. Seu Felisberto sabe que tem muitas coisas pra viver ainda. – Darcy fez com que Elisabeta o encarasse. – E eu não estava falando sobre suas irmãs ou sua mãe.

— Não?

Ela prendeu a respiração, os olhos grudados aos dele.

— Você tem a mim. – Darcy disse, sério.

Elisabeta não pode responder de outra forma que não fosse juntando os lábios nos dele em um beijo rápido, porém repleto de significado. E não demorou mais do que alguns minutos depois disso para ouvirem o agitar dos lençóis da cama, e um gemido de dor vindo de Felisberto.

Tão logo o pai adormeceu novamente, Elisabeta voltou ao colo de Darcy, e ali permaneceu até o amanhecer, quando a agitação dos Benedito voltou a tomar conta. Felisberto sorriu ao ver a família reunida, e se sua mente não estivesse pregando peças, poderia apostar que em breve teria seu primeiro genro.


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Notas finais do capítulo

Créditos da ideia à minha colaboradora oficial, Mi ♥



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