Pride and Passion escrita por oicarool


Capítulo 14
Capítulo 14




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A chegada ao Vale do Café foi tranquila, ao entardecer do dia seguinte. Mas, se Darcy houvesse cogitado a possibilidade de que Elisabeta ficaria hospedada na casa dos Benedito, e não na Fazenda dos Williamson, teria aproveitado a noite anterior, ao invés de recolher-se cedo, para descansar para a viagem.

Agora a via caminhar apressada, atravessando a pequena ponte da humilde casa dos Benedito, com um sorriso no rosto, segundos antes de tocar com força um pequeno sino na entrada da casa. Os Williamson ainda estavam ali quando, uma a uma, as irmãs de Elisabeta saíram pela porta, seguidas por seus pais.

Darcy não controlou o sorriso ao vê-la ser abraçada por todas aquelas pessoas, com uma expressão leve no rosto. Ao longe Ofélia Benedito acenou para Lorde Williamson, o convidando para entrar e tomar um café. Educadamente, em um tom de voz muito mais baixo, Archiebald negou o convite, alegando estar cansado.

Elisabeta acenou uma última vez para os Williamson naquele dia, com a promessa de um jantar na Fazenda no dia seguinte. Seu olhar cruzou com o de Darcy e os dois engoliram em seco, finalmente realizando que viveriam alguns dias de separação, onde nenhum momento roubado aconteceria.

— Aquele é o filho do Lorde? – Cecília perguntou, interessada.

— Você nunca mencionou que era um homem tão bonito, Elisa. – Jane completou.

— Ou tão interessante. – Mariana suspirou.

— Aposto que eu poderia me casar com ele. – Lídia disse com um sorriso convencido.

— Meninas! – Felisberto ralhou.

— Imagine uma de minhas filhas casada com o filho do Lorde Williamson. – Ofélia gabou-se.

— Era só o que me faltava. – Elisabeta revirou os olhos. – Deixem de bobagens e vamos logo entrar, eu estou morrendo de saudade de casa!

Os sete Benedito entraram em casa, todos falando ao mesmo tempo. Passaram uma noite divertida, com Elisabeta contando à todos sobre sua vida em São Paulo e sendo atualizada sobre a vida de todos no Vale do Café.

Adormeceu sorrindo naquela noite, no quarto que dividia com Jane, feliz por estar de volta naquele lugar tão encantador, que trazia à ela tanta inspiração e memórias. Na Fazenda dos Williamson, Darcy revirava-se na cama. Estranhava o silêncio e, se fosse sincero, já sentia a falta de Elisabeta.

##

Mas a tarde seguinte chegou mais rápido do que todos imaginavam, e a medida que o sol começava a abandonar o céu, cada uma das cinco filhas de Ofélia e Felisberto ficava pronta para o jantar dos Williamson. O assunto principal das irmãs de Elisabeta era o filho do Lorde, e a mais velha compartilhava da ansiedade das mais novas, ainda que por motivos diferentes.

Quando finalmente chegaram à Fazenda, foram recebidos por um sorridente Lorde Williamson, uma apreensiva Charlotte, e um charmoso Darcy. As apresentações formais foram feitas, e cada uma das irmãs de Elisabeta suspirou ao receber segundos da atenção de Darcy.

Elisabeta revirou os olhos quando, após beijar as mãos de suas quatro irmãs, Darcy parou em frente à ela. A contragosto e revirando discretamente os olhos, Elisabeta ofereceu sua mão, arrependendo-se no segundo em que a pele dele encontrou a dela. O beijo de Darcy em sua mão foi tão discreto e formal quanto nas de suas irmãs, mas aquele impulso entre eles se fez presente, fazendo os dois prenderem a respiração.

No decorrer da noite suas irmãs se revezavam para obter a atenção de Darcy, e o que no início divertia Elisabeta, aos poucos passou a incomodá-la. Ofélia também fazia um revezamento de qualidades de cada uma das irmãs, e mesmo que irracional e ilógico, Elisabeta viu-se contendo a irritação.

Darcy fazia o possível para ser educado. Era óbvio para ele e Charlotte que era detentor da atenção das Benedito, e enquanto a irmã se divertia, Darcy tentava ao máximo dividir suas atenções entre as quatro. Por isso falhou à ele a percepção do incomodo da Benedito que vencera aquela batalha antes que começasse.

Elisabeta estava ao lado do Lorde Williamson, e os dois contavam aos pais dela sobre o jornal e sobre São Paulo. Felisberto e Ofélia nunca cansariam de agradecer ao Lorde a oportunidade dada para Elisabeta, mas, de canto de olho, a atenção da moça estava em Darcy e a conversa de suas irmãs.

Quando o jantar foi servido, a conversa se tornou mais generalizada, e não demorou para que a vida amorosa de Darcy Williamson se tornasse uma pauta.

— Um homem garboso, de tantas qualidades, deve estar a procura de uma noiva. – Ofélia comentou, indiscretamente.

— Mamãe! – Elisabeta ralhou.

— Ora, Elisabeta! O casamento é natural! Me diga, senhor Darcy.

— Dona Ofélia. – Darcy sorriu, charmoso. – O casamento não é parte dos meus planos no momento.

— Ara, parece Elisabeta falando. Lorde Williamson, achei que o senhor poderia dar um jeito na cabeça da minha filha, mas pelo visto não consegue dar um jeito nem no seu filho. – Ofélia riu, divertindo à todos, exceto Elisabeta.

— Por falar nisso, Elisabeta... – Mariana sorriu. – Edmundo ficou muito animado de saber sobre sua visita.

— É verdade. – Cecília também sorriu. – Ficou de passar lá em casa qualquer dia desses.

— Edmundo? – Charlotte perguntou interessada, enquanto Darcy fechava a expressão.

— Não ligue para elas, Charlotte. – Elisabeta riu. – Edmundo é um amigo de infância.

— Ele e Elisabeta estavam namorando quando ela saiu do Vale. – Lídia disse, indiscretamente.

— Lídia! – Elisabeta ralhou. – Não é verdade. Sempre fomos bons amigos.

— É importante ter amigos. – Darcy disse, irônico.

— Edmundo não quer ser só seu amigo. – Lídia deu de ombros.

— Já estou curiosa para conhece-lo. – Charlotte lançou um olhar divertido ao irmão.

O assunto se desdobrou para outros moradores do Vale do Café rapidamente, mas a tensão entre Elisabeta e Darcy estava instalada. Sustentaram o olhar um do outro por alguns segundos, mas antes que alguém mais pudesse perceber, voltaram à participar da conversa.

Depois disso as alfinetadas discretas passaram a fazer parte das interações entre eles. Era sutil para todos, exceto para o olhar atento de Charlotte, e em algum momento do jantar, a troca chamou a atenção de Cecília. Eram comentários quase imperceptíveis, discordâncias bobas, mas cada mínimo detalhe aumentava aquela tensão que compartilhavam.

Após a sobremesa, foram todos convidados para a sala, onde um café seria servido. Ofélia, Felisberto e Archiebald se engajaram em uma conversa, que logo virou um carteado, enquanto os mais novos interagiam na sala ao lado. Como era de costume, as irmãs Benedito reunidas ocupavam a maior parte da conversa, para o divertimento de Charlotte, que quase se sentia uma delas.

Darcy, sendo o único homem, e já com o humor comprometido pelo pensamento de Elisabeta e seu amigo Edmundo, sentou-se um pouco separado do grupo, com um copo de uísque na mão. Cecília permanecia intrigada e observava atentamente os olhares que Elisabeta e Darcy direcionavam um ao outro.

E se havia alguma dúvida, ela foi respondida quando Elisabeta bufou à seu lado, ao ver suas irmãs novamente tentarem disputar a atenção de Darcy, convidando-o para um jogo de cartas. Cecília achou um olhar cúmplice e divertido em Charlotte, que observava a mesma cena.

Mas quando o jogo começou, as alfinetadas entre Darcy e Elisabeta se intensificaram ainda mais, agora que não precisavam se preocupar com seus pais. Não demorou para que Jane também observasse com curiosidade a batalha, a troca de olhares, a provocação no jogo que sempre parecia ter um significado a mais.

Lídia aborreceu-se em seguida, e em poucos minutos estava adormecida em uma poltrona no canto da sala. Uma a uma as Benedito foram saindo do jogo, e Jane, Cecília e Charlotte continham as risadas a cada vez que Darcy e Elisabeta se provocavam. Mas eram competitivos, agressivos em quase todas as áreas de sua vida.

Mariana era a única alheia ao acontecido, pelo menos até o momento em que foi eliminada da disputa, e restando apenas os dois, Darcy e Elisabeta esqueceram momentaneamente da presença de suas irmãs no cômodo.

— Você está prestes a perder. – Darcy implicou, irônico.

— Acha mesmo? Percebe-se o quanto você não entende de cartas. – Elisabeta arqueou a sobrancelha.

— Eu não entendo? – ele riu, desdenhoso. – Você está acostumada a jogar com quem? Seu amigo Edmundo?

— Darcy, se quer mesmo ganhar, é melhor procurar outra parceira de jogo. – Elisabeta sorriu. – Talvez Susana?

Suas irmãs e Charlotte controlaram o riso, e rapidamente fingiram iniciar uma conversa entre elas, como se estivessem completamente alheias ao acontecido. Darcy e Elisabeta mal perceberam quando as quatro se reuniram em um canto, deixando os dois sozinhos na mesa de centro.

— Eu não acredito que estou vendo isso. – Mariana cobriu a boca, para evitar um riso alto.

— Eu sei! – Cecília suspirou. – A quem eles acham que estão enganando?

— Finalmente eu posso comentar com alguém! – Charlotte riu. – Eu não os aguento mais!

— Nunca vi Elisabeta assim! – Jane suspirou. – Acho que não deveríamos ter falado de Darcy.

— É claro que deveríamos, sua boba! – Mariana agitou-se. – Elisabeta está a ponto de assassinar uma de nós.

— E alguém notou o incomodo de meu irmão com o tal Edmundo? – Charlotte sorriu diabolicamente.

— Meu Deus! – Cecília deixou escapar uma risada alta.

— Elisabeta terá que me desculpar. – Mariana sorriu. – Mas eu não posso deixar essa oportunidade passar.

E antes que Jane ou Cecília pudessem impedir, Mariana já andava à passos lentos em direção à Darcy e Elisabeta.

— Hm, Darcy está com uma mão muito boa. – Mariana comentou, abaixando-se para espiar as cartas de Darcy, colocando a mão em seu ombro.

Charlotte deixou escapar o riso ao ver os olhos de Elisabeta acompanharem a mão de Mariana.

— É mesmo. – Cecília não resistiu, aproximando-se também. – Você tem mesmo o dom com as cartas, Darcy.

Elisabeta mordeu a bochecha, contendo a irritação.

— Elisabeta duvida da minha capacidade. – ele respondeu, constrangido com a aproximação.

— Ela é muito competitiva. – Mariana fingiu uma voz sedutora.

Darcy engoliu em seco, pensando em como sair daquela situação sem grosseria. Não precisava olhar para Elisabeta para saber que ela o observava atentamente.

— Bom, de qualquer forma, está ficando tarde. – ele levantou-se, de repente, se afastando rapidamente de Cecília e Mariana. – Podemos continuar o jogo amanhã, ou outro dia.

Mariana e Cecília trocaram olhares, antes de gargalharem, sendo seguidas por Jane e Charotte, para a surpresa de Darcy e Elisabeta.

— Vamos dar uma volta no jardim. – Charlotte disse, entre risos.

Jane cutucou Lídia, a despertando e arrastando-a com as outras. Uma a uma depositaram um beijo na bochecha de Elisabeta, deixando claro que já estavam cientes de tudo que acontecia. De repente, Elisabeta e Darcy viram-se sozinhos naquela sala.

— O que foi isso? – ele perguntou, confuso.

— Aparentemente você acaba de quebrar o coração das minhas irmãs. – Elisabeta ironizou.

— Aposto que você combinou com suas irmãs, para me fazer desistir do jogo. – Darcy revirou os olhos.

— Você iria perder. E quem deu atenção para as minhas irmãs a noite toda foi você.

— É claro, o que você queria que eu fizesse? As tratasse mal? – ele bufou.

— Você nunca foi o mais simpático comigo. – Elisabeta cruzou os braços. – De repente foi tomado pelo bom humor.

— Me desculpe por tratar bem sua família. – Darcy andou pela sala. – Achei que seria importante para você.

— Flertar com minhas irmãs seria importante para mim? – resmungou.

— Eu nunca flertei com suas irmãs, pelo amor de Deus. – defendeu-se. – Já você e Edmundo...

— Darcy, pelo amor de Deus. Faz anos que não vejo Edmundo.

— Mas verá, aparentemente ele está ansioso por uma visita. – Darcy fechou a expressão.

— Susana está sempre visitando você. – Elisabeta revirou os olhos.

— Que bom então que você tem tantos amigos... Olegário, Edmundo. – Darcy cuspiu as palavras.

— E você agora tem todas as minhas irmãs como amigas. É impressionante como você não consegue estar em um ambiente sem querer chamar a atenção de todas as mulheres.

— Eu o que? – Darcy levantou a voz, reduzindo o tom em seguida. – Você está ouvindo o que está falando? E não sou eu quem chama a atenção da redação inteira.

— Você está louco. – Elisabeta riu, irônica.

— Vai dizer que nunca percebeu o jeito como todos a olham?

— E agora é minha culpa como os outros olham para mim?

— Não foi disso que você me acusou há alguns segundos? – Darcy reclamou. – De chamar a atenção das mulheres?

— É diferente! – Elisabeta bufou.

— E como seria diferente?

— Você gosta. – Elisabeta o acusou.

Darcy a encarou sério, mas poucos segundos depois o sorriso se abriu em seu rosto.

— Você tem razão em uma coisa. Eu gosto de vê-la desse jeito. – o sorriso de Darcy se alargou, a medida que se aproximava dela.

— Ah, por favor. – Elisabeta cruzou os braços, desviando o olhar do dele.

— Espero que dessa vez não resolva me provocar. Eu não respondo por mim se seu amigo Edmundo tocá-la na minha frente. – o tom dele foi sério, seu corpo colidindo com o dela.

— Eu nunca o provoquei. Olegário estava se despedindo. – Elisabeta conteve o sorriso.

— Sabe, agora você não está por perto. Não saberia se eu não dormisse em casa. – Darcy provocou.

— Ah, eu saberei. – o olhar dela encontrou o dele, com um aviso. – E estamos no Vale do Café. Eu saberia onde encontra-lo.

— É claro que saberia. – Darcy enlaçou a cintura de Elisabeta. – Eu estaria com você, dentro de você, sua boca na minha.

— Darcy... – ela derreteu-se ao ouvi-lo, o calor tomando conta de seu corpo.

— Se seus pais não estivessem na sala ao lado... – Darcy colou a testa na dela.

— Para... – ela pediu, segurando os braços dele com firmeza.

— Eu beijaria você inteira, derrubaria tudo que está nessa mesa. – continuou, sedutor.

— Você sabe que não podemos. – tentou se afastar, mas Darcy a apertou contra seu corpo.

— Não podemos. Mas eu quero que você pense em mim essa noite.

— Você está nos torturando. – a respiração dela falhou, sua boca a centímetros da dele.

— Você fugiu de mim. Eu não posso mais invadir seu quarto. – Darcy reclamou, roçando os lábios nos dela.

Quando estavam quase se entregando a um beijo, a voz das irmãs de Elisabeta e de Charlotte ficou mais alta, quase como querendo avisá-los que todos estavam a caminho. Darcy e Elisabeta se afastando rapidamente, ele sentou-se com uma almofada no colo, Elisabeta voltou ao lugar onde estava.

— Elisabeta, querida. – Felisberto a chamou. – Já é tarde. Vamos?

— Sim, estou pronta. Já derrotei Darcy nas cartas. – ela sorriu, ainda corada.

— É mesmo? – Mariana se aproximou da irmã, entrelaçando o braço no dela. – Acho que temos mesmo uma vencedora por aqui. – disse, olhando de Darcy para Elisabeta com um olhar cúmplice.

Os Williamson se despediram dos Benedito. Charlotte mal continha a felicidade por ter encontrado novas amigas, e Lorde Williamson se sentia renovado após o jantar. O Lorde acompanhou Felisberto e Ofélia, deixando os filhos para trás. Quando estava quase saindo, Elisabeta olhou para trás, encarando Darcy.

— Você poderia. – ela deu de ombros, com um sorriso provocador.

E então partiu, antes que os dois cometessem alguma loucura maior.


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