No Zora's Domain, as coisas estavam mais deprimentes.

A chuva calhou de vir com toda a força; não que isso fosse um problema para o povo Zora, mas ela diminuía o fluxo de imigrantes e trazia uma brisinha fria que deixava até aqueles seres escamosos com preguiça de saírem de suas jacuzzis aquecidinhas. Guardas bocejando e crianças sem ânimo para correr; até o Rei Dorphan já tinha puxado um ronco(e que ronco!). Sem clientes para vender, sem turistas para agradar. Era um clima de monotonia intenso. Deprimente a beça.

Era em meio a essas situações -- onde quase ninguém perambulava muito por lá -- que Sidon se atrevia a manifestar uma pequena parcela da admiração que nutria por sua irmã, de frente à estátua erguida ao centro de uma das estruturas principais do Domínio, esculpida em sua forma. Ele parava, fitava-lhe desde o topo, e punha-se a pensar.

Costumava fazer isso durante a noite, quando só os guardas ficavam por ali. Mas mesmo àquela hora (não devia constar muito mais que meio-dia no relógio), a chuva conseguiu causar o mesmo efeito que a noite. Então tomou proveito disso. 

Havia se passado um século desde que Mipha partiu do mundo; e desde então, Sidon costumou-se a frequentar aquele lugar. Mipha foi uma amazona excepcional, uma pessoa de coração doce, e a melhor irmã do mundo -- Sidon moldou isso em sua mente com base em pequenas lembranças que lhe vinham à tona; lembranças de uma época onde mal sabia o que era a vida ou o que era a morte.

Aquela escultura de mármore podia ser um grande símbolo para os Zoras, que relembravam a coragem e honra de sua princesa guerreira. Mas para Sidon era muito mais que isso: aquela estátua representava todo o seu passado e tudo aquilo que ele ansiava ainda ter por perto. Ele tinha medo de que aquelas memórias fossem ficando cada vez menos nítidas em sua mente e que, em dado momento, fosse possível esquecer Mipha. E assim, sempre, Sidon se sufocava com sua própria nostalgia.  

Algo rompeu seu transe, e de repente ele ouviu um diálogo às costas, há alguns metros. Sidon se virou e apertou a visão, mirando, ali, sob um dos arcos de entrada do recinto, um soldado Sheikah tomando informações com um dos Zoras da guarita. 

"Onde posso encontrar o Rei Dorphan?", disse o Sheikah, em aflição, "Preciso entrar em contato com urgência"

Observando a cena de longe, Sidon estranhou, já que Zelda não costumava enviar mensageiros até o Domínio Zora. Isso seria, costumeiramente, algo designado a Link. Pensou, pensou, cutucando o queixo. Teria algo de ruim  acontecido? Sidon ficou desconfortável quando as possibilidades pareceram reais demais por um momento. 

"Desculpe, senhor...", disse o jovem guarda-Zora, sem muito jeito, enrugando a testa, "mas não posso permitir que contate Sua Majestade sem que ao menos apresente algum documento que registre que está aqui em nome da Rainha. São os nossos termos de segurança"

"Garoto, estamos em estado de emergência! Estou aqui por ordem do exercício e de Impa, precisamos contatá-lo imediatamente!"

"Mas, senhor--"

"Bazz", Sidon interceptou a conversa, vindo por trás de Bazz e pondo-lhe a mão sobre o ombro. O jovem Zora teve um pequeno sobressalto interno, sem demonstrar muito, e fitou seu soberano por cima do pescoço. "Alteza, precisamos ter cautela quanto a entrada de inimigos disfarçados!", relembrou o rapaz Zora. 

"Relaxe, Bazz", Sidon deu-lhe uma batidinha nas costas e inclinou o rosto para baixo na direção daquele -- sob seu ponto de vista -- minúsculo Sheikah. "Aposto que esse homem tem uma boa explicação para estar aqui", sorriu, "Não é?"

E o soldado remexeu a cabeça, "Sim"