Reborn escrita por ninoka


Capítulo 3
Capítulo II - O herói enfraquecido


Notas iniciais do capítulo

Heróis também fraquejam, sabia, Link?



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Pós-comemoração. O céu tinha acabado de aclarar e toda a bagunça da comemoração começou a ficar visível sobre o léu do pátio do Castelo. Bagaço de fruta, pólvora de fogos artifício, resto de carne e ossadinhas; tudo lixo. Muito lixo pra todo lado. Parecia um recinto de Bokoblins.

Falta algo que deixei de mencionar -- os guardians. Foi logo após a derrocada de Ganon.

Desde que sua presença se extinguiu do mundo e a energia maligna que contaminou o exercício de guardians se desfez, os bichos de metal desativaram; caíram sem luz no solo e simplesmente desativaram. Mortinhos. Parte dos efeitos da Malícia (a magia-negra de Ganon) tinha infectado os circuitos mais internos.

O restauro ficou nas mãos de Purah e Robbie, os únicos aptos e com o conhecimento necessário para o trabalho. Mas... Conhecimento não bastava; cada guardião era tempo e dinheiro, na verdade. Para se ter ideia, para remontar um único robô, estimava-se um período de dois a três meses. Faça um cálculo simples; neste caso, dois montadores reconstituem quantos robôs em quatro semestres? Pois é. Tentando manter uma perspectiva bastante otimista, até o momento, tinha-se, mais ou menos, um pequeno esquadrão de 24 guardians “limpos” (era assim que se chamavam após os arrumos). As coisas complicavam ainda mais devido ao custeamento relativamente alto das matérias-primas (pois eram raras e de difícil acesso). Dizia-se também que havia três escolhidos dentro do clã Sheikah, e que estes eram os únicos que sabiam de uma espécie de fonte de energia-anciã. Mas talvez isso fosse apenas um conto velho e esquecido e então -- bem...-— não importa muito. O que importa é que agora os guardians foram mencionados; então posso prosseguir.

Em cada província (geralmente próximo dos povoamentos) pôs-se um Guardião, enquanto o resto foi aglomerado ao redor do palácio. Praticamente sem inimigos ou pragas para apaziguar, a função dos “robozinhos” virou quase que a de uma empregada doméstica.

Então lá estavam eles: no já mencionado pátio de pedra do castelo, imundo e fedido feito um Bokoblin, fincando suas garras de aço em cascas de banana e outros restos e pondo dentro de uma caçamba acoplada às “costas” (se é que podemos chamar assim). E sim! Guardians eram bons em arrumação -- Robbie quem testou e constatou isso pela primeira vez.

Em meio às máquinas recolhendo lixo, haviam dois ou mais guardas-Sheikah acompanhando-as à uma certa distância, observando e traçando notas em seus papéis para futuros relatórios acerca do funcionamento das novas tarefas desempenhadas. Tudo bastante monótono num comparativo com algumas horas atrás.

Acima do portão principal, num par de torres de vigília, também havia (sobre cada uma) um Sheikah.  Naquele instante, um dos guardas avistou Zelda, vinda do horizonte, montada e ereta sobre Epona. Logo atrás vinha Link, sobre Truffle.  

“Abrir portões!”, anunciou o Sheikah e, imediatamente, os carretéis colossais começaram a rodar; as correntes sofriam e ruíam enquanto o portão pesado descia sobre a fossa.  

 

"Você precisa descansar", Zelda disse entre a fresta da porta entreaberta, com duas olheiras talhadas sob os olhos, e fez um sorriso meio tristonho: "Não há necessidade em se manter de guarda, você sabe"

Link assentiu.

"Quando acordarmos, estaremos oficialmente vivendo uma nova Hyrule. Pense nisso. Okay?"

Link pensou no que faria dali em diante e verificou que dormir, de fato, era o melhor a se fazer. O cômodo que lhe era reservado ficava logo ao lado do quarto da alteza, por questões de mobilidade e segurança hoje não mais tão necessárias.

Link adentrou -- se trancou -- , botou a Master Sword junto à bainha sobre a cômoda, botinas num canto, pochetes no outro, luvas e Sheikah Slate no guarda-roupa, blusa no chão. Caiu de bruços na cama. Aconchegou-se, maciamente, apertando um travesseiro com os braços.

Talvez devesse tomar um banho, ou coisa que valha, nem que fosse um rápido, pra tirar a poeira da cara, o suor das costas, o chulé(porque aquelas botas tinham que abafar tanto o pé?). Além do mais, depois de se encharcarem em Spring of Courage e saírem de volta para a estrada, a areia que os cavalos levantavam ia ficando toda grudada no corpo ou na roupa úmida. E no final, é claro, com o vento do galope, suas peças secaram; mas tinham agora uma camada arenosa e pinicante sobre a pele. Então um banho seria, na verdade, uma exigência -- ou um favor à humanidade.

Mas Link estava cansado demais; pra não dizer exausto. Estava cansado demais para ir até a jacuzzi. Cansado demais para se lavar ou fazer favores à humanidade. Ele queria dormir, acordar, e ser Link. Somente Link. Só. Não herói de Hyrule, nem salvador de nada. Queria ser só Link. Esperava mais do que tudo que essa fosse a nova Hyrule que Zelda dizia surgir quando acordassem. Mas ela mesma disse, não foi? Você não pode mudar isso. Então Link não sabia mais se dormia ou tomava banho ou ia no jardim catar tatuzinhos.

Ficou estático feito uma pedra, abraçando o travesseiro. Mas isso nem importava mais.

Dormiu.

Foi. Dormiu como um anjinho. Ao menos, um pouco.

Crash!

Link arregaçou os olhos no susto. Algo tinha se partido no chão do quarto ao lado -- onde Zelda dormia --, alguma cerâmica ou vidro.

Nisso Link já tinha pulado para fora da cama, apanhado a Master Sword, e saído para o corredor empunhando-a.

Ali, envolta a porta do quarto da rainha, as domésticas faziam um rebuliço geral, "Algo está acontecendo lá dentro!", berravam e ralhavam.

As moças notaram a presença do herói e se voltaram, bastante inquietas e aflitas: "Senhor Link!", disse uma delas, "Por favor, senhor Link, faça alguma coisa! Essa movimentação sem sentido lá dentro não para faz minutos! Nós tentamos chamar, batemos e até tentamos abrir a porta, mas sequer uma resposta do outro lado"

Link logo pensou no pior -- seu rosto se contraiu em fúria -- e não perdeu tempo para se aprontar: parou a alguns metros da porta, apertou o cabo metálico da espada com ambas as mãos frente o corpo, lambeu o beiço salgado, e correu; correu e meteu a sola do pé na madeira. E o que quer que fosse o mecanismo que segurava a porta, estourou na hora.

Link ficou sob o batente com a Master Sword pronta em mãos para o que viesse, enquanto a reunião de empregadas inclinou-se curiosamente às suas costas para observar a cena.

Os aposentos de Zelda estavam em estado caótico: livros e material de estudo no chão, vasos, telas, e espelhos estilhaçados. Link seguiu o rastro de destruição com os olhos atentos e sobrancelhas franzidas. E viu, ali, a alguns metros, a rainha de Hyrule, erguida no ar, sem mover um único músculo ou uma única pálpebra.

As domésticas reagiram com pavor -- umas taparam a boca e uma chegou a emitir um gritinho estridente, outra se desvinculou do círculo para clamar por ajuda. E Link só podia permanecer imóvel e gelado, tentando obter respostas e mirando o corpo de Zelda flutuar acima do assoalho fora de gravidade -- o cabelo e a camisola branca remexendo com algum vento que não existia no cômodo.

Bom, bom…”, uma vozinha risonha reverberou pelo aposento; Link circulou as orbes claras por cada canto e, no exato momento, interditando o caminho entre ele e o corpo pairado de Zelda, se materializou a figura: O aspeto físico teoricamente pertencia a um homem, e a voz era vibrante, afiada, penetrante e ácida. E aquele uniforme... Link conhecia; mas não costumava atribuir um valor muito temeroso naquele traje brega, colado e escarlate. Não, não. O que temia era outro aspecto: a máscara. A figura usava o uniforme vermelho e cafona, mas também usava aquela máscara; e era isso, isso que Link tanto temia. O emblema nela contido, idêntico ao símbolo Sheikah -- um olho emanando uma lágrima -- posto de ponta-cabeça, representava a renegação, a renúncia e o repúdio aos preceitos de honra daqueles que serviam a família real. Essa linhagem de ninjas renegados era reconhecida, e agiu bastante durante os tempos da Calamidade: O Yiga Clan.

“Me sinto honrado de ter em presença o icônico Herói de Hyrule e nossa amável alteza”, o sujeito pairava intimidadoramente acima e ao longe de Link, assentado sobre o ar, como se deixasse seu corpo folgar sobre um trono invisível. Uma das domésticas desfaleceu no colo de outra.

“Você sabe…”, num estalo com o dedo, uma peça de banana surgiu no ar, “Não é todo dia que isso acontece. Não é mesmo?”, apanhou a fruta e iniciou o processo de descascá-la, filete por filete.

Link amassou os dedos na empunhadura da espada e, com uma das mãos, inclinou-lhe a ponta para o ar na direção do sujeito.

“Quem é você?”, uma gota de suor fluiu pela têmpora. 

O homem ergueu a máscara minimamente, apenas o suficiente para que pudesse meter a fruta na boca e arrancar um pedaço.

“Não sou seu inimigo”, dizia enquanto mastigava, “Na verdade eu estou aqui pra te ajudar”.

Link ficou em silêncio, franzindo a testa. Tudo naquela conversa cessava sua paz.  

“Não me olha com essa cara”, deu outra dentada e outra mastigada, “Você vai até me agradecer por te livrar desse peso”, pôs a mão sobre o próprio busto, egocentricamente.

“Sobre o quê você está falando?”, a ponta da lâmina cintilou. Link forçava firmeza na expressão pra -- tentar—- controlar o nervosismo.   

“É simples”, planou no ar, aproximando-se de Zelda, “Você me dá a Rainha…”, ergueu-lhe o rosto pelo queixo(ainda segurando a banana na outra mão), “E eu te dou a liberdade”

No mundo das relações, as pessoas costumam decretar determinadas riscas e limites, que compreende algo que chamam de “espaço pessoal”; uma linha imaginária que só pode ser ultrapassada por pessoas autorizadas sob circunstâncias legais. Parece confuso? Pois bem -- Link era cheio delas, de linhas e normas quanto ao limite que os outros podiam ter consigo. Assunto sério. Sem tréguas. Mas não apenas isso; com os anos, Link levou o papo de espaço pessoal a outro nível, e isso acabou por fazê-lo traçar uma destas linhas imaginárias ao redor de Zelda. A ideia era simples: “ultrapasse a barreira sem permissão e verá o que tem do outro lado

Naquele momento o mascarado Yiga já tinha ido longe demais -- extrapolou os limites da barreira --, e Link não teve outra alternativa senão correr pra cima.  

Foi em fúria, deu um impulso com o corpo para frente e tentou enterrar a espada no oponente; mas ninjas são ninjas, e a espada golpeou o vácuo -- o homem tinha simplesmente se desmaterializado no ar.

“Atrás de você!”, Link ouviu a voz brincalhona à retaguarda e, antes que fizesse qualquer movimento, foi recebido por um pontapé duro nas costas. O herói e sua dignidade foram para o chão, e o homem-Yiga riu traquinas.

“Você realmente pretende lutar comigo nessa situação?”, fez um estalo com o dedo e desapareceu novamente.

Sua voz podia ser ouvida de todos os cantos, e ao mesmo tempo, de lugar algum; ecoando, reverberando como a voz do diabo num calabouço quente, “Vou ser honesto com você, Link. Considere um papo entre amigos”.

Link se reergueu enquanto rondava a cabeça em torno de todo o cômodo -- atordoado --, uma mão fisgando o ponto atingido e a outra mantendo a Master Sword ao lado do corpo; os dentes trincando pela raiva e pela dor.

“Tudo o que você vive não passa de uma bela de uma mentira, rapaz. A coroa, a linhagem ‘Hyrule’, mantém um cárcere saturado de mentiras sob o carpete da história. Acredite em mim, não passam de um bando de mentirosos que nutrem a boa fama retirando o mérito daqueles que realmente mereciam seu lugar”, ele falava enquanto Link mantinha os olhos colados no rastro de voz.

Estava atento, porém nervoso; sim, Link estava nervoso. Fazia tempo que não reservava alguma hora do dia para treinar sua capacidade e, isso, de alguma forma, o fez perder o fervor no combate. Mas como adivinharia? -- é claro. Aquela nova Hyrule não era repleta de paz? Havia uma percentual praticamente nulo de Bokoblins, Moblins, Lizalfos, Lynels, ou aqueles Wizzrobes sacanas. Sem Ganon. Apenas paz. Zelda tinha despertado seus poderes e todos pareciam livres. Proteger a humanidade -- pensava Link -- não era mais um problema seu.

“Você já deve saber”, riu, “mas tudo o que a humanidade se tornou hoje, foi graças a nós, do sangue Sheikah”, continuou, “Guardians, Divine Beasts, a derrocada da Calamidade, seja 10 milênios atrás, seja há dois anos -- a nossa tecnologia anciã é a chave para que esse vasto mundo ainda esteja vivo".

Outra risada rude. “Mas quem não sabe de toda essa história?”

Link se fixou em posição de ataque colocando a espada para frente, alinhada ao centro do abdômen, empunhando-a com o esforço das duas mãos. Pressionou os lábios um contra o outro, e tapou os olhos; tentou entrar num estado meditativo. Tomou controle do diafragma e empenhou-se em estabilizar o fôlego. Prensou os dedos com mais força. Aquele era o seu momento. Tinha de se concentrar em ouvir, ouvir aquela voz -- não no que ela dizia, mas sim de onde vinha...

"Todos sabem disso. Mas ninguém, obviamente, quer se lembrar. Ninguém quer nos tratar como heróis, Link", o Yiga continuava com seu discurso; Link tentava não ser afetado, “Quando os Guardians foram considerados uma ameaça, milênios atrás, fomos culpabilizados. É claro. Mas quando Ganon finalmente foi selado, duas vezes, mesmo que a nossa tecnologia tenha sido usada a favor de todos, os reconhecidos foram vocês; a princesa, seu cavalheiro, e meia dúzia de peões”

Mas Link não conseguia ignorar aquelas palavras, simplesmente. Não conseguia ignorar sua falta de cautela para realizar a tarefa principal a qual sua vida era destinada; não conseguia ignorar que Zelda, mesmo agora detentora de seus poderes, pôde ser pega. E aquele sentimento insistia em se alongar dentro de si -- aquele sentimento de impotência, falta de controle. A Master Sword de repente pareceu pesar feito chumbo. Link começou a suar frio. Os olhos fechados, ainda.

"Não estou aqui pra fazer a Calamidade eclodir de novo, nem para dizimar o clã Sheikah, nem para prosseguir com qualquer outro plano infeliz que Kohga tivesse em mente. Eu estou aqui para provar, para você e para todos, Link, que nós somos o alicerce que mantém a família Real viva. Sem nós, ela não tem para onde jogar suas falhas e dejetos"

A testa, as têmporas, as mãos -- Link estava embebido em suor e medo.

"A família Real é uma farsa!"

Medo.

Farsa!

Um reflexo abrupto fez Link captar a presença o homem invisível, atrás de si. E o resto transcendeu num nanossegundo: Ele só teve tempo de se virar -- para vê-lo, pelo menos -- e, de repente, como num raio, na mesma intensidade que o Yiga cuspiu sua revolta, ele projetou o punho contra o maxilar de Link. O estrago foi doloroso; o lábio de Link rasgou nos caninos, e ele cambaleou para o lado bruscamente. Ao menos cair, conseguiu evitar.  

“Milênios de submissão e injustiça e é assim que continuamos a ser tratados?! É isso que merecemos?!”, Link limpou um filete vermelho-puro que fluiu para fora do lábio recém-cortado. O Yiga virou vapor outra vez.

"Mas isso não se estenderá por mais tempo”, a voz sem corpo falava, sínica. Link tentava se manter firme nos calcanhares; repôs a espada na frente do corpo. “Você sabia? Quando seu corpo padece, os primeiros a corroerem sua pele e carne são as próprias bactérias que um dia existiram para manter sua flora em harmonia. Sim, quando não há um centro controlando tudo, as coisas mudam, herói”

O intruso configurou-se fisicamente: finalmente seus pés tocavam o assoalho; estava sob a Zelda flutuante. Ele estalou o dedo e a rainha despencou -- caindo -- dobrada sobre seu ombro.

Por baixo da máscara branca, o ninja abriu um sorriso triunfante, tomado pela chama violenta da empolgação, “Vamos ver quanto tempo você e seu reino duram sem sua rainha… Herói.”

Ele se apossou de Zelda. Ela estava ali feito sua boneca de pano, indefesa como nunca. Péssimo momento para fraquejar. Heróis não fraquejam, pensou Link, e, novamente, tentou se pôr numa pose heroica de ataque mesmo que, agora, já fosse tarde demais. Seus joelhos estavam fracos. Não é preciso dizer muito para concluir que todo esforço foi inútil: Link correu, fraco, sem controle do próprio corpo, e afrontou o ninja de perto, parando a cerca de meio metro de distância. Não reagiu, não tentou uma enterrada com a espada; simplesmente não conseguia. O fato deu todas as chances para que o Yiga pudesse lidar facilmente com a situação: Ele ergueu uma perna e deu um impulso brusco e bastante certeiro para trás, acertando o abdômen de Link com o pé e lhe impelindo para o chão, longe.

Link caiu de costas, apartando-se de sua espada que tilintou no piso de madeira.

Ele escutou os homens da cavalaria finalmente intervindo o quarto, bradando para impor medo e erguendo suas armas afiadas; mal sabiam que nada daquilo era suficiente para resgatar Zelda naquela situação.

Inútil.

Até erguer o pescoço para apenas presenciar a cena exigia do ânimo de Link -- e qualquer fosse o tamanho de seu esforço, também era inútil. Tudo ali era muito inútil.

Um mutirão de brados indo a encontro do intruso foi a última coisa que Link presenciou antes de seu ouvido vedar e sua visão obscurecer. Não, não -- a última coisa que Link viu foi o ninja Yiga, vestindo sua máscara apavorante e carregando Zelda em seu ombro; ambos se dissiparam numa cortina de fumaça. Foi isso.




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