Calisto escrita por Odd Ellie


Capítulo 8
Capítulo 7 - Questões de Culpabilidade (Anthony, Ettore)




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“Só porque você está paranóico isso não significa que eles não estejam atrás de você” - (Ardil 22, Joseph Heller)

 

Anthony

“Eu conheço Ettore Montanari e você não é ele, quem diabos é você ?”

Anthony estava bêbado demais para ter aquela conversa.

Okay que só tinha sido três cervejas, uma no apartamento,e duas desde que ele tinha saído. Em uma situação normal ele se descreveria como estando agradavelmente inebriado. Mas aquela havia se transformado em uma conversa em que agradavelmente inebriado não seria suficiente.

O olhar penetrante e desconfiado da ruiva baixinha encarando ele fez ele querer ter ido para a pista ou apenas ter continuando andando pelas ruas de Valhalla com um cerveja na sua mão e um sorriso para cada moça bonita que passava por ele.

Ele estava bem ciente que aquele era um lugar projetado para distrair as pessoas que eles ainda estavam em um prisão. Ele não se importava, não havia nada para ele do lado de fora, ali ele tinha dias ensolarados por metade de cada mês, ali ele tinha cerveja, e ali ele podia voar. Ele até algumas vezes pensou que ser mandado para o satélite havia sido uma benção disfarçada.

Ele não estava se sentindo particularmente abençoado naquele momento.

Ele havia se arrependido um pouco desde o momento em que a moça no apartamento de Joana tinha aberto a porta, ela parecia miserável, cansada e pela vermelhidão de seus olhos ela estivera chorando bem recentemente, ela era alguém que não estava lá apenas por curiosidade casual sobre um funeral ou por não ter nada melhor para fazer naquele dia. E aí ela mencionou a filha que ele nem sabia que existia e Anthony percebeu que a situação talvez fosse até pior.

“Eu conheço Ettore Montanari e você não é ele, quem diabos é você ?” a moça repetiu, dessa vez de alguma maneira até mais irritada do que da primeira vez.

Lhe ocorreu brevemente que metade ou até mais da metade da culpa da situação era de Andrômeda. Andrômeda e seus sentimentos sobre a sua ex que fizeram ele se sentir desconfortável de ficar no seu próprio apartamento bebendo com ela após do que ele tinha ouvido, okay que ele que tinha insistido que ela falasse achando que ouviria apenas uma história sobre Andy sendo uma babaca e se ferrando no fim e eles ririam um pouco e continuariam bebendo, o que para ser justo era um bom resumo da história mas a parte cheia de sentimentos no meio de tudo havia sido uma surpresa. Ele não era culpado

Mas era sua culpa também por ter resolvido vir ver se uma garota que ele não falava há anos iria ter um funeral ou não, e por ter pego duas cervejas extras antes de sair de casa e ter terminado elas enquanto ele andava feliz pelas ruas de Valhalla. Mas aí a culpa voltava para Andy por mencionar o nome de algum cara que tinha um relacionamento estranho com a ex dela e fazer o nome ficar preso na sua mente.

“Você não vai me responder ?” a moça continuou, ela parecia como se ela estivesse prestes a socá-lo se ele não dissesse algo nos próximos segundos.



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A - “Eu sou uma pessoa que vai embora agora. Adeus”

B - “Meu nome oficial é Anthony Berlack, Ettore é tipo um apelido pra Anthony, é como minha avó na Terra me chamava, ela era italiana, e o Montanari também veio dela e eu uso em honra a memória dela, eu até estou planejando mudar nos registros, no meu lugar de trabalho tem essa piloto cujo sobrenome é Verlac e o meu sendo Berlack as vezes leva a nos confundirem, então eu já estou me apresentando a pessoas novas usando ele, mas agora aparentemente eu vou ter que mudar. Meio curioso ter alguém que se chame realmente se chame Ettore Montanari vivendo aqui em Calisto, eu vou ter que procurar o cara um dia desses, talvez nós sejamos parentes distantes”

C - “Meu nome é Anthony Berlack, e eu acho que tem uma boa chance de eu ser o pai da filha da sua amiga”



Ettore

Ettore pode ouvir o som da sua filha discutindo do outro lado da porta que levava para o corredor do Complexo. Isso estava acontecendo muito ultimamente. Chiara e o novo guarda que patrulhava o andar deles estavam em pé de guerra pelos últimos meses. Ele tinha se mudado para o local quando ela era basicamente um bebê e a maioria dos guardas continuou a mesma até a aposentadoria de Sr Burton alguns mentes antes, o que levou a contratação de Matthew Sommer. A maioria dos guardas viram ela crescer e eram bem afeiçoados a ela e frequentemente lhe davam liberdades que tecnicamente não seriam permitidas aos residentes daquele prédio em particular. O novo guarda no entanto não fazia isso. Em algumas coisas ele estava certo como não deixar Chiara sair após o toque de recolher do prédio, mas algumas eram um pouco mesquinhas como não deixar as colegas de escola dela virem fazer um trabalho em grupo porque ela não tinha feito o pedido para visitantes antes.

Chiara voltou para o apartamento e bateu a porta.

“Qual exatamente seria a punição para matar um agente da federação ? Tipo eu sou uma menor ainda então eles não poderiam me mandar para cadeia, se for algo como seis meses de serviço comunitário eu estaria disposto a fazer” Chiara perguntou.

“Eu não tenho certeza sobre a legislação mas certamente seria bem pior do que serviço comunitário”

Ela riu.

“Sinto muito por bater a porta, eu sei que você não gosta, mas ele me tira do sério”

“Qual foi o problema hoje ? Eu achei que você ia encontrar Kael após a reunião dele para começar o seu treinamento”

“Eu estava indo mas o imbecil não me deixou sair, as portas dos elevadores e da escada não estão abrindo pra mim, e quando eu pedi pra ele abrir pra mim ele disse que eu não tenho autorização”

“Eu vou falar com ele. Você fica aqui e quando tiver tudo resolvido eu te chamo”

Ettore saiu do apartamento e viu o guarda já esperando na frente.

“Bom dia Senhor Montanari”

“Bom dia Senhor Sommer, minha filha me disse que o elevador e as escadas não estão abrindo para ela e que o senhor não vai usar a sua chave para abrir para ela”

“Ela não tem autorização para sair”

"Eu sou o pai dela, e o único guardião legal dela, e eu estou dizendo que ela tem autorização, se não eu posso passar meu chip e dar para ela meu consentimento em voz, você tem um scanner com você ?"

"Você também não tem autorização"

Ettore parou, isso era incomum.

“Só eu ou outros residentes desse lugar ?”

“Tem outros, mas tem um foco maior no senhor, sim”

“Foi eles ? O trem ontem ? Foram eles novamente ?”

“Eu não sei sobre o que o senhor está falando. Eu sou apenas um guarda, eles não me explicaram o porquê, só que o senhor não tinha autorização pra sair”

“Por favor diga pro seu superior que eu preciso saber”

“Eu vou fazer o que eu puder, okay ?”

Ettore assentiu com a cabeça e voltou para o apartamento.

Vinte e cinco anos atrás Ettore Montanari foi preso, ele foi detido e interrogado por uma semana, e aí ele foi mandado pra Calisto. Devido a entregar pessoas com quem ele importava, pessoas que ele amava, para a Federação ele cumpriu a pena mínima de um ano e foi solto. Ele arranjou um emprego em um posto da Federação, lá ele conheceu uma mulher adorável, eles se casaram e formaram uma família.  

Quinze anos atrás houve uma rebelião no centro correcional 154 que tinha acabado com a execução de vinte funcionários da Federação, e no único caso de fuga massiva em Calisto. Dos 372 prisioneiros que tinham escapado 350 tinham sido recapturados ou mortos, os outros vinte e dois tinham sumido, até alguns anos atrás muitos achavam que eles tinham conseguido escapar de Calisto, que eles estavam em uma nave em algum lugar da Federação. Ettore no entanto sabia que esse não era o caso porque dentre os 22 escapados havia um homem que ele tinha entregado para a Federação e por sua causa recebido pena máxima, e em todo aniversário desde então ele recebia uma mensagem com falas sobre vingança, sangue e traição. Após receber a primeira mensagem ele informou a Federação o que levou ele e sua família a serem levados para O Complexo, que a vista parecia como apenas mais um prédio residencial simples de Valhalla mas que era completamente blindado e monitorado, havia um guarda em cada andar e não havia nenhuma mensagem que saísse de lá que não fosse antes lida por pelo menos cinco agentes da federação, e seus residentes consistiam de pessoas julgadas como estando sob o risco de ataque, pessoas como agentes da federação e traidores. Ettore muitas vezes se perguntou se era realmente bom colocar todas essas pessoas odiadas no mesmo lugar, não importa o quão superior a tecnologia de segurança fosse em comparação a maioria dos prédios de Calisto, ainda era um alvo bem tentador.

Três anos atrás todas as televisões e tablets e outros dispositivos congelaram por alguns minutos, e então um vídeo começou a rodar, no vídeo havia um homem que se apresentou como Booker Grier o líder para o movimento de Libertação de Calisto ou como a organização ficaria popularmente conhecida nos anos que seguiram A Libertação, ele era um dos vinte e dois prisioneiros que haviam escapado, ele falou sobre justiça e liberdade e ele exigiu que a Federação desocupasse o território de Calisto ou haveriam consequências. Na primeira vez que ele viu o vídeo Ettore não conseguiu prestar atenção em nada que estava sendo dito, tudo que ele conseguia se focar era num dos homens em pé atrás de Booker, o nome dele era Pietro Salveri, mais tarde ele seria revelado como sendo o segundo em comando na Libertação e o estrategista chefe da organização, e para Ettore ele era o homem que lhe mandava mensagens de aniversário bem perturbadoras todo ano.

A Federação se pronunciou dizendo que a Libertação não apresentava nenhuma ameaça real que era apenas um grupo com ilusões de grandeza e que a liberação do vídeo na verdade era  uma boa coisa, que agora eles sabiam ao certos que os fugitivos ainda estavam no território de Calisto e que logo eles seriam apreendidos e estariam de volta em um centro correcional para cumprirem o resto de suas sentenças.

E por quase um ano foi isso que a maioria acreditou. Aí o prédio onde Ettore trabalhava explodiu. No aconselhamento obrigatório que Ettore teve que ter sua terapeuta da Federação lhe lembrou muitas vezes que a Libertação era uma organização terrorista e eles sempre iriam explodir um prédio. Mas isso para ele não mudava o fato que aquele prédio específico naquela hora específica tinha explodido porque ele estaria lá. Tinha colegas de trabalho que ele conhecia há anos e pensava como sendo bons amigos que agora não estavam vivos simplesmente por trabalharem no mesmo lugar que ele. E o que pesava até mais, a mãe da sua filha não estava mais viva, pelo mesmo motivo. Ele não disse isso para a terapeuta, ele disse o que ela queria ouvir. E ele foi realocado para outro cargo administrativo, dessa vez no Cilindro que era onde a maior parte da comida de Valhalla era produzida. E ele tentou seguir com sua vida com seu principal foco sendo em ser um bom pai para sua filha, ser presente, uma das maneiras que ele encontrou de fazer isso foi ao invés de almoçar na cantina do cilindro como a maioria fazia pegar o trem celestial no seu horário de almoço, almoçar com Chiara e aí voltar e cumprir o resto do seu turno. Outra coisa que ele fez foi se focar na fotografia que até então era um hobbie casual e não algo que ele realmente dedicava muito do seu tempo, ele teve uma idéia vendo os trabalhadores nas plantações dentro do Cilindro que seria interessante fazer uma série sobre a força de trabalho em Calisto, e ele começou o projeto primeiro lá e depois em suas horas livres em outros lugares. Ambos esses fatores levaram ele a conhecer Lea Byrne. 

Ele a via todo dia bem brevemente em sua curta estadia no trem, e inicialmente ele achou que ela seria um bom tema para uma foto. Aí ele continuou falando com ela por cerca de dez minutos todo dia de trabalho, e muitas vezes estragando o seu apetite para almoço com sua filha ao comprar coisas no vagão restaurante para ter uma desculpa plausível para continuar fazendo isso. Inicialmente ele o fez por causa da foto, mas conforme os dias passavam mais ele se encontrou fazendo por causa dela do que por causa da foto. Ela ainda não tinha concordar na foto, mas quando ele pediu por um encontro ela disse sim. Ele estava planejando no sábado, mas ela logo lhe informou que ela não tinha folgas aos sábados, apenas nas segundas. Então eles combinaram de se encontrar na segunda, havia um problema com isso porque ele trabalhava nas segundas o que levou ele ter que trocar seus horários para aquele dia. É justo dizer que ele ficou bem decepcionado quando ela ligou na manhã do encontro cancelando, lhe ocorreu que talvez o que ela tinha dito sobre ter que cuidar da filha doente de uma amiga cuja babá não estava disponível fosse uma mentira e que ela tinha aceitado apenas porque ele fez a situação desconfortável para ela, ele passou algumas horas se sentindo bem tolo e achando que todas as interações com ela tinham sido um erro. Isso parou quando ele ouviu as notícias do trem celestial ter caído. Porque se ele não tivesse pedido pelo encontro ele não teria mudado seu dia folga pra aquela semana, e se ele não tivesse mudado seu dia de folga para aquela semana ele estaria dentro do trem quando caiu. Ele pensou na palavra sorte frequentemente ao longo do último dia. Agora ele estava pensando sobre alvo, culpa e traidor.

“Então tudo resolvido, eu posso sair agora ou o Rei do corredor vai me impedir de novo ?” Chiara disse após Ettore entrar no apartamento.

“Nós, não temos autorização”

Chiara parecia estar prestes a perguntar porque não, mas ela parou quando ela viu o rosto dele.

“Pai o que aconteceu ? Você está parecendo meio enjoado”

 

Escolha para Nymeria - Ettore diz :

A- “Eu estou um pouco doente, eu acho que eu comi algo ruim. Ligue para Kael e diga para ele que você não poderá encontrá-lo hoje”

B - “Não é nada. Eu vou tentar conseguir a autorização mas talvez demore um pouco, tente ver se Kael pode vir aqui te encontrar, eu acho que eu consigo arranjar uma autorização para um visitante mais rápido do que da nossa saída”

C - “Arrume as suas malas. Assim que eu conseguir autorização nós vamos sair desse lugar”




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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são sempre apreciados.