KATHERINE

A princesa ao sair da cabine, se deparou com Jonathan e seus homens no convés principal do navio. Ela foi até seu irmão e ficou ao seu lado, olhando o resto de sua tripulação.

—Podemos tentar tomar o navio para nós —Jonathan disse passando as mãos nos pulsos, que estavam marcados por causa das algemas.

—A última coisa que precisamos agora é de uma briga —Katherine respondeu e escutou passos atrás deles.

Os irmãos se viraram, e viram William subindo até o tombadilho e virando o leme.

—Por que ele está mudando a rota? —Jonathan começou a andar, mas Katherine o impediu de continuar.

—Vamos passar em um lugar antes —a princesa explicou.

—O quê!? Isso é loucura, nós temos que chegar em Sunrise o mais rápido possível…

—Eu quero ver uma coisa antes de ir para casa, Jonathan —Katherine suspirou, estava cansada da rixa entre os dois piratas.

—Pra quê? Você está mesmo confiando nele? —Jonathan virou-se para a irmã.

—Estou —a princesa passou as mãos no rosto. —Para de pensar que eu sou uma garota idiota, eu sei o que estou fazendo.

—Por que não podemos simplesmente ir para Sunrise!?

—Porque graças a você, eu sou a futura rainha! Sabe o que isso significa!? —a Lecerf foi até as escadas do tombadilho, e William percebeu a movimentação e se escorou na divisória, observando a cena. —Significa que eu vou me casar com um homem que eu mal conheço e serei condenada a passar o resto da minha vida presa em um palácio cuidando do meu povo! Então não me venha querer me dar ordens, Jonathan. Enquanto você viverá livre pelo mar, eu estarei presa sendo rainha.

Katherine subiu as escadas furiosa e foi até o fim do navio, sentando na amurada. Wayne subiu as escadas apressado, correndo até a princesa e ficando ao seu lado.

William olhou para a baixo com um pequeno sorriso.

—Daqui a pouco você vai ser o vilão, igual a mim —ele voltou para o leme.

—Ela é teimosa —Jonathan passou a mão no rosto.

—Um dos motivos de eu gostar tanto dela —William olhou para trás. Katherine escutou e também o olhou. A princesa revirou os olhos, mas viu William sorrir para ela antes de voltar a pilotar o navio.

—Você gosta mesmo de se magoar, não é? —Jonathan o olhou. —Sempre escolhendo garotas que você sabe que não vai dar certo.

—Eu não escolhi gostar da sua irmã, idiota —o capitão desceu as escadas. —Você não controla esse tipo de sentimento.

(…)

Pela primeira vez, Katherine não dormiu na cabine de William. Ele estava lá e a princesa não queria ficar perto do pirata.

Ela decidiu ficar com Jonathan, onde toda a tripulação dormia. Wayne arrumou uma rede vazia, mais no fundo do ambiente, fazia frio e era bem escuro. Mas Katherine preferia ficar aqui do que com William.

—Obrigada —Katherine disse pegando as cobertas que Wayne havia trago, mas não o olhou direito. Estava um pouco magoada com ele, afinal ele sabia que ela iria morrer. O pequeno homem notou que o clima entre eles não estava muito bem e logo a deixou sozinha.

Jonathan ficou por perto, vigiando a irmã por toda a noite, com receio de algum pirata tentar algo. Katherine demorou a pegar no sono, a tristeza e a angustia que estava sentindo em relação a William agitavam seus pensamentos. Logo ela começou a aceitar que estava sentindo algo pelo pirata.

(…)

Assim que amanheceu, Katherine estava sozinha naquele dormitório repleto de redes. Mas havia uma mesa, colocada no centro do ambiente, que por acaso não estava lá ontem à noite, com frutas e suco para a menina.

Katherine desfrutou do seu café da manhã por bastante tempo e subiu para o convés principal. Ela foi até a popa, sentando-se na amurada e começou a observar o navio.

Havia dois grupos, um dos piratas de William, que estavam em um canto, e outro com a tripulação de Jonathan.

As duas aglomerações de piratas estavam se divertindo, com aquela luta de espadas que eles tanto gostavam.

Katherine percebeu Wayne se aproximar, mas fingiu que não havia o notado.

—Clima difícil né —o anão olhou para a menina, tentando começar um diálogo.

—Hoje tá bem fresco na verdade —a princesa fechou os olhos sentindo a brisa passando suavemente em seu rosto.

—Me refiro ao navio. O grupo do capitão e do seu irmão… Sinto que a qualquer momento vão começar uma briga —ele disse preocupado.

—Se isso acontecer, espero que meu irmão vença —Katherine tentou ser ríspida e fria.

—Isso significaria a morte do capitão, mademoiselle… —Wayne olhou um pouco assustado para ela.

—E… E o que eu tenho haver com isso? —a Lecerf não conseguia disfarçar que se preocupava com William. —Ele queria me matar. Ele e sua maldita tripulação, incluindo você.

—Sei que está magoada. Mas alteza, —Wayne ajeitou os óculos. —Estou com William a anos e conheço meu capitão. Ele não mataria a senhorita.

—Como tem tanta certeza disso? —Katherine revirou os olhos.

—O jeito que ele te olha, como ele defendeu você na frente do próprio pai… Ele não faria isso por alguém que ele não importasse, princesa. —o anão se apoiou na amurada. —Mesmo ele não sendo tão terrível igual os outros, William continua sendo um pirata e pior, um Thatch.

—Está dizendo que ele me ama? Sério? —Katherine disse em tom de deboche.

—Sério. —Wayne falou a olhando e ele não parecia brincar. —Deveria dar uma chance para ele. Todos nós sabemos que você também gosta do capitão.

—O quê? Isso é um absurdo, eu não gosto dele! —Katherine se irritou.

—Princesa, por favor —o pequeno homem riu. —Uma princesa deixaria que um qualquer a beijasse?

—Foi só um beijo, não significa nada.

—Acho que um primeiro beijo e para uma princesa, significa muita coisa —ele a olhou sorrindo.

—Pois você acha errado —Katherine cruzou os braços, mas não conseguiu disfarçar um sorriso. —Tá Wayne, pare de me olhar assim.

—Estamos bem novamente? —ele estendeu a mão alegre. —Afinal, consegui tirar um sorriso lindo dessa cara fechada.

Katherine não aguentou e riu.

—Tá bem, tá bem —ela apertou a mão do seu amigo.

Os dois ficaram observando os piratas em suas lutas, mas Katherine se esforçava em não pensar no Thatch, e o mais difícil, não olhar para ele.

William usava sua capa e chapéu de capitão, e segurava uma garrafa de rum. Típico. Ele estava escorado na amurada olhando James brigar com os outros piratas. Mas o capitão também ficava observando a princesa, que sempre desviava o olhar.

—Ei boneca —James olhou para a Lecerf ao derrubar um dos seus oponentes. —A primeira vez que você lutou aqui, esse rato pegou leve com você. —ele chutou o pirata no chão, fazendo a sua tripulação gritar e vibrar. O mais novo Thatch pegou uma garrafa e deu um gole na bebida. —Será que a nervosinha tem coragem de enfrentar um pirata de verdade?

A tripulação riu e Jonathan saiu do meio dos seus homens.

—Ela não vai lutar com você —o irmão da princesa disse.

—Você não decide por mim —Katherine olhou cínica para os dois. —E James, cuidado. Eu não vou desperdiçar qualquer chance que eu tiver de te matar.

—Doçura —James se aproximou da garota, ficando frente a frente com ela. Katherine não abaixou a cabeça e o olhou nos olhos. —Você sabe que eu não morro.

O clima do navio ficou tenso com os dois. James olhou para a boca da garota, e a sensação era de que cada parte do seu corpo pedia por um toque dela.

William percebeu a atração do seu irmão e seu sangue ferveu.

—Já chega —o capitão se aproximou dos dois e com a mão no peito de James, o afastou.

O pirata riu, dando outro gole na bebida, olhando para a princesa.

—Queria ter sido privilegiado com um beijo seu, igual meu irmão foi —James deu as costas aos dois e a bochechas de Katherine coraram.

William revirou os olhos e Jonathan voltou para sua tripulação.

—Eu ainda posso te treinar —o capitão disse olhando para o céu, tentando puxar um assunto com a princesa. —Da para você aprender algumas coisas nesse tempo até Sunrise.

—A única coisa que eu quero de você, é distância —Katherine o olhou cínica e começou a andar para se afastar.

—Repete isso para si mesma, até se convencer —William sorriu, bebendo o rum.

—Pardon? —Katherine se virou ao ouvir o comentário.

—Acha que eu não vi você me olhando?

—E você acha que aquilo significa algo?

—Bem, eu acho —William sorriu de canto.

—Você é bem egocêntrico, William Thatch —Katherine disse nervosa e com vergonha.

—É uma pena que você gosta —ele a olhou.

—Vai achando que eu sinto algo por você —ela se aproximou. —Mas na primeira oportunidade de tirar a sua vida, eu não hesitarei.

—Me deixe te treinar, quem sabe um dia você consegue —ele a desafiou.

Katherine sorriu de lado.

—Okay. Me treine então.

William a olhou, colocou a garrafa no chão, e sacou sua espada.

—O que pensa que está fazendo? —Jonathan disse ao olhar para os dois.

—Ensinando sua irmã a lutar —William respondeu sem tirar os olhos da garota.

—Kate, ele pode te machucar —o irmão mais velho da princesa se aproximou dela. —Eu treino você.

—Sério? —ela o olhou animada. Sentia falta dos ensinamentos do seu irmão, ele sempre a instruía em algo quando eram crianças.

—Sério que você quer que o Page te treine? —William riu. —Um cara que não aguenta dez minutos contra mim.... Boa sorte, alteza —ele fez uma reverência para Katherine e pegou a garrafa de rum, fazendo sua tripulação rir.

—Até parece —Jonathan caminhou até sua irmã.

—Está me desafiando? —o capitão do Vingança olhou para trás, observando o irmão mais velho da princesa.

—Talvez —Jonathan o olhou.

William riu de canto e rodou a espada entre os dedos, dando outro gole na bebida.

—Não vai ser muito legal ver a Lecerf chorar pelo irmão derrotado—o capitão disse sorrindo.

A Lecerf? Katherine pensou. Por um momento se sentiu mal de estar afastando o pirata que ela tanto gostava… Mas não! Ela negava todo o sentimento pelo Thatch.

—Preste atenção nos meus movimentos —Jonathan disse para a irmã, desembainhando a espada.

—Essa seria minha primeira dica para você não perder em uma luta —William debochou, fazendo sua tripulação gargalhar.

Os dois se posicionaram um em frente ao outro e suas tripulações se aproximaram, animados.

—Quando quiser, Page —William sorriu.

Jonathan avançou no capitão, que bloqueou o golpe dando um passo para trás. Katherine estava com receio de algo acontecer com seu irmão, pois William lutava muito bem.

Os dois estavam concentrados, e as espadas rangiam quando se tocavam. Jonathan atacou com força William, que se abaixou para esquivar, e levantou com um sorriso.

Os golpes do irmão de Katherine eram fortes, até mesmo letais caso pegasse no capitão e Katherine notou isso. Já William, não atacava tão ferozmente e isso estava nítido e irritando o irmão da princesa.

Jonathan então bloqueou um golpe de William e no mesmo instante atacou o rosto do rapaz.

William conseguiu desviar, mas a espada passou pela sua face, fazendo um corte.

O clima do navio pesou e Katherine por impulso começou a ir em direção ao Thatch, mas Wayne segurou seu braço, para ela não interferir.

A princesa observou o corte do rapaz cicatrizar em alguns segundos e William sorriu.

—Se você quer assim, Page —o capitão rodou a espada entre os dedos e atacou. Mas agora estava diferente. Ele estava com raiva e seus movimentos mais bruscos.

Jonathan começou a ir para trás, com dificuldade em bloquear e mal atacava.

Depois de alguns minutos, William conseguiu desarmar Jonathan e colocou a espada na garganta do rapaz.

Os dois estavam ofegantes e se olhavam com raiva.

—Foi uma bela luta —Katherine falou tentando aliviar a tensão do ar.

William se afastou, guardando a espada e indo até sua tripulação que comemorava a vitória do capitão.

Jonathan se recompôs enquanto Katherine se aproximava.

—Que humilhante —o irmão da princesa sorriu.

—Acho que você se saiu bem —a princesa o abraçou e notou que seu irmão estava com alguns pequenos cortes.

—William sempre me superou —Jonathan beijou a bochecha da irmã. —Estranho seria se eu ganhasse.

—Você aguentou até muito com ele —Wayne se aproximou e Jonathan o olhou. —William nunca briga com sua tripulação nos jogos por isso, geralmente os homens não ficam nem três minutos com ele.

—Argh, mesmo assim —Jonathan reclamou. —O desgraçado nunca sai de forma.

Katherine sorriu e encostou a cabeça no ombro de seu irmão, olhando William que conversava com James. O capitão do Vingança olhou para a garota, que não desviou o olhar.

Ele sorriu para ela, dando um gole no rum e voltando a falar com seu irmão.

—Vou tomar um banho —Jonathan falou e foi até as escadas. —Tenha cuidado —ele olhou para a irmã e desceu.

Katherine se apoiou na amurada.

—Ele te falou para onde estamos indo? —ela olhou para Wayne.

—Chama Porto do Mar —o anão ajeitou os óculos. —É uma ilha bem pequena.

—E o que tem lá que ele quer me mostrar?

—Segure essa curiosidade, alteza —William se aproximava. —Vai estragar a surpresa.

Wayne sorriu olhando para os dois.

—Para com isso —ela cochichou para ele. —Pegou pesado com Jonathan —ela olhou para o pirata.

—Ele que pediu.

—É estranho ver você se curar desse jeito —Katherine sorriu de lado e encostou na face de William, onde deveria ter um corte.

Os dois se olharam por instante, e a princesa não conseguia desviar o olhar.

Ele se virou para ela e se aproximou um pouco, mas Katherine recuou, virando o rosto.

—Para de fazer isso —o Thatch revirou os olhos, se apoiando na amurada novamente.

—Eu não fiz nada.

—Então me olhar desse jeito significa que não sente nada por mim?

—Deve ser porque se eu admitir isso alguém pode me matar —ela o olhou ríspida e começou a andar.

—Ou esse alguém só vai querer te proteger ainda mais por saber que o sentimento é recíproco. —ele a seguiu e pegou uma maçã que estava com um de seus homens.

—Prefiro confiar no que eu acho.

—Direito seu —William mordeu a maçã.

—Me explica como vai funcionar —ela a olhou. —Vamos chegar no Porto do Mar…

—No anoitecer estaremos lá, se o vento continuar ao nosso favor.

—Certo, aí você me mostra o tal segredo. Em seguida você me deixa em Sunrise.

—E você se casa com um idiota, vira rainha e vive uma vida miserável com filhos dentro de um palácio. Fim.

—Não me parece tão ruim assim —Katherine falou. Mas era mentira, obviamente. Essa ideia a aterrorizava. Casar com Frederick e pior, ser obrigada a ter filhos com ele! A princesa já havia aceitado seu destino, mas depois de conhecer o mar, e bem, por mais que negasse, depois de conhecer William, ela não queria viver com Frederick.

—Parece horrível para mim —William franziu as sobrancelhas.

—O que me sugere então?

—Vire uma pirata —ele a olhou sorrindo.

Katherine riu, parando na amurada e se apoiando.

—É sério. Eu te dou um navio e uma tripulação.

—Ou eu posso pedir que meu irmão tome o Vingança de você e eu viro a capitã —ela o olhou sorrindo.

—Primeiro, ninguém jamais será capitão desse navio além de mim. Segundo, você viu como seu irmão saiu na luta comigo, então as chances dele são baixas.

—E se eu quiser ser a capitã do Vingança —Katherine deu alguns tapinhas na amurada. —Eu gosto dele.

—Se case com o capitão e ele será seu —William mordeu a maçã sorrindo.

—Tá me pedindo em casamento? —ela riu o olhando.

—Vou deixar você pensar no assunto. —ele piscou para a menina e foi em direção ao tombadilho.

Katherine sorriu, balançando a cabeça e olhou para o mar, odiava a sensação boa que William trazia para ela.

—Complicado né —ela falou, não sabia direito o que estava fazendo, mas sentia que o mar a entendia. —Eu sou uma princesa, o mar não é o meu lugar.

De repente as águas vibraram, Katherine olhou com mais atenção e se apoiou ainda mais na amurada.

—Tem alguém me ouvindo? —a princesa riu. —Ah eu pareço uma louca. Conversando com água, bela ideia Katherine.

De repente, um pequeno e leve jato de água atingiu seu rosto.

—Mas que… —ela olhou incrédula para o mar. —Você me entende!?

As águas vibraram novamente. Katherine sorriu, limpando o rosto.

—Por quê!? Como?

Não ouve resposta, ou alguma vibração.

—Alguém!?

Nada novamente. Katherine suspirou e foi em direção a cabine de William, pensando que provavelmente estava ficando louca e imaginando coisas.