Magic Insurgence: The Rift - Interativa escrita por Rul3r


Capítulo 3
Watch Your Step


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi beeeem longo, espero que não seja demais. Não vão ser todos assim, mas o que aconteceu? Eu quis introduzir todo mundo de uma vez, e pra não ficar corrido, apenas fiz dois capítulos e juntei em um só. A capa nova é cortesia de uma amiga minha, o que acharam?
Tem uma imagem no fim do cap, com os personagens e seus nomes, pra fixar melhor. Recomendo deixarem aberta durante a leitura e a olharem pra visualizar bem os personagens.

Sem mais delongas, boa leitura.



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Mirai acordou com os raios do sol batendo em seu rosto, direto da única janela do ambiente. A cama que ficava no segundo andar da cafeteria era pequena, ou seja, ideal para ela. O local todo era pequeno, perfeito pra uma pessoa viver bem. Exceto que haviam três lá, claro que era temporário, mas mesmo assim... As roupas atiradas no chão, sobre o colchão que Joe dormiu, Anne ainda desmaiada na cama que ficava do outro lado do pequeno quarto. Cada um deles precisava de um espaço muito maior do que havia ali...

Joe saiu do banheiro ainda de toalha, mostrando seu corpo acima da cintura. Não era definido mas haviam alguns músculos, que Mirai desviou os olhos rapidamente.

— Vá botar uma roupa, Joe. — A voz de Anne mostrava que estava sonolenta ainda, se levantou e esticou os braços para cima após dar a ordem ao colega.

Joe apenas soltou a toalha, ficando completamente nu na frente das duas. Mirai fechou os olhos tentando desviar sua mente do fato que havia um cara pelado no mesmo metro quadrado que ela.

— Não se preocupe. Vocês sabem que eu gosto de outra coisa. — Ele percebeu que Mirai estava um pouco incomodada e se justificou, não que adiantasse muito para a mulher. Anne apenas balançava a cabeça em desaprovação.

Joe apenas levantou os braços sem entender, após botar sua calça. Foi procurar uma camisa, enquanto Anne finalmente se levantava. Usando suas mãos puxou uma toalha, e algumas peças de roupa de longe com sua magia e foi para o banheiro.

— Hoje vem três pessoas para cá. Uma delas parece ser a única pessoa que Anne gosta. Aliás, que horas são? — Joe nem tentava esconder sua tentativa de puxar assunto enquanto vestia sua camisa.

— Ouvi falar que eles iam trabalhar com a gente. Sabrina, Susan e Joseph, né? — Mirai não sabia exatamente como responder, mas não iria ignorar ele, então simplesmente falou algo óbvio.

— É... eles já vieram aqui algumas vezes, mas hoje é especial. — Joe já estava vestido, e sentou na cama de Anne, enquanto colocava seus sapatos.

— Nossa primeira missão solo... — Mirai falou baixo, mais para ela que seu colega de quarto. Não estava insegura, não tinha medo de enfrentar desafios. Mas sentia um pequeno frio na barriga ao pensar que estava numa missão solo da Insurgência após tanto tempo sendo guiada. Estar numa missão assim significava que eles eram responsáveis por tudo que acontecesse, sem um líder para fazer as decisões difíceis. Para a mulher, sempre que algo deu errado esteve envolvida. Claro que na maioria das vezes eles saiam intactos das missões, mas ela não conseguia evitar se culpar. Claro que seriam coordenados pela famosa Susan Lindquist, mas ela não tinha a posição real de líder naquela missão.

— É só uma recuperação de objeto. Não acho que nada possa dar errado. Dizem que a Sociedade escalou magos de baixa categoria pra defesa do que vamos pegar, para não chamarem atenção. — Joe finalmente terminou de se vestir, parecia um pouco mais arrumado que no dia anterior. — O que acha?

— Acho que não podemos nos descuidar, mesmo que sejam magos... — Mirai nem percebeu que ele havia se levantado e com os braços abertos, exibia seu visual.

— Do visual, Mirai.

— Ah! — Ela exclamou, ao perceber que não estava falando da missão. Não olhar para as pessoas enquanto falava causava alguns problemas do tipo. — Está muito bonito.

— Você sabe que isso é pedofilia, não é? — Anne saiu do banho, já vestida. Mirai também reparou que ela estava um pouco mais bem vestida que no dia anterior. Não parecia que estavam indo trabalhar, e sim a um encontro.

— Ele piscou para mim. E com dezesseis anos já não pode mais ser considerado isso. Você nunca tem palavras boas pra dizer pro seu amigo, né. — O homem não estava realmente magoado, mas por sua voz tentava fazer com que parecesse.

— Primeiro, você não é meu amigo. Segundo, não tenho coisas boas pra dizer para um pedófilo. — Anne secava seu cabelo enquanto respondia sem prestar atenção na cara triste que Joe fazia na tentativa de comovê-la.

Mirai observava os dois interagindo como se ela não estivesse presente. Quase riu, mas não queria que a notassem ali. Estava se divertindo por dentro ao menos. Mesmo que Anne tivesse dito aquilo sobre não ser amiga dele, não era isso que ela sentia no fundo e era até fácil perceber isso, os dois conviviam a muito tempo, e provavelmente se sentiriam sozinhos sem a presença de um deles.

— E o que você acha, Mirai? — Joe percebeu que ela estava quieta na cama ainda, e levou a conversa até ela.

— Eu? — Ela ficou surpresa pela pergunta repentina. Apontou o dedo para si mesma, querendo confirmar se realmente queriam saber sua opinião. Joe respondeu levantando o polegar, concordando. — Se os dois querem...

— Há! — O homem gritou e apontou para sua "amiga" vitorioso. — E mais, você acha que a menina da personalidade de fogo pode aquecer o coração da nossa rainha gelada, Anne?

Mirai não conseguiu esconder sua risada enquanto Anne revirava os olhos e Joe ria apontando para ela. Nada parecia a tirar do sério mesmo, não da parte de Joe, e o apelido caia bem com a loira. A asiática levantou-se enfim, indo para o banheiro enquanto ouvia Joe provocando sua colega, mas logo o local ficou em silêncio, indicando que os dois haviam enfim descido as escadas para abrir a cafeteria. Tomou seu banho rápido, escovando os dentes no processo. Saiu do banheiro já vestida e secou o cabelo rapidamente, se dirigindo as escadas estreitas que levavam ao primeiro andar.

Anne atirou um avental para ela, reparou que o local já estava aberto e a luz matinal o iluminava com tanta intensidade que parecia ser outro lugar. A rua estava movimentada, bem mais do que na noite passada, ao menos na hora que ela chegou. Pessoas já estavam sentadas em cadeiras esperando serem atendidas. Anne nem precisou falar nada, Mirai já havia trabalhado no ramo, e pegou os panfletos com as opções, entregando aos clientes enquanto anotava seus pedidos em um pequeno bloco de notas que achou sobre o balcão.

A manhã passou bem mais rápido que o esperado por ela, esqueceu temporariamente das preocupações que a missão mais tarde estava lhe dando, ocupada pelas atividades comuns que fazia ali. O movimento não parecia diminuir, exceto perto do meio-dia, onde finalmente conseguia respirar um pouco antes de ir para próxima mesa. Aos poucos o local começou a ficar mais vazio, e até uma tarde não havia mais ninguém. Joe então fechou o estabelecimento, deixando uma nota que estavam de férias na frente. Mesmo que a missão devesse durar apenas uma noite, ninguém sabia quanto tempo realmente iriam demorar para poderem voltar as atividades normais do dia-a-dia após o que acontecesse naquela noite.

O resto da tarde já não passou tão rápido para Mirai e seus companheiros, entre conversas e provocações de Anne e Joe, a preocupação com a missão estava começando a deixar o nervosismo de todos mais aparentes. A demora do trio que os iria encontrar também levantava algumas bandeiras vermelhas na mente de Mirai, sobre algo já ter dado errado. Quando estava realmente começando a se preocupar já eram seis da tarde, viu três pessoas chegarem e baterem na porta de vidro do local. Ela não conhecia eles, mas uma mulher e dois adolescentes não estariam ali por nada, então deduziu que era quem estavam esperando. Chamou Joe com um grito não muito alto, e ele desceu correndo as escadas, quase tropeçando.

— Chegaram, finalmente! — Enquanto ele destrancava a porta, Mirai sentiu o alívio que a chegada deles causou nela, chegando a dar um suspiro pelo dito motivo. Realmente suas preocupações eram exageradas.

— Ficamos presos no trânsito, aí Sabrina chutou um carro que buzinou e fez um gesto obsceno, e bem... ele está no hospital, passa bem. — O jovem de cabelos rosas foi o primeiro a entrar, abraçando Joe e acenando para Anne que descia as escadas para os encontrar. Mirai deduziu que este deveria ser Joseph, pela descrição do cabelo curto e rosa, arrepiado e os olhos azuis. Observou que sua pele era bem clara, e ele usava uma camisa branca, acompanhada da calça clara também. Ele tinha dezesseis anos, e o que estranhou foi que tirando Anne e Joe, que tinham mais de um metro e oitenta, ele era mais alto que Mirai, Sabrina e Susan. Após sair do abraço de Joe, apertou a mão de Mirai e se apresentou.

— O desgraçado falou... — Sabrina entrou e já ia se justificar, quando Susan a interrompeu.

— Ele buzinou e falou "andem logo". Você saltou do carro e o atacou. — Susan era a mais jovem, apenas quinze anos. Mas seu olhar e expressão séria a faziam parecer até mais velha que a própria Sabrina, que abriu a boca para responder mas não disse nada, lembrando que foi graças a jovenzinha, que Lucy, sua filha, estava segura agora. Tinha olhos castanhos e era da mesma altura que Sabrina, fazendo sua diferença de idade ser ainda menos aparente. Seu cabelo era castanho, curto, e liso salpicado, com uma franja cobrindo a testa. Usava uma roupa toda negra, a camisa, a saia e as meias longas, junto com as sapatilhas da mesma cor.

Enquanto Sabrina e Anne trocavam olhares curtos por um momento, Mirai reparou na mulher mais jovem que ela, mas que emitia força apenas pela sua presença. Sabrina tinha um corpo chamativo, das mulheres dali certamente o "maior", não na altura. Seus olhos verdes brilhavam e chamavam atenção de longe, como seu cabelo roxo, ondulado e longo, solto até as costas. O batom vermelho e seu vestido florido e decotado também ajudavam a chamar atenção, o fato era que ela chamaria atenção onde passassem pela quantia de elementos chamativos acumulados em uma pessoa apenas.

Não foi preciso falar nada, todos começaram a puxar cadeiras em formar algo parecido com um círculo no centro da cafeteria. Joe fechou as cortinas e acendeu a luz. Quando ia se sentar, Anne deu um sorriso de canto e cedeu sua cadeira a ele, já que estava do lado de Joseph. Joe não disse nada, mas a loira viu seus olhos brilharem em agradecimento.

— Susan, Sabrina, Joseph, Mirai, Joe e Anne. Hoje agimos em nome da Insurgência, e nossas ações terão como maior objetivo trazer a vitória ao nosso grupo. — Susan levantou-se e ao pronunciar aquelas palavras, todos os cinco também se levantaram e ficaram em silêncio, após alguns segundos voltando a sua posição original. — Vamos discutir os detalhes finais. Como sabem a missão apenas será coordenada por mim, todos sendo livres para tomarem as decisões drásticas nos momentos necessários, arcando com as consequências que eles terão. Civis não podem se ferir durante o combate, como é regra de nossa luta. Contratamos um Caçador também, mas ele estará agindo de forma completamente independente, já que seu trabalho é apenas eliminar ameaças.

 

*  *  *

Do outro lado da cidade, no que parecia ser um bairro residencial de classe alta, outras pessoas faziam uma reunião muito parecida, exceto que as condições eram muito diferentes. O local parecia ser uma mansão, com um ar antigo a sua arquitetura, e um jovem adulto observava curioso da cadeira onde estava sentado as esculturas de marfim nas extremidades da sala. Eram anjos detalhadamente esculpidos por alguém muito habilidoso.

— É diferente do estilo grego, não? — Uma voz grave desviou a atenção do jovem para o outro lado da mesa onde estava sentado, um homem um pouco mais velho que ele arredou uma cadeira e sentou-se. — Daedalus Glaukopis?

— Isso mesmo. — Confirmando seu nome até se surpreendeu ao ver que o homem não errou a pronúncia. Daedalus tinha vinte anos de idade, e a aparência de tal, talvez um pouco menos. Era alto, quase um metro e oitenta de altura, seus cabelos negros eram um pouco longos e bagunçados, mas o que havia de chamativo nele era a coloração vermelha de seus olhos. — E você deve ser Adrien Blanchard. — Daedalus conhecia o sobrenome que aquele homem carregava. Era de uma família muito famosa na Sociedade, mas Adrien era uma história famosa entre os novatos. Muitos rumores cercavam o homem que segundo alguns, desgraçou e elevou o nome Blanchard na Sociedade.

— Exatamente. — Ele era mais velho e mais alto que Daedalus, com trinta anos e um metro e oitenta e cinco de altura. Seus olhos castanhos combinavam com a cor de seu cabelo curto e arrumado. Ambos estavam usando os uniformes da Sociedade, que não era exatamente um uniforme, já que haviam vários modelos. O de Daedalus era apenas uma camiseta azul e longa, escrito "classe cinco" na altura do peito direito. Sobre ele estava um casaco preto, que não chegava a esconder a identificação mas tapava um pedaço. Já Adrien usava uma camisa preta por baixo, e sua identificação de "classe dois" estava no casaco preto fechado que usava por cima. — Sentindo o peso do nome que carregamos?

Daedalus também era de uma família conhecida na Sociedade, os Glaukopis não eram tanto quanto os Blanchard, mas devido a fama que possuíam era mais que esperado que os dois se reconhecessem. E também, reconhecessem a mulher que entrou na sala, olhando o ambiente de uma forma distraída, nem notou os dois homens na sala.

Adrien conhecia a mulher, não muito alta, com um metro e setenta e vinte e cinco anos. Seus cabelos negros e lisos estavam presos em uma trança, mas algumas mechas caíam sobre seu rosto, sobre os olhos azuis levemente escuros. Duas coisas a faziam ser reconhecida ainda mais facilmente, o nariz levemente torto, provável resultado de algum ferimento grave e a tatuagem em seu ombro esquerdo, de uma rosa dos ventos que não estava visível, mas Adrien sabia que estava lá. Seu nome, Liadam Seamus. O nome não era tão relevante, mas como Glaukopis e Blanchard, Seamus tinha um peso enorme. Não bom, para a Sociedade ao menos. A família de ladrões havia sido exterminada pela Sociedade, após apoiar abertamente os Insurgentes. Bem, quase exterminada. Os poucos membros dispersos restantes, como Liadam, acabaram por se juntar a eles. Ela estava usando uma roupa de couro em tom azul escuro, identificada como "classe quatro".

Como se não fosse suficiente o peso daquela trindade de nomes famosos, o jovem que entrou na sala foi imediatamente reconhecido pelo sobrenome também. Os três presentes na sala se levantaram e levaram a mão aberta até o peito.

— Mestre Edward Nigetlam! — A voz conjunta dos três ecoou e depois o silêncio permaneceu. Edward era jovem, da mesma idade de Daedalus, vinte anos, porém um pouco mais baixo. Seu visual nunca diria que é um dos Grandes Mestres da Sociedade da Magia. Tinha cabelos lisos e longos, de cor castanha e clara nas pontas, escurecendo ao se aproximar da raiz. Usava também um brinco prateado na orelha direta. Olhando de longe não era possível saber que tinha tamanho status dentro da organização, mas um olhar mais atencioso revelava detalhes que comprovavam isso. Primeiro, e menos óbvio, ele estava usando roupas comuns numa reunião de missão, apenas uma camisa preta e calças jeans, sem contar o tênis completamente deselegante. Isso nunca seria permitido, se não fosse ele. E havia uma forma de identificação se não fosse suficiente reconhecê-lo por isso, seu brinco continha uma esmeralda esverdeada, que brilhava se olhada muito tempo. Uma runa que servia para dizer "eu sou muito foda", segundo as palavras dos outros novatos que Daedalus havia encontrado.

— Quantas vezes preciso dizer para não me tratarem dessa forma... — Ele balançou a cabeça negativamente, enquanto Adrien se levantou e puxou a única cadeira na cabeceira da mesa para ele sentar. — Obrigado. — Olhou para os três membros dali, mas seu olhar ficou um pouco mais em Daedalus, desviando assim que ele começou a corresponder.

— Sua irmã mataria cada um de nós se não fizéssemos isso. — Adrien voltou a sentar-se no local onde estava antes. — Creio que já conhece, o novato Daedalus e a mulher que vai fazer sua primeira grande missão, Liadam.

— Certo, li as fichas de vocês. Bem, não deveríamos ter mais um Caçador conosco?

— Bem... o Borgia gosta de fazer as coisas de um jeito mais... isolado. Então ele não se apresentou ainda, mas tenho certeza que ele estará lá. Conheço ele dos meus tempos no Instituto.

— Por mim tudo bem. Se você confia nele, também irei. Enfim, vamos acabar logo com isso já que sei que é entediante. Nossa missão é transportar um objeto que chegará em breve aqui, até o HQ da Sociedade aqui em Nova Iorque. Nada muito difícil, a primeira vista. Mas obviamente os Insurgentes vão dar as caras, então temos que tomar lidar com isso. Segundo as aves, parece haver um certo movimento deles por aqui, então nos esperam. Eu vou entrar e iniciar a movimentação do objeto, e como deduzo, eles nos atacarão com um time que é responsável por levar o objeto. Nesse momento, Daedalus, eu e Liadam, nos isolaremos com eles para impedir que retirem o alvo do local, e o segundo time, o de transporte, vai se mover. Aí nosso Caçador e Adrien vão os interceptar. Só precisamos segurar a batalha por tempo suficiente até os reforços chegarem. Não matem eles, quem pudermos capturar, capturaremos.

Edward concluiu a explicação de seu plano, e após o fim da rápida discussão ele se retirou da mesa, liberando todos momentaneamente. Foi até o lado de fora da mansão e sentou se na escadaria da entrada, que levava até o enorme gramado na frente do local. Do outro lado da rua haviam casas tão suntuosas quanto aquela, como dos lados. Estava tudo quieto, mas algumas luzes ainda estavam acesas em certas casas.

Daedalus chegou enquanto ele observava o ambiente em silêncio. Talvez por causa de sua magia, vaga-lumes e mariposas estavam começando a se juntar pelo local, próximo a Edward.

— Bem-vindo a Sociedade da Magia. Eu acho. — Edward disse, sem nem olhar para onde Daedalus estava. Era fácil sentir a presença de outro mago Natural se este não estivesse ocultando seu mana.

— Agradeço, Senhor...

— Pule as formalidades. Eu tenho a mesma idade que você, e quero sentir o que é ser um humano normal as vezes. — Edward continuava focado no ambiente, estendeu sua mão e uma borboleta vermelha pousou nela.

— Tudo bem, se assim prefere... — Daedalus podia sentir a força de Edward. Bem, não era exatamente "força" mas a intensidade de sua Conexão. Poderosa, como apenas um Grande Mestre poderia ter. Fazia o se sentir um pouco pequeno diante de tamanho poder, mesmo que fosse maior que ele.

— Um... desculpe a pergunta, mas você é... — Edward finalmente virou para onde Daedalus estava, de pé, escorado num dos pilares decorativos na porta. Ele se sentiu um pouco desconfortável com o que achou que ele estava insinuando. Sabia que a Sociedade era um tanto antiquada e preconceituosa, então esperava algum comentário inoportuno do Grande Mestre, enquanto abria a boca para respondê-lo de forma áspera. — Como eu?

Daedalus deixou a respiração presa, junto com as palavras levemente agressivas que iria proferir, depois suspirou, se repreendendo mentalmente por elas.

— Se está falando o que eu penso que está, somos iguais sim. — Ele respondeu num tom gentil, enquanto ele e Edward trocavam olhares por um momento.

— Deu pra sentir a oscilação da intensidade do seu mana. Achou que seria como os outros da nossa organização? — Edward desviou seu olhar novamente, dessa vez focando no chão. Daedalus estava se impressionando um pouco mais a cada momento com o Grande Mestre, já que perceber mudanças de mana causadas por humor era quase impossível sem anos de treinamento. Quem sabe o que esse jovem seria capaz em mais algum tempo? Realmente os líderes eram outro nível.

— Não vou mentir. Esperava que fosse ser sim. Mas é uma agradável surpresa saber que me enganei. — Ele respondeu e Edward sorriu por um momento, ainda com os olhos direcionados ao chão.

— Eu quero mudar um pouco as coisas e como nos vêem. Nada na natureza existe em uma forma apenas para sempre, então por que nossa Sociedade tem que se manter imutável? Claro, não estou falando de mudar drasticamente. Apenas quero mudar a intolerância dos nossos membros. Heh, minha irmã certamente nunca aprovaria meus pensamentos. — Ele falou, quase sussurrando, como se apenas tivesse pensando em voz alta.

— Tenho certeza que pode. Estava um pouco incerto quanto a me juntar ao seu grupo, mas estou vendo que aqui é um lugar muito melhor do que parece. — Daedalus inconscientemente se aproximou e colocou sua mão sobre o ombro do homem, esquecendo naquele momento de suas posições. Assim que recobrou seu senso, se afastou e estava prestes a se desculpar.

— Seu toque foi tão espontâneo... fazia tanto tempo que não sentia algo assim. — Edward olhou para Daedalus, colocando a mão onde ele havia tocado. — A essência de uma mago Natural é muito reconfortante para alguém sensível como eu. — Ele deu um pequeno sorriso e se levantou, Daedalus sentiu a mana dele desaparecer do ambiente, junto com os vaga-lumes que voaram para longe. — Quero te conhecer melhor, em um momento melhor.

Edward disse isso e não esperou uma resposta, voltou para dentro da mansão, de volta para a sala onde estavam. Adrien conversava com a Liadam, quando os dois se levantaram para saudar ele. Pelo seu olhar de extrema desaprovação, os dois viram que não deveriam terminar o gesto e sentaram-se.

— Tudo certo por aqui? — Ele perguntou, se sentando em outra posição na mesa, duas cadeiras afastado de Adrien e não na cabeceira.

— Sim. Eu e a jovem mulher estávamos discutindo algumas estratégias de combate. — Adrien informou Edward dos assuntos que tratavam, este não disse nada. Seus olhos estavam fixos na mulher.

— Quero me desculpar em nome dos Grandes Mestres, pelo que aconteceu com sua familía.

Ao ouvir essas palavras, o punho de Liadam enrijeceu debaixo da mesa. Sentiu a raiva subir por seu corpo, e seus olhos mostravam isso, escurecendo até ficarem quase negros. Felizmente nenhum dos dois sabia o que aquilo significava. Se esforçou para manter a expressão boba e distraída, enquanto lentamente relaxava sua mão.

— Tudo bem, Grande Mestre. Não guardo rancores. — Ela falou calma, sua voz completamente normal. Edward suspirou, havia sentido a agitação absurda do mana dela, mas fingiu que não.

— Espero que ao trabalhar conosco, possamos melhorar nossas relações. — Ele  concluiu e se levantou, saindo daquele ambiente, indo até a próxima sala, que parecia ser uma comum, com sofás, armários e uma enorme televisão na frente. Não chegou a sentar em qualquer lugar, apenas apontou sua mão para a porta e com o vento fraco que se formou, a fechou, não antes de Adrien passar por ela.

— Está tudo bem, Edward? — Ele não era exatamente o tipo cuidadoso, mas pretendia manter uma boa relação com a família pra quem trabalhava, e Maya executaria Deus e o mundo se causassem algum mal a seu irmão, então para evitar qualquer coisa, achou melhor agir.

— Você sabe. Nem um pouco. Não posso lutar... sou fraco. — Edward escorou a mão na parede, apoiando sua cabeça no braço.

— Nunca entenderei porquê Vlad mandou você para essa missão. Mas você sabe, ele não comete erros. Nunca. Então confie no julgamento dele. Juntos sairemos vitoriosos essa noite.

Edward respirou fundo, com as palavras de Adrien ecoando em sua mente. Realmente, Vlad nunca errou, e se o escalou para aquela missão, acreditava em seu potencial. Ele levantou a cabeça, Adrien percebeu que ele estava quase chorando, mas permaneceu forte.

*  *  *

 

Gabriel estava sentado num bar quase vazio. O garçom já havia lhe avisado que estava na hora de fecharem e se preparava para sair, pediu uma última dose de cerveja, bebendo rapidamente, pagando e saindo logo em seguida. Ele tinha quarenta anos, mas não parecia tão velho. Era bem alto, e visualmente forte também, com quase dois metros de altura. Estava apenas usando uma camisa azul escura e uma calça jeans, junto com sapatos pretos. Seu cabelo negro era raspado dos lados e curto e tinha uma barba preta com alguns fios brancos. Assim que saiu do estabelecimento, ouviu a porta de metal bater e olhou para trás por reflexo, apenas fazendo com que trombasse com alguém distraído que passou sem prestar atenção.

— Olhe por onde anda. — Ele disse sem nem ver quem havia sido atingido, não era bem culpa del, então não havia a mínima necessidade de se desculpar.

— Foi mal, cara. — A resposta veio de outro homem, bem mais jovem que ele. Precisamente metade de sua idade, vinte anos. Era um jovem negro, com cabelos castanhos e crespos, da mesma cor de seus olhos. Usava uma jaqueta preta junto com a calça da mesma cor. Gabriel ainda reparou na sobrancelha riscada dele, além da tatuagem que parecia ser uma lágrima abaixo de seu olho direito. Não era difícil perceber, por seu estilo, de onde era. Mas Gabriel sentiu uma energia diferente dele, normalmente nem se prestaria ao trabalho de ver quem era, mas sentiu que era um mago e ao prestar atenção no rosto um do outro, se reconheceram imediatamente, falando o nome um do outro praticamente ao mesmo tempo. Já haviam partido em missões juntos algumas vezes, e eram bons Caçadores.

Como de praxe, não falaram nada, já que nem conhecidos eram. Natural das Caçadores serem um pouco isolados, visto que poderiam estar em missões opostas nesse exato momento. Kamau seguiu seu caminho, voltando a colocar os fones de ouvido, que Gabriel conseguia ouvir de alguns metros, até desaparecer em uma esquina qualquer. O homem então prosseguiu na outra direção, prestes a iniciar sua missão.

(...)


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Notas finais do capítulo

Então. Primeiro ponto, essa é uma história interativa, então a participação dos criadores dos personagens é essencial, pra manter eles vivos kk
Não precisa fazer um comentário longo e todo elaborado, mas precisa fazer ao menos um em três capítulos, se justificar pode ficar mais, mas enfim.

E segundo, estarei postando a história no wattpad, mas pra isso preciso da permissão de todo mundo envolvido. É isso aí, obrigado por lerem.
Aceito critícas, sugestões, elogios, tudo. Suas opiniões quanto aos personagens até agora mostrados, e como retratei os seus e tudo mais, vejo vocês nos comentários, e até mais.