Lovely Death Angel escrita por Jibrille_chan


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Ai i.i~ Tá acabando! Só falta mais um! ç_ç



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       Tranquei a porta do café, vendo a plaquinha que anunciava "fechado" balançar levemente. Naquele dia completavam-se exatos dezessete anos da morte de Kouyou. Suspirei, guardando o molho de chaves no bolso e tomando um rumo já conhecido meu.

       Depois de atravessar a cidade, lá estava eu, de volta ao apartamento de Kouyou. Já estava abandonado há alguns anos, ainda restando partes da mobília. A maioria já havia sido tirado. Acho que os pais dele não tiveram coragem de se desfazer do lugar. Fui caminhando lentamente pela sala, sem me dar ao trabalho de acender a luz ou afastar as cortinas, apenas imerso em lembranças. Era quase um ritual eu voltar ali todo ano, naquela mesma data.

       Fui até a cozinha, parando próximo ao balcão, pegando uma de suas xícaras azuis, agora empoeirada e trincada. Tantas lembranças. Do que foi, do que poderia ter sido... Suspirei mais uma vez, um pequeno sorriso se formando no meu rosto pelas lembranças boas.

       Ouvi um movimento atrás de mim e me virei, ainda com a xícara na mão. Senti minha respiração parar ao vê-lo ali, o mesmo rosto, os fios loiros levemente bagunçados, as mãos encostadas no batente da porta, me olhando. A xícara escorregou da minha mão, se espatifando no chão. Kouyou recuou um passo, fugindo dos cacos de porcelana, e eu despertei dos meus pensamentos.

- Ah, desculpa, Kou, eu só...

Me calei, olhando em volta pra ver se achava algo para recolher aqueles cacos.

- Por que está se desculpando comigo?

Parei, sem reação. Aquele não era o meu Kouyou.

- Mania. O que você está fazendo aqui, Kou?

Ele ficou quieto por alguns instantes, depois respondeu.

       - Todo ano você sempre some nesse dia. Eu sempre quis saber pra onde você ia... e esse ano eu reuni coragem pra te seguir.

Ergui as duas sobrancelhas.

- Você me seguiu?

       - Eu... ah... sim. – ele encarou o chão por alguns segundos, depois me olhou com ar intrigado. – Que lugar é esse? Eu... sinto como se eu conhecesse, mas eu tenho certeza de que eu nunca vim aqui. Não faz sentido.

- Pelo contrário, faz muito sentido.

       Ele me olhou completamente confuso. Me encostei no balcão, encarando a parede à minha frente. Eu sabia que chegaria o dia em que eu teria aquela conversa com ele, mas saber disso não tornava as coisas mais fáceis.

- Yuu?

       - E se eu te dissesse... que você já morou aqui. Que você era pediatra e trabalhava no hospital. Que eu não sou humano e muito menos o seu tio. Que nós nos conhecemos por... acaso – sorri amargo ao dizer aquela palavra. -, e que eu era um anjo da morte, incumbido de te levar. Que você morreu por conta de um tumor no cérebro e eu troquei as minhas asas pra ter você de volta.

- Eu diria que você andou tomando substâncias ilícitas.

Eu ri baixo, fechando os olhos, depois o encarei.

      - Você convive comigo diariamente, então talvez por isso não perceba. Mas eu não envelheço na mesma velocidade que as outras pessoas. Nesses dezessete anos, só o que se modificou foi o meu cabelo e minhas unhas, que cresceram com uma lentidão muito acima da normal.

Ele ficou quieto, me observando.

- Então... você é um anjo?

- Eu fui.

- E não é meu parente?

- Não.

- E o que eu sou, afinal?

Eu o olhei longamente antes de responder.

       - Você é a reencarnação de uma pessoa que eu amei muito, mas... isso não te faz ser a mesma pessoa. É, eu percebi isso só agora... Você tem a sua vida, e as suas escolhas. Só porque você é a reencarnação do Kouyou que eu conheci não quer dizer que você vai fazer as mesmas escolhas. Nem que você vá amar a mesma pessoa.

       Sorri amargo, encarando o chão e os cacos da porcelana azul. Kouyou havia caído num silêncio completamente compreensível.

- Kou, pode... me deixar aqui sozinho? Por favor? – pedi, sem coragem de olhá-lo.

       Ele não respondeu, mas ouvi seus passos enquanto saía. Fechei os olhos, sentindo as lágrimas correrem pelo meu rosto. Mais uma vez eu o havia perdido.

Continua...


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