9 Zonas escrita por Cas Hunt


Capítulo 15
Problemas




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Fico de olho em Gesabel. A cada alguns poucos segundos dou uma olhada onde ela está conferindo que continua lá em sua cama com os cabelos azuis desarrumados e o traje amarelado amassado. Maior parte das pessoas mal parece ter notado a morte de Kira a não ser os de traje amarelo que a cada minuto parecem pesar mais suas carrancas em minha direção. Uma vez ou outra vejo um brilho na mão de um deles que grunhe pra mim. É, parece que como a Kira eles não parecem ligar para a expulsão por homicídio.

—Pode me explicar por que o Jones quer tanto me manter á dois metros de você? —Foley senta na minha cama de supetão, o colchão se move e quase bato a cabeça no beliche de cima.

—O que disse?

—Jones. Vocês dois brigaram? Se ameaçaram ou coisa do tipo?

—Não que eu... — lembro-me de mais cedo quando lutei contra Gesabel — Ah. Tive uma luta com uma garota dos amarelos.

—E?

—Quase nos matamos.

—Ah. Que bobagem. E por que está tão pensativa?

—Pensativa?

—É. Fica aí olhando para o nada.

Fico em silencio mas meus olhos me traem disparando na direção da cama de Jug ainda desocupada. É claro que Foley percebe.

—Vocês dois se aproximam bastante e se afastam de uma hora para outra, sabia? Isso me dá dor de cabeça.

—Temos nossos motivos.

—Motivos idiotas, só pode — Foley me dá um beliscão e acerto um tapa na sua mão. — Garota, Jug está caidinho por você e você por ele. Vocês quase babam em cima um do outro quando não estão se olhando.

Solto uma risada fraca tentando não me sentir mais para baixo com isso. E se eu tiver estragado tudo? Para os dois lados? Estraguei com ambos Jugen e a resistência?

—Isso é coisa da sua cabeça.

—Nem de longe, querida.

Foley pega meu rosto puxando-me até estar encarando seus olhos verdes-escuros.

—Pensa que ninguém nota o jeito como olha pra ele? Como vocês dois se tratam? Pode tentar enganar a si mesma, Alya, mas todos sabemos que nenhum de vocês vai largar o outro assim tão fácil. Então levanta essa bunda daí e vai procurar ele.

O sorriso que espelho dele morre aos poucos. Como ele sabe meu nome de verdade?

—Alay — corrijo tentando manter o disfarce.

Foley revira os olhos me largando.

—Parecem a mesma coisa. Anda logo!

Ele aponta na direção do túnel mais próximo.

—Já olhei por todo...

—Conferiu o poço?

Encaro Foley, agarro seu rosto e deposito um beijo em sua testa sorrindo de verdade pela primeira vez no dia.

—Você é um gênio!

Disparo pelas camas ao túnel oposto ao que os oficiais pegam quando querem nos informar de algum acontecimento importante ou de decisões cruciais. Minhas pernas se movem tão intensas quanto minha vontade de esclarecer tudo com Jug.

As paredes parecem borrões, sinto-me mais leve e sem uma gota de nervosismo ao chegar ao túnel do poço e descer as escadas com velocidade. Meu animo vai desaparecendo aos poucos quando noto duas sentinelas nos pés das escadas. Achei que não estariam por aqui, contudo mesmo devagar tento passar por elas.

—Não é permitido prosseguir — os dois falam em uníssono cruzando as lanças para me impedir.

—Por que?

—Não é permitido prosseguir.

—Mas por que?

Eles não respondem. São mais altos, bem armados e treinados, nem se quisesse conseguiria passar por eles. Noto que a contagem do cronograma da parede do poço está zerada. Fico sem entender por que protegeriam um local se ele não tem ninguém.

—Só estou procurando meu amigo — falo prestando mais atenção ás vozes dentro do poço. — Ele é alto, um metro e noventa, talvez. Cabelo preto, olhos claros. Vocês não...?

Minha voz é abafada por um grito. Um grito alto, que percorre todas as paredes, se infiltra pelos meus ossos e transforma meus músculos e coragem em água. Sinto-os escorrendo pelo meu corpo, evaporando no ar.

Jug. Ele que gritou. Reconheço sua voz grave que sempre deveria soar macia e agora sai dolorosa. Olho para as duas sentinelas, impassíveis de comunicação ou protestos. Tem alguma coisa muito errada e preciso passar por elas para conseguir chegar até Jugen.

Outra vez o grito dele e me encolho. Preciso pensar. Nada de perder o controle, nada de perder o controle, Alya! Preciso me concentrar. Dou as costas para as sentinelas pisando duro ao subir as escadas fazendo com que escutem meus passos até o túnel. Percorro seu caminho e volto com passos silenciosos á beira da escada.

—O que está fazendo? — Foley sussurra no meu ouvido.

Dou um salto quase acertando o nariz dele. Desvio e acabo acertando o seio esquerdo de Gesabel. Ela solta um palavrão e agarra onde atingi não muito tempo atrás.

—Conhece ela? — pergunto sentindo uma superfície macia de ódio passar por meu sangue.

—Todos os espiões se conhecem, garota — ela reclama fechando sua jaqueta amarela.

Ergo uma sobrancelha para Foley e ele dá de ombros.

—Por que acha que falo com todo mundo?

O grito de Jug soa mais fraco daqui, mas ainda causa uma série de calafrios, uma dor tão nítida em meu peito que confiro momentaneamente a blusa com medo de ter me ferido em algum lugar.

—O que está acontecendo? —aponto para as escadas com o queixo esforçando-me para manter a voz baixa.

—Não sabemos de muita coisa — Foley pisca na escuridão —Só que não achava que ele estaria mesmo aqui.

—Como assim?

—O médico é um dos Radios — Gesabel cruza os braços sobre o peito — Quase sufocou Jugen com o travesseiro hoje de manhã. Eles vão atacar o prédio do ditador e planejavam que a morte recente do filho o abalasse.

—Só que atrapalharam os planos dele. A tenente entrou no quarto com George já apertando o travesseiro contra o Jug. Com essa tentativa clara de homicídio esperávamos que ele já tivesse ido embora.

—Se achava que ele não estava aqui, por que me mandou pra cá?

Gesabel desvia os olhos de mim.

—Meu superior não compareceu — ela confessa — E então vi os sentinelas descendo. Foley contou que os oficiais estavam brigando sobre algum...

—Rebelde capturado aqui dentro, no Complexo — o moreno completa.

Alterno o olhar entre os dois. Por que pegariam o Jug? Acham que ele é o rebelde? Merda, tem tantos malditos espiões por aqui e pegam justo o filho do ditador? Onde diabos estão com a cabeça?

—Jug não é dos Radios, é? — pergunto para conferir.

—Não.

—Que pergunta idiota. — Gesabel resmunga — Prenderam o Lion lá embaixo. Ele é o rebelde.

—Lion deveria estar com o Jug e juntaram um mais um...

—Acham que Jug é o informante? — questiono para Foley.

Ele dá de ombros.

—Talvez. Mas a tenente é meio maluca, pode estar criando teorias da conspiração agora mesmo.

Jugen grita outra vez. Contenho-me para não estragar tudo e descer lá tentando atacar os sentinelas para chegar até ele.

—Preciso tirar ele de lá.

—Finalmente algo decente sai da sua boca — Gesabel bufa passando na minha frente — Quando chegarmos ao acampamento quero que pague o dentista pra repor meu dente.

—Vai pro inferno.

—Meninas. — Foley repreende.

—Podemos fazer um teatrinho — ela sugere olhando as escadas — Digno do prêmio do ano da Zona 2. Você passa mal nos braços de um dos sentinelas, Foley enrola eles e eu pego o Lion.

—Ela está brincando, certo? — olho para meu antigo parceiro.

—Esse é um péssimo plano, Gesa.

—Faz um melhor!

—Derrubamos os dois. Nós três.

—Ou só falamos que tem um ataque rolando e eles estão sendo chamados.

Os dois olham na minha direção. Cruzo os braços e ergo uma sobrancelha.

—Ideia de merda hein.

—Pode funcionar — Foley sorri — A tenente os mandou ficar em alerta e o tempo até chegarem ao exterior nos dá oportunidade de tirar Lion de lá.

—E o Jug — acrescento.

Gesabel parece querer me matar.

—Tem noção de que assim que fizermos isso vamos estampar pra todo mundo que somos Exilados? E que vamos ter que, vou deixar bem claro, fugir.

—Sei disso.

—E por que diabos quer trazer um dos filhos do ditador?

—Não vou deixar ele aqui. Os Radios vão tentar mata-lo de novo.

—Então fica e protege ele.

—Não posso ficar.

—Por que?

—Os de traje amarelo. Pensam que matei a Kira e vão me matar, com certeza.

Encaro Gesabel esperando confirmação e ela apenas dá de ombros concordando com a cabeça e dá uma ideia que não me agrada:

—Podemos levar ele como refém. Isso sim abalaria a moral do ditador.

—Vocês duas são malucas.

—Foley, vai abrir caminho na saída 32, a que usamos pra correr com o comandante.

—Vou pegar mascaras também — ele resmunga saindo pelo túnel. — Vocês têm 6 minutos antes que eu vá embora sozinho!

Fico sozinha com ela. Gesabel dá alguns pulinhos e fico encarando-a como se ela fosse maluca.

—Ajuda a dar um ar de cansaço — ela explica olhando as escadas. — Fica aqui em cima e deixa eles passarem pra depois descer e me ajudar. Só vem quando eu mandar, entendeu?

Concordo com a cabeça. Ela desce as escadas já fingindo desespero e me afasto até a parte mais escura do túnel encolhendo-me em minhas roupas verde escuro.


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