SOMBRAS - A Armadilha da Rainha escrita por GabihS


Capítulo 23
Capítulo 21 - Ao cair da noite




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As roupas de funerais continuavam sendo as mesmas, pelo menos...

Katrina entregou para Alex, em seu quarto, um vestido preto na altura do joelho, de mangas compridas e rendado da cintura para cima, com decote discreto.

Ela deixou o cabelo solto e não usou nenhuma das maquiagens que apareceram em seu quarto. A única coisa que pegou foi um lenço que estava jogado dentro do armário, para enxugar as mãos, que já estavam suadas o suficiente ao sair de seu quarto.

O clima tinha mudado drasticamente. Era como se a natureza também pudesse sentir a perda de Elliot. Um simples corajoso e jovem garoto. Estava quente, mas havia muitas nuvens fechando o céu. Alex queria que chovesse. Queria poder ter a oportunidade de misturar-se com as gotas caindo. Lavar o que tinha acontecido.

Quando o sol finalmente se pôs, um alarme soou por entre os corredores, seguido por uma chamada.

Todos os alunos que forem prestar respeitos ao precioso e falecido aliado, dirijam-se para a frente do Simulador. De lá, todos seguiremos para dentro do Bosque.

Alex o fez e não foi difícil encontrar seus irmãos, mesmo cercados por tantas pessoas vestidas com a mesma cor.

Antes que ela estivesse perto o suficiente para ouvir, Andrew repreendeu Dylan sobre algo, e os dois logo mudaram o rumo da conversa. Eles pareciam evita-la em certos momentos. Como se por conta do incidente com o vampiro, ela não fosse saber lidar com o que estava por vir. Ela reconhecia que não tinha reagido da melhor maneira, logo depois, mas haviam muitas emoções para lidar, então teria que esperar.

Não demorou muito para que os demais chegassem, assim como Hérnia, Ronald, Katrina, Katharine e Reginald, que se aproximavam juntos de Igor. Eles abriram caminho por entre a multidão e seguiram para a parte de trás do simulador. Lá começava o bosque, que seguia em ‘L’, por uma extensão ainda indeterminada para os Daddrien.

Conforme foram avançando, as árvores começaram a se distanciar mais, possibilitando a passagem de todos. Dylan comentou que não tinha tantos aliados quanto ele esperava, e era verdade. Alex ficou indignada com a falta de sensibilidade.

Eles andaram cabisbaixos por alguns metros até que atingiram o que Andrew pôde facilmente identificar como sendo o cemitério daquele lugar. Lápides estavam espalhadas, e havia mais evidencias de mortes ali do que ele gostaria de saber. Ele imaginava qual seria a história de cada um que havia perdido a vida em prol daquele trabalho.

De frente para a saída do meio das árvores, havia um leito de pedra maciça, não vazada, onde jazia o corpo de Elliot, coberto por um lençol branco. Ele era tão pequeno aos olhos dos demais.

Alex não saberia descrever o que ela estava sentindo em seu íntimo. Uma mistura de tristeza, culpa, arrependimento, impotência, que combinado com o nó que não deixava sua garganta, fez com que buscasse pela mão de seu irmão mais velho.

Andrew olhou para baixo, sem entender, em um primeiro momento, mas depois devolveu o aperto.

Enquanto os demais se espalhavam pela área do cemitério, Preston se posicionou ao lado do leito, enquanto Hérnia, Ronald, Reginald, Katrina, Katharine e Igor esperavam próximos a ele.

— Elliot Marques, era um aliado importante, como todos vocês são. – Ele começou. – Hoje, ele descansa nos Campos Elísios. E eu lhes digo isso com toda a certeza do meu coração. Ele perdeu sua vida como um herói. Lutou pelo o que ele achou certo, para salvar a vida de um dos seus. – Ele não citou o nome de Alex, mas praticamente todos os olhares estavam sobre ela. Dylan segurou sua outra mão num movimento rápido, como um apoio. Ele não era o foco dos olhares de repreensão, mas se sentira ameaçado. – É por isso que nesse momento, entregamos sua alma, para que a natureza use sua bravura e coragem.

Com isso, Preston retirou de seu bolso um angape fundamental, verde, com uma mudança de luz ao seu redor. – Rebertola. – Ele proferiu o feitiço, e a forma que se mantinha ao redor do angape se desfez. Depois disso, mais do que depressa, ele voltou para seu dono, Elliot, repousando em cima do lençol.

Os outros, que esperavam Preston terminar de falar, agora davam as mãos, formando um círculo ao redor do leito de Elliot. Eles fecharam os olhos, e repetiram juntos, as mesmas palavras, mais de uma vez.

To sóma enós polemistí stirízetai símera, allá i psychí tou eínai méros tis exousías. Ton odigíste mésa apó ta monopátia tou fotós, ópou tha synantithoúme óloi xaná. *

O que o cérebro de Dylan foi capaz de traduzir, sem ele nem ao menos se esforçar. - O corpo de um guerreiro hoje descansa, mas sua alma é uma parte do poder. Guie-o pelos caminhos de luz, onde todos nos reencontraremos. - Ele sussurrou para seus irmãos, quando o grupo à sua frente recomeçava a prece pela terceira vez.

— Como você...? – Andrew sussurrou de volta, mas foi interrompido por Dylan antes de terminar.

— Eu não sei. – E ele realmente não tinha ideia de como aquilo acontecia.

Quando chegaram a quarta repetição, pontos luminosos começaram a sair do corpo de Elliot. Diversos pontos de luz azul flutuavam, indo de encontro ao céu. As poucas estrelas que se ousavam em aparecer, traçavam um caminho, como se alinhando-se a eles.

— Fadas. – Alex sussurrou quando distinguiu uma pela ilustração do primeiro livro que abrira. Elas eram realmente como em desenhos. Pequenos seres, com asas transparentes e brilhantes.

Havia seis delas reunidas ao redor do menino. E os pontos luminosos se tornaram feixes de luz em onda, circulando. Havia magia no ar, e eles podiam sentir se espalhar. O clima triste diminuíra com a presença delas. A cena era comovente e emocionante. Tudo o que Alex queria, era poder abraçar alguém.

Dylan o fez, antes mesmo dela completar o pensamento. Ele a puxou pelas costas, e passou seus braços ao redor dela. Seu irmão caçula ainda era três centímetros menor do que ela, então eles encostaram suas cabeças, terminando de ver a cena. Alex pôde sentir lágrimas queimando por trás de seus olhos.

 

* Forma falada do grego para: Το σώμα ενός πολεμιστή στηρίζεται σήμερα, αλλά η ψυχή του είναι μέρος της εξουσίας. Τον οδηγήστε μέσα από τα μονοπάτια του φωτός, όπου θα συναντηθούμε όλοι ξανά..

Os sete, mantiveram as mãos dadas, mesmo depois de ter parado de repetir as palavras. Até o momento em que todas as fadas se puseram a voar, em direção as estrelas. Andrew deduziu, que em rumo ao Vale Elementar. No entanto, uma última restava, e ela não se foi, até tocar no angape fundamental, ainda sobre o peito de Elliot. No mesmo instante do toque, o cristal se tornou totalmente transparente. Sem cor. Sem poder. Sem vida.

Um grito estridente e doloroso ao fundo, veio em seguida, cortante como uma faca. - O grito de uma banshee. – Katrina suspirou, soltando das mãos dos demais.

Alex soltou as mãos de seus irmãos e seguiu até Caleb, que avistara na multidão, quatro pessoas à sua direita. Ela ignorou os olhares estranhos e críticos que recebera, conforme andava. Algumas pessoas já estavam até mesmo se afastando, voltando para dentro da Casa, conforme gotas de chuva começavam a cair.

— O que é uma banshee? – Ela sussurrou.

— Uma banshee é uma fada sombria. A forma obscura das fadas. – Caleb e Alex estavam na varanda da biblioteca, eles seguiram para lá, ao invés de irem ao refeitório para o jantar.

A chuva não durara muito. Serviu apenas para cumprir o desejo de Alex. Ela sentiu as gotas de água contra seu rosto, molhando suas roupas e cabelo. Ela ainda estava úmida. Assim como Caleb, que a esperara. Ele queria conversar, talvez tanto quanto ela.

— Ela não é má, mas ela carrega a morte. – Ele prosseguiu. - Quando alguém avista uma banshee, ou escuta o seu grito, sua morte está próxima.

— Então por que ela gritou hoje? – Alex perguntou.

— Porque a morte de Elliot não estava planejada. – Aquelas palavras fizeram Alex desviar o olhar. – Aquela não era a batalha dele, por isso a banshee gritou só quando seu angape fundamental foi apagado. – Eles ficaram em silêncio, até que ele falou novamente. – Não é sua culpa, Alex.

Ela deixou um riso sarcástico escapar por seus lábios. - Por que todos ficam falando isso? – Resmungou.

— Porque é evidente que você se sente responsável. Mesmo não sendo. – Ela ia argumentar, mas ele foi mais rápido. – Eu sei que eu disse que a morte dele não era planejada. Mas isso não significa que ele não teria corrido para ajudar qualquer um que estivesse em seu lugar. Ele era novo, mas tinha mais coragem do que muitos aliados que eu conheço, pode ter certeza.

— Não tenho como simplesmente mudar o que eu sinto, Caleb.

— Eu sei, mas você pode mudar o que outros vão sentir. – Ele estava sério, quando ela o olhou, confusa. Mas ele explicou, e falava sério em cada sílaba. – Aprenda a lutar e mate a maior quantidade de desgraçados com presas que você conseguir.

Assim que as estrelas iluminaram o céu, sete sinos tocaram. Dando início para o banquete da vitória de Violet e Edmundo.

Durante o resto da tarde, mesas foram arrastadas para o lado de fora, sendo depositadas em frente ao refeitório, quase chegando à entrada da Vila dos impuros. Como decoração, lampiões com vagalumes foram posicionados com certa distância e em lugares estratégicos. Os que mais chamavam a atenção foram os dois posicionados à frente do caminho que saia da Vila, por onde Violet entrou, com a Cornucópia em uma mão. Com a outra, ela arrastava Fênix junta de si. Edmundo vinha ao seu lado, já indo de encontro a seus amigos.

Todos gritaram quando ela ergueu o chifre acima de sua cabeça e gritou junto. Fênix estava encolhido e bem desconfortável com a situação.

Os impuros esperavam que a vencedora anunciasse qual seria o jantar especial daquela noite, mas enquanto todos esperavam ela cochichava algo com Fênix.

— O que vai ser, Violet? – Camille perguntou, colocando-se no meio de todos.

Assim como os demais, ela havia trocado de roupa, estava com uma camiseta roxa de mangas cumpridas, era quase uma homenagem irônica a Violet, pela cor de seus olhos; calça jeans clara e um all star, também roxo.

Izzie não pôde deixar de cutucar seu irmão, que por sua vez não conseguia tirar os olhos de Camille, parada a sua frente.

Violet sorriu quando Fênix finalmente havia escolhido. – Pizza. — Ela gritou.

Edmundo era indiferente ao que ela escolhesse. Eles eram a dupla perfeita.

Alguns festejaram com o anúncio, outros apenas resmungaram sobre não haver nada de novo. Violet por sua vez, não se incomodou, e com jeito, depositou a Cornucópia na mesa mais distante. Ela se curvou, sussurrando para a cornucópia Iguare Mansour Pizza, e logo a neblina começou a se formar ao redor de todas as mesas posicionadas.

Pratos e copos começaram a surgiu. Havia diversos tipos de sucos preenchendo as taças, enquanto nos pratos, fatias de todos os sabores de pizzas que eles pudessem pensar estavam sendo abastecidos.

Matthew e Isabel não disfarçaram seu espanto.

— Vocês não cansam de fazer essas caras? – Camille caçoou conforme se aproximava, já com uma taça e um prato, com pizza de calabresa, em mãos.

— Eu achei, que a Cornucópia só fornecesse frutas e grãos. – Matthew comentou em seguida.

Camille riu com a afirmativa. – Não. Com as palavras certas, fornece qualquer coisa. – Ela tomou um gale da taça, e se afastou com um ar misterioso.

— Eu adoro esse mundo de magia. – Matt disse, apressando-se em direção à mesa, deixando Izzie rindo sozinha por um momento.

De súbito uma voz surgiu atrás dela, soando baixa. - Em nenhum mundo as regras são definitivas.

Izzie se voltou para trás, ficando de frente com o mesmo garoto que não os socorreu no lago, e logo seguiu para a casa abandonada. O mesmo que ao mesmo tempo a deixava com arrepios e curiosidade.

— O que você disse? – Ela perguntou.

— Só é preciso outra perspectiva. – Ele deu de ombros e puxou o gorro para mais perto, caminhando para longe.

Não demorou muito para que Matthew surgisse, puxando sua irmã para que se servisse também, e ela não podia negar, que era a melhor pizza que ela já havia comido. Ela esperava uma noite com implicâncias, mas foi o oposto. Matthew e ela, há muito tempo, não ficavam com o mesmo grupo de pessoas, e ela acabou percebendo, que seu irmão, mesmo sendo um idiota em boa parte do tempo, também era uma boa companhia.

Para sua primeira experiência, as coisas estavam melhor do que podiam esperar. Mas mesmo com os momentos alegres, Matthew pensava em seus irmãos, o que mudava seu semblante, e quando Izzie percebia, era sua vez de pensar sobre eles.


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