SOMBRAS - A Armadilha da Rainha escrita por GabihS


Capítulo 19
Capítulo 17 - Colônia de férias às avessas




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Matthew esperava que sua nova vida fosse menos agitada do que a antiga, mas seus sonhos não se tornaram realidade. Por volta das cinco da manhã, juntamente com o nascer do sol, uma corneta soou alta do lado de fora.

Logo o barulho se espalhou não só por todo o cômodo, mas também pelo lado de fora. As pessoas já estavam despertas e colocando-se a postos. Enquanto Matthew conseguia apenas se remexer na cama, com sua cara amassada de sono.

— Camille não vai gostar de você se atrasando no seu primeiro dia. – A menina da noite anterior caçoou, jogando em sua direção uma camiseta azul marinho. – Vista-se. Tenho que te levar para o refeitório. – Ela tirou mais uma peça de roupa de dentro de um baú a sua frente e o lançou em direção a cama de Matthew.

— Por que esse horário? – Ele resmungou, jogando a cabeça de volta contra o travesseiro.

— Camille leva esse lugar a sério. – Um garoto de aproximadamente catorze anos comentou, antes de pular a janela, para o lado de fora. Com a maior naturalidade e agilidade.

O que mais surpreendeu Matt foi que ninguém estava nem um pouco surpreso.

— Vamos. – A garota agilizou novamente. – Não quero ficar só com a fuligem.

Talvez fosse o sono, ou então uma piada interna. Independentemente do que tenha sido, Matthew não entendeu como na hora do café da manhã, ela poderia ficar só com a fuligem. Fuligem de que? Pensou.

Isabel, por sua vez, não teve problemas em se levantar da cama, mas em compensação se sentia novamente no primeiro dia de aula do ensino médio. Os olhares de curiosidade. A grande multidão. Quase como uma luta por sobrevivência. Uma garota da sua casa, Becca, levou-a até o refeitório, mas fora evidente a obrigação em fazê-lo.

O refeitório, por fora, era um lugar normal. Tinha estrutura avermelhada, de tijolos, meio antiquada. Mas possuía algumas janelas, deixando a luz do dia entrar. As portas eram de madeira, mas longe de serem tão pesadas quanto as do Centro em que estivera antes, na Casa.

Ao seu redor havia árvores, e mais à esquerda, as plantações se estendiam.

Do lado de dentro, haviam cinco mesas, de madeira rústica, compridas, de cada lado. Com a capacidade para aproximadamente dez pessoas em cada um dos bancos. No entanto, até o momento, o lugar não parecia necessitar de tantos lugares vazios.

O que mais chamou a atenção de Izzie, no entanto, foi a grande fornalha no centro da sala. O fogo chamuscava, e a fumaça e fuligem, eram legados, por um exaustor, ligado a uma chaminé, para o lado de fora, não deixando que a fumaça negra preenchesse o lugar. Mesmo assim, aquilo não acabava com o cheiro de queimado.

Tinha o formato circular, largura e a altura, da parte visível, de um poço. Era de tijolos avermelhados, igual aos do lado de fora da construção. Havia carvão espalhado por toda sua extensão, enquanto o fogo crepitava.

Isabel não entendeu o porquê daquilo, até ver onde uma das filas ia dar.

A primeira era para se servir, mais ao fundo. Com a extensão de suportes para a comida preparada. E a segunda, terminava justamente na fornalha, onde as pessoas estavam jogando alguma coisa de seus pratos para que fosse engolida pelo fogo. A maioria fazia isso em silêncio. Outras falava em voz alta, logo após jogarem. Mas a conversa em si, corria solta por entre as pessoas.

Matthew teve a mesma estranheza ao entrar, mas diferente de sua irmã, sua guia não estava realmente com pressa para se livrar dele. Descobriu, antes de chegar ao refeitório, que se chamava Zoe. Ela tinha cabelos castanhos escuros, curtos, pouco acima do ombro, e ondulados; lábios grossos, pele clara, e olhos pequenos, e escuros.

Assim que encontrou com Izzie entre as outras pessoas, ele passou a informação. - O fogo serve para as oferendas aos deuses e representantes, de acordo com ela. – Ele indicou sua colega de quarto, que se dirigia para pegar o próprio café. - Você despeja parte da sua primeira refeição do dia e faz uma pequena prece, ou coisa do tipo, a um dos deuses ou representantes. Normalmente elas são direcionadas aos regentes, mas não há uma regra. Além disso no dia de ação de graças, todos devem queimar uma recordação referente ao ano que viveu. Outro ponto é o ano novo, onde tem a queima de fogos estilizada. – Ele repetia as frases de Zoe, simplificadamente.

— E isso é obrigatório? – Izzie perguntou, ainda meio confusa, enquanto olhava todos os outros fazendo, exatamente o que seu irmão descreveu.

— Aparentemente, sim. Eles dizem que isso não é nada comparado com o que era feito aos deuses antigamente. Havia sacrifícios, preces, a queima de alimentos e oferendas de vinho, flores e outras coisas estranhas.

Os dois andaram juntos, imitando o que os demais faziam. Pegaram as bandejas e se serviram. As opções não pareciam nem um pouco ruins.

Depois entraram na segunda fila, e quando chegou a vez de cada um jogar a oferenda no fogo, não tinham ideia de como realizar uma prece. Não era como se possuíssem um único deus ou representante regente, ou como se soubessem o nome deles, o que piorou a situação.

— Isso é para você, Sharon. – Izzie disse, sendo o único signo relacionado a ela e que conseguia se lembrar do nome. – Espero que goste. E eu, agradeceria, se pudesse me dar uma ajuda para entender tudo o que está acontecendo. – Sussurrou.

— Para você, Selina. – Matthew ofereceu ao primeiro representante que lhe veio à mente, jogando parte do que tinha na bandeja no fogo.

Camille caminhava a frente deles. Seus passos eram rápidos e determinados. Sua postura impecável. Naquele dia, ela vestia uma calça legging preta, com uma camiseta longa, verde, um pouco transparente e um top preto por baixo. Usava botas de cano baixo, igualmente pretas. E carregava consigo, presa a bainha, uma espada de cabo marrom, bem desenhado.

— Onde estamos indo? – Isabel perguntou, enquanto olhava ao redor. Eles já haviam atravessado, praticamente, o campo todo, desde o Refeitório. O sol brilhava acima de seus cabeças.

— Preciso que vocês consigam andar pelos Lugares Salvos sem acabarem perdidos ou mortos. – Camille respondeu, um tanto brincalhona, olhando para trás, para ver as expressões dos dois. – Esse lugar pode ser maior do que aparenta. E é mais fácil orienta-los do começo, então é para lá que estamos indo.

Os três estavam se aproximando de uma parte onde a mata começava a ficar mais intensa, e depois de mais alguns metros andando, eles chegaram a uma encruzilhada, onde Camille os guiou, seguindo pelo caminho em linha reta.

Seguiram por ele, como uma trilha de caminhada entre as árvores, as quais ali apresentavam uma copa maior, deixando o ambiente mais escuro. Ainda mais se comparado a grande claridade que iluminava os Lugares todos.

De repente, a quantidade de luz aumentou e o terreno ficou um pouco íngreme, dando lugar a uma árvore enorme. Seu tronco tinha aproximadamente sessenta centímetros de largura. Suas raízes não estavam inteiramente dentro da terra, e seu tamanho também era de impressionar. Tinha quase dez metros de altura, sobressaindo-se entre as demais ao seu redor, por ser uma das baixas. Entretanto sua copa era muito mais.

Na casca, haviam diversos nomes talhados e espalhados.

Com cuidado para não se enroscarem entre as raízes. Camille os mostrou o caminho mais prático, ficando assim de frente para a árvore.

— Essa, é a Clareira. – Ela explicou, indicando seu arredor com os braços.

O lugar era um pouco mais baixo do que por onde estavam andando a pouco, quase como se formasse um círculo, mas era quase imperceptível, de tão natural. A terra era somente mais batida. Havia resquícios de folhas e flores espalhadas pelo chão.

— Essa árvore é o marco de onde começa o território dos Lugares Salvos. – Camille continuou. – É a partir dela que as Sombras Fronteiriças começam.

— E o que exatamente seriam isso? – Matt perguntou, tirando os olhos da árvore.

— São as sombras que nos mantem distante dos olhos de sangue normais e mortais. Nosso território é num morro subindo a borda de uma rodovia, não muito utilizada, mas mesmo assim, existem sempre riscos.

— Você disse sangue normais e mortais. – Izzie observou. – Eles não seriam a mesma coisa?

— Teoricamente, sim. – Camille explicou. – Mas existe um porém. Para nós, semideuses, embora eu seja uma exceção, não há necessidade de chamá-los de sangue-normais. Ou seriamos semideuses ou não. Não tem um meio termo. Já vocês, não têm que nascer diretamente de um representante, nem de um aliado. Tanto que não são os mesmos signos, para nenhum de vocês. Por isso, são os sangue-normais.

— Minha cabeça doí. – Foi o único comentário de Izzie, depois da explicação.

Camille não conteve um riso. – Logo mais você se acostuma. Continuando. – Ela andou até a árvore. Passando seus dedos pela casca áspera e marcada. – Essa árvore se chama Incunábula. Lugar de nascimento. De acordo com a história, suas raízes são o único contato direto com o Vale Elementar. O lar de praticamente todos os seres ligados a natureza. Os originais, mantendo-se longe do contato dos Homens. Ela foi abençoada pela própria Taitin, fada do amor. Um pedaço da alma da natureza. Graças a ela, temos fertilidade, sempre.

— E o que são esses nomes? – Matt perguntou, curioso.

— Nossos amigos. Família. – Camille falou com certa melancolia. – Todos que já morreram, independente de como, estão bem aqui. É à nossa maneira de honrar a bravura de cada um. Dos mais fracos, aos mais fortes. – Seu olhar se fixou em um nome, que os dois, mais atrás, não conseguiram enxergar. A postura de Camille mudou, ficou abalada, seus ombros caíram um pouco. Mas ela não permitiu que o sentimento durasse muito. – Essa é a entrada para o nosso lar. Vamos.

Durante o trajeto de volta, eles estavam de novo na encruzilhada, e Camille seguiu a última da direita.

— Onde as outras duas vão dar? – Matt perguntou, aproximando-se de sua guia.

— De volta na rodovia. Saindo da floresta. É a maneira das sombras manterem sangue-normais afastados. Além do que, eles não possuem a sombra. Veriam um bando de adolescentes perdidos. Praticamente uma civilização. Seria um desastre.

Os dois irmãos deram de ombros, apenas concordando. Eles seguiram para a esquerda, ao saírem da trilha. Passaram pela Segurança. E seguindo, os irmãos reconheceram a estrutura do dia anterior.

— Vocês já estiveram aqui ontem. Não tem muito mais do que já mostrei a vocês.

—Qual o nome mesmo? – Izzie perguntou, olhado ao redor.

— Chamamos de Parthenon Circular. Serve como uma homenagem ao verdadeiro e é mais divertido. - Camille deu um leve sorriso para Matthew, que concordou com um aceno de cabeça. Ele sorriu após sua guia se virar, levando-os adiante.

Izzie desacelerou o passo, o que fez com que seu irmão desacelerasse também. - Esquece. – Ela provocou.

— O que? – Seu irmão perguntou fingindo desentendimento.

— Ela é areia de mais para o seu caminhãozinho. – Ela finalizou, dando um tapa de leve no abdômen de Matt.

Os dois apertaram o passo, para alcançar Camille novamente.

Saindo por uma das colunas do Parthenon Circular, os três seguiram por mais alguns metros, indo por entre mais árvores. No entanto, as mesmas simplesmente sumiam a partir de um determinado local, dando espaço para uma área plana, onde uma grande estrutura tomava forma.

— Eu já vi isso antes. – Foi o comentário de Isabel, ao se aproximarem mais.

— Isso é bom. – Camille rebateu. – Essa é a mesma estrutura usada no primeiro teatro já criado. – Matthew pareceu intrigado, assim como sua irmã. – É chamado de teatro de arena, e por conta de sua forma de meia lua, tem uma acústica melhor, sendo em ar livre.

Os bancos estavam de frente para eles, no formato de meia lua, como uma imensa arquibancada, feita de pedra. Eram sete fileiras compridas, com uma largura impressionante. No centro, onde os três estavam observando, havia uma espécie de palco. Um palanque, de aproximadamente cinco centímetros.

— Um fato interessante é que o teatro foi criado aqui por Dionísio, foi a sua contribuição para os Lugares Salvos, quando Zeus estipulou que todos deveriam ajudar. - Os dois concordaram, passando mais próximo da construção.

— Esse aí é o deus do vinho, não é? – Matthew deu um palpite.

— Sim, mas ele é mais do que isso. Também é conhecido como deus das celebrações e do teatro. – Camille esclareceu. - - Usamos esse lugar para discussões, onde precisamos reunir todos os impuros. – Explicou. – Ou ainda para os nossos jogos e disputas. Às vezes o pessoal se cansa do campo.

O campo não era nada mais do que a maior parte da extensão de terras dos Lugares Salvos. Enquanto os três passavam, havia adolescentes com espadas, escudos e outros objetos lutando e treinando. Isabel teve até mesmo que se esquivar para não ser atingida por uma das espadas de uma dupla de garotas que estavam empolgadas demais com sua pequena luta.

Meio escondido entre algumas poucas arvores, havia um celeiro, onde eram guardadas as armas e proteções.

Mais ao longe, havia um lago, uma casa abandonada a alguns metros depois, e um pequeno píer, de onde era possível ver algumas pessoas nadando e outras ainda, jogando polo aquático. Eles pareciam felizes. Com o sol sobre suas cabeças, brilhante e quente, tornando o dia ensolarado e enérgico. A água, mesmo de longe, fazia-se mais límpida e reluzente do que a de qualquer outro lugar que eles já tinham visto. Ela tinha três tonalidades, desde o esverdeado, azul e translucida.

Camille orientara que cada um deles deveria cumprir horas de serviço, aulas e teriam, sim, seus dias livres. Nos Lugares Salvos, havia pouco mais de trinta integrantes.

— Camille. – Uma voz masculina chamou ao longe. Virando-se, os irmãos estavam se deparando pela primeira vez, com uma criatura que nunca tinham visto antes. Era, sim, um homem, mas apenas na sua metade de cima. A parte de baixo era como o tronco de uma cabra.

— Mas que diabos... – Matthew começou dizendo, mas o homem o fuzilou com o olhar, fazendo sua voz diminuir.

— Isabel, Matthew, conheçam Guillermo, o sátiro mais corajoso que eu já conheci. – Camille os apresentou, e o sátiro se inclinou, fazendo uma pequena reverencia. – Ele é encarregado de cuidar dos Lugares Salvos, junto comigo.

— Precisamos da programação do desafio do mês. – O sátiro disse.

Por mais que os dois tentassem disfarçar seus olhares, não era possível. Era estranho de mais ter um sátiro realmente a frente deles.

— Podemos programar a atividade mais tarde, ou então repetir uma das antigas. – Camille respondeu, fazendo pouco caso do problema.

Guillermo ficou desconfortável por um momento, indicando, com olhares alarmados, os adolescentes ao seu lado.

— Me esperem aqui. – Camille orientou, afastando-se junto de seu amigo.

Já longe dos ouvidos curiosos, Guillermo foi falando, em voz baixa. - Hérnia está aqui. Ela disse que precisa falar com você, e é um assunto urgente.

— Eu vou, mas você vai ter que terminar o tour com os dois ali. – Antes mesmo que ela pudesse terminar de falar, Guillermo já a olhava nada satisfeito. – Eles estão perdidos e você sabe que é um lugar grande. – Outro olhar indignado com o pedido. - Seja legal. – Ela pediu firme, repreendendo-o.

Camille se despediu rapidamente dos irmãos, afastando-se, deixando os dois sob os cuidados do sátiro, que estava com uma expressão nada satisfeita. - Muito bem. – Ele disse, com uma palma, tentando trazer animação ao momento. – O que vocês ainda não viram?

Isabel disse que a última coisa que Camille os havia mostrado era o Campo e o lago. E foi dali que eles seguiram. Andaram em linha reta, passando próximo da praça, a direita, onde a fogueira queimava na noite anterior. A esquerda, de acordo com seu novo guia, ficava o hospital, que servia para o tratamento dos feridos em treinamentos ou nos jogos. Assim que o sátiro finalizou sua frase, os dois, logo atrás se entreolharam, preocupados. O que fez Guillermo rir consigo mesmo.

Eles seguiram para a parte de trás do hospital. E de acordo com Guillermo ali era onde as plantações se estendiam. - Boa parte dos suprimentos provem da Corte, mas há coisas que devemos fazer por nós mesmos. – Ele explicou.

— É lindo. – Isabel exclamou consigo mesma.

O sol já estava no ápice, o que deixava a grande extensão de terras a sua frente com um brilho espetacular. Alguns jovens trabalhavam nelas, sem muita preocupação, e era possível ver alguns rostos mais velhos pelo local.

Matthew e Isabel não conseguiram identificar o que estava sendo plantado e colhido a frente deles, mas tinham certeza da grande variedade.

Izzie, de repente soltou um grito, fino. – O que diabos é aquilo?

Mais ao longe, ao lado da imensa plantação, haviam árvores, de vários espécimes, dando início ao que parecia um bosque. No entanto as árvores eram um pouco mais espalhadas do que aquelas da entrada da clareira. E Izzie estava se referindo a uma mulher, que acabara de sair de dentro de um dos troncos.

Ela é uma dríade, e eu de você demonstraria mais respeito. – Guillermo a repreendeu.

Eu de você? Matt sussurrou, desentendido, para sua irmã, que respondeu apenas com um chacoalhar de ombros, não compreendendo.

Ele então, voltou sua atenção ao que sua irmã havia visto. A dríade a quem Guillermo se referiu, e que deixou Isabel tão desconcertada, havia saído de dentro do tronco rígido de uma árvore. Sua pele tinha uma coloração amarelada, quase como se a grande exposição ao sol a tivesse deixado reluzente. Seus cabelos eram ruivos, mas não pareciam cabelos normais, nem mesmo de longe. E o que mais impressionou não foi sua aparência majestosa e bela, mas sim o fato, de que ela se desprendera da árvore como se fossem um único ser, descolando-se por um momento.

Os dois irmãos tentaram seguir passeio com a mesma calma que Guillermo, mas estavam em um estado em que não conseguiam mais disfarçar seu espanto.

— Seguindo. - Guillermo soava mais animado para terminar o detalhado tour por toda a extensão dos Lugares Salvos.

Eles não andaram por todo o espaço das plantações, que era evidentemente muito grande, o que geraria uma grande e desnecessária perda de tempo, como frisou bastante o sátiro.

O trote de seu novo amigo já não deixava os irmãos desconfortáveis, tinham se acostumado aquele ponto.

Voltando, desta vez, mais próximos do bosque os três passaram em frente ao Refeitório. – Creio que vocês já estiveram aqui hoje de manhã. – Guillermo disse da porta. – A única coisa a mais, é que temos a cozinha, no andar de cima, e o bunker de suprimentos vindos da Corte.

Ao passo que não havia necessidade de detalhes específicos sobre os utensílios utilizados no refeitório, eles seguiram para o Centro para Aplicados. Definitivamente o lugar mais sofisticado de lá.

— Aqui é onde vocês terão suas aulas teóricas. - Guillermo orientou conforme passaram pelas duas grandes portas marrons.

Elas combinavam com o azul da fachada. Do lado de fora, era fácil identificar que se tratava de uma construção de três andares. Havia três janelas no segundo andar, e duas no terceiro, que proporcionavam visão para o campo, mais ao longe.

A parede oposta às portas era mais afundada, formando um semicírculo, completado pelo pequeno laguinho que se encontra conectado a parede. Havia escritos na mesma parede, em grego antigo. Ao lado do lago havia dois botões. Na mesma parede, mas a direita, havia um suporte, com uma chama apagada, no momento, papel, carvão e um isqueiro. Entre o lago e o suporte, havia um bote, semelhante a um caldeirão negro, preenchido com moedas até a metade, mas não as mesmas a que já estavam acostumados.

— São dracmas de prata e ouro, óbulo e dânaca - O sátiro explicou. - São usadas como oferenda as fadas, e os deuses mensageiros, Íris e Hermes. Com o passar dos anos, suas vindas diretas para passar as mensagens se tornaram menos frequentes. E depois que os aliados e semideuses se juntaram na luta contra as criaturas da noite, eles nos ofereceram meios para nos comunicarmos. Podem usar as mensagens através de Hefesto, com suas mensagens de fogo, e Poseidon, com as da agua. Hermes já é mais complicado.

— Os barqueiros da morte não pedem dracmas para levar a alma dos mortos? - Matthew perguntou

— Também. Eles aceitam os três espécimes.- Guillermo admitiu. - O dracma era muito estimado antigamente e hoje, tem certa raridade.

Apesar daquilo, o que atraiu mais a atenção de Matthew, ao entrarem, foram as duas mesas metálicas, ao lado esquerdo, com duas cadeiras, dispostas para cada uma.

O lugar era bem iluminado, com um lustre modesto no teto, bem no centro. Do lado direito haviam três salas, construídas parede com parede. Olhando de fora, elas pareciam menores do que realmente eram. As duas mais perto da porta estavam vazias, mas a terceira, tinha meia dúzia de alunos sentados, olhando distraidamente para a frente. Matthew reconheceu o menino que vira de manhã, pulando a janela.

Seguindo o caminho, ao lado das mesas, uma escada em linha reta que levava até o auditório, que surpreendeu em tamanho, assim como o teatro que viram anteriormente. As cadeiras eram de um vermelho escuro, como as do cinema perto de sua casa. Havia uma inclinação na sala, para que todos pudessem enxergar o que quer que passasse na grande tela branca, ou até mesmo no palco.

— Até mesmo nós merecemos alguns luxos. – Guillermo comentou, com um sorriso verdadeiro nos lábios.

Vila dos Impuros. Como puderam ler em uma placa, fixada em uma estaca de madeira, que era evidente que os próprios adolescentes haviam feito. No entanto, fora algo que tanto Izzie quanto Matt não haviam notado na noite em que chegaram. Logo ao lado da placa estava a trilha, que Izzie havia visto. A terra batida, que os guiava por entre aquelas casas, que se espalhavam de maneira irregular.

As casas por sua vez, eram bastante diferentes. Na teoria eram todas feitas do mesmo material, mas pareciam totalmente diferentes umas das outras. Talvez fossem as diversas decorações, deixando um pouco de cada pessoa. Mas independentemente do que fosse, fez com que Izzie e Matthew, andando naquele momento, ao redor de todas aquelas moradias, com os raios de sol iluminando tudo ao seu redor, sentissem-se acolhidos.

Guillermo explicava como cada casa era organizada, para cada signo com mais influência em cada pessoa, mas depois da terceira casa que o sátiro indicou, Matthew se desligou, voltando sua atenção para o bosque de onde vira a dríade. Pelo espaço de uma casa e outra, ele conseguia ver um lampejo daquelas criaturas magníficas e ele não conseguia negar a curiosidade que rondava seu cérebro.

A única coisa restante para que se finalizasse o tour era voltar à Segurança. Onde naquele momento, Camille estava reunida com Hérnia, e nenhuma das duas pareciam felizes.

Aquele era o lugar onde Hérnia os havia levado quando chegaram aos Lugares Salvos, fora ali também que conheceram Camille, então não. Eles explicaram a Guillermo que não era necessário mais nenhuma de suas explicações. E o sátiro ficou mais do que contente, e fez questão de que todos soubessem do fato.

Já Camille e Hérnia, tinham uma expressão bem diferente. Conforme os três se aproximavam, Camille se colocou em frente a um pequeno cofre, que estava em cima de sua mesa. E as duas desconversaram.

— Irmãos Daddrien. – Hérnia cumprimentou. – Gostaria de dizer que faz bastante tempo. – A voz dela continha um deleite, conforme falava. E Isabel não se esforçou nem um milésimo de segundo, para fingir que estava contente em vê-la novamente.

— O sentimento é reciproco. – Foi seu único comentário em resposta, seguido de um leve, porém falso sorriso.

Hérnia vestia um vestido laranja, que lhe caia no corpo como um sol poente, uma cor que não ficaria bem em qualquer um. Sua pele tinha um leve brilho, que era realçado pela coroa de borboletas douradas em sua cabeça, completando uma trança, que chegava quase até sua cintura.

Matthew não conteve uma risada, mas então percebeu, que as borboletas que achava serem de enfeite na cabeça da deusa a sua frente, estavam, na verdade, se mexendo.

Camille por usa vez, não esperou mais para se colocar na conversa.

— Guillermo. – Ela chamou. – Por que você não começa o jogo de hoje? Será que terminamos antes do almoço?

— Não vai acontecer. – Ele respondeu provocando. Com um aceno o sátiro se pôs a correr, indo direto para o Parthenon Circular.

Aquela era a parte favorita do dia para ele. O momento em que todos aqueles adolescentes competiam entre si. Era a parte emocionante do seu trabalho. E naquele dia, com carne fresca, ele tinha um jogo especial para testar.


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Notas finais do capítulo

** Olha eu aqui de novo!! Tudo bom com vocês?? Espero que sim, e que estejam gostando da história!! Não se esqueçam de comentar o que estão achando, e os palpites de vocês também, é muito importante para mim!! Afinal, o que seria de uma autora sem seus leitores, certo? Amo vocês, bjss ♥ **



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