Acordei com a luz forte em meu rosto e um desconforto no corpo. Ainda era cedo, mas por mais que eu quisesse, não conseguiria pegar no sono novamente. Edward estava dormindo no chão ao lado do sofá e pensei em lhe acordar, mas fiquei com pena pois aparentava está em um sono bom. Peguei um travesseiro e um lençol e lhe arrumei pra ficar um pouco mais confortável.

Depois de ir ao banheiro, comecei a arrumar as coisas que havíamos usado na noite anterior. Peguei a garrafa de vinho na mesa de centro e o copo que Edward estava tomando Whisky. Lavei toda a louça e comecei a preparar o café.

Eu não estava às mil maravilhas, na verdade tudo ainda doía e iria continuar doendo por muito tempo, eu ainda serei a pessoa que tem medo de relacionamentos e tudo o que sou. Seria mentira dizer que depois que eu contei tudo, magicamente eu superei e esqueci, isso vai levar tempo e esforço da minha parte de continuar tentando passar esses limites impostos pelos meus traumas. Em contrapartida seria até ingrato da minha parte não admitir que Edward me ajudou um pouco -muito- ontem, posso dizer que ele me ouvir e cuidar de mim foi essencial para hoje eu não estar enrolada na cama ainda chorando.

As coisas iam se encaixando pouco a pouco, o dia anterior destravou uma serie de lembranças que estavam esquecidas ou escondidas em alguma parte da minha mente. Isso me fazia questionar o tempo todo o porquê. O que tinha motivado James a fazer tudo o que fez e porque eu me submeti a tudo aquilo.

—No que tanto pensa assim? –Edward questionou. Levei um susto já que estava realmente distraída com meus pensamentos, já ele parecia está a um bom tempo ali encostado na soleira.

—Algumas questões que surgiram e que acho que não terei respostas. –Respondi e lhe dei um meio sorriso voltando minha atenção as torradas.

—Entendo. Como está? Você quase não comeu ontem e bebeu quase uma garrafa de vinho.

—Tudo na mais perfeita ordem sobre isso. –Servi algumas torradas e café para Edward e para mim e sentamos na mesa. –E você? Dormiu no chão puro e quase não deve ter dormido. Se quiser pode ir dormir no meu quarto.

—Não, eu estou bem. Daqui a pouco vou para casa tomar banho e trocar essa roupa.

—Tudo bem.

—Você vai ficar bem sozinha? –Ele me olhou preocupado. Era ótimo da parte dele não tocar no assunto, na verdade me poupava algumas lágrimas que provavelmente rolariam.

—Não é como se eu fosse ir contra a integridade física de alguém. –Tentei soar como piada, mas ficou um tanto mórbido.

—Eu espero que não. -Ele respondeu sério. -Jacob deve vir logo, ele só foi embora ontem porque insisti. Ah, Kate deve te ligar também.

—Não precisam exagerar.

—Só estamos preocupados com você, Bell.

—Tudo bem. –Ficamos calados. Eu não queria ser motivo de pena ou preocupação para eles, ser rodeada assim de atenção por que o babaca do James não tinha o senso do ridículo e não sabia o que era limite. Eu não me sentia confortável em ceder a minha dor, porque terminava nisso, as pessoas preocupadas comigo e fazendo grandes esforços.

Mas eu podia fazer algo por mim. Podia jogar fora todas essas coisas do passado e me fazer ficar bem para não ver as pessoas que eu amo se preocupando comigo quando elas deveriam estar felizes com essa época do ano e todos os acontecimentos realmente bons nas suas vidas.

Como se fosse fácil assim...

—Eu vou ter que ir agora, Bell. –Edward quebrou o silencio quando terminou o seu café. Ele se levantou e deu um beijo no topo da minha cabeça. –Eu volto mais tarde se quiser ou podemos sair e nos distrair com algumas coisas.

—Tudo bem, vem aqui e se eu tiver arrumada é porque quero sair. –Ri e Edward me acompanhou. Ele pegou suas coisas e deu um aceno antes de sair.

Terminei o café e me espreguicei indo direto para o meu quarto. Eu tinha coisas para fazer, mas não tinha cabeça para faze-las então depois de um banho deitei na minha cama e fiquei ali por um bom tempo.

 Pov. Edward

Sai com o corpo completamente dolorido da casa de Bella e assim que dei meu endereço ao taxista me afundei no banco. Eu estava com todos os pensamentos e reações presas em mim, eu não queria piorar as coisas para Bella então eu tentei demonstrar o mínimo das minhas emoções com todas informações e acontecimentos, mas agora eu apenas deixei minha mente absorver tudo, deixei meus pensamentos vagarem.

Flashback on

Bella havia combinado comigo de encontrar já na casa Billi, porque ela iria precisar ficar um tempo no La Luna resolvendo algumas coisas. As férias do restaurante haviam me dado tempo livre que estava usando com livros, ligações para minha família, Bella e Kate. Mas ainda assim conseguia ficar sem fazer absolutamente nada em alguns momentos do dia.

Me arrumei para encontrar Bella e antes de sair respondi a mensagem de Jacob que perguntava onde Bella estava, a preocupação que algo tivesse acontecido apareceu no mesmo instante e peguei um táxi para o restaurante.

Assim que passei pela porta principal entre aberta já percebi que algo não estava bem. Na sala de Bella, Jacob andava de um lado a outro procurando algo enquanto Bella estava encolhida no sofá. Eu queria poder levar em consideração que Jacob era o melhor amigo dela e nunca lhe faria mal, mas a cena na minha frente deixava minha imaginação fluir para o pior. Como um reflexo minhas mãos fecharam e fui em passos firmes para próximo de Jacob.

—Graças a Deus que chegou, eu preciso achar as chaves do carro dela. Tenho que levar a Bella pra casa. –Jacob falou aliviado.

—O que aconteceu aqui? –Perguntei já me aproximando de Bella que aparentava estar dormindo, seu corpo tremia levemente e era possível ver os rastros das lagrimas.

—Eu não fiz nada com ela, quando cheguei ela já estava meio desligada, em estado de choque. –Jacob informou com um pouco de raiva na voz. –Agora me ajuda a procurar as chaves.

Olhei em volta tentando encontrar as chaves do carro e do restaurante, quando passei pela mesa de Bella o telefone piscava indicando uma mensagem na secretária então eu apenas apertei.

—Olá Isa! É James, James Erie. –A voz masculina soou no outro lado da linha. Eu conhecia esse nome de algum lugar, mas alguma coisa me dizia que essa ligação era o motivo de Isabella está assim. Antes que minha mente continuasse a processar e tentar lembrar de onde eu conhecia esse nome, Jacob puxou o telefone e o desligou rapidamente.

—Aquele filho da puta, desgraçado. Logo desconfiei, ela só havia ficado assim quando pegou aquele verme com outra. –Jacob vociferou. –Eu mato esse desgraçado, dessa vez eu mato.

Eu não consegui perguntar algo, não consegui pensar em mais nada por causa de uma dor profunda que me tocou assim que Bella começou a gritar. Seu grito era de dor, como se algo lhe machucasse profundamente, seu corpo tremia com uma intensidade que era possível ver mesmo da distância em que eu me encontrava.

—Merda, dessa vez foi mais rápido. –Jacob comentou e voltou a vasculhar as coisas.

—Você não vai fazer nada? Não vai acorda-la? –Questionei em choque. Andei rápido até Bella, mas antes que eu pudesse acorda-la Jacob segurou meu braço. –Me solta, eu vou acorda-la. Ela está no meio de um pesadelo ou sei lá, olha como ela está.

—Eu sei, Edward. Eu passei uma semana ouvindo esses gritos dia e noite e acredite, acordar ela é a pior coisa que podemos fazer. Se em sonhos ela já está sofrendo assim, imagina ela acordada pensando em tudo? –Ele soltou minha mão e foi nas gavetas da mesa de Bella. –Achei, vamos leva-la para casa.

A muito contragosto arrumei todas as coisas de Bella e segui Jacob que a carregava. Fui trancando as portas e depois que apaguei todas as luzes e ativei o alarme pelo celular de Bella, segui para o seu carro. Jacob já havia a colocado no banco de trás e estava no banco do motorista me esperando. Durante o trajeto vez ou outra Bella se mexia muito e dava gritos como o que deu no restaurante e fui ficando cada vez mais angustiado.

Isso estava errado, não era a Bella que eu conhecia. Ela parecia frágil, pequena e indefesa, mas ela não é assim. A Bella que sou louco é forte, é determinada, segura de si e do poder que tem. Aquilo estava completamente errado. Eu queria matar James, queria pegar toda a dor que ela está sentindo e colocar em mim. É clichê, mas era o que queria fazer.

Quando chegamos Jacob levou-a para o quarto e me encontrou na sala com dois copos com o que parecia ser whisky dentro. As perguntas ainda fervilhavam em minha mente e eu tentava a todo custo deixar de lado. Seria egoísmo perguntar essas coisas enquanto Bella sofria no quarto.

—Eu jurava que nunca mais a veria assim. -Jacob quebrou o silêncio. -Faz anos e ela cresceu tanto que...

—Eu não sei nada sobre o assunto, mas está claro que Bella não superou o que aconteceu.

—Nem sei se um dia vai. -Jacob suspirou e bebeu o conteúdo do copo de uma vez. -James destruiu a parte inocente dela, a parte que acreditava sempre no melhor do mundo, que sonhava alto. Não que essa Bella seja ruim, gosto dela confiante e podendo se cuidar, mas a forma que ela chegou a isso foi horrível.

—Eu não sei o que dizer. Mas eu queria muito não vê-la assim.

—Eu também Edward, eu também. Quero que me prometa que não irá machuca-la.

—Eu nunca faria isso com ela. Não a farei sofrer de propósito e se o fizer sem querer, irei tentar reparar o erro. Eu prometo.

—Eu agradeço e seu rosto também.

Ficamos ali sentados até Billi ligar procurando a gente. Convenci Jacob a ir embora que eu ficaria com ela até ela acordar e- talvez- me por para fora. Fiquei sentado na poltrona mais próxima do corredor por horas, vez ou outra ia até o quarto para ver como ela estava e então voltava, enchia meu copo novamente depois voltando para o meu posto. As vezes cochilava, vez ou outra Kate e Jacob ligavam e isso durou até tarde da noite. Ouvi barulhos no quarto e fui ver se algo tinha acontecido com Bella.

Vê-la ainda mais abatida me fez correr para lhe abraçar e ficar ali sentindo o perfume que seu cabelo exalava. Apesar de querer muito saber tudo, eu apenas tentei lhe deixar o mais confortável possível, eu não queria ser um incomodo a mais na sua noite. Depois que ela decidiu que eu deveria ficar fiz algo para comermos já que tínhamos passado quase todo o dia sem comer nada.

Não sei explicar com clareza o que eu senti quando Bella começou a me contar sobre seu passado. Eram coisas que nem passavam pela minha mente, coisas que me fizeram sentir vontade de esquecer o que meu pai me ensinou sobre amar e cuidar das pessoas e apenas mata-lo. Eu não o conhecia, mas jurei que se um dia tivesse o desprazer de conhece-lo eu iria lhe cortar o pau fora sem pensar duas vezes e eu realmente faria. O misto de emoção me tomava a cada frase que era proferida por Bella, mas eu tentava reprimir cada expressão e até pensamento, um surto de raiva não seria o melhor para o momento.

Mas com tudo o que me foi dito eu começo a entender muito mais sobre Bella, começo a repensar sobre tudo e tentar ver se não passei algum limite nesses meses em que nos envolvemos. De tudo isso eu tomo como a maior certeza que nunca mais eu desejo ver Bella daquela forma novamente.

Flashback off

Assim que cheguei ao meu apartamento fui tomar um banho frio como forma de despertar meu corpo. Mesmo que não quisesse meu corpo estava pedindo por um descanso então depois de colocar meu celular para despertar no começo da tarde, deitei e peguei no sono entrando em pesadelos seguidos em que eu machucava Bella daquela forma.

Pov. Bella.

Os dias depois da ligação de James foram entre dias ruins e dia não tão ruins, eu tentava desesperadamente esquecer tudo, fazer de conta que não me afetava. Não adiantava muita coisa, ainda sentia constantemente o peso, o nojo e as questões que atormentavam minha mente.

Jacob e Edward tomaram a missão de fazer eu me sentir melhor, me cercando de uma forma não sufocante. Eu quase não ficava sozinha e as vezes até agradecia por isso. Kate e Garrett estavam focados na chegada da pequena Irina por isso pedi para que os detalhes sobre James fossem guardados para depois.

O médico de Kate havia informado que ela poderia entrar em trabalho de parto perto do natal e isso me deixou dividida entre viajar para passar o natal com meus pais ou acompanhar o parto da minha afilhada. Kate acabou me convencendo a viajar com a promessa que me ligaria assim que a bolsa estourasse, mas isso não me impediu de curtir momentos com ela o máximo possível.

Logo estava chegando em Londres e trocando os guardas de NY por Jasper. Jacob pediu para que Jasper ficasse de olho em principalmente a noite já que quase toda noite tinha pesadelos. Em algumas noites, as que eu os pesadelos eram mais reais, ele sempre chegava no quarto primeiro e ficava comigo o resto da noite. Era uma rotina chata que estava se instalando, deprimente também, mas eu estava tentando me permitir sofrer. Eu estava deixando sangrar para que meu próprio corpo e mente conseguisse restaurar os pedaços pouco a pouco. A melhora era imperceptível, mas não imaginava o que mais poderia fazer.