Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 14
Descobertas (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Não falei que voltava....aqui estou com mais um conto...

Bom não deixa de ser uma continuação do que já foi escrito aqui, esse será mais curto que o último (eu juro)

Tem drama....tem pois sou de câncer....e adoro ...

Tem hot....tem (não nesta parte, mas terá, prometo)


Boa leitura...



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Aurélio procura pelo armário uma caixa que tinha certeza de ter levado para o quarto do casal quando passou a dividir em definitivo o quarto com Julieta, na caixa tinha uma carta de mãe de Ema que ela escreveu para quando a filha engravidasse, deixando que ele entregasse quando o primeiro neto fosse anunciado, e esse momento tinha chegado, Alice tinha deixado outras três cartas, uma que foi entregue logo após a partida da primeira esposa, e que Ema lia sempre que sentia falta da mãe, outra para o seu casario, que ele teve de entregar depois, visto que seu genro teve a ideia de casamento surpresa, mas nem  por isso as palavras da mãe perderam o sentido para a filha, que sorriu entre lágrimas por aquele presente, tinha esse pelo anúncio do neto, e outra para quando o bebê nascesse, era por isso que ele revira o guarda-roupa do casal, sabia que estava em algum lugar, então vê a caixa ao fundo, guardada atrás de outras coisas de Julieta, ele puxa a caixa e deixa cair uma bolsa que se abre derramando o seu conteúdo no chão, sorri pela atrapalhada, por sorte a esposa não estava ali, começa a juntar as coisas, em sua maioria papéis, amassados, alguns pequenos outros grandes, outros rasgados, estranha pois ela não é dada a guardar documentos assim, um pedaço de papel chama a sua atenção:

“Eu desconhecia a dor, o medo, a angústia,  eu sorria, eu dormia e sonhava, hoje nem sei mais o que é ter uma noite tranquila, eu antes tinha voz, até isso foi roubado de mim, hoje só posso desabafar assim escrevendo,  relatando a minha dor, não posso falar com ninguém por medo de pôr essa pessoa em perigo, pois se compartilho a minha dor com alguém, essa pessoa pode correr riscos, assim como eu.”

**

Eu sabia de quem era aquela letra, mesmo que o papel amarelado pelo tempo, a caligrafia um pouco tremida, como se até a tinta tivesse em união com o seu sofrimento, é a inconfundível letra de Julieta, o que eu comprovo no próximo pedaço de papel.

**

"Sou Julieta, um dia Sampaio, cheia de sonhos e planos, minha cor preferida era o vermelho,  queria o mundo, amava os livros, tinha sede de saber de viver.

Hoje sou Julieta, a senhora Bittencourt,   as cores escuras que uso refletem o que me tornei, sombria, não faço mais planos, os livros foram tirado de mim como a minha vontade de viver, tenho medo do mundo de encontrar pessoas como meu marido.”

**

Sem pensar muito no que faz, agindo mais com a curiosidade do que com a razão, não vendo mal nenhum pois já  começou a ler antes mesmo de saber do que tratava, coloca as cartas no bolso, vê as antigas que ela usava no chão, de certo caiu da bolsa,os devolve colocando no lugar, fecha o móvel e sai do quarto, aproveita que esta noite, Julieta no escritório revisando uns documentos antes de dormir, no dia seguinte vai negociar mais uma fazenda, aproveita a calmaria do jardim e pega os relatos da mulher, decidindo se continua ou não a ler, Julieta já tinha contado o que tinha sofrido, não em seus detalhes, talvez aquelas palavras pudessem revelar mais do que ela viveu, por fim, pega mais um pedaço de papel.

 

**

“Meu marido, que gosto amargo tem isso, que coisa difícil de digerir, um homem cruel, tirano e sádico, se há alguém que eu odeio nesse mundo é ele,odeio com todas as  forças que ainda me resta.”

**

Pareciam ser escritos sem ordem, sem data, apenas desabafos, alguns tinham pequenos pontos, que manchando  a tinta, passo o dedo de certos eram lágrimas da sua esposa, naquele tempo uma menina. Sem receio, pois já não tem mais volta lê todos os papéis.

**

“Aquela tarde onde eu fui brutalmente violada, quando pensei acabar com aquele noivado, rendeu mais que dor, marcas nos corpos,cicatrizes na alma, hoje descobri que estou grávida, um dia após completar 16 anos recebi essa notícia, não sei os sentimentos por isso que cresce dentro de mim, o médico acabou de sair de casa, minha mãe só chora, meu pai não acreditou no que eu disse que Osório jamais seria capaz, que algo eu tinha feito, sai batendo as portas, que iria atrás da solução, rezo para que a justiça seja feita, mas cada minuto que passa tenho a certeza que meu destino já foi traçado.”

**

A cada palavra lida seu ódio por aquele homem crescia, assim como a admiração e o amor por aquela mulher.Julieta tinha sobrevivido a horrores que ele nem poderia sonhar.

**

“Osório ronca na cama, do outro lado do quarto, se eu tivesse força o suficiente eu o matava, sinto dor entre as minhas pernas, não mais que a dor em meus braços, onde foram amarrados para que não o ferisse de novo, nem mesmo a minha barriga já em evidência foi capaz de me salvar, dessa vez não houve sangramento, meu bebê deve estar bem, assim eu rezo para que ele esteja.”

**

Nesse trecho ele teve que respirar algumas vezes, balançar a cabeça outras para poder afugentar da mente aquelas imagens dela sendo violentada.

**

“Minha barriga cresce a cada dia, quatros meses, comecei a conversar com ela, é como um amigo mudo, assim como escrever ajuda a passar o tempo, alivia o sofrimento que a cada dia eu sinto, mas tenho dúvidas se vou conseguir ser uma boa mãe, tenho medo de projetar os horrores que vivo nessa criança, rezo a cada dia mais para que ela nunca passe por essas provações.”

**

“Hoje tivemos visitas, um casal da fazenda vizinha que se mudou a pouco, a mulher soube que eu estava grávida e trouxe um livro, dizendo que quando estava grávida era uma ótima companhia na noites insones que a barriga de oito meses trazia, era o primeiro livro que pegava desde que me mudei para a mansão, desde que me casei, chorei, chorei fundo, Osório como bom “esposo”, sim perante aos outros era um homem zeloso com a esposa, que o diga o capataz que um dia ousou me ajudar, o homem ainda hoje é dado como desaparecido, na frente dos nosso vizinhos, me acolheu em seus braços, e disse palavras carinhos, em meu ouvido, muito baixo, disse que mais tarde eu iria pagar por aquela cena, subi para meu quarto alegando cansaço, todos muito compreensivos apenas sorriram. Busquei refúgio na janela de meu quarto e permitir que fugir para aquelas páginas, cheias de poemas, cheia de amor, lia alto para que meu bebê tivesse palavras de amor que não fossem as minhas, mas durou pouco aqueles momentos, logo a porta foi aberta e como um cão raivoso o livro foi arrancado de minhas mãos feitos em milhares de pedaços, jogado ao ar, transformando o chão em um mar de palavras, deitei sobre elas, e chorei.”

**

“Estou escondida no quarto, embaixo da mesa, a luz fraca da lua entra pela janela, neste lugar que  escondo esses desabafos, Osório nunca iria achar aqui, certa vez chegou cedo e viu que escrevia arrancou de minha mão, por sorte naquele dia escreveu uma carta para minha mãe, disse que não queria nunca mais me ver escrevendo, ainda zombou por escrever a minha mãe, ela não iria responder, ele estava certo, as poucas cartas que ele deixou escrever, nunca houve retorno.”

**

“Camilo, meu filho, ainda estou sem acreditar, tão pequeno, tão perfeito, meu, somente meu, foram quase um dia inteiro em trabalho de parto, parecia que ele não queria sair de mim, ou que eu não queria que ele viesse a esse  mundo, assim como foi feito em um ato cruel o início de sua vinda ao mundo também, Osório perdeu mais um bom negócio, foi passado para trás por um fazendeiro que optou por cumprir a palavra da sua esposa e não vender, chegou furioso em casa e descontou em mim sua frustração,  cai e comecei a sentir as dores em minha barriga, só consegui sua atenção quando um líquido saiu de minhas pernas, graças a Deus meu filho nasceu vivo e bem.”

Não aguentei mais ler, era dor demais, deixo que as lágrimas lavar meu rosto uns bons minutos se passam, então entro em casa, precisava vê-la.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam?

Deixe ai sua opinião, percepção, seu comentário...se Aurélio agiu certo, o que vai acontecer...

Até o próximo capítulo....



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