Série Paradise - Serena(Degustação) escrita por moni


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa noite.



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   Theodor

   — Senhorita Le Grand, não pode... – Allison tenta impedir o furacão Emily de invadir minha sala, as duas entram juntas. – Senhora...

   — Tudo bem, Allison, pode ir. – A jovem deixa a sala. Emily vem acompanhada de um garotinho.

   — Em primeiro lugar quero dizer que eu o odeio e odeio mais ainda está aqui. – Ela gesticula de modo frenético.

   — Em primeiro lugar. – Digo deixando minha mesa e dando a volta para ficarmos frente a frente. – Quero dizer que está vestida com penas brancas e que lá fora, uma pobre ave está com frio.

   Emily é modelo, magra, alta, cabelos loiros na altura dos ombros e roupas extravagantes como aquelas que se vê em desfiles, mas nunca nas ruas.

   — Sintético, idiota! – Ela esbraveja, não nos vemos há pelo menos três anos, nosso caso acabou há uns cinco, não sei bem o que faz aqui. Muito menos porque parece tão furiosa. O garotinho ao seu lado está assustado, olha para ela enquanto segura a barra do casaco branco gigante de penas. Quem anda na rua assim?

   — O menino está pensando que é o abominável homem das neves, não devia gritar tanto.

   — O menino é Andrew, seu filho.

   — Agora eu estou pensando que é o abominável homem das neves. – Aviso um tanto chocado. Filho? Como assim filho?

   — Andrew, esse é seu pai, é com ele que vai morar agora. – Ela avisa ao garotinho mudo. Depois ergue os olhos e me encara, eu devia dizer algo, mas perdi a fala. – Chega. Não vou mais cuidar dele, eu fiz isso nos últimos quatro anos, além dos oito meses em que esteve em minha barriga. Prematuro. – Ela avisa erguendo o queixo irritada. – Estou noiva e meu noivo vai sair em turnê pelo mundo. Ele é músico, baterista e...

   — Ou é músico ou baterista, decida-se.

   — Seu cinismo não vai resolver as coisas.

   — Nem essa sua brincadeira de mal gosto. Filho? Não me lembro de ter tido um filho.

   —Teve, eu achei que era melhor cria-lo longe de alguém cínico e insensível como você.

   — Que pena que mudou de ideia. – Aviso para ser fuzilado por seu olhar.

   — Andrew é muito pequeno, exige demais de mim. Deixei Los Angeles essa manhã apenas para trazê-lo e estou partindo para a Europa por um ano. Ele é seu. Todo seu, está na hora de assumir responsabilidades.

   Em um gesto teatral, ela deixa sobre a mesinha de centro uma pasta, se volta para o garotinho, parece séria, Emily nunca foi conhecida por ter um coração. Agora isso parece bem certo.

   — Eu ligo as vezes, podemos nos ver nas férias, não chore. – Ela beija seus cabelos, o menino está apático, não reage, não compreende. – Tem tudo que precisa saber sobre ele nessa pasta. Não se atreva a duvidar da paternidade, eu adoraria que ele fosse filho de qualquer outro mortal.

   —Eu também! – Ela me dá as costas, ergue o queixo e caminho como se estivesse em uma passarela até a porta. Se volta, joga os cabelos, me encara. Tenho a impressão que ensaiou isso uma dúzia de vezes.

   — As malas dele estão na recepção. Não tente me impedir, estou sufocada, preciso viver. Adeus, Fitzalan.

   A porta bate, eu e o garotinho piscamos juntos com o estrondo. Ele se volta lentamente e me encara. É bem pequeno, cabelos dourados, magro, apático.

   — É um bom momento para chorar bem alto e correr até o elevador gritando mamãe. – Ele me olha imóvel e calado. – Não? Eu não condeno você, ela é irritante.

   Ficamos frente a frente, eu e um menino de quatro anos, um assustador menino de quatro anos que me apavora, não temos nada em comum, não sei nada sobre ele, ou sobre crianças em geral, não sei como me comportar com ele, não quero aprender.

   Ele me encara, eu nem consigo decifrar seu olhar, o que ele quer, porque não reage, grita, chora, esperneia pedindo a mãe? É a Emily, mas as pessoas costumam gostar das mães, até eu gosto da minha e ela é péssima. Acho que hoje é um bom dia para Brigitte Fitzalan exercer pela primeira vez seu papel de mãe e agora avó. Eu podia sorrir só de pensar na reação dela com o pequeno. Não consigo, estou em choque, só pode ser isso, eu não tenho ideia de que passo dar a seguir.

   Andrew não desvia os olhos de mim, espera solene por minhas reações e só consigo ficar aqui, imóvel.

   — Theodor, você leu as noticias sobre a queda do governo... – Aron se cala logo depois de invadir minha sala. Encara primeiro a mim, depois ao garotinho imóvel uns metros a minha frente. – Sabe que tem um garotinho em sua sala?

   — Sei.

   — Sabe quem é ele?

   — Sei.

   — Certo. Eu posso... – Aponto a porta.

    —Nem mais um passo. – Aviso, não vou ficar aqui sozinho com ele.

   —Está tudo bem? Era mesmo a Emily aqui?

   — Sim, ela... veio traze-lo e depois partiu.

   — Emily esqueceu o pequeno? Porque ela ainda deve estar no edifício, posso ligar na portaria e ...

   — Ela não esqueceu, ela deixou o menino, ele... ele...

   —Ele o que? – Aron fica ansioso.

   — Ele é filho dela comigo.

   —Uou! Você é o pai dele?

   — Se quer colocar assim.

   —Que noticia incrível, um garotinho. – Aron sorri, se aproxima do menino. Ergue o pequeno nos braços de modo natural, depois coloca sobre o sofá, entrega a ele uns objetos de decoração. – Brinque um pouco. – Se volta e continua a sorrir. É irritante. – Cara que dia incrível, pai? Puxa, parabéns.

   — Está fora das regras.

   —Que regras, Theodor?

   — Minhas regras, eu não... planejei nada disso, eu sempre fui bem cuidadoso.

   — Pelo visto nem sempre. Theodor, pense pelo lado bom, vai ter uma família, um herdeiro. Eu sempre quis filhos, sabe que é meu plano casar e ter filhos.

   — Que acha de ficar com ele? Pago uma pensão milionária e vai ter um filho, prometo não acusa-lo de gastar a pensão com outras. Nunca vamos brigar pela custódia.

   — Você é horrível. – Aron podia ao menos contar uma novidade.

   — Preciso de ajuda, Aron, é meu amigo, fique com ele até... até aquela maluca mudar de ideia. Vou oferecer... não sei, muito dinheiro a ela.

   — Não somos amigos, você não tem amigos. É insuportável demais para ter amigos e Emily não precisa de dinheiro, você sabe que ela é a modelo mais rica do mundo ou qualquer coisa assim.

   Eu continuo imóvel, olhando para o garotinho que fica girando os objetos em sua mão tentando entender para que servem. Engulo em seco. Não tenho ideia de como resolver isso. Ele tem razão sobre dinheiro. Emily não vai se curvar por dinheiro nenhum.

   —Tem alguma ideia? Já que não quer ser a mãe dele.

   — Tenho uma ótima, conheça seu filho, se apaixone por ele e se torne uma pessoa melhor, a humanidade agradece.

   — Certo, vamos passar para a próxima ideia. – Ele ri. Trabalhamos juntos há anos, ele é bom e sim, somos amigos, Aron deve ser a única pessoa com quem me abro as vezes e ele também é a única pessoa que não parece ter medo de mim.

   —Bom, eu vou voltar para minha sala acho que não está em condições de discutir o mercado financeiro agora.

   —Estou. Estou completamente pronto para isso, o que não estou pronto é para resolver essa coisa com o garotinho.

   —Comece a aprender.

   — Pode leva-lo para sua sala só até eu... eu... acha que quarenta andares é uma queda fatal?

    — Pular? – Ele questiona e faço que sim. – Tem reunião amanhã as três, vamos fechar um ótimo negócio.

   —Nem para um suicídio estiloso tenho tempo e aquela lunática me apronta isso.

   — Tchau. – Aron me dá as costas e para mais uma vez na frente do pequeno, se abaixa e afaga o pequeno que não reage. Será que ele fala? Ainda não abriu a boca e não teve nenhuma reação grandiosa. Olho para a pasta sobre a mesa. Aron fica brincando com o garotinho, aproveito para folhear os documentos, ficha médica, registro social, nada demais. Parece ser um garoto saudável de quatro anos. Nasceu em vinte e cinco de julho de dois mil e sete. Nasceu de oito meses, faço contas, fico tentando me lembrar onde estávamos.

   Milão, ela estava fazendo um trabalho e eu fui até lá, passamos quatro dias juntos, uma loucura, depois fomos a Paris e voltamos juntos. Dias intensos, bebida demais, festas, pode ter acontecido. Durou mais um mês, terminamos tudo logo depois do réveillon.

   Eu a encontrei há uns três anos em uma festa em Los Angeles, ela não falou comigo e não senti necessidade de falar com ela. Nunca pensei que ela tinha um filho meu, um filho com um ano que ela não contou.

   — Allison! – Grito e a secretária invade minha sala apressada. Ela sempre parece prestes a desmaiar, Aron se foi e não notei. – Esse é o Andrew, leve ele para dar uma volta e... distraia o pequeno. Até... até eu dar um jeito nisso.

   — Sim senhor.

   Ela pega o garotinho deixa minha sala, ele vai com ela sem reagir. Que coisa confusa. Não chora, não ri. Emily deve ter traumatizado o menino.

   Pego o telefone. Mamãe tem que me ajudar. Ao menos ela deve conhecer uma babá. Eu tive tantas, não é possível que ela não saiba de alguém.

   — Mãe. – Digo quando escuto sua voz do outro lado da linha.

   —Olá querido. Como vai?

   —Preciso de ajuda.

   — Sério? Já pediu a sua secretária?

   —Mãe, se lembra de Emily Le Grand?

   — Ela está na última capa da Vogue.

   — Tivemos... um... filho.

    —Nem sabia que ela estava grávida, na capa da Vogue não pareceu, ela está lindíssima por sinal.

   — Ele tem quatro anos, mamãe, ela acaba de deixa-lo aqui e sumir. Foi embora com um baterista em turnê.

   — Um filho que está aí? Ele é bonito? Se deram bem?

   —Por que não vem conhece-lo pessoalmente?

   —Theodor, é claro que vou conhece-lo pessoalmente, assim que voltar de viagem.

   —Como assim? Para onde vai?

   — Cansei desse inverno em Nova York, estou indo passar uma temporada em Mônaco.

   — Eu preciso de ajuda, não pode simplesmente viajar.

   — Posso, já organizei tudo. Contrate uma babá, Theodor. Tem ótimas empresas que fazem isso.

   — Amanhã, mas hoje... eu preciso de alguém hoje, você, minha mãe.

   Ela não pode continuar me ignorando. Ela tem que fazer algo. Não me lembro de mulher mais egoísta. Ando pela sala. Encaro os edifícios tentando me concentrar.

   — O voo parte em três horas, estou com uma amiga, Charlotte Chermont, estamos tomando um chá.

   —Mais quatro semanas pelo mundo. O que acha? Tudo por minha conta. No meu jatinho particular. Sem destino. Só preciso que fique com ele essa noite e amanhã deixa ele pela manhã no meu apartamento e então... eu me viro, encontro uma babá.

   — Está mesmo desesperado. – Ela ri. Faço careta. A chuva cai sem fim lá fora.

   — Você vem?

   — Mande seu motorista deixa-lo aqui em casa.

   —Obrigado, mãe.

   — Tudo bem, vai jantar com alguém? É dia dos namorados.

   —Uma data comercial como todas as outras, criada apenas para melhor as vendas e ativar o mercado. O nome dele é Andrew, ele tem quatro anos e não é alérgico a nada está na ficha médica.

   Desligo. Já fui melhor negociador, eu podia ter barganhado ao menos uma semana. Agora preciso correr com isso de arranjar uma babá.

   — Allison, venha a minha sala. – Chamo pelo interfone, desligo e me sento. Ela entra trazendo Andrew pela mão. O pequeno usa tantas roupas que me pergunto se não está derretendo dentro delas. – Baixe o ar ou tire um pouco dessas roupas do menino. Ele vai derreter aí dentro.

   —Sim senhor. – Ela se abaixa e começa a tirar a jaqueta e as luva.

   — Ligue para uma agência de babás, marque meia dúzia de entrevistas amanhã pela manhã em minha casa, mande instalar câmeras ainda hoje na sala, na cozinha e peça para deixarem tudo conectado ao meu computador no meu escritório, lá em casa, entendeu essa parte?

   — Sim, senhor.

   —Em todos os meus computadores. – Penso melhor. O menino vai ficar com uma estranha, melhor eu ter mais controle. Depois coloco alguém para ficar olhando o trabalho dela de olhar o menino eu não tenho tempo para isso.

   — Sim, senhor. Mais alguma coisa?

   — Mande o Eddy deixar o menino na casa da minha mãe e ligue para minha mãe, ela vai usar meu jato, veja tudo que ela precisa e providencie.

   — Sim. Agora mesmo.

   — Chame o Aron, peça que venha a minha sala.

   — Claro. Com licença. Vamos Andrew. – O menino a segue. Eu respiro aliviado. Eu sou mesmo bom em resolver crises. Me congratulo.

   — Pronto para a queda de um governo na Europa oriental e a bagunça do mercado Financeiro? Cadê seu filho?

   — Quer parar de dizer isso em voz alta? – Aron se senta a minha frente.

   — Não tem ninguém aqui.

   —Eu estou aqui. – Aviso, ele deixa papéis sobre a minha mesa. Me recosto na cadeira. Não consigo me concentrar em nada no momento. – Cuide disso você.

   — Quando a imprensa descobrir vai ser um escândalo. Vão perturbar o garotinho. Emily vai adorar.

   — Encontramos a razão. – Digo sem muita surpresa. – Mídia. Ela ama isso. Uma das razões por não ter dado certo.

   —A única razão por não dar certo é que você é insuportável.

   — Eu demitiria você se não soubesse que amanhã mesmo estaria trabalhando para a concorrência.

   — Obrigado. Planos?

   — Muitos, nunca casar, jamais ter filhos, não dividir meu apartamento com ninguém nem mesmo com um mordomo, empregado ou sei lá o que. Realidade, um filho que surgiu aos quatro anos do nada, em uma manhã chuvosa, filho da insuportável Emily.

   — É a vida. Allison disse que está marcando entrevistas para amanhã. Por que pediu câmeras no apartamento? Está com medo de ser roubado?

   —Não. Estou com medo do menino ser maltratado. Quero ter certeza.

   — Que pai dedicado! – Ele provoca. – Boa sorte.

   — Vamos ao mercado financeiro?

   Quando finalmente consigo chegar em casa, passa de dez da noite, ainda preciso verificar o trabalho dos técnicos e pedir ao mordomo da minha mãe que venha pela manhã. É bom ter alguém aqui para as entrevistas.

   Minha mãe ganha mais uma semana pelo mundo com meu jato pelo empréstimo de Alfred.

   Não consigo dormir. Não consigo não pensar no garoto, na situação toda que nos metemos.

   Minha vida está e sempre esteve organizada. Emily não tinha o direito de me obrigar a isso. Ando pelos ambientes me despedindo da liberdade.

   Emily vai voltar atrás, ela vai sentir falta da criança, aposto que em uma semana está aqui, querendo o garoto.

   Isso me tranquiliza um pouco, embora uma parte de mim e essa é a maior parte, não acredita nessa possibilidade, duvido que Emily o queira em uma semana, ou em um ano ou em qualquer momento no futuro.

   Alfred chega de mãos dadas com Andrew, o mesmo apático e calado Andrew, não sei bem o que dizer a qualquer um dos dois. Cresci com Alfred tomando todas as decisões da casa da minha mãe, demitindo e contratando novas babás para mim, mas nunca tivemos qualquer intimidade, ele jamais permitiu isso. Muito por decisão da minha mãe que sempre fez questão de separar as coisas e as pessoas.

   — O que deseja que eu faça, senhor?

   — Receba as candidatas, deixe que me esperem na sala. Eu as chamo quando achar que é a hora. Vou estar no meu escritório.

    — E o garotinho?

   — Sirva suco e uns biscoitos a ele e deixe o brincando na sala.

   O homem me dá as costas obediente, Andrew me observa, tento sorrir, não consigo, não consigo saber como agir.

    — Senta aqui no sofá. – Indico ao pequeno quando ele me segue pela casa depois do hall e da antessala.

   Obediente, ele se senta, não gosto nada dessa obediência. Nunca fui assim, pacato.

   Ele fica distraído com um cavalinho de plástico na mão enquanto sigo para minha sala. São três entrevistas, aposto que uma delas vai servir.

   As câmeras funcionam bem, quatro mini telas, duas mostrando a sala, uma o corredor de entrada e a outra a cozinha.

   A campainha toca, Alfred abre, uma mulher se apresenta, parece a Supernanny. Cabelos presos em um coque esticados e brilhantes, roupas pretas e sapatos escuros, ela se senta de frente para Andrew, ele não toma conhecimento de sua presença e nem ela da dele.

   Me chama atenção se comportamento, era de se esperar que ela ao menos sorrisse para o pequeno, mas não, ela o ignora por completo.

   Propositadamente, eu deixo que espere por longos dez minutos em que nenhum dos dois dá qualquer passo para uma possível comunicação.

   Por mim nem a entrevistava, mas a convido a minha sala. Ela me vê de pé na porta e sorri, não muito, dá até medo de ser castigado quando a mulher passa por mim com olhar severo.

   —Sente-se, a senhora veio por indicação da agência?

   —Sim, trabalho para eles há duas décadas.

   —Ótimo. Preciso de alguém tempo integral.

   — Meus horários são rígidos, mas acredite, em uma semana seu filho vai estar completamente adaptado e o senhor não precisará de alguém integral. Meu treinamento o deixará em condições de obedecer e respeitar as regras mesmo sozinho.

   —Não pretendia envia-lo a um treinamento militar, o objetivo era mais ele não me importunar enquanto trabalho.

   — Posso resolver isso. – Ela vai mandar prende-lo, talvez algum regime de trabalhos forçados, pelo visto se eu não me comportar, vamos ser punidos juntos.

   —Entro em contato, tenho seus dados, obrigado. – Aperto sua mão em sinal de fim e ela deixa a sala, passa por Andrew e tenho a impressão que não saberia me responder qual a cor de seus olhos ou cabelos.

   Uma loira magnifica entra em seguida, me diverte ver a cara de Alfred ao recebe-la, ela usa uma saia curta e saltos.

   Não está interessada em Andrew tanto quanto a primeira, não vou perder meu tempo com ela, sei quais seus planos.

   —Alfred, dispense a moça. – Peço pelo interfone.

   —Sim senhor. – Ela reluta, olha para todas as portas, gesticula, mas aceita ser acompanhada até a saída. Falta uma, vou ter que contrata-la, não tenho escolha, mamãe já deve estar em um avião a essa hora.

   A mulher chega, prima da Supernanny, só pode, mesmo estilo, cabelos presos, roupa escura. Andrew toma um gole do suco, deixa o copo de vidro, ideia do Alfred, na pontinha da mesa, ela ignora. Abre um livro de fotografias sobre a mesa, dá um sorriso para Andrew, ele não gasta tempo sorrindo de volta, nem conheço a voz do garoto, no caso dele falar.

   Leva uns minutos ali, observando as fotografias, virando páginas, Andrew ganha mais um sorriso e faço careta. Por que diabos babás não falam com as crianças? Será que é alguma regra? As minhas falavam comigo.

   Alfred volta a se encaminhar para a porta, fico surpreso, abro as fichas mais uma vez, três entrevistas, não quatro.

   Ele indica um sofá para uma jovem, ela tem cabelos soltos, castanhos escuros, usa jeans e um casaco pesado, tênis e uma bolsa grande pendurada no ombro.

   Já começa apertando a mão de Alfred com entusiasmo. Sorri para ele e diz algo, ele sorri de volta e insiste para que ela se acomode, ela faz menção de sentar, mas quando está quase sentada, nota Andrew, se ergue, arruma o copo, finalmente, o copo era mesmo perigoso.

   Ela se decide por sentar-se ao lado dele. Andrew a observa atento. Ligo os microfones, quero ouvir.

   —Oi, como é seu nome?

   —Andrew. – Ele fala. Acho que eu devia ter tentado essa abordagem.

   —Prazer Andrew, sou Serena. – Ela estica a mão, ele aperta e sorri. Passo os olhos pelas fichas, não tem nenhuma Serena na lista. – Você é muito bonito. É seu cavalo?

    —Sim.

   —E como ele se chama?

   — Corcel.

   —Como vai corcel? – Ela acaricia o cavalo de plástico, ele gosta, finge que o cavalo galopa. – Muito poderoso esse seu amigo. Forte.

   —É.

   Andrew deixa o sofá, pega o copo de vidro e quando vai beber, derrama metade na blusa. Os olhos se enchem de lágrimas, ela o salva de derrubar o copo no chão. Os olhos dele parecem cheios de medo.

   — Tudo bem, Andrew, acontece. Vamos resolver isso em um minuto.

   Ela abre a bolsa, tira lenços de uma caixinha, seca um pouco o menino, depois a mesa. O ajuda a tirar o moletom molhado, fico assistindo enquanto em um minuto ela resolve a situação enquanto a outra mulher apenas observa.

   Decido entrevista-la primeiro. Saber de onde veio e porque seu nome não está na lista embora ela pareça ser muito mais apropriada do que a prima da supernanny.

   Ando até a sala, a mulher de cabelos presos sorri ficando de pé. Serena não se move, não me vê, está galopando com o Corcel pela mesinha de centro, enquanto Andrew observa com um sorriso que o torna ainda mais infantil.

   — Senhorita. – O cavalinho escapa de sua mão, ela salta ficando de pé arrumando a roupa e ajeitando a bolsa e o cabelo e parece fazer tudo ao mesmo tempo.

   —Serena Rodriguez, soube da vaga e vim para a entrevista.

   —A agência a mandou? Por favor, entre.

   Ela entra em minha sala, se senta e dou a volta a mesa, ela é bonita, simples, tem um leve sotaque mexicano que no caso dela até dá algum charme.

   — Não vou mentir, soube da vaga por uma amiga.

   —Minha mãe e sua rede de fofocas. – Balanço a cabeça e suspiro. – Tem experiencia?

   —Sou técnica em enfermagem e adoro crianças. Quando anos ele tem?

   —Quatro.

   —Um garotinho lindo o seu filho. A mãe dele não pôde participar da entrevista?

   — Ela está fora do país, não somos casados e fiquei sabendo ontem da existência dele, preciso de alguém para cuidar dele. Tempo integral.

   —Ah, que situação inusitada, ele é muito novo para uma mudança radical como essa, tiveram uma conversa?

   —Não.

   —Vão precisar ter, vocês vão precisar criar laços, ele deve estar assustado. Quando diz tempo integral não quer dizer que não vai passar tempo nenhum com seu filho, não é mesmo? Ele precisa do pai.

   —E o pai precisa entrevistar a babá, é possível ou vai continuar me entrevistando?

   —Desculpe. – Ela fica vermelha, tento sorrir, não estou nada disposto a perde-la. – Ele está meio molhado, derramou suco. O senhor quer que durma aqui? Ele vai a escolinha?

   Cruzo os braços e me recosto na cadeira, até três horas quando estiver em reunião fechando um grande negocio eu espero que ela já tenha terminado de me entrevistar e começo a rezar para passar no teste.

   — Começa agora. – Decido resolver o problema. – Tem que morar aqui. Tem que ficar com ele o tempo todo, trabalho demais, vai ganhar mil dólares por semana. Nada de folgas, a menos que o leve com você. – Ela abre e fecha a boca surpresa. – Todo trabalho é seu, vestir, alimentar cuidar de dia e de noite. Daqui um mês, quando tudo estiver organizado, vai poder contratar uma assistente para substitui-la em suas folgas. Não negocio, é isso ou pode ir e passo para a próxima entrevistada.

   —Aquela que está lá fora ignorando seu filho? – Ela pergunta de queixo erguido. Gosto disso, me irrita e não é pouco, mas gosto do desafio.

   —Ok, sua proposta.

   — Gosto do salário, mas não de não poder sair. Dez dias e contrato uma assistente para ficar com ele aos domingos, durante o dia, ao anoitecer é sua vez de ficar com ele, coloca-lo na cama. Chego as dez da noite e assumo.

   — Daqui dez dias? Os primeiros dias ficam apenas os dois?

   — Isso.

   Vou rezar para Emily mudar de ideia antes disso. É uma emergência e a garota parece saber o que está fazendo. Ela tem um ar decidido, olhos escuros me encarando. Firme, bonita, jovem demais talvez, interessante apesar... não importa, é para ficar com o menino e não comigo. Estico a mão. Ela aperta com um sorriso absurdo. É errado sorrir assim. Solto sua mão, dez dias e encontro outra pessoa, nada bom ter essa garota aqui.

   —Senhorita Serena, como primeiro trabalho, vá lá na sala e dispense a outra, depois assuma seu posto.


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Notas finais do capítulo

Beijossssssssssssssssssssssssss



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