Children Of Bad Revolution escrita por Norma Riddle


Capítulo 2
Back to Black


Notas iniciais do capítulo

Leram as notas da história?
Se não leram, voltem e leiam ou não vão entender nada.
Este capítulo se inicia após os acontecimentos do quarto ano de Harry e Draco em Hogwarts.
Vocês vão entender melhor lendo.
Nos vemos nas notas finais.



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1 ano antes...

 

"É um clichê.

Mas como todos os outros, é verdade.

A sua vida pode mudar em um dia. 

Ou, as vezes, em um minuto"

American Horror Story.

 

O brilho da lua cheia iluminava o velho quadro que me encarava em silêncio na escadaria da Mui Nobre e Antiga Casa dos Black.

Uivos podiam ser ouvidos ao norte dali, provavelmente não muito longe, eu presumi.

Sem que eu dissesse nada, aquela velha senhora de aspecto condescendente parecia me compreender... Ela parecia quase humana, apesar da ausência de emoções ainda estar expressa em seu belo rosto que parecia ter sido pintado a dedo por alguém com mãos muito delicadas.

Provavelmente uma criança... Seus traços eram quase angelicais, apesar da idade avançada.

Uns trinta e cinco anos, quarenta no máximo, conclui a analisando.

E suspirei, voltando meu olhar para o infinito estrelado da noite de Londres, tentando entender um significado para tudo aquilo que havia me acontecido.

Foi tudo muito rápido, não tive tempo de associar, de pensar...

Ou talvez eu simplesmente não quisesse.

Não entrava na minha cabeça...

De primeiro momento, achei que estivesse em algum tipo de sonho bizarro ou coisa do tipo. Depois suspeitei que minha mãe talvez estivesse enfeitiçada. Mas ela agia de uma maneira tão estranhamente comum... Tão estranhamente ela...

Uma versão aflita e constantemente preocupada comigo dela, sim, mas ainda assim, eu tinha certeza que era ela por trás daquelas ações.

Um mês e meio no Largo Grimmauld nº 12 havia mudado muita coisa.

Quando Harry Potter chegou à casa de seu padrinho e me viu hospedado lá com minha mãe, a confusão foi inevitável, é claro, embora ele não estivesse tão empolgado para brigar depois de tudo que lhe acontecera.

Por alguma razão, provavelmente para assegurar de perto a sua proteção depois do retorno misterioso do lorde das trevas no ano anterior, Dumbledore decidira hospedá-lo na antiga casa dos meus avós durante aquele verão.

Não achara prudente deixar Harry novamente sob os cuidados de seus tios muggles.

Estranhamente, embora nos primeiros dias nós dois tivéssemos sido resistentes em continuar com a nossa rincha de infância em uma espécie de guerra fria, com o passar do tempo nossa convivência passou por algumas camadas... Do insustentável para o tolerável. Do tolerável para o plausível. E do plausível para o natural.

De certa forma, podia-se dizer que éramos amigos, agora...

Não era lá muito exagero.

A Sra. Weasley, mãe de Ron, havia optado por colocar o filho junto dos gêmeos insuportáveis Fred e George, e Ginny dividia o quarto com Hermione, então adivinhem só quem era o meu novo colega de dormitório...?

Exatamente, o santo Potter.

Eu ri baixo, tendo o tato de não acordar os outros residentes da mansão.

Aquela havia se tornado uma piada interna nossa.

Ele era “o Santo Potter” e eu era “Malfoy, a fantástica doninha saltitante”.

Tive que admitir que ele era mais criativo do que eu, nesse aspecto, apesar de ele ter me contado que aquele apelido havia sido ideia de Ron.

Por falar no Weasley, ele era o mais casca de ferida com relação a mim e a mudança brusca da minha mãe para o lado de Dumbledore.

Demorara muito para começar a conseguir coexistir comigo sem sentir vontade de me socar a cada vez que eu respirava...

Mas eu o entendia.

Afinal, por muito tempo eu havia tratado ele com crueldade e desprezo.

É inevitável quando se cresce inserido numa realidade de preconceitos e agressividade.

Cada um oferece aos outros aquilo que tem, e, bem... Até pouco tempo atrás, era apenas aquilo que eu tinha para oferecer, embora eu não tivesse muita certeza de quando foi o exato momento em que aquilo havia mudado.

Era estranho ter amigos que não gostavam de mim só pelo dinheiro – já que nós não o possuíamos mais em tanta quantidade quanto antes – ou pelo reconhecimento – os rumores sobre a separação brusca de minha mãe e de meu pai estavam se intensificando pelo ministério, segundo o que o Sr. Weasley e Kingsley Shacklebolt havia nos contado, e aqueles e aquelas que sempre haviam sido mais próximos de Lucius torceram o nariz para minha mãe por se bandear para o lado de Dumbledore.

Principalmente naquele contexto delicado, em que todo mundo acreditava cegamente que Voldemort não havia retornado e que Harry e Dumbledore estavam inventando tudo aquilo para ter atenção.

Como se precisassem!

Ouvi passos atrás de mim, e me virei, desperto de minhas divagações.

Era minha mãe, que me observava fazia algum tempo.

Entendi de primeira o que significava e lancei-lhe um olhar levemente aborrecido.

— Sabe que não gosto quando faz isso, mãe! — eu disse baixinho para não acordar os outros inquilinos, e ela crispou os lábios, dando-me em seguida um sorrisinho culpado e se sentando ao meu lado na escada.

— Desculpe, querido... — Ela envolveu meu pescoço com seu braço largo e afagou os meus cabelos loiros. — É a única coisa que dá um pouco de tranquilidade à sua velha nesses tempos.

Eu ri.

— Só porque a minha velha é desconfiada demais para me perguntar e acreditar que eu lhe direi a verdade... — falei, rolando os olhos.

Desde que eu era pequeno, minha mãe tinha o hábito de perscrutar os meus pensamentos, em silêncio.

Chegava sem que eu percebesse quando eu estava olhando para o nada, estabelecia muito sutilmente o elo mental que era necessário entre nós dois, e então, sem que eu nem percebesse – tamanha era a sua discrição – ela se fazia presente em minha cabeça, tendo absoluto conhecimento sobre tudo que eu pensava.

Eu já era acostumado, na verdade...

Vez ou outra, ela me pegava pensando algo que não a agradava, mas nesses momentos nós simplesmente ignorávamos o fato, como se nunca tivesse existido – essa sempre fora a política para lidar com qualquer pormenor que surgisse na nossa relação enquanto vivíamos na Mansão dos Malfoy.

Apesar do conforto ter sido consideravelmente reduzido após a mudança, eu não podia me ver mais feliz por me ver livre daquele trasgo.

Meu pai era como uma substância corrosiva que destruía tudo o que ele tocava.

Desde a minha infância, ele sempre me tratara na rédea curta e sem tréguas.

Sorte que ele não era um bruxo tão competente quanto a minha mãe...

Se ele também tivesse desenvolvido a capacidade de ler a minha mente e tomado gosto por fazê-lo, provavelmente eu teria sido expulso de casa bem mais cedo.

Minha mãe riu alto, tampando a boca para impedir que a gargalhada se propagasse no corredor um pouco oco e despertasse os outros convidados.

Eu ri junto.

Quando eu era pequeno e me dei conta do que ela fazia, eu adorava fazer isso... Conversar com ela sem precisar verbalizar uma só palavra, sequer.

Tudo o que eu queria dizer, dizia em pensamentos, e vez ou outra eu pensava em algo engraçado simplesmente para fazê-la rir.

Era divertido quando estávamos sozinhos, mas quando eu fazia isso em momentos inoportunos, tentando compartilhar as minhas memórias com ela quando ela menos esperava em um evento ou em uma sala cheia de gente, as saias justas eram inevitáveis.

Às vezes ela até ficava brava, mas não conseguia se manter irritada comigo por muito tempo, e poucas horas depois nós estávamos no meu quarto rindo feito bobos da situação.

Suspirei.

Sentia saudades...

Percebi que seu semblante mudara do preocupado para o solidário, e resolvi falar, baixinho, só para poder escutar a minha própria voz:

— Nada vai voltar a ser como antes, não é? — eu disse tristemente, e deitei a minha cabeça em seu colo que nunca me parecera tão quente e aconchegante.

Ela hesitou por um momento, como se pesasse as probabilidades.

— Quando tudo isso acabar, seremos uma família decente. Somente eu e você. — Ela me garantiu sorrindo, e eu fechei os olhos imaginando como seria quando aquela guerra terminasse. — É uma promessa.

Eu ri e abri os olhos de repente, voltando as órbitas para a vidraça.

Contemplei o infinito azulado salpicado de estrelas, e uma delas cruzou o céu bem veloz, meio amarelada...

— Veja só quanta sorte! — Sorriu a minha mãe apontando para o alto, e eu girei os olhos.

— Não sou mais criança, mãe — lembrei a ela, fazendo-a rir.

— Não seja bobo — disse ela descontraidamente. — Faça um pedido!

Concordei e fechei os olhos, divertindo-me com a brincadeira.

Antes que a estrela sumisse, rompi com o elo mental sem muita dificuldade apenas para irritá-la, e fiz um pedido em minha mente.

— Ei! — protestou minha mãe, risonha, sacudindo-me e me cutucando freneticamente como quando eu era pequeno. — Assim não vale! Quero saber o que você pediu!

— Não, senhora! — falei ainda em tom de brincadeira. — Esse desejo é somente meu!

E em algum momento entre os risos infantis e as conversas nostálgicas de mãe e filho, eu adormeci no seu colo com ela acariciando os meus cabelos.

Ah, como eu sentiria saudades...


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Notas finais do capítulo

Comentem, por favor. =)