Os Elos da Corrente escrita por Janus


Capítulo 2
Capítulo 2




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         Ela era boa, sem dúvida. Seu olhar sempre distraído chegou mesmo a influenciá-la em subestimá-la. Não fosse aquele condutor gritar para ela fazer algo não teria percebido.
         Ficou surpresa por ela usar um kawirimi. Mas aproveitou para pegar o que queria, sabendo que ela ficaria aguardando uma oportunidade. Desgraçadamente não achou a caixa na carroça em que pensou que a tinha visto quando saíram do posto. Devem ter trocado de posições pelo caminho. Usou ao máximo o tempo que tinha enquanto a kunoichi contratada deveria estar apenas a observando para avaliar o que pretendia. Acreditou mesmo que teria mais tempo, mas sua oponente decidiu atacar com shurikens. E de um tipo que não estava acostumada. Quase todos usavam a hira shuriken, não a hari gata. E ela era boa nisso, todas se cravaram nas pontas até a metade, com exceção das que atingiram as pedras no chão.
         Ainda estava aguardando o próximo passo da oponente. Tinha o luxo de esperar uma vez que não havia ninguém por perto para ser ameaçado. Os quatro que tinham ido para as arvores ela já tinha nocauteado. O quinto parecia que tinha tropeçado enquanto fugia e agora estava quieto no chão. Isso significava que qualquer movimento que percebesse seria dela.
         E percebeu. Mais shurikens vindos de cima, formando um arco lhe obrigando apenas para uma rota possível, para trás e a direita. Hari gatas são muito compactas e ela devia ter uma grande quantidade destas, o que significava que pretendia conduzi-la para um terreno mais propício para lutar. Mas ela não ia continuar assim. Quando a próxima leva veio, usou sua kunai para bloquear os que iam atingi-la de forma que não se moveu do lugar. Ainda permanecia a margem da estrada com as carroças a sua frente, e agora sabia onde ela estava. Jogou três kunais com tarjas explosivas para o alto e saltou para trás para ter uma visão melhor e mais ampla.
         Três explosões surgiram no alto da arvore, mas nenhum movimento foi percebido. Apenas folhas e galhos caiam ao chão e sobre as carroças. Onde ela estava? Atacara exatamente de onde tinham vindo os últimos...
         Curvou o corpo e saltou de costas usando as mãos como apoio. Este ataque de shurikens veio do outro lado. Arremessou outra kunai com tarja e após a explosão aguardou novamente.
         Nada!
         Ela devia estar lançando as hari gatas enquanto está em movimento. Por isso não adiantava mirar o local de onde o ataque partiu. Ela não estaria ali esperando. Além disso, ela consegue se ocultar bem. O jeito era partir para a ignorância, não tinha tempo a perder ali.
         Fez um conjunto de selos com as mãos e... precisou saltar antes de terminar a seqüência para escapar de mais shurikens. Ela percebeu e cortou o seu ataque. Droga! O jeito era fazer enquanto estava em movimento. Correu em direção as carroças fazendo os selos. Uma mancha preta passou ao seu lado esquerdo e cravou-se na carroça a sua frente bem no momento em que estava terminando-os. Era uma kunai com tarja explosiva! Mas que coisa! Estava subestimando sua oponente. Talvez fosse hora de parar de se preocupar em apenas derrotá-la e decidir matá-la de vez.
         Saltando por sobre a kunai ela olhou para o alto das arvores onde acreditava que ela estava e terminou a invocação do jutsu. Sabia que a explosão da tarja seria em um ou dois segundos. Com certeza não iria acertá-la com seu jutsu, mas sem duvida a faria ter de se reposicionar, lhe dando tempo para o que planejava em seqüência.
         - Fuuton, Kasekiri no Jutsu!(Lâmina de Vento) – uma ondulação em forma de meia lua foi vista rapidamente cruzando a distancia entre ela e as arvores, cortando a copa de todas em um arco de vinte metros. Enquanto pousava de costas ela curvou o corpo e rolou no chão, para se proteger da explosão iminente.
         Explosão que nunca ocorreu. Ela olhou a carroça surpresa e constatou que a kunai continuava ali. Era só um truque para distraí-la. Fazia sentido. A kunochi com certeza fora contratada para proteger a carga, e seria idiotice destruí-la. Sorriu intimamente com o profissionalismo dela.
         Fez novamente o conjunto de selos e lançou o mesmo jutsu para cima agora, para as copas das árvores do outro lado das carroças. Tinha percebido um vulto indo para lá como esperava. Novamente uma meia lua feita de vendo cortou estas arvores, fazendo muitas folhas, galhos e troncos superiores começarem a cair em cima dela. Podia desviar deles facilmente, só lhe interessava saber onde estava sua oponente agora para poder terminar com aquilo.
         - Katon, Goukakyuu no Jutsu(Técnica da bola de fogo grandiosa).
         Com os olhos arregalados saltou para trás. A bola de fogo englobou a folhagem que caia a transformando em uma chuva de fogo. Ela era usuária de katon! Que maravilha... Se também pudesse usar fuuton, era melhor desistir daquilo e tentar achar o que queria no próprio posto. Iria perder um tempo que não podia dispor ali para conseguir derrotar a moça.
         Pulou novamente por sobre a mesma carroça de antes, a que tinha sido atingida com a kunai com falsa tarja explosiva, desviando-se de varias hari gatas que vinham sem parar. Quando teve uma folga parou ao redor de onde estavam os pedaços de arvores que tinha cortado no seu primeiro ataque e viu que a moça estava agora sobre aquela mesma carroça. Ela tinha pegado a kunai que estava sobre esta e a arremessou em sua direção.
         Com um movimento certeiro de sua própria kunai que estava em punho, desviou a trajetória da que tinha sido lançada contra sua cabeça e encarou sua oponente. Logo percebeu um brilho do seu lado, na mesma direção onde a kunai tinha sido desviada.
         Observou impressionada – e não acreditando – a tarja falsa explodindo e lançando pedaços de terra e galhos para todos os lados. Muitos a atingiram, mas por serem pequenos apenas causaram leves danos na sua grossa capa. Não conseguia entender... aquela tarja explosiva era falsa, não era? Ou ela a tinha trocado rapidamente antes de lançar a kunai?
         Independente disto, fora uma boa estratégia. Tivesse a kunai caído mais próxima e ela estaria em pedaços agora. Conseguiu enganá-la direitinho. Pior! Percebeu como tinha agido como amadora então. Primeiro ela atirou a kunai com tarja falsa para tentar fazê-la parar o jutsu. Depois usou a mesma kunai – obviamente trocando a tarja – lançando-a contra ela, acreditando que não se preocuparia com uma possível explosão.
         E tinha dado certo. Foi sorte ter caído longe dela. Aquela oponente estava controlando o combate, definindo a direção que tinha que seguir. Ao usar o kawirimi em primeiro lugar ela inverteu as posições! Ela que devia estar fazendo o ataque ficou nas carroças, e a moça que devia ficar defendendo ficou nas arvores. Como tinha sido estúpida! Devia ter se afastado assim que viu o kawirimi e tentar outra coisa mais a frente.
         Tinha plena consciência de que não estava pensando com clareza. Seu objetivo era pegar as ervas da caixa. Estava beirando ao desespero para isso. O problema era que não sabia em qual carroça estava. Eles devem ter refeito a amarração da carga e ela deve estar embaixo de outros mantimentos. Só sabia que não estava na carroça do meio.
         Se quisesse conseguir o que queria – e sobreviver – teria que tirar sua preocupação da cabeça. Não podia continuar simplesmente atacando ela e esperar que reagisse como se fosse inexperiente. Tinha que se lembrar que não tinha mais o elemento surpresa – na verdade provavelmente nunca o teve. Todas as vezes tentou surpreendê-la não funcionou.
         E acima de tudo ela era usuária de katon.
         Era hora de ser profissional e direta. O objetivo dela era proteger a carga, certo? Provavelmente proteger os condutores devia fazer parte do contrato. Ela estava longe de onde tinha posto aqueles quatro a nocaute, mas o quinto que tinha se afastado ainda estava deitado no mesmo lugar, e a moça teria que correr atrás para protegê-lo.
          Jogou um conjunto de sete kunais na direção dela e saltou em direção ao homem deitado. Ainda no meio do pulo viu que ela saltou na sua direção e desviou-se no ar das kunais. Também tinha bons reflexos e boa visão do ambiente de luta. Intimamente pensou que poderia ser uma excelente aliada em outras circunstancias.
         Novas manchas negras passaram próximas ao seu corpo e se cravaram em frente a cabeça do homem deitado, cujo rosto mostrou puro pavor ao ver aquilo. Eram três kunais com tarjas amarradas, mas não iam enganá-la desta vez. Ela não ia explodir o homem a quem devia proteger.
         Outra mancha passou um pouco mais distante e uma explosão que desviou sua trajetória ocorreu onde a mancha estava. Uma tarja que explodia antes de atingir o alvo? Aquilo era novidade!
         Apesar da explosão a pegar de surpresa, ela apenas a forçou a tocar o solo antes do previsto, o que permitiu a moça passar por ela e pegar o homem o arremessando a distancia. Pelo menos tinha acertado, ela também devia proteger os condutores das carroças. E agora que ela estava na frente podia muito bem se manter no ataque.
         Ao passar por cima de onde aquelas primeiras três kunais tinham se fixado no solo, viu as tarjas ficarem vermelhas. Isso tinha que ser brincadeira! Ela não podia ter lançado elas com tempo de explosão diferenciado e armado de forma que permitisse desviá-la da trajetória, passar a frente, colocar o homem em segurança e então explodir exatamente quando passasse por cima delas.
         Brincadeira ou não, elas explodiram. Sentiu-se ser golpeada pela onda de choque e ser jogada para o alto. Conseguiu girar o corpo em pleno ar e pousar de pé, dobrando os joelhos até quase tocá-los no solo. Definitivamente aquela moça estava no controle do combate, e ela estava mesmo agindo feito amadora ali.
         Chega de brincar e correr riscos inúteis. Melhor ir embora dali e procurar pelo que queria no posto. Não estava mesmo com capacidade de se concentrar em uma luta no momento. Mas antes teria de esperar o homem sair de onde foi jogado. Estava muito próximo de onde precisava pegar seu tesouro antes de ir embora. Assim, voltou para onde estavam as carroças e aguardou ser seguida pela moça que tinha conquistado o seu respeito. Já chegava a ter pena que qualquer ladrão idiota que tentasse roubar o carregamento com ela o protegendo.
         Ao chegar as carroças olhou na direção onde a moça estava e a viu aterrisando a uma boa distancia apos ter dado um salto para segui-la.  Perfeito. Saltou para o alto de uma arvore atrás de si e observou a kunochi enquanto percebia o homem retornando. Assim que ele estivesse ao lado dela iria pegar o que tinha deixado escondido e partir.
         Seu coração deu um pulo quando o viu sair das arvores carregando um embrulho de pano nos braços. O mesmo embrulho que tinha deixado junto a uma árvore a uma distancia próxima mas segura para que nada o atingisse. E ele o estava levando para ela!
         Ficou alucinada com aquilo, praticamente não sendo capaz de pensar. Pulou em direção a ambos que já estavam próximos e pouco antes de pousar precisou girar o corpo e saltar para trás ou seria perfurada pela kunai que a moça segurava.
         Meu Deus... o que tinha feito? Como pôde deixar a coisa mais importante de sua vida sem proteção? No que estava pensando quando a trouxe consigo?
         - Já tinha dito para você ficar longe – disse a moça para o homem sem lhe dirigir o olhar e olhando fixamente para ela.
         - Mas isso aqui é.. é... – ele gaguejava de medo, mas parecia disposto a ficar ali – é um bebê!
         A moça franziu o cenho e a encarou. O homem abriu suavemente o embrulho revelando a cabeça da criança, a sua criança.
         - É o meu filho – gritou ela alucinada e abaixando o capuz, revelando seus cabelos ruivos – devolvam ou eu matarei todos, começando por aqueles quatro ali atrás.
         Não pensava realmente no que falava. Só queria sua criança em segurança em seus braços novamente. Tinha sido uma tola em trazê-la consigo, mas estava desesperada. Não achara os remédios na vila próxima e a ajuda que tinha pedido ia demorar mais dois dias para chegar. Seu marido não tinha voltado no dia anterior com os remédios que fora tentar roubar em outra vila mais distante. Estava em pânico pela situação de seu filho e por isso saiu com ele em direção ao posto para roubar o remédio certo e já tratá-lo. Ver seu filho piorando dia a dia e nada do que faziam parecia ajudar a deixou alucinada o bastante para não planejar direito o que devia fazer. Esta mesma alienação a atrapalhou muito na luta contra a moça de cabelos azuis. Não fosse isso elas nem teriam lutado. Teria simplesmente esperado ela sair do posto e roubaria outra caixa de remédios que sem duvida devia ter ali. Mas a alienação e o desespero que roçavam na sua consciência não a deixaram pensar direito. . Estava até culpando os seus amigos por não terem sido capazes de impedi-la de sair da vila com o seu filho nos braços.
         Começou a se mover em direção aos homens que tinha deixado desacordados quando estacou com medo e pavor ao ver a moça erguer a kunai e apontá-la na direção de seu filho. Não era uma ameaça real, ela estava muito longe dele, mas era um claro indicativo que devia ficar parada no lugar e não fazer reféns para usar como moeda de troca.
         Estava encurralada. Não havia o que fazer sem ameaçar a segurança dele, mas mataria a todos se algo acontecesse com o mesmo.


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