Os Elos da Corrente escrita por Janus


Capítulo 1
Capítulo 1




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          Os cabelos azulados lançavam longe a água absorvida conforme ela movia a cabeça de um lado para o outro. Lembrava-se vagamente de quando teve um banho quente pela última vez, bem como tinha cuidado de seus cabelos.
         Bufou levemente. Na sua profissão era um pouco difícil se manter bonita, apesar de ter músculos bem torneados em conseqüência da mesma. Precisava manter os cabelos pouco abaixo dos ombros e com uma fita na cabeça para que não esvoaçassem muito quando lutava. Não que atrapalhasse sua visão, mas o efeito de chicote na sua pele incomodava.
         Esfregou as mãos ungidas com aquele óleo nos cabelos mais uma vez – outro dos excelentes ensinamentos da tia-avó – e mergulhou pela ultima vez no rio para tirar o excesso. Satisfeita, caminhou lentamente até a margem deste onde estavam suas roupas e equipamento. Esfregou as mãos por todo o corpo neste trajeto, em parte para tirar o óleo das mãos, e em parte para espalhá-lo sobre este. Na falta de sabão era um excelente – na verdade, o único – substituto que possuía. Pelo menos ficaria com a pele levemente perfumada.
         Ao chegar a margem o leve sorriso de seu rosto se desfez. Seu simplório prazer de tomar banho estava terminado e era hora de voltar a sua vidinha um tanto complicada. Pegou seus trajes e os vestiu rapidamente, tomando o cuidado de não estragar o alisamento que tinha feito nos cabelos. Assim que colocou a fita na cabeça, pegou sua jaqueta curta e a colocou. Amarrou a mochila as costas, um cinturão com vários pequenos pergaminhos presos neste na cintura e após verificar o conteúdo de sua bolsa com equipamentos, a amarrou na coxa direita.
         No peito de sua jaqueta estava afixada a parte metálica de uma bandana, mas não havia símbolo algum nela. Ela não pertencia oficialmente à vila alguma, muito menos tinha nascido em uma. Nascera em uma floresta, quase vinte  anos antes. Sua mãe fora assassinada quando tinha cinco anos, e sua tia-avó teve o mesmo destino três anos atrás. Estava sozinha no mundo e não tinha de dar satisfações a ninguém.
         Ainda assim tinha uma responsabilidade. Era por essa responsabilidade que decidiu abraçar que ainda estava naquele país fazendo serviços diversos a quem a contratasse. Em uma região praticamente sem lei em que a segurança ficava restrita apenas a guardas de vilarejos, as ofertas para mercenários eram de certa forma abundantes.
         Olhou para o Sol que tinha acabado de sair de uma das poucas nuvens do céu – porque ele não teve vergonha de ter saído enquanto ainda se banhava? – iluminando melhor aquela manhã de céu azul. Estava adiantada. Mais uma pequena caminhada e chegaria ao seu destino.
         Embrenhou-se por entre a floresta após determinar o seu curso e utilizou as árvores para ir mais rápido. Dez minutos depois chegou a um posto comercial que despachava mercadorias para outras vilas. Era o principal – e provavelmente único – posto para escoar os produtos dos fazendeiros da região, bem como os produtos derivados correspondentes. Uma casa de madeira que servia como escritório dominava o primeiro plano. Era pequena quando comparada aos quatro armazéns atrás, e até mesmo menor que o estábulo que seus olhos arroxeados nas bordas perceberam após chegar mais perto. Várias carroças estavam paradas em frente aos armazéns, e trabalhadores as estavam carregando. Iriam sem dúvida ser levados aos compradores dos produtos.
         Ficou imaginando qual seria a carroça – ou carroças – que iria escoltar enquanto sem dirigir os olhos para ninguém em especial seguia para a casa para obter mais informações.
         Passou pela porta aberta e viu o balcão a sua frente. Aquilo ali se parecia mais com um bar. Bastava colocar cadeiras sem encosto diante do balcão e pronto. Claro, seria preciso colocar umas bebidas na parede atrás do balcão no lugar daquelas prateleiras cheias de papeis. Para um posto comercial aparentemente no meio de lugar nenhum era bem organizado.
         - Com licença? – chamou ela em voz alta pegando um pergaminho enrolado de seu cinturão e o abrindo – com quem eu devo falar sobre um serviço de escolta?
         Varias pessoas olharam para ela, e ficaram assim por alguns segundos a avaliando dos pés a cabeça. Sem se embaraçar – afinal, sabia que a estavam despindo com os olhos – aguardou que algum deles parasse de babar e respondesse a sua pergunta.
         Mais alguns segundos se passaram e ela ficou irritada. Oras... ela precisava usar roupas justas no corpo para ter liberdade de movimentos, como muitas outras kunoichi pelo mundo afora. Não era desculpa para exagerarem na “observação surpresa”.
         - Acho que vim no lugar errado – disse por fim se virando para a saída.
         - Espere – disse uma voz seguida de passos pesados no piso de madeira – a qual escolta se refere?
         Ela se voltou para quem a chamou e o observou atentamente. Seus cabelos eram pretos, assim como seus olhos. A camisa branca e a calça azul folgada parecia ser o uniforme dali, visto que todos usavam a mesma roupa. O problema era que ele era um pouco obeso e na pequena corrida que deu já tinha ficado sem fôlego. Aquele som de respiração apressada a incomodava.
         - Uma escolta de mantimentos – respondeu ela ainda o observando e levemente confusa. Tinha mais de uma escolta ali?
         - Isso todos nós sabemos – disse em tom de chacota – para qual vila?
         Ela olhou o pergaminho que trouxe e disse em voz alta.
         - Vilarejo da Lua Vermelha.
         - Há... – fez ele compreendendo – é só você? Veio com uma equipe?
         - Equipe?
         Certo, o posto comercial era bem maior do que tinha imaginado, e naquele local isolado onde estava deveria ter avaliado que provavelmente todas as entregas deviam precisar de uma escolta. Mas... uma equipe? Geralmente mantimentos eram atacados ou por ladrões que queriam revender os produtos ou por pessoas com fome. Um shinobe poderia facilmente dissuadir qualquer um destes grupos.
         - Sim... não foi informada a respeito? Quero dizer... onde soube sobre essa oferta de escolta?
         - Em uma pequena cidade há uns três dias de viagem daqui. Chama-se Artoba.
         Ele apertou os lábios e murmurou alguma coisa como se estivesse praguejando.
         - Então não sabe que alteramos a solicitação. Queremos uma equipe de pelo menos três guarda-costas. A trajeto até esta vila ficou muito mais perigoso que antes. Nenhuma entrega chega ao destino desde o ultimo mês, e da ultima vez os condutores foram mortos. Para piorar os outros guardas que temos não querem se arriscar.
         - Não havia nenhuma menção disto no bar onde peguei o trabalho.
         - Não atualizamos o aviso de Artoba. Era muito longe e pensamos que ninguém iria se interessar.
         - Mesmo assim acho um exagero querer uma equipe para proteger uma entrega de mantimentos. Eu não acredito que algo mais perigoso que meros ladrões tentem roubar isso.
         - É verdade, mas perdemos muitos carregamentos. E não quero desmerecê-la, mas acho que você é um pouco frágil para este serviço...
         Ele não conseguiu terminar de falar. No momento em que disse a palavra “frágil”, a mão esquerda dela moveu-se para a frente segurando uma kunai com a ponta afiada no seu pescoço. Um segundo depois todos no local ouviram quatro sons surdos em uma seqüência extremamente rápida. Quando o rapaz – ainda assustado com aquela ponta no seu pescoço – se virou para verificar esses sons, viu os outros quatro que trabalhavam na sala olhando em direção a jovem mulher com rostos igualmente assustados. Na gola de cada um deles uma kunai estava prendendo as camisas na parede.
         - Primeiro eu não sou frágil, segundo, não precisei de força alguma para fazer isso – ela sorriu de forma sedutora enquanto guardava a sua arma. E terceiro, tem vinte e seis pessoas trabalhando nos armazéns, cinco aqui dentro, duas no estábulo e mais oito há trinta metros de distância. Mas vamos fazer o seguinte... Se eu não conseguir proteger esta entrega, eu trabalho de graça para vocês até pagar o prejuízo, caso contrário, eu vou receber pelos três que estavam dispostos a pagarem.
         - Eu... – ele ainda estava apavorado – preciso falar com o supervisor...
         - Eu espero – disse ela ainda com o sorriso – e vocês ai, me atirem minhas kunais de volta que elas não são de graça e duvido que possa repô-las por aqui. E não se preocupem – ela quase riu - eu tenho certeza que pego todas elas sem me machucar, portanto joguem para cá!
         Meia hora depois ela aguardava sentada displicentemente ao lado da entrada do escritório. O supervisor aceitou o acordo e considerando que teriam a escolta de uma kunoichi decidiu aproveitar e entregar o máximo de suprimentos possíveis para a vila. Seriam cinco carroças ao todo carregadas ao máximo.
         Ia ser uma viagem demorada...
         Ela precisou de algum tempo para perceber que o serviço de escolta que eles conheciam até então tinha sido feito por pessoas relativamente comuns, com pouco ou nenhum treino em combate como ela. Por isso a desconfiança e incredulidade deles quando a mesma se ofereceu para o serviço, bem como os olhares para seu corpo. Provavelmente nunca conheceram um shinobi antes. Ou no caso dela, uma kunoichi.
         Recostou-se em um dos pilares de madeira que mantinha o teto da varanda no lugar e avaliou seu equipamento manuseando a bolsa quadrada de couro presa a coxa com as mãos. Pelo jeito teria que ficar no meio da pequena caravana para poder ir para uma das pontas rapidamente, portanto não poderia usar a mochila ou ficaria mais lenta. Melhor usar a outra bolsa que tinha para ficar na cintura, um pouco acima do cinturão com os pergaminhos que podia usar para invocar algumas armas e outras surpresas. Mas esperava não precisar disto. Era caro manufaturar aquilo e tal coisa só se justificaria contra outro praticante de ninjutsu, coisa que ela duvidava que iria encarar neste trabalho.
         Retirou a outra bolsa da mochila e colocou algumas kunai, dez hira shurikens e uma boa quantidade de hari gatas, sua arma preferida de arremesso por ocuparem pouco espaço, e felizmente tinha um bom alcance com elas. Na bolsa da coxa preferiu deixar as kunai com tarjas explosivas e sua corda de arame com dez metros.
         Franziu o cenho e olhou a direita, para além da campina que estava ali. Viu um pequeno ponto a distancia dar um pulo e sumir nas árvores. Talvez estivesse enganada antes. Uma pessoa que podia pular daquele jeito tinha que ser no mínimo um genin. Provavelmente outro mercenário como ela procurando serviço.

 

-x-

 

         A figura oculta com uma grande capa que cobria todo o corpo e um capuz na cabeça seguiu pela mata por um bom tempo até ter certeza de que ninguém estava por perto.
         Não esperava por isso. Na verdade achou inacreditável a sua falta de sorte.
         Desde quando aquele posto tinha um shinobi? Tinha ido até ali pois sabia que seria fácil e rápido pegar o que queria. Ia pegar a luz do dia mesmo, pois sabia que ninguém ali tinha capacidade para combater um ninja. Mas aquela mulher sentada no escritório era uma ninja! Mal teve tempo de correr antes que sua presença fosse percebida. Felizmente ela ficou sentada no mesmo lugar, talvez imaginando que estaria ali apenas para escoltar outra carga ou simplesmente não percebera sua presença. Seja como for não poderia pegar o que queria naquele momento pois ela sem dúvida devia ser hábil o bastante para atrapalhar seus planos.
         Por causa disto agora precisava esperar na estrada. Não podia se arriscar a um combate agora. Não com o que estava em jogo.
         Após alguns segundos, a figura seguiu correndo pelo chão da floresta e chegou até uma grande rocha desnuda. Em uma das moitas que a circundavam pegou um pequeno embrulho feito de pano com extrema delicadeza e com cuidado o desenrolou, observando o seu conteúdo. Uma lagrima escorreu lentamente de sua face.
         Apenas teria que esperar algumas horas, só isso. Sabia que os produtos que procurava estavam naquele posto. Tinha visto a caixa com eles ser colocada em uma daquelas carroças. Só precisava pegá-la.
         E se tivesse que matar a todos para isso, o faria.

 

-x-

 

         Um pouco depois do almoço as carroças seguiam lentamente pela estrada acidentada rumo ao destino que já deixava muitos deles apreensivos. Sentado na primeira carroça o homem de meia idade apenas ruminava com sua boca, fazendo leves caretas demonstrando o seu desconforto.
         Não acreditava que aquela garota podia protegê-los. Ainda mais vestida daquele jeito. Não tinha nenhuma proteção, nem mesmo uma katana. Ainda se lembrava quando o supervisor lhe ordenou para carregar o máximo de carroças para a vila da Lua Vermelha. Disse que uma mulher ninja, uma kunoichi iria fazer a escolta, e por isso deviam aproveitar e levar tudo o que não tinha sido entregue até então. A vila já devia estar com falta de comida e principalmente de remédios.
         Ele chegou a ficar animado com a informação, até ver quem era a tal kunoichi. Uma jovem moça com uma calça apertada que só tinha a perna esquerda, sendo que a direita ficava totalmente a mostra, num tipo de meio maiô. Sua cintura ficava desnuda exceto por aquele cinto cheio de pequenos rolos de pergaminhos, e usava uma camiseta que parecia ser um colete com uma placa de aço no peito, pouco acima dos seios. Talvez a única proteção que tinha visto nela.
         Isso e o fato de ser bem bonita com aqueles olhos de um azul muito escuro com bordas roxas lhe tirou toda a confiança possível. Ela sem dúvida iria gritar e sair correndo quando o costumeiro bando de ladrões atacasse naquela rota. Ele estava presente quando o primeiro carregamento tinha sido atacado. Teve sorte de terem poupado os condutores. Não estavam para brincadeiras com aquelas katanas. Mataram os cavalos e os deixaram apenas com a roupa do corpo para voltar a pé e com um aviso para não entregarem mais nada para aquela vila.
         - O que você acha dela, Motho-san?
         Olhou para o jovem que andava do lado da carroça que parecia mais uma criança em dia de aniversário. Era o novato de cabelos castanhos que tinha começado a trabalhar um mês antes. Como se chamava mesmo? Soto? Shoto? Bom, porque se importava em saber?
         - Se a acho bonita? – perguntou com a voz com certo desprezo – sim. Se ela vai nos proteger? Duvido. É mais provável que fique como troféu para divertir os ladrões enquanto iremos voltar a pé de novo. Isso se ficarmos vivos.
         A felicidade do rosto do rapaz desapareceu e foi substituída por preocupação. Ele nada mais disse e diminuiu o passo para retornar a sua carroça. Provavelmente tinha descido dela apenas para verificar se a carga das outras estava bem presa e segura, tarefa normalmente reservada aos novatos. Em uma viagem em terreno acidentado como aquele, mesmo um marinheiro com anos de experiência não seria capaz de amarrar uma carga que não se soltasse nesta situação.
         Duas horas depois fizeram a primeira parada para verificar se a carga continuava bem presa e para dar um pequeno descanso aos cavalos. Os condutores das outras carroças aproveitaram para urinar nas arvores, ao passo que ele foi até a mulher que permaneceu o tempo todo sentada na carroça do meio da caravana. E ela não parecia contente com a parada.
         - Algo a incomoda, oh grande kunoichi? – começou ele sendo profundamente sarcástico.
         - Só o fato de serem terem sido imbecis o suficiente para fazer uma parada no melhor local possível para uma emboscada, justamente onde as copas das arvores cobrem o caminho – tornou ela fria e sem lhe olhar nos olhos.
         Ele grunhiu com ódio. Uma emboscada a menos de duas horas do posto? Isso nunca tinha ocorrido antes. Aquele era um local de parada quase que obrigatório por ter a sombra das árvores. Quem aquela metidinha de cabelo azulado pensava que era? Ah sim, era uma kunoichi! Para ele não passava de uma moça delicada que queria apenas um dinheiro fácil. Em outra situação iria apreciar as formas de seu corpo, mas não ali, não com o temor de ser morto mais para frente, quando se aproximassem da parte que para a ultima caravana acabou sendo o ponto final, onde todos foram mortos.
         - Nós sempre paramos aqui – ele estava rude com o tom de voz – o local onde estamos sempre sendo atacados neste caminho fica bem mais para frente. Vamos chegar lá só amanhã a tarde. Nunca aconteceu nada aqui antes.
         - Bem, isso vai mudar hoje – disse ela ainda sem o olhar no rosto – tem uma pessoa no alto de uma das arvores a esquerda do caminho, justamente onde os outros foram “usar o banheiro”.
         Ele olhou assustado na direção onde os outros foram. Tinham acabado de sair de vista. Se tinha alguém lá...
         - Então faça alguma coisa! Você está sendo paga para isso – urrou ele.
         - Obrigada por alertar nosso convidado – murmurou olhando-o na face pela primeira vez – ele devia estar esperando você também se afastar, e provavelmente iria esperar um pouco mais uma vez que eu estou aqui. Agora ele sabe que foi descoberto graças a esse seu gritinho alucinado e...
         Ela não terminou de falar. Uma adaga grossa com um grande furo na parte de trás a atingiu nas costas. Logo em seguida ela caiu aos seus pés. Ele tentou dizer algo, mas a surpresa não permitia que as palavras saíssem. Pouco antes de pensar em fugir dali, uma nuvem de fumaça surgiu no corpo inerte dela e quando desapareceu havia um tronco de madeira em seu lugar, com a tal adaga cravada neste.
         Olhou de um lado para o outro tentando entender o que estava ocorrendo. A mulher primeiro tinha sido esfaqueada e parecia morta. Depois desapareceu e no seu lugar havia apenas um tronco. Olhou na direção de onde veio o ataque e engoliu em seco. Havia uma figura com uma grande capa e com um capuz que lhe cobria o rosto do outro lado da carroça. Como tinha chego ali sem ter percebido nada? Assustado ele começou a andar para trás.
         Não era de forma alguma como tinham ocorrido os outros assaltos. Os ladrões apareciam cercando as carroças e já ordenavam para descerem destas e se afastarem. Geralmente dando socos nos pobres condutores. Uma vez ou outra cravavam as katanas nas carroças para enfatizarem as ordens. Mas nunca simplesmente atacaram assim, nunca tão perto do posto e nunca naquele local!
         O homem nada disse, apenas começou a mexer na carroça e soltar as cordas que prendiam a carga com outra daquelas facas estranhas. Se ele estava sozinho como iria levar tudo aquilo embora?
         Olhou atônito os sacos e engradados serem jogados ao chão. Não parecia que o ladrão queria aquilo. Parecia que procurava por algo especifico. Ele se moveu para o lado da carroça em que ele estava e finalmente Motho percebeu que tinha ficado ao lado de um provável assassino o tempo todo. Seus instintos conseguiram superar a sua surpresa de antes e moveu os seus pés para longe, abrigando-se atrás da primeira arvore que encontrou. Os outros que tinham ido se aliviar já deviam estar voltando àquela altura. Será que esse encapuzado iria matar a todos? E onde tinha ido parar a tal kunoichi?
         Um soco de frustração da figura misteriosa na carga lhe chamou a atenção. Ele saltou para a outra carroça atrás – um salto de quatro metros?! – e repetiu o que tinha feito antes. Cortou as cordas e começou a revirar as coisas ali. Súbito ele parou e se abaixou, chegando a entrar embaixo da carroça e sair pelo outro lado. Deu um pulo um pouco para trás e ficou em guarda, esperando alguma coisa.
         Ele também tinha ouvido alguns sons como se alguém estivesse batendo na madeira, e outros sons metálicos. Também percebeu algumas fracas nuvens que surgiram na carroça enquanto aquele encapuzado parecia se desviar de algo. Se sua visão não fosse fraca, teria percebido claramente o que tinha ocorrido. Mas não era o caso.
         Ele permaneceu escondido atrás da árvore e achou melhor sair dali. Aquela pessoa parecia pronta para matar quem chegasse perto com aquela faca estranha segura firmemente no punho. Afastou-se e começou a correr, sempre olhando para trás para saber se era seguido. Não sabia o que tinha ocorrido com os seus companheiros e naquele momento não se incomodava. Só queria era fugir dali.
         Quando chegou a quinze metros de distância, uma forte mão agarrou a sua boca e sentiu ser puxado para o chão. Apavorado olhou quem o tinha pego e ficou mais surpreso ainda. Era ela, a mulher que devia protegê-los.

         - Onde pensa que vai seu idiota? – murmurou ela ainda mantendo a mão em sua boca. Para uma moça, sua força era enorme. Ele não conseguia tirar a mão de sua boca – se tivesse ficado onde estava não teria entrado na minha mira!
         Seu olhar era raivoso, e ele agora sentiu medo dela.
         - Vou tentar afastá-la com minhas hari gatas. Quando eu conseguir isso, ai sim você pode correr.
         - Suas o que? – perguntou assustado logo após ela ter removido a mão, mas lembrando-se de falar em voz baixa.
         Ela não respondeu, mas abriu a mão e mostrou o que tinha nela. Era um tipo de agulha comprida e grossa, quase uma agulha de tricô cortada na metade. Devia ser a tal hari gata.
         - E-eu.. eu entendi.

         Sem dizer mais nada, ela saltou para o alto – ele não acreditou, o salto dela tinha sido muito maior do que tinha visto o outro fazer – e desapareceu entre as copas das árvores.
         Só então ele percebeu um detalhe que ela tinha dito. Ela disse que iria afastá-la... então aquela figura encapuzada era uma mulher?


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