Telma na Luta escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 8
Alerta




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Telma olhou de novo o bilhete.

OLHA ONDE PISA QUE VOCÊ JÁ ESTÁ NA ALÇA DA MIRA

Escrito a mão, impossível de identificar o autor. Brincadeira? Ameaça? Advertência de alguém que se pretendia amigo? Telma guardou-o no fundo da bolsa e procurou se concentrar na tela do computador. Mas não ficou tranquila. Mentalmente repassou os últimos casos que tivera em mãos ali no conselho. Mexia com gente suspeita e contrariava interesses de muitos, era verdade. Mas fora ela mesma quem fizera questão de não ficar só na burocracia e ter um papel proativo. Agora era segurar o forninho.

— Oi Telma, como é que você está?

— Na luta...

Achou muito boa a resposta que dera à colega que acabara de chegar. Era assim mesmo que ela se sentia, na luta. Mas continuava preocupada com aquele bilhetinho. Tinha vontade de comentar com Renata ali na mesa ao lado, mas e se Renata tivesse alguma coisa a ver com aquilo? A verdade era que Telma não confiava em ninguém ali. Melhor ficar na dela, fosse quem fosse o autor do bilhete, ia ver que ela não se abalou.

Mais tarde, na cantina da faculdade, Telma tinha quase esquecido tudo. Uma colega comentou:

— Fiquei sabendo que vem chumbo grosso para você! O supervisor vai te botar no caso daquela garota que vive fugindo de casa. Toma cuidado que ela é das quebradas, hein!

— A Telma segura, ela tem muita moral! - Replicou outra colega. Telma ficou orgulhosa, mas no íntimo pensava se tinha mesmo tanta moral assim.

Na sala só tinha ela e a adolescente de cabelo em trancinhas e tatuagem no ombro. Telma pensou já tê-la visto naquele dia em que fora investigar o caso de Marilda, dançando funk no fluxo.

— Mas me conta, Carol, a sua mãe te trata mal?

— Ela tá sempre me xingando, diz que eu não presto...

— E você acha que não presta?

— Olha, para certas coisas eu não presto mesmo. Não quero mais ninguém me mandando fazer as coisas...

— Mas aí você vai ter que se sustentar, você tem só 15 anos...

— Ahhh eu arrumo um jeito. Tem dois garotos que querem ficar comigo. E eles ganham muito dinheiro, sim, sabia? Grana alta!

Sabendo bem a que a adolescente se referia, Telma sorriu fingindo indiferença, e deu a entrevista por encerrada. Mais tarde conversava com Vera.

— Esse garotos é tudo traficante! Eles pegam essas novinhas que quer sair de casa. A Carol já ficou com um, mas foi preso. Agora ela está a fim de outro. Vai acabar presa também!

Telma baixou os olhos, lembrando-se de sua própria experiência naquele submundo. Sabia como aqueles marginais eram insidiosos na hora de cooptar aquelas meninas tolas.

— Vou ver o que posso fazer...

Arrumando os livros ao final da aula, o coração de Telma bateu mais forte. Tinha visto mais um bilhete.

OLHA O TEU HOMEM QUE TEM GENTE DE OLHO NELE

Essa agora! Estava tão feliz porque finalmente teria tempo para sair com Ronaldo aquela noite, e agora vinham com aquela! Parecia uma provocação mesquinha. Mas a um ponto eles falharam, agora ela sabia que vinha de gente que conhecia ela da faculdade e do estágio. Várias colegas estagiavam no conselho. Qual seria? Ou no fim tudo não passaria de uma brincadeira de mau gosto? Telma estaria pensando assim, não fosse ela própria estar achando Ronaldo esquisito ultimamente.

Na mesa do bar com Ronaldo, a conversa custava a fluir. Ele tinha ar cansado.

— Resolveu tudo o que tinha para resolver?

— Resolvi. Pelo menos as coisas que eu podia resolver agora. Mas mês que vem vou ter que voltar lá.

Telma não gostava de perguntar sobre os negócios particulares do namorado, mas ficava pensando o que ele fazia naquelas viagens. Não tirava da cabeça o bilhete, e não podia deixar Ronaldo suspeitar de nada. Pensou irritada, se alguém tivera a intenção de estragar aquela noite dela, fora bem sucedido!

 


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