Telma na Luta escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 1
Vida de universitário




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Telma olhou cansada e satisfeita para os livros em desalinho sobre a mesa, ao lado dos copos de plástico amassados e da caixa ainda com restos de pizza. Tinha gente que não gostava da beiradinha e deixava, mas ela não admitia desperdiçar. Os namorados de algumas colegas tinham chegado e agora elas conversavam estalando a língua junto à porta, ninguém mais tinha ânimo de estudar. Telma suspirou e pensou com seus botões, vida de universitário é comer pizza na própria caixa...

Ronaldo estava demorando, mas Telma não estava com pressa. Relaxando após a tarde de estudos, sentiu a mente solta, com vontade de filosofar e sem vontade de conversar abobrinha. A memória a trouxe de volta ao passado, e fez um balanço de sua vida: como havia mudado! Recordou-se da menina revoltada e desorientada que era poucos anos atrás, da malfadada saída de casa para morar com o namorado em plena adolescência, e da consequente mudança para a casa da tia Justina, para ser disciplinada, como a tia dizia. Ali passara aventuras e desventuras, como ela gostava de dizer. Ali conhecera Ronaldo. Mudara, enfim, e agora era uma garota universitária, dona de si, que não brigava mais com a mãe nem com os irmãos. Tinha saudades deles, mas viera morar em outra cidade para cursar faculdade.

— Aííí Telma, mora com titia, cheia de mordomia, não tá na dureza que nem a gente HAHA - Veio zoar uma colega.

Telma sorriu. Estava morando com tia Vitória, que gentilmente cedera um quarto para ela. A família era assim, cheia de tias disposta a ajudar. Mas sabia por sua experiência própria que morar com tia não era sinônimo de mordomia, e além do quê, ela era bem mais organizada que aquelas colegas zoadoras que moravam na república, vê lá se ela faria aquela bagunça e deixaria a casa toda suja! Mas quem mora em república é assim mesmo, tem mais liberdade. Telma não se queixava. Também em casa, quando estava levando as malas para sair, alguém viera zoar, ihhh a sina da Telma é morar com tia! Mas não tinha nada a ver aquela comparação. Quando fora morar com tia Justina, o propósito era outro, estava ali de castigo pelo que havia feito, e isso fora combinado entre a mãe e a tia, conforme era costume na família para casos como aquele, e como ela conhecia primas que haviam passado pelo mesmo! Sabia agora que fora graças àquilo que se tornara a pessoa que era hoje.

Ronaldo enfim chegou. Telma observou bem o contraste do rapaz bem vestido, discreto e educado, com os namorados das colegas que falavam bobagem sem parar. Ficou um pouco incomodada com os olhares que algumas colegas lançaram nele, mas afastou aqueles pensamentos.

— Oi, amor!

Pegou os livros e despediu-se das colegas. Foram para a igreja de Ronaldo, onde havia um encontro de jovens. Telma estava gostando daquele pessoal, embora não fosse religiosa. Conversou muito com Alessandra, a irmã de Ronaldo e grande amiga, que também cantava no coral da igreja. Telma impressionou-se de ver como ela cantava bem, e desejou saber tocar ao menos um instrumento para juntar-se àquele pessoal. Ficou surpresa quando Leila, a obreira, veio dizer de repente:

— Você podia ser uma pregadora, Telma!

— Eu?

Telma achou graça. Ela nem entendia de religião.

— Quero dizer, você tem uma maneira de falar muito boa com gente jovem. Eu tenho observado você quando conversa com o pessoal!

Telma sorriu mas não respondeu. No íntimo, vinha percebendo aquilo, mas queria que alguém confirmasse. Sentia que estava crescendo em sabedoria com as experiências da vida, que ela sabia aproveitar.

— HAHA Eu dou uns toques aí na moçada, ajudo, né? Afinal, estamos todos na luta...

No fundo, outro grupo começou a cantar ao som de guitarras elétricas. Era assim que Telma se sentia mesmo, na luta.


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