Os segredos de Eva escrita por calivillas


Capítulo 30
Mudando de assunto




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O tempo parou, preso em uma fração de segundos, a respiração suspensa, os dedos suados se fechando, firmes, em volta do metal frio, o olhar fixo naquela porta, só restava esperar o que estaria por vir, era preciso ter coragem. Então, aconteceu um puxão violento por trás a pequena estatueta foi tirada da sua mão. Sobressaltada, a garota tenta se virar, contudo, um forte empurrão a jogou contra a parede, chocando com a cabeça, por segundos, perdeu a consciência e escorregou até o chão. Os olhos embaçados se focaram lentamente, dando forma a figura obscura a sua frente, sem conseguir definir as suas feições.

— Quem é você? — Sua voz veio baixa e indecisa da boca ressecada.

— Não está me reconhecendo, minha filha. Sou eu, sua mãe, Eva — A resposta veio doce e melodiosa.

— Não, Eva está morta — Caroline lutava para consegui se ergue, cabeça pesada e dolorida a puxava para baixo, sentou-se contra a parede, forçando a visão.

— Como sabe disso? Tudo que você viu foi um monte de cinzas, em uma urna. Tudo que soube sobre mim foi um monte de mentiras — a pessoa se curvou diante dela.

— Não, Eva está morta — Caroline insiste, sem muita certeza, pois a silhueta da pessoa a sua frente longa e esguia, com cabelos em ondas caindo sobre os ombros, lembrava muito a mulher que conheceu por fotos e vídeos, apesar de não conseguir ver seu rosto oculto pelas sombras.

— Não estou, minha querida menina, meu bebê. Desculpe por tê-la abandonada, mas não tive escolha, não queria fazer nenhum mal a você — ela se lamentava, em tom choroso.

— Se é assim, por que está se escondendo nesse lugar? Por que me bateu? Onde está Tom?

— Por quê? Por quê? Porque cansei de tudo isso, de ficar sob os holofotes e os olhos gananciosos o tempo todo, só queria um pouco de paz. Então, você dois me traíram aqui, bem aqui, na minha casa. O meu bebê e meu menino de ouro fornicando sobre as cinzas, que julgavam serem minhas, sem o mínimo respeito pela minha memória, e eu que lhe dei tanto.

— Você não me deu nada! — Caroline falou, entredentes.

— Como nada? Eu lhe dei a sua vida. É disso que eu falo: ingratidão! — a figura se ergueu, com altiva, indignada com as palavras ditas. — Por isso, vocês dois irão pagar por essa desonra, pela ingratidão, por terem ofendido a minha memória.

— Como pagar? — Caroline indagou, assustada, se aproximando mais da parede, como se quisesse atravessá-la para fugir daquela louca, percebendo quando ela levantou a mão com a estatueta bem no alto, pronta para deferir um golpe certeiro sobre a garota ainda caída, que levou as mãos ao rosto para se defender. No entanto, a mulher fez um estranho movimento se curvando para frente, Caroline saiu da sua direção, antes que ela caísse em cima dela, batendo direto no chão. Sem entender nada, conseguiu vislumbrar um outro vulto, que mesmo no escuro, reconheceu como Tom, segurando algo nas mãos, respirou aliviada. Ele estendeu a mão para ajudá-la a levantar.

— Você está bem? — perguntou, preocupado.                     

— Sim, só um pouco zonza. E você?

— Como muita dor de cabeça, ela me bateu com alguma coisa, quando estava na cozinha, e me arrastou para dentro da despensa, me trancou lá, mas consegui fugir e vim atrás de você.

— Quem é ela? Eva?

— Não. Eva está morta. É Melissa.

— A secretária?

— Sim. Precisamos arranjar algo para amarrá-la.

— Mas, por quê?

— Ela tinha uma paixão avassaladora por Eva, quase idolatria. No começo, Eva achou interessante ter alguém que a adorava assim tão próximo, um tipo amor platônico. Mas, como tudo na vida dela, Eva se entediou, mesmo assim, a manteve no emprego, talvez, gostasse dessa relação sadomasoquista, de fazer Melissa sofrer. Parece que com a morte de Eva, ela enlouqueceu — Tom revelava, enquanto, no escuro, procurava algo para amarrar a mulher desfalecida, por fim pegaram alguns lençóis e rasgaram em tiras.

Ao regressarem ao lugar, onde deixaram Melissa caída, não a encontraram mais.

— Ela fugiu! — Caroline exclamou, apavorada, olhando em volta nas sombras para evitar alguma surpresa.

— Essa mulher é louca e a casa é bastante grande, ela pode estar em qualquer lugar! — Tom também estava alarmado. — Temos que sair daqui. Precisamos chegar a lancha, para irmos embora, imediatamente.

Tom ainda segurava a ripa de madeira em uma das mãos para se defender e com a outra livre, a mão de Caroline, saíram para o jardim mergulhado na escuridão, todas as luzes da casa estavam apagadas, apenas as velas do anexo da piscina ainda estavam acesas, o que os ajudou a se localizarem no breu da noite sem lua.

Como Tom havia construído e morado ali por um bom tempo, conhecia todos os caminhos, conseguindo alcançar o deque que se juntava ao cais. Nesse momento, perceberam passos velozes na sua direção, de repente, o vulto de Melissa se materializou junto a eles, avançando sobre o homem, que gritou de dor largando a mão da garota. A mulher se preparava para a segunda investida quando Caroline se interpôs a empurrado com toda sua força, a fazendo cair no chão. Aproveitando a oportunidade, Caroline agarrou Tom pela camisa, e o puxou dali e correram o mais rápido que podiam.

— Para onde? — Ela gritou.

— Só siga em frente!

Ela sentiu a camisa dele ficar úmida.

— O que é isso? Você está ferido? — Caroline reduziu os passos.

— Só no braço, vamos temos que sair daqui!

Conseguiram chegar na lancha, ele desfez as amarras e entraram correndo, olharam para trás e não viram mais sua perseguidora. Ele girou a chave mestre, com receio que Melissa tivesse sabotado o barco, respirando aliviado quando o motor roncou forte, ele manobrou, com certa dificuldade, para se afastar do cais.

— Você vai ter que me ajudar aqui — ele revelou.

— Deixa eu olhar isso! — Caroline se aproximou. — Está muito escuro para ver direito.

— Ali, atrás tem uma caixa de ferramentas, há uma lanterna ali dentro.

— Meu Deus! — exclamou, alarmada, ao ver o ferimento no braço esquerdo dele, que por pouco não alcançou o tórax, a camisa estava banhada de sangue. — Precisamos parar o sangramento. Tire a camisa.

Ela o ajudou na difícil ação, cortou uma grossa fatia de pano e envolveu o ferimento, com uma leve compressão.

— Espere que você aguente até chegarmos no porto.

— Você vai ter que pilotar, eu ajudo. Mas, vou usar o rádio e falar com a capitânia dos portos.

— Peça uma ambulância.

— E a polícia

Caroline olhou em direção a casa envolta na escuridão, mais parecendo uma grande muralha, identificando um brilho estranho.

— O que é aquilo?!

— Fogo! Ela está colocando fogo na casa!  

— Ela vai morrer!

— Eu acho que ela pretendia fazer isso conosco lá dentro, como um sacrifício à Eva — Tom concluiu com uma expressão soturna.

Durante toda a viagem de retorno, por várias vezes, olharam para trás, vendo o fogo avançar lentamente, as labaredas crescerem, em uma enorme fogueira, tomando conta de tudo.

 A polícia e uma ambulância os esperavam no cais para atendê-los, Tom foi levado, imediatamente para um hospital, para ser cuidado, Caroline o acompanhou. O médico assistente a encarou preocupado, quando viu o enorme hematoma na cabeça dela, insistiu para que fosse examinada, assim ela acabou na maca ao lado de Tom, na pequena sala da emergência.

— Era para ser um fim de semana discreto. Depois disso, amanhã, estaremos não nas páginas de fofocas, mas nas policiais — Tom comentou de um modo irônico.

— Nem imagino que falarão sobre nós dois.

— Eu não me importo, só quero ficar junto com você. Podemos viajar por um tempo ou para sempre se quiser, ficar longe de tudo isso.

Em um intervalo impressionantemente rápido, Gustav surgiu na sala de emergência onde estavam, com um ar compenetrado, encontrando o jovem casal, lado a lado, deitados em macas.

— Como soube? — Caroline perguntou espantada, ao vê-lo ali.

— Ele vigia você, fazia isso com Eva. Não me admiraria, se descobríssemos que foi ele que revelou sobre nós dois para a imprensa — Tom se adiantou em responder, com mau humor.

— Isso é verdade, Gustav?

— Isso não vem ao caso, nesse momento, Caroline.  A polícia quer o depoimento de vocês dois, sendo assim, precisarão de um advogado. Já providenciei um criminalista do meu escritório para atendê-los. Tenho certeza, que tudo ficará bem.

Meses depois, em uma mesa na calçada de um café em Paris, margeando o rio Sena, Caroline, muito atenta, olhava pelo seu telefone, as novidades das revistas de fofocas.

— Nenhuma única palavra sobre nós — Ela ergueu o rosto com um sorriso vitorioso.

— Eu falei que eles iriam se cansar logo de nós, não somos assim tão glamorosos nem nos metemos em mais encrencas, pelo menos, nos últimos tempos — Tom responde, em seguida, levou sua xícara de café à boca.

— E, principalmente, depois que descobriram o informante do livro de Eva era só uma antiga empregada e a editora se retratou publicamente, todo mundo soube que aquilo foi só um monte de mentiras.

— Mudando de assunto, já disse como está bonita hoje? Givenchy é a sua marca.

— Você disse isso de todas as outras roupas que usei — Caroline rebate arrumando a gola do casaco — Podíamos passar o resto da vida assim!

— Mas, nós podemos — ele ergueu as sobrancelhas em interrogação.

— Não, preciso voltar a faculdade, quero me formar, saber com geri o meu dinheiro, principalmente, depois de descobrir como Gustav investia o dinheiro de Eva, em causa própria, por isso, tanta vigilância sobre mim, para que eu não descobrisse a tramoia.

— Devia tê-lo mandado para a cadeia.

— Com certeza, ele não iria ficar lá, por muito tempo. Além disso, não quero mais problemas.

— Ainda não acredito, que Eva não soubesse disso.

— E o que importa, agora — Caroline deu de ombros. — E você sabe o que fará com a ilha? Vai aceitar a oferta daquela rede de hotéis?

— Não, vou apenas deixar que a natureza retome o que é seu e recubra tudo que aconteceu ali. Sendo assim, podemos continuar o nosso passeio, senhorita Ferrer, tem tantas coisas que quero mostrar a você? — perguntou, pedindo a conta.

— Sim, adoraria, senhor Miller.

Ele colocou uma nota de vinte euros sobre a mesa, se levantaram e deram as mãos, antes recomeçarem a caminhar pela calçada.


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