Os segredos de Eva escrita por calivillas


Capítulo 29
Alguém observando




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 Ao acordar, deitada na cama, mergulhada na penumbra do fim da tarde, Caroline se assustou ao estender o braço e não encontrar Tom ali, ao seu lado. Um tanto incomodada, com o envolvente silêncio, ela se sentou, procurando alguma pista do paradeiro dele.

— Tom! — chamou, sem resposta, acendeu a luz, clareando o lugar vazio, levantou-se, colocou a roupa e saiu pelo corredor escuro, reparou que a porta do quarto de Eva estava entreaberta e a luz acesa, caminhou até lá sentindo um peso no peito, imaginando se ele estaria ali, procurando fragmento de memórias do seu amor de outrora. Respirou fundo se encheu de coragem e espiou lá dentro, não havia ninguém, então apagou a luz e fechou a porta.

— Tom! — tentou, outra vez, descendo a escada, com muito cuidado. — Tom! — Já assustada, chegou no andar debaixo, querendo adaptar os olhos à pouca claridade.

Subitamente, a luz se fez, ferindo seus olhos, que protegeu com a mão, até se acostumar, para ver Tom se aproximando.

— Onde você estava? — perguntou, relaxando aliviada.

— Eu fui lá fora, ligar o ofurô, achei que seria uma boa ideia para quando acordasse — Ele lhe deu um sorrisinho malicioso. — Desculpe, não queria assustá-la.

— Tudo bem, já que você está aqui — Ela lhe devolveu um sorriso sincero. — Acho que vou subir e colocar um biquíni.

— Você não precisa de um biquíni, não precisa de mais nada. Vamos! — Ele segurou a mão dela e a puxou até o anexo da piscina, de pedra e bambu, da grande banheira de madeira se elevava o vapor d’água, deixando o ambiente agradavelmente aquecido e úmido, uma sutil trilha sonora no fundo, Sweet Caroline, e a grande janela de vidro embaçada mostrava o fim do dia lá fora, ali dentro o ambiente era iluminado por muitas velas, lhe dando uma aparência etérea.

— Está muito gostoso aqui — Caroline falou, fascinada.

— Sim, eu preparei para nós dois. Então, por que não tira a roupa e aproveita a água? Eu vou pegar um vinho, estava indo para cozinha, quando encontrei você. Volto bem depressa.

Ela observou ele sair e tirou a roupa bem devagar, não podendo negar que estava um tanto constrangida por ficar nua em um lugar assim, precisando lembrar a si mesmo que não havia mais ninguém ali, a não ser, Tom. Mesmo no ambiente aquecido, sentiu frio, por isso entrou depressa na banheira, apreciando o prazer da água quente envolvendo o seu corpo, no entanto, não relaxou totalmente, na expectativa do retorno de Tom e de juntos compartilharem essa experiência cálida e sensual.

Não sabia quanto tempo esperou, porém, percebeu que ele demorava muito. Talvez, estivesse com algum outro problema, não queria parecer nenhuma garotinha assustada, com medo da própria sombra, sendo assim, decidiu esperar um pouco mais.

Seus dedos já estavam enrugados, ao resolver que já esperara por tempo suficiente, saiu do banho, procurou uma toalha, se enxugou e vestiu novamente suas roupas. Ao abrir a porta, foi atingida pelos odores da mata e frescor da noite, fazendo sua pele arrepiar, podia ver as luzes acesas da casa e ouvir o profundo silêncio, Caroline se abraçou, como para se proteger do frio e do medo. E foi em direção a casa.

— Tom! — chamou, indo direto para a cozinha. Não queria acreditar que houvesse algo errado, era só uma bobagem, ele devia estar ocupado, resolvendo algum problema.

A cozinha estava vazia, as taças de vinhos esquecidas sobre o balcão.

— Tom!

Parou ao perceber o barulho do vidro estilhaçado contra a sola da sua sandália, olhou para baixo e encontrou a garrafa de vinho espatifada no chão. Seu coração acelerou, tinha que haver algo errado. Lá longe, escutou o som abafado de uma porta se fechando, devia ser Tom, mas por que a deixou sozinha, por tanto tempo?

Seguiu na direção do barulho, mesmo que trêmula, era melhor saber o que estava acontecendo, passou pelo jardim de plantas exóticas, iluminado pela tênue claridade que vinha das luzes da casa. O prédio anexo se encontrava às escuras, então, tinha uma estranha sensação que estava sendo observada, quem sabe, fosse Tom. Um arrepio subiu por sua espinha, não estava gostando em nada de ficar sozinha, naquele lugar.

— Tom! – gritou, sem resposta nem ideia do que estava acontecendo ali, poderia correr lá para cima e se trancar em um dos quartos e ficar protegida até amanhecer, mas onde estaria Tom, seria essa uma piada de mau gosto? Uma forma de vingança pelas suas mentiras? Não podia acreditar que ele fosse tão sórdido desse jeito. — Tom! – berrou, tanto que a garganta arranhou, desesperada, precisava encontrá-lo, e se abraçou, nunca se sentiu tão abandonada.

Com pressentimento que necessitava de ajuda, voltou para a casa principal, para procurar um telefone, havia visto um na cozinha, ela foi direto para lá, contudo estava mudo. Seu telefone estava lá em cima no quarto, era melhor tê-lo a mão, para pedir ajuda se necessário, mas para quem? O que diria para não parecer uma louca?

Subiu a escada, apressada, a porta do quarto estava aberta, a luz continua acesa, foi direto para sua bolsa, vasculhou ansiosa, nada. Impaciente, virou o seu conteúdo sobre a cama, remexendo nos objetos espalhados, nada. Olhou em volta, em um último ato de desesperado, reparando sobre os móveis, quem sabe? Mas, nada. Tinha certeza, que ela havia trazido o telefone, então porque não estaria ali? E se alguém o pegou? Não, isso já era muita loucura. Não, não podia crê que Tom planejara tudo aquilo, para se vingar dela, para assustá-la. Ou, talvez, tivesse outra pessoa ali, escondida nas sombras, esperando para atacá-la, como já fizera com Tom. Se fosse isso, teria que achá-lo se... não queria cogitar aquela possibilidade, não queria acreditar que algo de muito ruim tivesse acontecido com ele.

Respirou fundo, se enchendo de coragem, iniciou seu regresso para o andar de baixo da casa, no entanto, precisava de uma arma, qualquer coisa para poder se defender, não tinha ideia do que poderia ser, até se deparar com uma pequena estátua de bronze de um guerreiro japonês, era longa e pesada o bastante para causar algum tipo de dano em um provável agressor. Desceu a escada com extrema cautela, com os ouvidos e olhos apurados, o mais silenciosamente possível, tinha em mente, chegar até o anexo, de onde partiram os sons que ouvira antes, talvez, Tom estivesse lá.

 Retomou o caminho pelo jardim, muito atenta, com a pequena estatueta em punho como uma espada, ao fundo, apenas os sons da noite, um morcego fez um voo rasante sobre sua cabeça, segurou o grito na garganta, não era o momento de temer. Já podia distinguir a silhueta da casa, logo ali em diante, faltava pouco, então o que iria acontecer? Quem estaria lá? Um ladrão? Um desafeto dela ou de Tom? Ou o próprio Tom? 

Seu coração em disparada parecia querer fugir do peito, as mãos trêmulas e frias, segurava o objeto com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos, sabia que era sua única chance. Por fim, alcançou o anexo escuro e quieto como um túmulo. A maçaneta da porta principal cedeu com facilidade, entrou pelo corredor onde as portas dos quartos estavam todas fechadas, passo a passo, ela avançou, lutando contra todos os seus medos, tentando enxergar algum sinal de perigo escondido nas sombras. Nesse momento, um som sutil, quase imperceptível de uma porta se abrindo, Caroline se voltou lentamente em direção do barulho, levantou a estatueta sobre a cabeça, pronta para um golpe, segurando a respiração, todos os sentidos em prontidão, um segundo parecia durar mil anos.


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